Microbiologia: Mikros (= pequeno) + Bio (= vida) + logos (= ciência)


Definição de Microbiologia: área da ciência que dedica-se ao estudo dos microrganismos, um vasto e diverso grupo de organismos unicelulares de dimensões reduzidas, que podem ser encontrados como células isoladas ou agrupados em diferentes arranjos (cadeias ou massas), sendo que as células, mesmo estando associadas, exibiriam um caráter fisiológico independente.

Microorganismos: bactérias, fungos (leveduras e mofos), protozoários, algas microscópicas e também os vírus (entidades acelulares).

Habitat: Atualmente se conhece que habitam todos os ecosistemas e lugares.


Surgimento da microbiologia como Ciência: Segundo as necessidades da sociedade, epidemias sofridas pela humanidade, invenção do microscópio.

Evolução da microbiologia: Acontece após segunda metade do século XX devido a aplicação de técnicas físicas, químicas, bioquímicas e genéticas. Diferencia-se em disciplinas particulares: Microbiologia Geral, agrícola, Industrial, médica e veterinária.

A microbiologia é uma ciência que procura estudar organismos de tamanhos diminutos que só podem ser definidos sob a observação através de microscópicos, sendo denominados de microorganismos. Dentre estes estão incluídos os vírus, protozoários, fungos e algas. Portanto torna-se muito difícil para um microbiologista ter um amplo conhecimento de todos esses microorganismos. Sendo assim, os pesquisadores procuram se especializar nas diferentes áreas da microbiologia, surgindo então os : Bacteriologistas, Virologistas, Micologistas etc....

O estudo é de fundamental importância, não só no sentido de se conhecer o que os microorganismos fazem de maléfico para o nosso organismo, como é o caso das infecções , mas também por vários aspectos benéficos que eles podem trazer para a humanidade. Podemos citar o desenvolvimento de diversos antibióticos, cuja descoberta levou a uma revolução no tratamento de doenças infecciosas, que eram devastadoras até meados deste século.

Por muito tempo os biólogos consideraram a existência de apenas dois grandes reinos de seres vivos: o reino animal e o reino vegetal. Pra a maioria dos seres, essa maneira de classificá-los não era problemática.
Ninguém teria dúvida em considerar o sapo como animal e a samambaia como vegetal. Os critérios então utilizados para esta divisão eram simples: os animais andam e são heterótrofos ( ou seja, são incapazes de sintetizar seu próprio alimento orgânico, devendo obtê-lo de outras fontes. Os vegetais são imóveis e autótrofos ou seja ( são capazes de produzir seu próprio alimento orgânico a partir de substâncias simples do meio, com a utilização da luz do sol, em um processo conhecido como fotossíntese).
Mas, a partir do momento em que surgiram os primeiros microscópios, começou a descoberta de seres até então desconhecidos. Um deles foi a EUGLENA, um microorganismo que em presença de luz, atua como autótrofo, sendo capaz de realizar fotossíntese. Quando colocada no escuro, ela é capaz de se alimentar como qualquer heterótrofo. Além disso, possui um flagelo, que permite a sua locomoção, funcionando como animal.

Assim como as eugelas e os fungos , há outros casos de seres vivos que não se enquadravam nem no reino animal, nem no reino vegetal.
Tendo em vista a existência desses problemas, os cientistas decidiram criar o reino PROTISTA. Nele enquadraram as bactérias os protozoários, os fungos e as algas, ou seja, serem que não se encaixavam na idéia de animal ou vegetal. A partir do século XIX, portanto, passou-se a falar na existência de três reinos. Animal, Vegetal e Protista.

