V CONGRESSO BRASILEIRO DE METROLOGIA

 

METROLOGIA FORMAL

Luiz Fernando Mirault Pinto1

1 Inmetro, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected]

 


Resumo

O artigo mostra que a Metrologia por suas aplicações em diversas áreas de conhecimento, sua participação no cotidiano das pessoas, sua potencialidade na criação de novos campos de trabalho e sua transversalidade dialógica, preenche condições [1]para sua inserção no ensino formal.

 

A metrologia, como fenômeno que integra a realidade, em sua abrangência técno-científica, já vem sendo conceituada em seu aspecto interdisciplinar [2]. Tal reconhecimento, já deveria ter-lhe fornecido uma melhor fundamentação humanística, porém, pode-se observar a existência de lacunas quanto ao seu entrosamento e sua interface com outras ciências correlatas, bem como, a familiarização com as demandas do mundo globalizado e demais necessidades da modernidade, as quais, somente, o ensino formal e continuado poderia proporcionar-lhe.

 

O texto baseia-se em conceituações desveladas na produção do conhecimento científico sobre a metrologia e a educação, na perspectiva do autor que ressalta sua importância, a partir da interpretação que dela se faz em seus diversos papéis, tais como: ciência, história e extensão do homem, educação, disciplina, e sobrevivência.

 

A busca da democratização da ciência reflete-se na sociedade atual, na qual se torna mais freqüente o acesso da grande massa às tecnicidades existentes, seja por meio da informação ou do consumo.

 

O espaço da metrologia formal, a metrologia como ciência, assim como as condicionantes para a educação científica, indiscutivelmente deve estar reservado nas escolas de qualidade (universidades e instituições de pesquisas consolidadas), na formação e qualificação de profissionais.

 

Palavras-chave: Ensino de Metrologia, Metrologia e Educação, Metrologia no Nível Superior.

 

1. INTRODUÇÃO

 

A importância da Metrologia revela-se pelo fato de que sua práxis possibilita a resolução de problemas da vida cotidiana, com as mais diversas aplicações no mundo do trabalho [3], funcionando como instrumento essencial para a construção de conhecimentos e práticas em outras áreas curriculares. Além disso, contribui expressivamente na formação e capacitação intelectual, estruturação do pensamento e no raciocínio dedutivo. Como as medições estão presentes direta ou indiretamente em todos os processos de tomada de decisão, envolvendo comércio, indústria, saúde e meio ambiente, a metrologia, por conseguinte, tem, também, expressiva influência nos aspectos econômicos da geração de riquezas.

 

A complexidade e a sofisticação dos processos tecnológicos modernos; a inovação como exigência da competitividade no desenvolvimento de processos e produtos novos; o reconhecimento, a emergência da consciência dos direitos do cidadão-consumidor e a procura de informações corretas; a globalização e a necessidade da garantia quali-quantitativa das mercadorias e nas relações de troca, bem como, a substituição das barreiras tarifárias de comércio, pelas barreiras técnicas, como meio de proteção aos produtos, em suas origens e limites regionais, [4] são fatores decisivamente relacionados à ampliação da concepção que ainda se tem de sua abrangência e importância.  

 

Tendo sua origem na física representada pelas grandezas físicas e suas relações de propriedades, e na matemática, a partir das operações e conversões, a interface entre a metrologia e a educação se dá pela constância e universalidade das medidas em todas as disciplinas do ensino formal e em diversos níveis de aprendizagem.

 

Aos poucos, a metrologia vem sendo introduzida como área de conhecimento, na educação formal, por meio de iniciativas individuais de centros técnicos, nas áreas de pós-graduação de algumas universidades (particulares [5]ou públicas [6]), como complementação de especialização [7] em alguns cursos da área técnica, ou mesmo como tópicos de alguma disciplina [8] conforme preconizado pelos programas governamentais.

