Leisa Mara Baronas

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MIDIAS NA CLASSE  ESPECIAL E SALA DE RECURSOS

 

 

 

RESUMO

 

Este trabalho tem como objetivo, oportunizar o processo Assegurando também  o atendimento educacional especializado para alunos com necessidades educacionais especiais, através da utilização das novas tecnologias aplicadas a educação, tendo como destaque o laboratório de informática (multimídia).

Palavras-chave:  Crianças especiais, mídias, atendimento educacional

INTRODUÇÃO

 

 

Este relato apresenta a experiência bem sucedida desenvolvida na Escola Carlos Hugueney relacionado ao projeto “MIDIAS NA CLASSE  ESPECIAL e SALA DE RECURSOS” aos educandos com necessidades especiais, com a professora Cirlei Rezende orientada pela coordenação pedagógica da escola e também pela Secretaria Estadual de Educação  SEDUC.   Aproximadamente 10 educandos  da rede pública de ensino de Alto Araguaia - MT, de faixas etárias homogêneas  e condições sócio-econômicas bem diferenciadas, participaram dos encontros, que se realizaram no primeiro trimestre do ano letivo de 2010.

A Escola Estadual “Carlos Hugueney” em função de ter alunos matriculados com necessidades especiais recebeu do MEC um Laboratório de Informática completo, sendo seis computadores, impressora, scanner, fone de ouvidos e outros periféricos, mobiliários adequados para o funcionamento e o referido laboratório tem como objetivo atender alunos com necessidades educacionais especiais da escola, bem como da comunidade de Alto Araguaia dando suporte escolar a essa clientela.

A Sala de Midias atende os alunos com deficiência visual duas vezes por semana no período matutino (2 horas). Os alunos com deficiência mental são distribuídos em 2 grupos, observando a faixa etária e são atendidos nos outros três dias da semana, conforme a necessidade dos mesmos. É importante ressaltar que outros alunos com necessidades especiais de outras  escolas e/ou comunidade tem acesso ao laboratório.

Na observação feita no laboratório podemos verificar que os educandos tem a oportunidade de se familiarizarem com o computador e ter noções básicas de informática, visando ter o domínio da máquina e assim usá-la para o  seu crescimento intelectual.

Com o objetivo de oportunizar o trabalho educativo com a diversidade cultural, de se contar e dramatizar estórias para o desenvolvimento psicológico, sócio-comunicativo e afetivo das crianças, atividades de leitura de cunho multiplicativo foram trabalhadas, visando estreitar a relação de afeto e comunicação entre professores, família e alunos por meio de atividades lúdicas e prazerosas. Com esse novo modo de abordar as novas tecnologias na educação, tenta-se despertar nos alunos o gosto de um novo recurso: mídias.

Tanto nos encontros com os alunos, como nas aplicações das sugestões, os resultados foram bem sucedidos e esta desencadeando a produção deste texto que, além desta introdução, possui três partes: (1) suporte teórico utilizado; (2) descrição das propostas de atividades realizadas com os educandos; (3) resultados obtidos, além de algumas considerações finais.

 

 

 

JUSTIFICATIVA

 

O tema mídias traz arraigado em si motivos pelos quais poucos na realidade o conhecem. Existem sujeitos que utilizam com regularidade um computador, outros o fazem apenas para sobreviver e outros ainda nem sabem. Os baixos rendimentos em  algumas series nos apontam para isso, como vimos no artigo “Desvendando mitos: os computadores e o desempenho no sistema escolar” avalia a presença dos computadores na Educação Básica a partir do desempenho dos alunos.

Neste artigo os autores nos mostram que será necessário rever qual o objetivo de utilizarmos o computador no ensino, sem discriminação ou preconceito, mas levar em condição social do individuo (para os educandos mais pobres), para quem o uso do computador está de uma forma inesperado sendo o causador das notas baixas, enfim acharam um culpado.

Desvendando mitos: os computadores e o desempenho no  sistema escolar - Tom Dwyer; Jacques Wainer; Rodrigo Silveira Dutra; André Covic; Valdo B. Magalhães; Luiz Renato Ribeiro Ferreira; Valdiney Alves Pimenta; Kleucio Cláudio.

 Os motivos deste problema são atribuídos a fatores que vão do sócio-econômico ao educacional. De fato, esses dois fatores se inter-relacionam, mas a escola, que tem um papel fundamental e privilegiado na formação de seus educandos, carrega a parcela maior desse bloco de motivos.

Observou-se que usufruir a maquina não é somente decodificar signos lingüísticos. É um processo no qual o educando efetua um trabalho ativo de construção e significação, abarcando uma série de estratégias inconscientes, como: antecipação, inferência, conhecimento de mundo e confirmação/refutação de hipóteses.