Com o progresso da ciência e a descoberta do microscópio eletrônico, pode-se visualizar melhor a célula, componente praticamente universal dos seres vivos da terra atual. Verificou-se, assim, que as bactérias e as algas azuis, que até então eram consideradas protistas, possuíam células desprovidas de núcleo. O material genético ficava disperso no interior da célula. Criou-se então o termo célula procariótica para designar essa organização celular primitiva.
Já nas células dos demais seres vivos, percebeu-se a existência de um núcleo perfeitamente delimitado por uma membrana, a chamada carioteca. Esse tipo celular passou a ser chamado de célula eucariótica. A partir dessa descoberta fez-se nova redistribuição dos seres vivos. As bactérias e todos os demais seres que possuem célula procariótica passaram a compor um novo reino. Reino Monera

Reino Fungi

Durante muito tempo os fungos foram considerados vegetais e, somente a partir de 1969, passaram a ser classificados em um grupo a parte. O fungos apresentam um conjunto de características próprias que permitem sua diferenciação das plantas:
● Não sintetizam clorofila
● Não apresentam celulose na sua parede celular (com exceção de alguns fungos aquáticos).
● Não armazenam amido como substância de reserva.
● Ausência de motilidade (difere dos protozoários)

A presença de substância quitinosa na parede e a capacidade de armazenar glicogênio os assemelham ás células animais.

Os fungos são organismos eucarióticos, alguns possuindo um só núcleo, como acontece nas leveduras, outros, múltiplos núcleos, como se observa nos fungos filamentosos (bolores). Seu citoplasma contém mitocôndria e retículo endoplasmático rugoso. Cada célula tem vida independente e não formam tecidos.

Micologia

O que é Micologia ?????

A micologia é o estudo dos fungos. A micologia médica estuda os fungos patogênicos para o homem.

Fungos:

são um grupo de seres vivos muito utilizados em pesquisas científicas. São heterotróficos e, por isso, vivem nutrindo-se de material orgânico em decomposição ou como parasitas em animais e vegetais. As manifestações dos fungos podem ser: mofo em uma laranja estragada, sobre o pão, nas paredes ou lesões que são características nos seres humanos.

Os fungos são constituídos de proteína e bastante água.

Podem ser macroscópicos ou microscópicos. De um modo geral, os fungos são diferenciados em bolores e leveduras

Importância
Pela sua natureza oportunista, vêm produzindo doenças graves no homem. Além disso, são utilizados na produção de cerveja, vinho, na alimentação (champignons), na produção de medicamentos (penicilina). O LSD é extraído de fungos.

Morfologia
Dimorfismo é a capacidade que alguns fungos tem de estar sob forma de bolor, na vida saprofítica, e na forma de levedura na vida parasitária. Ocorre com mudanças de pH, temperatura, Imunidade.

Fisiologia e nutrição
-são heterotróficos, não possuem clorofila e necessitam de proteínas, carboidratos, lipídios, álcool, N, vitaminas e ácidos graxos.
-adaptam-se a cargas maiores de glicose que as bactérias.
-são aeróbios ou microaerófilos.
-pH 6 e temperatura de 22°C a 30°C (média de 25°C) são ótimos para seu desenvolvimento.
são exigentes quanto à umidade, mas se estiverem num ambiente desidratado, esporulam e permanecem como forma de resistência.
-têm capacidade de produzir pigmento e calor através da fermentação.
os fungos crescem muito lentamente, por isso o meio de cultivo usado para fungos não pode desenvolver bactérias, pois essas crescem muito rapidamente mascarando o crescimento do fungo. Existe um meio feito em laboratório, o Mycobiotec, acrescido de antibiótico. Assim, inibi-se o crescimento de bactérias e de fungos contaminantes não patogênicos para o homem.

Habitat
-antropofílicos: habitam só o homem.
-zoofílicos: habitam animais podendo habitar o homem.
-geofílicos: estão na natureza (terra, vegetais, etc).

MICOLOGIA MÉDICA

Conceito
Estuda os fungos patogênicos.

Divisão
- Micoses superficiais;
- Micoses cutâneas;
- Micoses subcutâneas;
- Micoses profundas ou sistêmicas;
- Micoses oportunistas.

Terminologia
1. Quanto à localização:
Citomicose, dermatomicose, onicomicose (unhas), oftlamomicose, tricomicose (pêlos), micose pulmonar, etc.
2. Quanto ao fungo:
Aspergilose, tricofitose, microsporose, candidíase, histoplasmose.
3. Quanto ao nome popular:
Favo, tokelau, chimberê, sapinho, pé-de-atleta, unheiro.
Fatores que influenciam no surgimento de micoses
1. Externos: dieta alimentar, indumetária, profissão, esportes, idade, hábitos higiênicos.