 

Os programas de desenvolvimento, em especial os de ciência e tecnologia, têm dado destaque à metrologia como importante instrumento necessário ao desenvolvimento da economia, à competitividade e inovação. Isso tem incentivado sua inserção na educação, com o objetivo de entrosar as duas áreas para capacitar recursos humanos de qualidade na realização de pesquisas científicas e tecnológicas capazes de ajudar a criar uma cultura metrológica.

 

2. CONCEITUAÇÃO

 

2.1 O Homem Metrológico

 

A história da metrologia se confunde com a da própria civilização, participando dos movimentos fundamentais na política, na economia e na religião, na organização dos povos e suas necessidades de medir. Os povos nômades comparavam distâncias de acordo com sol, a lua, as estrelas, e quantificavam a água e os alimentos necessários aos deslocamentos. Os sedentários mediam áreas e extensões de terras, e contavam as sementes ao estabelecer as distâncias de semeadura, e a seguir, dimensionar a colheita. O padrão de trabalho era o resultado da produção em relação ao peso do corpo humano. Essa cultura de pesos e as medidas, e as medições por comparação a um padrão de medida linear, datam do Egito (3000 a.C.) e baseavam-se em dimensões de parte do corpo humano, como o “côvado” (comprimento do antebraço, do cotovelo ao dedo médio) e um submúltiplo, o dígito [9].

O sistema antropométrico, apesar de primitivo, era considerado por ser o mais natural, acessível a qualquer indivíduo, de fácil comparação, manuseio e transporte, pois o homem era a própria medida; “O homem é a medida de todas as coisas” [10]; assim atribui-se a Protágoras (480 a.C.) filósofo grego, a relação dos homens com as medidas, embora na realidade, o pensamento expressa uma idéia maior que é da limitação do homem em relação às coisas, a verdadeira dimensão do homem e não propriamente relacionado às medidas físicas que foram criadas para atender as necessidades naturais.

Essa cultura da metrologia reflete a necessidade do homem de entender o mundo, relacionando-se com os outros (trocas) e com as coisas que os cercam (localização espaço-tempo), e de estabelecer padrões de comparação. Medir é próprio da natureza humana [11](corpo como referência) e a transmissão do conhecimento da medição (oral, observação, experimentação), adquirida por uma educação informal, é uma necessidade para sua sobrevivência.

Por isso, os padrões dimensionais para medir distâncias foram todos referenciados inicialmente às partes do corpo humano; côvado, palmo, pé, braça, cúbito. Para extensões maiores, as varas, a milha e outros utilizados na demarcação de áreas, nas construções de palácios, na retificação de rios; os de massa passaram a ser criados e utilizados na quantificação da colheita, na eqüipartição dos salários e na arrecadação dos impostos, sob a égide da justeza e da justiça. As proporções humanas (representadas por Da Vinci em “O Homem Vitruviano”) [12] serviram de modelo durante muito tempo, para as relações de medidas tidas como padrões universais, apesar dos diferentes biótipos existentes.

 

Todas as unidades metrológicas correntes da época descrevem a história da humanidade e são descritas na Bíblia [13], que relata os termos empregados, e que somente agora passamos a conhecer suas equivalências às unidades do SI. 

 

2.2 Ciência Metrológica - princípios e fundamentos

 

Define-se a metrologia como a ciência da medição, abrangendo todas as medições realizadas num nível conhecido de incerteza, em qualquer domínio da atividade humana [14]. Esse nível de incerteza garante resultados confiáveis das medidas, desde as mais simples até as mais complexas e precisas.

 

A metrologia hoje se identifica academicamente, como ciência, na “classificação das áreas de conhecimento” [15] que é um rol de áreas de ciências acadêmicas, que tem por objetivo sistematizar as informações sobre o desenvolvimento científico e tecnológico, a produção do conhecimento, em especial, aqueles referentes aos projetos de pesquisa e de capacitação de recursos humanos, reunindo os elementos necessários para avaliações, aos órgãos atuantes em ciências. Ela está classificada [16] como uma especialidade (metrologia, técnicas gerais de laboratório, sistema de instrumentação – 1.05.01.053) da subárea da Física Geral, pertencente à área de física, da grande área de conhecimento de ciências exatas e da terra.