Parece que as atividades proporcionadas pela escola não avançam para além da decodificação. Para Villardi:

[...] Se o aluno passa a associar o texto a algo que vem depois, se para ele o livro é apenas um elemento que detona um outro trabalho, e este, sim, é o importante, então todo o processo de valorização do livro e da leitura se perde, impedindo que a criança compreenda que o prazer pode e deve estar no simples ato de ler, descobrindo uma variedade de sentidos no que se leu (VILLARDI, 1999, p. 11).

       Evidenciou-se a utilização de estórias infantis, com seus traços fantásticos e imaginativos, em atividades de “contação” ou dramatização de estórias, pode ser uma forma de abordar a leitura, assim, conquistar leitores, revertendo essa situação. Para Bruno Bettelheim:

[...] quando os contos de fadas estão sendo lidos para crianças em salas de aula ou em bibliotecas durante a hora da história,  as crianças parecem fascinadas. Mas com freqüência elas não recebem nenhuma oportunidade de meditar sobre os contos ou reagir de outra forma; ou eles são amontoados imediatamente com outra atividade, ou outra história de um tipo diferente lhes é contada, o que dilui ou destrói a impressão que a história de fadas criou [...] Mas quando o contador dá tempo às crianças de refletir sobre as histórias, para que mergulhem na atmosfera que a audição cria, e quando são encorajadas a falar sobre o assunto, então a conversação posterior revela que a história tem muito a oferecer emocional e intelectualmente, pelo menos para algumas crianças (BETTELHEIM, 1980, p. 75).

A despeito disso, os educandos vivem intensamente as aventuras desses heróis imaginários, fazendo relações com o mundo real e percebem a existência de conflitos e valores outros no seu dia-a-dia, na sua relação com a família, com a escola e com os amigos. Enfim o contato com esse mundo fantástico e mágico lhes permite exteriorizar seus sentimentos e, com isso, amenizar seus conflitos internos (cf. BETTELHEIM, 1980).

De acordo com Abramovich, ela distinguiu que, nas atividades de ouvir e contar histórias, “[...] se descobrem palavras novas, entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes. Capta-se o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção”. 

  Além disso, ressaltou-se a importância da criatividade do educador e educando para transformar a tarefa em algo significativo e prazeroso, pois a imaginação ao se trabalhar com leitura é algo fundamental e necessário para que se consigam resultados positivos durante o desenvolvimento da atividade através da utilização da mídia.

2 . MATERIAL E MÉTODO

 

Muitos aspectos do processo de construção e organização da experiência humana são pensados na linguagem.

Conclui-se que o importante é trabalhar com o que é interessante e prazeroso para o aluno; só assim é que ele irá aprender e compreender o que está sendo ensinado. O que é ensinado tem que ter sentido para o aluno se não houver não há interesse, não há compreensão, não há aprendizagem.

Acredita-se que o trabalho desenvolvido pela professora contribuiu significativamente para a aprendizagem dos alunos. Nas atividades descritas acima, foi possível perceber como eles se envolveram, participaram, criaram, interagiram e, sobretudo, leram bastante.

Com o trabalho posterior à leitura dos livros, como a recontagem das histórias, as ilustrações através da midia, as discussões que emergiram e, as aulas se transformaram, houve um grande interesse dos alunos pelas histórias e, principalmente, em assistir às apresentações dos colegas. Além disso, puderam se expressar livremente, aprenderam a tomar decisões e a negociar com os outros estudantes, assim como desenvolveram o senso de responsabilidade e a organização.

Em relação a parceria com a família nesse contar, no primeiro momento houve uma certa rejeição ao trabalho da professora, no qual solicitou a família para fazer a leitura com as crianças, mas foi somente o impacto do primeiro momento, tudo que  remete trabalho em família, torna-se preocupante, porque não se sabe ainda lidar com compromissos familiares, e sim chegar em casa e jogar se no sofá e gritar a alguém pra trazer isso ou aquilo. Passou o impacto, os familiares começaram vir a escola e fazer um acordo verbal com a educadora, no sentido de viabilizar junto aos filhos a leitura.

Aos profissionais da educação  parece que a experiência fez com que acreditassem mais em seu potencial e no dos alunos, mostrando disposição para se aperfeiçoar, aprimorar suas aulas e, principalmente, mudar procedimentos e técnicas, passando a adotar novas atividades que propiciaram momentos agradáveis para elas e para os estudantes.

3 . RESULTADO E DISCUSSÃO

Adotando como hipótese que “[...] todo processo de formação tem de ter como referência fundamental o saber docente, o reconhecimento e a valorização do saber docente [...]” (CANDAU, apud MIZUKAMI, 2002), resolveu-se, como forma de educação continuada, resgatar o contar das estórias entre família, sobre o papel da contação de estórias no desenvolvimento psicológico, sócio-comunicativo e afetivo das crianças, e propor meios para incentivar o gosto pela leitura através da utilização das mídias.