2. Internos: lesões pré-existentes, alterações metabólicas como diabetes, uso de antibióticos (causam imunodepressão), uso de hormônios, uso de corticóides, AIDS, etc.

Micoses de importância médica
1. Superficiais: ptiríase versicolor, piedra branca, piedra negra, tinha negra (do latim verme, traça que faz caminho sinuoso).
2. Cutâneas: dermatofícias e candidíases.
3. Subcutâneas: esporotricose, cormomicose, micetomicoses, rinosporodiose, zigomicoses (Entomophthoramicose).
4. Sistêmicas: paracoccidioidomicose, blastomicose, histoplasmose, criptococose, coccidioidomicose
5. Oportunistas: zigomicose, hipomicose, tiohifomicose, candidíase sistêmica

Micoses superficiais da pele
O que são?
As micoses superficiais da pele, em alguns casos chamadas de "tineas", são infecções causadas por fungos que atingem apenas as camadas superficiais da capa córnea da pele ou a haste livre dos pêlos. Os fungos estão em toda parte podendo ser encontrados no solo e em animais. Até mesmo na nossa pele existem fungos convivendo "pacificamente" conosco, sem causar doença. As lesões se manifestam como manchas pigmentarna pele ou nódulos nos pêlos.

A queratina, substância encontrada na superfície cutânea, unhas e cabelos, é o "alimento" para estes fungos. Quando encontram condições favoráveis ao seu crescimento, como: calor, umidade, baixa de imunidade ou uso de antibióticos sistêmicos por longo prazo (alteram o equilíbrio da pele), estes fungos se reproduzem e passam então a causar a doença.

Micoses Superficiais

São divididas em:Ceratofitoses e Dermatofitoses
Ceratofitoses

As ceratofitoses ou micoses saprofitárias são causadas por fungos, que vivem sobre a pele ou ao redor dos pêlos e utiizam restos epiteliais ou produtos de excreção. Não determinam reações de hipersensibilidade. Neste grupo estão:

Pitiríase versicolor
Tinea negra
Piedras

Dermatofitoses

São causadas por fungos denominados dermatófitos, que utilizam a queratina como fonte de sobrevivência. As lesões decorrem da ação do próprio fungo ou de reações de sensibilidade ao agente. Estão incluídos os fungos dos gêneros Microsporum, Trychophyton e Epidermophyton. Podem ser antropofílicos, zoofílicos ou geofílicos.

Pitiríase versicolor ("Micose de Praia")

Fungo: Malassezia furfur

O que é?
Também vulgarmente conhecida como "micose de praia" ou "pano branco", a Pitiriase versicolor é uma micose mas, ao contrário do que se pensa, não é adquirida na praia ou piscina. O fungo causador da doença habita a pele de todas as pessoas e, em algumas delas, é capaz de se desenvolver causando a doença. As áreas de pele mais oleosa, como a face e a porção superior do tronco são as mais frequentemente atingidas.

Manifestações clínicas

Quando uma pessoa com a micose se expõe ao sol, a pele contaminada não se bronzeia. A doença então aparece na forma de manchas claras, pois a pele ao redor fica bronzeada, e a pessoa acha que pegou a doença na praia ou piscina. Entretanto, o sol apenas mostrou aonde estava a micose. Em alguns casos, as manchas podem ser castanhas ou avermelhadas. As lesões são recobertas por fina descamação.

Pitiríase versicolor:
Forma manchas claras recobertas por fina descamação, facilmente demonstrável pelo esticamento da pele. Atinge principalmente áreas de maior produção de oleosidade como o tronco, a face, pescoço e couro cabeludo

A clínica apresentada corresponde a máculas descamativas de cor variável, múltiplas, coalescentes, às vezes com nítido padrão folicular, atingindo pescoço, tórax e raízes de membros superiores, raramente podendo ocorrer na face, abdome, nádegas e membros inferiores. O fator predisponente ao desenvolvimento dessa doença é a sudorese (calor). Não há prurido, sendo geralmente assintomáticas. Os sinais dermatológicos que podem ser pesquisados são o sinal da unha (descamação) e o sinal de Zileri (estiramento da pele causa descamação furfurácea).
O diagnóstico é puramente clínico (presença de lesões esbranquiçadas e descamativas).

