Pensando em minimizar os custos das rações; utilizando produtos não competitivos com o homem, disponíveis em quantidade e que possam diminuir o custo de produção da cunicultura tornando-a mais competitiva no mercado; pesquisadores buscam formas alternativas, tais como a inclusão do milho na alimentação animal. A planta apresenta como importantes característica o alto valor nutritivo e elevada digestibilidade.

Tendo como seus centros de origem o México e a Guatemala, a planta de milho, faz parte do grupo das plantas C4, sendo um dos alimentos mais utilizados para alimentação animal. A composição das frações da planta de milho tem influência direta na sua qualidade. As variações dessas frações, em virtude de fatores genotípicos, têm conseqüências diretas na produção e composição da planta (ZOPOLLATTO, 2007).
A exploração comercial de coelhos se subdivide em: carne, pele, pêlos, couro e venda de reprodutores. O consumo de carne de coelho é muito anterior à sua função de animal de estimação, portanto o consumo desse tipo de carne não é tabu para muitas pessoas.

A carne de coelho é branca e uma das mais saudáveis para o consumo, devido ao baixo teor de colesterol (Tabela 01) e de gordura. Além disso, a porcentagem de nutrientes é bem superior à da carne de boi e de frango (Tabela 03). O consumo per capita da carne de coelho em alguns países da Europa é maior do que qualquer outra carne. Na França, Espanha e Alemanha, cada pessoa consome sete quilos/ano. Enquanto já no Brasil a realidade é outra, apesar de inúmeros investimentos e apoio da pesquisa, os brasileiros consomem em média 120 gramas per capita/ano, segundo a Associação Paulista dos Criadores de Coelhos (APCC) (citado por EMATER-DF, 2006).
A carne de coelho é rica, principalmente em proteínas (Tabela 02), sendo muito nutritiva, saborosa e mais rica em valores nutrientes que as carnes de vaca, porco, galinha e outros animais. Um coelho das raças médias, com 3 a 4 meses de idade, produz de 2 a 3 quilos de carne. Uma coelha, em 1 ano, poderá ter filhos que forneçam um total de 50 a 60 quilos de carne. Portanto, uma família que possua um coelho e 4 ou 5 fêmeas poderá ter uma saborosa e nutritiva carne 2 a 3 vezes por semana, durante todo o ano e terá, ainda, boas peles (EMATER-DF, 2006).


Tabela 01 - Comparativa de colesterol entre as carnes mais consumidas no Brasil

Carnes Mg1
Coelho 25 mg
Frango 90 mg
Vitela 105 mg
Vaca 125 mg
Fonte: (EMATER-DF, 2006) Adaptado.
1Teor de colesterol/100g


Tabela 02 - Composição da carne de coelho (porção 100g) - %VD1

Valor Calórico 7 % (175,0 mg)
Carboidratos 0 %
Proteínas 42 % (17,5 g)
Gorduras Totais 13 % (10,3 g)
Gorduras Saturadas 0 %
Colesterol 8 % (25,0 g)
Fibra Alimentar 0 %
Cálcio 2 % (13,0 mg)
Ferro 15 % (1,90 mg)
Fonte: (EMATER-DF, 2006) Adaptado.
1 Valores diários de referência com base em uma dieta de 2.500 calorias/dia.


Tabela 03 - Comparativa de Valor Nutritivo1

Carnes %
Coelho 42,00
Frango 31,62
Vitela 24,31
Porco 27,15
Vaca 24,20
Fonte: (EMATER-DF, 2006) Adaptado.
1 Valores diários de referência com base em uma dieta de 2.500 calorias/dia.



O coelho possui aparelho digestivo desenvolvido, principalmente o ceco, com ativa ação microbiana, o que lhe proporciona alta capacidade de aproveitamento de fibras quando comparado a aves e suínos (FERREIRA et al.,1997).
A carne de coelho é entendida como fonte alternativa de proteína animal para o homem (CHEEKE & PATTON, 1981) levando em consideração o bom aproveitamento de alimentos fibrosos pela espécie (LEBAS, 1983). Porém, o consumo desta carne não é muito alto devido ao seu elevado valor de mercado comparado á carnes populares como a suína, bovina e avícola.
Dentre os fatores levados em consideração ao optar pela exploração comercial de coelhos estão: seu rápido crescimento, precocidade reprodutiva, alta fertilidade e curto período de gestação, fatores esses que contribuem significativamente para o aumento na produção de carne. O coelho, além de não competir com o homem pelos alimentos disponíveis, pode utilizar uma dieta à base de produtos e subprodutos com alto teor de fibra ( ZINSLY et al., 1985), dentre eles o milho como principal fonte energética.
O milho é a principal fonte energética, não só nas dietas de coelhos, mas nas dietas dos animais em geral. O componente químico responsável pelo conteúdo energético do milho é o amido, que representa por volta de 70 a 80% de seu peso seco. Compreende uma mistura de amilose (22-28%) e amilopectina (78-72%), formando um complexo altamente organizado (FURLAN et al, 2003).
Scapinello et al. (1995) determinaram para o milho coeficientes de digestibilidade de 86,29% para a matéria seca, 84,69% para a proteína bruta e 87,24% para a energia bruta.
Durante a fase de desmame e pós-desmame dos coelhos é preciso tomar cuidado com a utilização de alimentos com conteúdo elevado de amido. Estudos realizados por Blas et al., 1994; Maertens, 1995, apontam que a ingestão de alto conteúdo de amido nesta fase seja uma das causas possíveis de distúrbios digestivos em coelhos, devido ao fato de o sistema enzimático não estar ainda bem desenvolvido, além do amido do milho se encontrar em um complexo altamente organizado de amilose-amilopectina (FURLAN et al, 2003).
A planta do milho é dividida em colmo, folha, bráctea, sabugo e grão, seus valores de matéria seca, proteína bruta e fibra detergente neutro e fibra detergente ácido são distintos (Tabela 04). Geralmente pesquisadores preferem o colmo para ser incluido nas rações para coelhos, por ter altos valores nutritivos e fácil aceitabilidade por eles.
Algumas observações sobre a digestibilidade do milho: Cusicanqui e Lauer (1999) observaram decréscimos na digestibilidade verdadeira de 0,35 g/kg para cada aumento de 1.000 plantas/há, explicados pelo aumento nos teores de FDN e FDA da planta com o aumento da população.
A digestibilidade tanto da planta de milho in natura como da sua silagem pode diferir quanto ao estágio de desenvolvimento da planta. A manutenção da digestibilidade da planta com o avanço da maturidade é o resultado da interação entre produção de matéria seca e mudanças na digestibilidade dos componentes da planta. Á medida que a planta amadurece, o aumento na proporção de grãos é balanceado por um decréscimo na digestibilidade da fração fibrosa da planta (FDN e FDA) representada por colmo, folhas e brácteas (HUNTER, 1978).
ZOPOLLATTO (2007) observou que o avanço da maturidade da planta proporcionou reduções no teor de FDN digestível do colmo. Segundo ZOPOLLATTO (2007) o alto valor nutritivo da planta de milho, caracterizado pela elevada digestibilidade ou densidade energética determinam a excelência dessa planta e, em geral, esse é o atributo que as qualifica a serem eleitas nos sistemas de produção animal.


