INTRODUÇÃO

O estudo aqui elaborado foi motivado pelo interesse em compreender as relações existentes entre a narrativa, a mídia e a política, principalmente, em tempos de escândalos políticos. A rigor, é inquestionável que, com o aumento da visibilidade dos fatos sociais ocasionados pela quantidade de informação midiática, houve maior evidência da frequência de escândalos que envolvem lideranças políticas e econômicas nos mais diversos meios políticos. Portanto, a partir da midiatização dos escândalos, pressupõe-se também que houve o aumento da participação do público nas questões políticas que exigem a aceitação e consolidação social.

Ao se considerar outras gestões governamentais, tanto no âmbito político nacional e internacional, é possível mencionar diversas ocorrências de escândalos – políticos, econômicos, sexuais - que se destacaram por sua gravidade e repercussão. No Brasil, por exemplo, houve no ano de 2005 a eclosão de um escândalo chamado “Mensalão”, referente ao suposto pagamento de "mesadas" por membros do partido do governo federal a parlamentares em troca de apoio aos projetos de interesse do Poder Executivo.

Aqui, é interessante relembrar que o caso do "Mensalão" chama a atenção por ter sido deflagrado por investigações e denúncias divulgadas pela imprensa, e acabaram por nortear o desenrolar do caso. Todavia, a imprensa quando no papel de investigador, define seus relatos os quais têm importância na formação do conhecimento público. Pois, ao organizar os acontecimentos definem a sua estória, descrita nas narrativas jornalísticas. Desta maneira, o narrador relaciona o fato e ficção na narrativa, que resulta no apresentar de versões, estórias.

Cabe destacar que, na contemporaneidade de nações liberais, surge uma necessidade social de caracterizar a imprensa como uma área onde atuavam vigilantes dos poderes constituídos, que inibiam a corrupção, o abuso de poder e o conflito de interesse entre representantes, que por fim formavam o conhecimento sobre os fatos sociais, uma vez que a visibilidade midiática, nas suas estórias, funciona como forma de tornar os assuntos políticos mais acessíveis à sociedade, com uso da dramaticidade, de uma maneira a tornar o sistema político, de certa forma, transparente para sua fiscalização e participação pública. Assim, os meios de comunicação e os jornalistas possuem a função de denunciar os graves desvios de conduta, uma espécie de cão de guarda da ordem do sistema social, que aparecem em suas narrativas.

A cobertura dos casos, incansavelmente repercutidas, no entanto, abre margem para discutir a legitimidade de sua atuação. Levando em consideração que todos os meios de comunicação narram os acontecimentos, que se tornam públicos e formam opinião – como consequência comportamentos e ações sociais.

Outro escândalo de visibilidade, a “Operação Monte Carlo”, realizada pela Polícia Federal, objeto deste trabalho, pode ser considerado um exemplo dessa circunstância em que se encontra a imprensa, em especial a mídia regional goiana – que foi onde o escândalo aconteceu, o que torna o estudo do caso pertinente. Primeiro, porque a grandiosidade do escândalo tomou conta das mídias, revelando-se o assunto mais discutido nos espaços midiáticos – regionais, nacionais e até internacionais - destinados às questões políticas. Ademais, pelos nomes dos acusados, que faziam parte da alta cúpula da sociedade goiana. O que poderia de alguma forma influenciar na forma da abordagem feita pela imprensa do Estado de Goiás, o que motivou esse estudo do jornal impresso O Popular, veículo de grande importância regional e, conforme veremos, exerceu no caso em si, influência nacional.

Nesse contexto, a investigação sobre a relação imprensa e escândalo político torna-se relevante para compreender não somente o fenômeno político, como também, para analisar o posicionamento tomado pelos meios de comunicação na definição dos fatos e organização da cidadania, considerando sua importância para a formação do pensamento e conhecimento social. Neste sentido, ganha notoriedade no seu posicionamento a forma que se deu a seleção dos acontecimentos e de suas narrativas, que se inserem no cotidiano, que cada vez mais dependem das mediações, numa sociedade complexa.

A fim de viabilizar a investigação proposta fez-se necessário construir uma discursão teórica, na qual abordasse a importância da comunicação para a formação das relações dos indivíduos e sociedade, base para o conhecimento, identidade e cultura. Dessa forma, buscou-se esclarecer que desde as eras pré-históricas a comunicação proporcionou ao homem novas formas de interação, o que podemos considerar um início do processo de socialização dos indivíduos. Em seguida, aborda-se a questão dos mecanismos de vigilância e controle da mídia perante a sociedade moderna, o que é fundamental para explicar a relevância dada ao escândalo. E como tais mecanismos afetam o público, o qual tem como referência para seus conhecimentos o que a mídia veicula, cotidianamente.

No segundo capítulo, sobressai a narrativa, ressaltando a necessidade de uma coerência para sua construção e, que, inevitavelmente ela se apoia em conceitos que já existiam no conhecimento daquele que narra. Seja ele apenas um indivíduo (jornalista), ou um grupo de jornalistas (uma redação) ou mesmo uma empresa de comunicação (o Jornal) – além da importância da fonte para os fatos narrados. Logo depois, surge a necessidade de apresentar a mídia selecionada para o estudo, a imprensa goiana, mais precisamente o jornal O Popular, veículo com maior abrangência do Estado de Goiás, produto de um dos principais conglomerados de comunicação do Centro-Oeste, as Organizações Jaime Câmara. Por fim, fundamentalmente as narrativas no desenrolar cronológico da Operação Monte Carlo.

No terceiro capítulo, foram feitas as reconstituições das narrativas jornalísticas que abordam o escândalo político destacado nas páginas do jornal. Essa reconstituição foi sustentada com base no exame das principais coberturas do veículo, publicadas entre os dias 1º de março de 2012 - data da eclosão da "Operação Monte Carlo" - até o dia 21 de abril de 2012, restringindo especificamente as matérias sobre os importantes personagens políticos, na cobertura veiculada pelo diário O Popular. Como definição do recorte de pesquisa, na composição da reconstituição deu-se preferência à utilização de matérias que foram veiculadas na capa, com destaque, as quais sinalizam para novos acontecimentos, que mudam os rumos da narrativa, descritos como os episódios da estória. Ademais, ao empreender essa reconstituição ganham atenção as movimentações dos personagens que foram denunciadas pela operação policial, na composição das narrativas. Por fim, o trabalho visa elaborar uma reflexão a respeito da cobertura política, com capacidade de influenciar na formação da ordem política social.  Bem como analisar o comportamento e discurso do jornal goiano em um dos principais acontecimentos nacionais, com reflexo no Estado, culminando na CPMI do Cachoeira.