Sinais de Besnier e de Zileri

Sinal de Besnier ou sinal da unhada:

É caracterizado por uma descamação furfurácea da lesão quando é raspado com a unha



Sinal de Zileri:

É um sinal clínico observado ao ser feito um leve estiramento com os dedos da região sugestiva da pitiríase, sendo observado nessa região um discreto esfacelamento da queratina.

Outras manifestações clínicas da doença são:
Foliculite pitirospórica : Forma severa da doença, atinge a glândula sebácea e o folículo piloso.
É comum em pacientes IMUNODEPRIMIDOS
Especialmente com AIDS


Dacriocistite obstrutiva : Colonização e obstrução do canal lacrimal que pode cegar. Inflamação do saco lacrimal
DOR intensa e INCHAÇO do canto interno do olho, estendendo-se até o nariz

Dermatite seborréica
Ocorre comumente em crianças e jovens na puberdade. Manifesta-se como lesões oleosas eritomatoescamosas distribuídas pelo couro cabeludo, pálpebras, pregas nasolabiais, axilas e região inguinal. Comumente acompanha-se de prurido.

Tratamento
A Pitiriase versicolor é uma micose que responde bem ao tratamento, que pode ser feito com medicamentos de uso via oral ou local, dependendo do grau de comprometimento da pele. Entretanto, devido a ser causada por um fungo que habita normalmente a pele, há uma grande chance da micose voltar a aparecer, mesmo após um tratamento bem sucedido.
O tratamento é tópico com sulfeto de selênio a 2,5% ou hipossulfito de sódio a 30% duas vezes ao dia antes do banho. Pode-se utilizar o tratamento sistêmico em casos de recidivas freqüentes, com cetoconazol 200mg/dia 10 a 15 dias ou itraconazol 100mg/dia durante duas semanas.
Sabonetes com anti-fúngicos
Xampus com anti-fúngicos

Tinea nigra
Pode ser causada por dois fungos:

Hortaea werneckii, de distribuição cosmopolita, e a Stenella araguata isolada de cinco casos venezuelanos. Os dois fungos são sapróbios na natureza
A enfermidade se localiza nas palmas das mãos e na planta dos pés e se caracteriza pela presença de máculas pigmentadas, marrons ou pretas. A micose é muito frequente nas regiões tropical e subtropical do continente.

No Brasil têm-se registrado casos nos seguintes Estados: Bahia, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Manifestaçãoes Clínicas
Assintomática
Manchas de tonalidade marrom ou negra
Acomete as palmas das mãos e raramete planta dos pés (excepcionalmente podem ocorrer em outras partes do corpo)
Aspecto arredondado
Não descamativa
Bordas das lesões bem delimitadas
Lesões são poucas ou únicas

TRatamento
Tópico com agentes queratolíticos ou produtos à base de ácido undecilênico ou derivados imidazólicos, por duas a 4 semanas.

Agente etiológico
Fungo cresce em temperaturas elevadas

Encontra-se em restos de vegetais, esgoto e no próprio solo.

No Brasil a única espécie encontrada é Phaeoanneleomyces werneckii


PIEDRAS
São infecções fúngicas que se caracterizam pela presença de nódulos irregulares, aderentes ao pêlo e, geralmente, visíveis a olho nu.

São reconhecidos dois tipos de piedra

Piedra branca Piedra negra

As Piedras são infecçõess benignas, mas muito contagiosas e de fácil propagação. São distintas, não só pelos agentes etiológicos, mas também pela sua distribuição e epidemiologia. Clinicamente essas micoses podem ser confundidas com pediculose (lêndias). Atacam a região folicular dos pêlos.

Piedra negra

Agente etiológico: Piedrai hortai

Epidemiologia: é observada em regiões tropicais e subtropicais da América do Sul sendo endêmica na Amazônia. Ataca somente os cabelos apresentando nódulos visíveis ou não a olho nu. A nodosidade da Piedra negra são muito resistentes. A infecção inicia pela implantação do fungo sob a cutícula da haste dos cabelos, com o crescimento o fungo rompe a bainha do cabelo desenvolvendo-se ou seu redor formando um nódulo

Manifestações Clínicas
Os nódulos, são únicos ou múltiplos em um cabelo, têm cor escura, são muito duros e aderentes. A infecção transcorre assintomaticamente.

