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Todos os dias quando acabo de tomar café tenho hábito de sacudir a toalha no quintal e os farelos de pão e biscoito caem no chão. Uns minutos depois meu quintal fica com alguns passarinhos que ficam comendo todo o farelo e eu fico os observando da janela enquanto lavo a louça. Esse ritual já tem uns anos e parece que os passarinhos sabem disso pois há anos eles me acompanham e trazem seus amiguinhos para um farto café da manhã.

Certa vez, enquanto eles comiam, um passarinho branco e preto, lavadeira mascarada, acabou brigando com os outros e uma confusão de formou e eles saíram voando e se bicando no ar. Eu não entendi o motivo da briga mas no reino animal elas acontecem então nem me sensibilizou essa história. Na manhã seguinte quando fui sacudir novamente a toalha vi que tinha um desses passarinhos no cantinho, totalmente assutado, parado e inerte. Fiquei com um dó e cheguei perto dele e ele não saiu, estava machucado e acho que foi da briga do dia anterior. Incrível como ele voltou depois da briga para o meu quintal, acho que sabia que eu iria cuidar dele.

Coloquei em uma gaiola e coloquei pão e mamão para ele que comeu muito pouco. Durante os 4 dias que ficou comigo ele não melhorou e ao contrário, piorou a sua saúde. Parece que convivemos por anos mas foram apenas 4 dias. Me apeguei a ele pois ele me procurou pedindo, da sua forma, ajuda e eu jamais iria negar. Ele teve uma morte digna, morreu quietinho, sem atrapalhar ninguém, assim como uma vela que se apaga aos poucos conforme as chamas vão queimando a parafina. Ele foi minguando, se encolhendo cada vez mais, até que de manhã vi que ele não estava mais comigo e havia partido. Meu passarinho morreu. Fiquei triste. E não somente eu, minha filha e meu marido.

Vendo aquela situação eu não tive coragem de jogar ele no lixo ou na rua ou qualquer outra forma de descarte. Se ele confiou em mim para cuidar dele nos momentos finais de sua vida, resolvi que ele teria um enterro digno e seria lembrado para sempre pela minha família.

No Rio de Janeiro existe uma ilha chamada Paquetá, que é muito famosa e atrai muitos visitantes que ficam deslumbrados com o lindo por do sol e um ritmo de vida totalmente diferente do que estamos acostumados em seus 1 Km e 200 m². Sem carros, sem engarrafamentos e sem agitação. O transporte ainda é de charrete ou de bicicleta. Veículo de motor é proibido na ilha inclusive as motos para os 4 mil habitantes. Nessa ilha existe o único cemitério de passarinhos do Brasil e fica na Rua Joaquim Manoel de Macedo, tem pouco mais de 24 sepulturas e é interligado ao cemitério da ilha. As covas têm entre 20 e 30 cm e profundidade de 10 cm e o sepultamento é gratuito, basta chegar com o passarinho que um senhor faz o sepultamento.

Nunca tínhamos conhecido a ilha então a oportunidade foi perfeita. Eu, meu marido e minha filha fomos até a ilha de Paquetá, conhecemos o espaço e enterramos nosso passarinho lá para o descanso eterno. Hoje, ao lembrar, fico emocionada. Nunca voltei na ilha e também as sepulturinhas têm alta rotatividade, já que os ossos dos passarinhos se desintegram muito rápido. Um fim digno para meu passarinho