Em 1808 no Brasil eis que surge a Impressão (imprensa) Régia com censura em suas atividades através de uma junta administrativa que velaria para que nada se imprimisse contra a religião, o governo e os bons costumes. Os movimentos da mídia ao longo do tempo foram marcados por diversificações de comportamento, conquanto, ora com defesa ao poder, ora com suas publicações contra os excessos, como visto no celebre livro de César Beccaria "Dos delitos e das penas". Ademais, mídia livre foi a luta contínua dos seus representantes e que, em tempos atuais se refletira com o ex-ministro da Justiça, Márcio Thomás Bastos, em favor da garantia da livre manifestação de pensamento da imprensa, bem como do direito de manter sigilo a respeito de suas fontes, que enquanto dirigia seu Ministério ressaltou:

"A Constituição quer que a imprensa seja livre, não prevê que a imprensa seja justa e sempre esteja certa".

Eis contemporaneamente um problema de difícil solução, o posicionamento da mídia, dos intelectuais e do Poder público.
A crise social a que o Brasil se submete inclui dentre as instituições mais importantes a esta Nação, a Judiciária. As demandas jurídicas, sua problemática processual arcaica são incisivamente deformadora da esperança social. Não obstante, a falta de agilidade do processamento judicial retira do ânimo da Nação a psicológica satisfação da Ação Estatal, cai-se em descrédito.
Todavia, surge não um poder institucionalizado, mas sem dúvida um poder que, sendo informal, é de grande força histórica mundial, a saber: a MÍDIA, uma "nova agência do sistema penal". A comunicação social é meio de circulação cotidiano das informações mais importantes e mais dramáticas do país. Eis que a fraqueza do sistema jurídico face à sua crise, que prejudica a aplicabilidade do Ordenamento brasileiro, dá margem à pressão da mídia em face ao Estado de Direito.
Ao Estado cabe a distribuição da justiça com a responsabilidade social de digna processualização respaldado pelo devido processo legal e os princípios atinentes ao ordenamento jurídico. Todavia, fato não estranho é a interferência da mídia, que se torna irresponsável, quando parte para extremismos de toda monta para se utilizar a comoção social frente a transgressões às leis vigentes.
Surge a frenesi, que não é senão a incitação dos meios de comunicações face ao transgressor e ao Estado, que se vê ainda em suspeição na mira dos jornalistas animadores de platéia que sangram a dignidade alheia sem respeito aos mínimos direitos resguardados a qualquer pessoa, independente do crime cometido.
Dessa forma, o vácuo de insatisfação do ordenamento jurídico, remonta a certa parte da mídia brasileira um circo contra infratores, seja por perseguição política, por deficiência financeira do transgressor, seja por força do show a que se verifica na imprensa do Brasil, onde notícia é comércio e disso resultam as fantásticas edições com parâmetros de verdades absolutas de seus apresentadores, escritores, tidos como célebres conhecedores do que discutem, do que falam ou do que escrevem, no famoso monólogo.
A imprensa possui órgãos informativos que exploram os bons negócios das telecomunicações, e como empreendimento neoliberal, entendamos que os grupos econômicos estão na chave da compreensão dessa vinculação mídia-sistema-penal. A mídia tem idéia de pena antes de qualquer coisa, é uma criminologia muito própria. São crenças da mídia que trazem a imagem da pena como maior suplicio ao "terrorista" criminoso.
Quando o jornalismo deixa de ser uma narrativa, e possui outras pretensões sobre o crime, sobre as investigações, ou sobre o processo, dramatizando a coisa, passa a atuar politicamente.
A questão do sangue aumentar ou não as vendas não se reporta de veracidade profunda e sim ingênua. Há que se verificar que o discurso criminológico midiático não quer senão obter um instrumento de análise dos conflitos sociais e das instituições públicas. De tudo isso, há a fundamentação numa ética simplista, a da paz, e numa história de ficção de um passado cordial urbano, de saudades que jamais existiram. A isso se verifica pouca discussão sobre a ditadura e seus excessos, na imaginação de uma nova geração de que sempre vivemos a paz, e isso é legitimação de classe elitista.
O maior resultado estratégico disso é sem dúvida o discurso de poder exercer a argumentação de lei e ordem com uma ideologia politicamente correta. E aliada está a mecânica publicidade e as propagandas culturais cada vez mais políticas e tendenciosas.
Assim as tragédias fundiárias serão sempre entendidas como na sistemática do esbulho possessório, como no caso do parque oeste industrial em Goiânia. Resultado: estamos inertes a injustiças, que fazem parte da cultura corrente da mídia, de supostos ensinamentos, mas que são discursos retóricos, não democráticos, de condição de vegetação intelectual da sociedade, onde a movimentação desta Nação fica inteiramente presa à da mídia.
De tudo isso, os direitos sociais, consagrados internacionalmente, que resguardam a dignidade do ser humano, seja suspeito, seja indiciado, até sentença penal condenatória, estão em flagrante prejuízo no Brasil, não sendo respeitados e aplicados pela imprensa de forma geral.