Tratamento
O tratamento preconizado para Piedra negra é semelhante ao da Piedra branca. Isto é, deve-se fazer a remoção máxima do pêlo infectado, seguida em algumas ocasiões de medidas profiláticas de higiene e utilização de compostos com potencial anti-fúngico tais como: Formalina a 2%, derivados imidazólicos duas vezes ao dia por um período aproximadamente de 15 dias. Itraconazol apresenta-se como uma nova opção terapêutica.

Piedra branca

Agente etiológico: A Piedra branca tem como agentes etiológicos Trichosporon ovoides, T. inkin, T. mucoides e T. asahii. Trichosporon beigelli Os fungos do Gênero Trichosporon são sapróbios na natureza e, também, colonizadores da pele das regiões axilares, inguinais e perineaisdo homem. Afeta usualmente os pêlos axilares, inguinais ou perineais e raramente os cabelos ou a barba. T. inkin nos pêlos pubianos e T. ovoides no couro cabeludo.

Epidemiologia: é vasta a distribuição geográfica. Os nódulos são únicos ou múltiplos, tem coloração clara e são facilmente descartáveis dos pêlos. Usualmente assintomáticos, porém quando acompanhados de lesões eritematosas da pele, especialmente nas regiões inguinais e perineais, podem provocar prurido.

Tratamento
Corte dos cabelos ou pêlos da região infectada. Lavar com solução de bicloreto de mercúrio a 1:2.500 ou usar creme de clotrimazol duas vezes ao dia.

Micoses Cutâneas
Dermatofitoses

Utilizam queratina como fonte energética

Causada por fungos do Gênero:
Microsporum: pêlo e pele
Trichophyton: pêlo, pele e unha
Epidermophyton: pele e unha

ECOLOGIA
O grupo dos dermatófitos geofílicos habitam o solo e material queratínico em decomposição no solo. Infectam tanto animais como seres humanos, como Microsporum gypseum.

O grupo zoofílico é com freqüência associada a animais e ocorre também no solo. São exemplos desse grupo o Microsporum canis, que pode estar associado a animais como o cão ou gato, e o Trichophyton verrucosum, ao gado bovino. Assim sendo estes fungos ascenderam na escala filogenética rumo ao homem.

O grupo antropofílico, vinculado diretamente ao homem, raramente infecta animais. Fazem parte desse grupo o Trichophyton tonsurans e o Microsporum audouinii, que causam infecções no couro cabeludo, o Trichophyton rubrum, nas unhas e o Epidermophyton floccosum, nos pés.

QUADRO CLÍNICO
A importância de reconhecer, em determinadas espécies de dermatófito, a que microcoecossistema ele pertence está relacionada à resposta que ele pode desencadear no hospedeiro humano; assim acredita-se que, quanto mais distanciado filogeneticamente está um dermatófito da espécie por ele parasitada, maior será sua resposta inflamatória.

Logo podemos concluir que os fungos geofílicos, quando parasitam o homem, são capazes de desencadear uma resposta inflamatória bem mais evidente, seguida das espécies zoofílicas, que causam uma resposta moderada, e das antropofílicas que em determinadas situações, podem coexistir com esse hospedeiro sem induzir grandes alterações.

Apesar dessa diferenciação, quando a resposta do hospedeiro se fizer presente numa grande maioria dos casos, não podemos esquecer que o ponto fundamental da resposta de um determinado organismo à ação de um invasor está, em última análise, ligado ao binômio parasito/hospedeiro e que, na avaliação desse binômio, entram em questão algumas características inerentes ao hospedeiro e outras inerentes ao parasito.

A resposta desencadeada no hospedeiro podem, em muitas situações, não ser as esperadas no que diz respeito a escala filogenética do parasito, podendo-se, em determinadas situações, encontrar uma resposta inflamatória quando um humano é parasitado por uma espécie geofílica ou, ainda, ou outro lado da moeda, quando observamos uma intensa resposta inflamatória em um humano, quando este é parasitado por uma espécie antropofílica. Portanto devemos ter em mente que essas situações são exceções que podem ou não estar presentes.