Visou-se, assim, (a) abordar a leitura através de estórias; b) evidenciar ao professor o imaginário de uma a outra cultura e produzir efeitos estimulantes para a prática da leitura; (c) enfatizar a importância da oralidade e da palavra como instrumentos de comunicação, pois, ao regatar essa tradição, valoriza-se a linguagem no seu aspecto oral, gestual e dramático. Além disso, ao deixar transparecer todas as formas da linguagem no processo de dramatização, a criança demonstra o que traz o texto, ou seja, o seu entendimento e (d) por meio das possíveis leituras e interpretações, levar o professor a despertar nos alunos o gosto pela leitura, de forma que eles passem a ler outros gêneros discursivos e se mantenham em contato com outros tipos de textos e livros.

Assim, iniciou-se o trabalho com a apresentação de um breve histórico sobre as origens da leitura de estória, realizando discussões sobre o caráter literário dos mesmos e expondo questões que envolvem as adaptações, simplificações e traduções, bem como as tendências de renovação do modelo tradicional.

Também foram apresentadas propostas de atividades para serem realizadas na sala de multi mídias, como as de narração e escuta, leituras em grupo e discussões, leituras dramatizadas com a utilização de fantoches e dedoches, além da exposição de técnicas para incrementar a contação de estórias e a confecção de materiais, como desenhos, colagens e sucatas para a elaboração de personagens das estórias infantis através da utilização do computador.

Motivada pelo resultado, a educadora aplicou tais atividades em suas turmas e obtendo respostas positivas, estimulando nos alunos o gosto e o interesse pela leitura e o uso das mídias. Ao verbalizar a disposição para se aperfeiçoar, aprimoraram suas aulas e, principalmente, mudar procedimentos e técnicas que já não geravam as respostas esperadas, como será possível observar a partir da análise dos depoimentos que constam das avaliações do curso e que serão apresentadas a seguir.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje em dia, contar e ouvir estórias e causos, momento tão fértil e prazeroso para a evolução do ser humano, foi banido do contexto familiar e social. Em seu lugar, os indivíduos jogam-se em frente à televisão. Apesar desse recurso também ofertar narrativas e lazer, esses meios de comunicação massificam as experiências, no qual inviabilizam e banem  o diálogo e a interação  e integração entre os adultos e as crianças.

Mesmo assim, como já ressaltado neste artigo, as crianças ainda se encantam com as leituras, pois são atraentes, despertando-lhes interesse pela narrativa. Por isso, os educadores possuem um  papel de suma importância no resgate da cultura mais tradicional, utilizando a sala de aula como espaço criativo, e desenvolver uma cumplicidade em projetos com parcerias com a família e escola para contar e ouvir historias, a fim de que permaneçam “vivas”, estimulando o imaginário das  crianças e,  principalmente, estimulando-os e despertando o prazer de  gostar de ler.

Dentre as sugestões apresentadas para serem trabalhadas em sala de aula, a educadora buscou textos que motivem e envolvam os alunos e, ao mesmo tempo,  sem nunca esquecer de que a nossa matéria-prima primordial é o ser humano e que, embora ainda em evolução, possui uma personalidade, vontades e opiniões, que devem ser respeitadas.

A valorização do educando e a criatividade do educador são parceiras desenvolvendo aspectos importantíssimos para que se tenha sucesso no trabalho com a leitura. Por isso, esses profissionais são seres humanos que fazem de suas ações enquanto educadores, uma melhor forma para que a aprendizagem ocorra, para que os educandos construam  seus conhecimentos.

Os relatórios, posteriormente são encaminhados à equipe de assessoria de Educação Especial – SEDUC  objetivando informá-los do trabalho desenvolvido e dando a oportunidade aos mesmos de fazerem sugestões e críticas, sempre pensando em melhorias para o trabalho desenvolvido no laboratório, para os alunos, enfim para a escola.

5. REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione,1991.Aladim e a lâmpada maravilhosa. Série Reencontro Infantil, Scipione, 2002.(Adaptação de Edson Rocha BragaALENCAR, M. Quem quiser que conte outra.  Revista Educação, abr. 2000, p. 42-58.

BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz   e Terra,1980.

MIZUKAMI, M. G. N. et al. Escola e aprendizagem da docência: processos de investigação e formação. São Carlos: EDUFSCar, 2002.

RIBEIRO, J. Ouvidos dourados: a arte de ouvir as histórias (... para depois contá-las...). 4. ed. São Paulo: Ave Maria, 2002.

SIQUEIRA, J. H. S .Organização textual da narrativa. São Paulo: Selinunte, 1992.

SOARES, A. Gêneros literários. 4. ed. São Paulo: Ática, 1977.

TODOROV, T. As estruturas narrativas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1970.

VILLARDI, R. Ensinando a gostar de ler e formando leitores para a vida inteira. Dunya: Rio de Janeiro, 1999.