Tabela 04 - Frações da planta de milho para silagem

Fração da planta MS (%) PB (%) FDN (%) FDA (%)
Colmo 22 - 26 3,0 - 6,3 57 ? 81 44 - 60
Folha 25 ? 43 8,6 ? 14,6 56 - 74 33 - 44
Bráctea 25 - 40 3,6 ? 6,4 72 ? 82 -
Sabugo 32 - 43 2,5 ? 3,4 78 - 88 -
Grão 41 - 59 10,7 ? 12,0 11 - 14 3,3 ? 3,5
Fonte: (Zopollatto, 2007) Adaptado.

4) CONCLUSÕES / CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aproveitando a característica peculiar do aparelho digestivo dos coelhos serem desenvolvidos, principalmente o ceco, com ativa ação microbiana. Pesquisadores buscam minimizar custo de produção através de alimentos com alto teor de fibra, geralmente resíduos agroindustriais, uma vez que esses animais conseguem maior absorção de fibras.

5) REFERÊNCIAS

BLAS, E.; CERVERA, C.; FERNADEZ CARMONA, J. Effect of two diets with varied starch and fiber levels on the pe r formances of 4-7 weeks old rabbits .World Rabbit Science, v.2, n.4, p.117-121, 1994.

CHEEKE, P. R.; PATTON, N. M. The rabbit: an emerging livestock species. Feedstuffs, [S.l.], v. 53, n. 15, p. 23?26, 1981.

CUSICANQUI, J.A.; LAUER, J.G. Plant density and hybrid influence on corn forange yield and quality. Agronomy Journal, Mandison, v.91, n.6, p.911-915, 1999.

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (EMATER). Pesquisa de Mercado. AGROINFORME, out/nov, 2006.

FERREIRA, W.M., SARTORI, A.L., SANTIAGO, G. S., e t al.. Digestibilidade aparente dos fenos de rami (Boehmeria nivea, G.), guandu (Cajanus cajan, L.), soja perene (Glycine wightii, V.) e da palha de feijão (Phaseolus vulgaris, L) em coelhos na fase de crescimento. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.49, n.4, p.465-472, 1997.

FURLAN, A. C.; Monteiro R. T. Monteiro.; Scapinello C.; Moreira, I.; Murakami, Otutumi , A. E.; L. K.; Santolin, M. L. R. Valor Nutritivo e Desempenho de Coelhos em Crescimento Alimentados com Rações Contendo Milho Extrusad. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.5, p.1157-1165, 2003.

HUNTER, R.B. Selection and evaluation procedures for whole-plant corn silage. Canadian Jounal Plant Science, Ottawa, v.58, n.7, p.661-678, 1978.

LEBAS, F. Small?scale rabbit production: feeding and management systems. World Animal Review, [S.l.], v. 46, p. 11?17, 1983.

MAERTENS, L.; LUZI, E. The effect of extrusion in diets with different starch levels on the performance and digestibility of young rabbits. In: SIMPOSIUM ON HOUSING AND DISEASES OF RABBITS, FURBEARING ANIMALS AND PET ANIMALS, 9., 1995, Celle. Proceedings... Celle: DVG, 1995. p.131-138.

SCAPINELLO, C.; TAFURI, M.L.; ROSTAGNO, H.S. et al. Valor nutritivo do milho, do farelo de soja e do feno de aveia para coelhos em crescimento . Revista Brasileira de Zootecnia, v.24, n.6, p.1001-1007, 1995.

ZOPOLLATTO, M. Produtividade, composição morfológica e valor nutritivo de cultivares de milho (Zea mays L.) para produção de silagem sob os efeitos da maturidade. Tese de doutorado pela Universidade de São Paulo, p.41-46, 2007.

ZINSLY, C.F., FERREIRA, W. M. CARREGAL, R.D. Nutrição e alimentação. In: ENCONTRO NACIONAL DE CUNICULTURA, I, 1985, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: UFMG, 1985. 9p.