Os quadros clínicos das dermatofitoses ou tinhas são definidos de acordo com sua distribuição topográfica e têm em comum, como sintoma mais importante, o prurido e/ou processo inflamatório.

Nos últimos anos, a literatura vem divulgando amplamente o aumento das infecções fúngicas, sendo as dermatomicoses principais responsáveis por esse aumento.

Quando a distribuição geográfica, os dermatófitos são cosmopolitas. A literatura mundial aponta o T. rubrum como a espécie de dermatófito mais comumente isolada, seguida do T. violaceum e do T. mentagrophytes. No Brasil (regiões sul e sudeste) estudos têm apontado T. rubrum, M. canis e T. mentagrophytes, respectivamente, como as 3 espécies mais prevalentes de dermatófitos isolados. Já na Região Nordeste, têm sido observado como as espécies mais prevalentes o T. tonsurans, seguido do T. rubrum e M. canis.

Patogenia
A instalação de um processo patogênico por um dermatófito em pele glabra inicia-se sempre pela inoculação da estrutura fúngica sobre a pele, favorecido por uma lesão cutânea ou escoriação pré-existente, mesmo que esta seja mínima.

Dessa forma a estrutura fúngica desenvolve-se à favor da escoriação penetrando na camada córnea da epiderme crescendo de maneira circular e centrífuga, resultando em alguns dias uma lesão macroscópica de aspecto circular visível na interseção da pele sã com a doente, lesões vesiculares que circunscrevem a parte central onde se observa descamação associada ou não a resposta inflamatória mais ou menos evidente.

Nas dermatofitoses, os pêlos, quando atacados, sempre são secundariamente à evolução de uma lesão de pele, que apresenta em uma superfície, uma grande quantidade de folículos pilosos. Os dermatófitos, na sua progressão centrípeta, mais cedo ou mais tarde vão encontrar uma região de orifício piloso, invadindo assim a camada córnea da epiderme que se aprofunda em direção ao infundíbulo do pêlo.

Em contato com uma nova fonte de queratina, o dermatófito remove a cutícula e ganha o pêlo. Essa invasão ocorre da superfície até as partes mais profundas do pêlo, parando sua progressão ao não encontrar mais queratina.

Por último temos o comprometimento das unhas, que se faz secundariamente à penetração do dermatófito na camada córnea, na porção distal do leito ungueal. Essa penetração se faz de forma voluntária na unha previamente doente, favorecidas por traumas. A invasão começa preferencialmente na parte distal em direção à parte proximal.

Essa característica pode auxiliar na diferenciação das onicomicoses por dermatófitos, que comprometem primeiramente a borda livre das unhas, quando comparadas com as onicomicoses ocasionadas por Candida sp que comprometem primeiramente a prega ungueal proximal.

Manifestações clínicas
Os aspectos clínicos das lesões dermatofíticas são bastante variados e resultam da combinação de destruição de queratina associada a uma resposta inflamatória, mais ou menos intensa, na dependência do binômio parasito/hospedeiro. A variação clínica está portanto associada a três fatores: espécie de dermatófito envolvida no processo infeccioso, sítio anatômico acometido e status imunológico do hospedeiro.
Existem duas formas de classificação clínica das dermatofitoses: Um segue a corrente inglesa que denomina todas as infecções de "tinea", associada a outra palavra, que aponta o sítio anatômico da lesão

As lesões são denominadas de
Tinea pedis

Tinea capitis

Tinea unguium ( onicomicoses)

Tinea cruris

Tinea corporis

Tinea barbae

Já outra classificação clínica segue a corrente francesa e classifica as dermatofitoses em:
Tinhas ou Tineas : Qualquer lesão dermatofítica que acometa o couro cabeludo e/ou região da barba e bigode.
Epidermofitíases : lesões dermatifíticas encontradas na pele glabra.
Onicomicoses dermatofíticas : lesões em unhas.


Transmissão
Os dermatófitos podem ser transmitidos de homem a homem, do animal ao homem, ou vice ?versa, de animal a animal e do solo ao homem e animal pelo contato direto ou através de escamas epidérmicas e pêlos infectados.

Vários são os fatores que contribuem para o desenvolvimento, como o tipo de roupa ou calçados, o grau de higiene pessoal e os fatores ambientais como calor e umidade.

Os mecanismos de transmissão não são completamente conhecidos. Dados epidemiológicos sugerem que a transmissão pode também ser feita pelo contato do indivíduo com ambientes contaminados, como pisos de banheiros, bordas de piscinas, etc., ou por meio de objetos pessoais, como pentes, escovas, navalhas, toalhas onde o fungo estaria em estado latente. Pesquisas tem demonstrado dermatófitos em indivíduos e animais sem lesão clínica aparente. O homem e os animais podem, portanto, ser portadores assintomáticos.

Onicomicoses Dermatofíticas ou Tinha unguium
Também denominada Tinha das unhas, é freqüente em adultos, idosos, imunocomprometidos, diabéticos e principalmente em esportistas. Nos dias atuais, o comprometimento fúngico das unhas constitui-se em sério problema em razão de sua elevada frequencia e sua dificuldade diagnóstica, tanto para os clínicos como para os micologistas, somando-se a esse problema uma conduta e seguimento terapêutico inadequado por parte do paciente.

Esse fato pode ser bem exemplificado quando se observa negligência dos pacientes frente a esse tipo de lesão, principalmente quando as unhas acometidas são as dos pés. As infecções fúngicas das unhas podem ser causadas por fungos dermatofíticos e leveduras, diferenciando-se clinicamente pelo comprometimento das unhas.
Quando envolve os dermatófitos , caracteriza-se por um comprometimento inicial da porção distal da unha .
Já as leveduras causam um comprometimento inicial da porção proximal podendo ou não estar associado a uma lesão propriamente dita das unhas.

Os fungos desenvolvem-se facilmente neste habitat, alimentando-se de queratina (substância responsável pela rigidez das unhas).

As onicomicoses, além de incómodas e de aspecto desagradável, podem tornar-se muito dolorosas.

A unha do dedo grande do pé é, habitualmente, a primeira a ser afetada. No entanto, todas as unhas dos pés e das mãos podem ser afetadas. A unha afetada normalmente fica com uma cor amarela escura/estanhadas ou tem manchas brancas, torna-se fraca, quebradiça e tende a separar-se da base. A unha afetada pode também ter um odor estranho. A onicomicose limita as normais atividades das pessoas pois torna doloroso o uso de sapatos, condiciona o andar, para além de ser extremamente desconfortável, inconveniente e embaraçosa

ONICOMICOSES CAUSADAS POR DERMATÓFITOS

Existem quatro tipos de onicomicoses causadas por dermatófitos:
1. Onicomicose subungueal distal / lateral;
2. Onicomicose subungueal próximal;
3. Onicomicose superficial branca;
4. Onicomicose distrófica total

Manifestações clínicas
Onicomicose Subungueal Distal
Responsável, por mais de 90% dos casos, caracterizando-se por uma lesão que começa na borda livre da unha, iniciando-se por um descolamento da lâmina superficial, que evolui, nessa região, para tornar-se opaca, esbranquiçada e espessa. O raspado subungueal pode evidenciar um material de consistência farinácea, esbranquiçada, originada da intensa queratólise.

Geralmente, observa-se a preservação da lâmina superficial. Entretanto com a evolução da doença, essa lâmina acabará por ser atacada, podendo assim a unha, com o comprometimento do leito ungueal, vir a cair.

A mais freqüente;
- Mais comum em unhas dos pés;
- - Descolamento da borda livre da unha: a unha descola do seu leito, geralmente iniciando pelos cantos e fica oca (onicólise). Pode haver acúmulo de material sob a unha.

- Espessamento: as unhas aumentam de espessura, ficando endurecidas e grossas. Esta forma pode ser acompanhada de dor e levar ao aspecto de "unha em telha" ou "unha de gavião".

- Características: unha opaca, esbranquiçada, espessa.

Descolamento da borda livre: a unha descola do seu leito, geralmente iniciando pelos cantos e fica ôca. Pode haver acúmulo de material sob a unha. É a forma mais frequente.

Onicomicose Subungueal Proximal
Inicia-se pela extremidade proximal, onde se observam manchas brancas ou amareladas ao nível da lúmula, comprometendo toda unha à medida que esta cresce, adquirindo assim características semelhantes à onicomicose subungueal distal

- Esta forma é mais rara: geralmente em aidéticos;

- Inicia-se pela extremidade proximal: observa-se manchas brancas ou amareladas ao nível da lúnula comprometendo toda a unha.

- Adquire depois características da forma subungueal distal.

Onicomicose Superficial Branca
Representa aproximadamente 2 a 5% das onicomicoses dermatofíticas, caracterizando-se pelo aparecimento de manchas de coloração branca na parte medial da lâmina superior da unha. Com a evolução da lesão, podem ser observadas manchas de coloração amarelada. Esse tipo de lesão caracterização pela presença de estruturas fúngicas em direção ao interior da unha, penetração essa que pode ser facilitada por trauma anterior. Essa lesão não apresenta predisposição por grupos raciais nem sexo, e só são observados casos após a puberdade

A onicomicose branca superficial e comumente observada nas unhas dos pés, evoluindo para uma onicodistrofia total.

Mais comum nas unhas dos pés;

- Manchas brancas na superfície da unha (Leuconíquia);

- Com a evolução as manchas ficam amareladas e pode destruir toda a unha;

Onicodistrofia Total
Lesão possivelmente originária da evolução das lesões anteriormente descritas, que se caracteriza pela fragilização e queda de todas as lâminas ungueais, persistindo apenas alguns restos de queratina aderida ao leito ungueal. Esses casos são observados em pacientes nos quais o descaso com a doença e a utilização terapêutica erradas favorecem a evolução da lesão. Esses quadros são observados geralmente em adultos e idosos, não verificando uma predileção por sexo ou raça
Destruição e deformidades: a unha fica frágil, quebradiça e quebra-se nas porções anteriores ficando deformada ou restando alguns restos de queratina aderida ao leito ungueal.

TRATAMENTO
Existe uma dificuldade generalizada em se tratar onicomicoses, pois esta revela-se como um grande desafio. Os fungos são difíceis de erradicar, em virtude da queratina, muito densa, que participa da estrutura da unha. Há, ainda pouca vascularização, explicando, assim, a pouca penetração dos medicamentos por via sistêmica, bem como o crescimento lento das unhas (5 a 6 meses para as unhas das mãos e 12 a 18 meses para unhas dos pés). Ressalta-se que as unhas dos pés são mais difíceis de tratar que as unhas das mãos.

A griseofulfina, o primeiro agente antifúngico promissor para o tratamento das onicomicoses, tem baixa afinidade pela queratina ungueal, com a concentração da droga declinando mais rápido do que no plasma.
Devido ao crescimento lento da unha, a griseofulvina deve ser administrada por cerca de 12 a 18 meses, na dose de 500mg 2 vezes ao dia

Uma análise mostrou taxa de cura micológica de 25,5%, com taxa de recaída de 40% 3 a 12 meses após o final da terapia. Atualmente a griseofulvina vem sendo substituída pelos antifúngicos mais modernos, como, por exemplo, itraconazol, fluconazol, e terbinafina.

Introduzido na prática clínicaem 1980, o cetoconazol foi o primeira azólico para o tratamento das onicomicoses, na dose de 200mg/dia, por 4 meses. Esse antifúngico apresenta maior afinidade pela queratina ungueal, sendo detectado na porção distal da unha 11 dias após o início do tratamento. Como maior problema, citam-se os efeitos colaterais.

A nova geração de antifúngicos indicados no tratamento das onicomicoses são itraconazol, fluconazol e terbinafina. O itraconazol foi aprovado para uso contínuo (200mg/dia, por 3 a 4 meses). O Fluconazol, por sua vez, é usado na dose de 150 a 400mg. A terbinafina tem se mostrado como a droga de escolha, 250mg/dia durante 6 a dose semanas. Os níveis da droga persistem na unha 3 a 6 meses após o final do tratamento.

O tratamento tópico para as unhas mostra-se pouco eficaz. Os tratamentos associados, tópico e oral proporcionam melhores resultados. Dentre os antifúngicos tópicos destacam-se o ciclopirox a 8% sob a forma de esmalte fungicida para uso diário aprovado nos Estados Unidos. No Brasil sendo proposto para uso para dias alternados ou três vezes por semana no primeiro mês, duas vezes por semana no segundo mês e uma vez por semana nos próximos quatro meses.