 

A metrologia, no entanto, está além de uma especialização, ou de uma parte da física; ela é um instrumento fundamental para validar modelos e teorias das demais ciências. Pode mesmo ser considerada no limiar entre a ciência e a tecnologia [17].

 

A verdade científica geral se exprime em leis, e uma lei física é representada quando possível, mediante relação matemática entre símbolos que representam grandezas físicas. Em regra, uma grandeza física tem significado físico, e é representada por um número medido (valor numérico), uma unidade de medida e é concebida como resultado de operações bem definidas (medições), em laboratório. Assim também é uma representação metrológica [18].

Em resumo, a metrologia possui uma definição, trata de medidas, relaciona grandezas físicas sendo considerada um ramo da física ao ser designada como uma especialidade da área de física geral, o que significa, pertencente a ciência, ou parte integrante dela. Trata-se, portanto, de ciência metrológica.

 

Os princípios fundamentais da metrologia comprometidos com a Ciência envolvem a confiabilidade dos resultados de medição, as grandezas físicas, a incerteza da medição, e a lógica de um sistema de unidades (universal), de modo que as medidas possam ser comparadas, reproduzidas, rastreadas, e repetidas. Esses princípios metrológicos servem de base para as teorias científicas gerais e/ou fundamentais, bem como outras específicas, as quais, dependem, em determinada fase da comprovação, de resultados de medições confiáveis.

 

A metrologia tem seus fundamentos que podem ser descritos como: as normas, os padrões, os métodos, os sistemas de medição e as técnicas estatísticas que são aplicadas relativas a outras ciências, empregadas quando queremos analisar e interpretar dados observados e apresentar um resultado consistente. As normas possuem compromissos com esses princípios, pois estabelecem as regras de procedimento quanto ao tratamento a ser dado às medições, aos sistemas, aos métodos, aos dispositivos, e aos processos de medição de modo a atender os requisitos mínimos de garantia – a confiabilidade metrológica [19].

 

A padronização e a uniformização na metrologia são técnicas que também representam os fundamentos, e visam reduzir a variabilidade dos processos de trabalho sem prejudicar sua flexibilidade, sendo fundamentais para a rastreabilidade e comparabilidade das medidas materializadas, dos padrões de referência ditos metrológicos, os quais obedecem a uma hierarquização e reproduzem as grandezas do SI.

 

Além dos princípios, e dos fundamentos, a metrologia tem a seu serviço, uma estrutura física nacional e internacional, com organismos de referência, laboratórios científicos, instituições públicas e privadas, associações, e sistemas de divulgação, que tem como objetivo, manter a uniformidade dos procedimentos, e a confiabilidade nas medições por meio da comparação com os padrões primários correspondentes a materialização das grandezas físicas, garantindo a rastreabilidade no mundo.

 

No Brasil, o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, tem esse papel, como órgão executivo central do SINMETRO, sistema nacional de metrologia, que juntamente com o Conmetro, órgão normativo, zela pela metrologia no País [20]. O Inmetro a partir de sua estrutura organizacional, com suas áreas de Metrologia Científica e Industrial, Metrologia Legal, e da Qualidade (Avaliação e Conformidade), estando associado aos órgãos internacionais de metrologia, divulga a cultura metrológica a partir de suas atribuições estabelecidas por lei [21].

 

 2.3 Metrologia na Educação

 

Desde o ensino formal fundamental, as grandezas e as medidas são noções absorvidas pelas atividades comuns às crianças no ambiente escolar. Comparar alturas e pesos de mochilas, classificar, estimar dimensões, ordenar objetos com mesmas características e quantificar atributos, definir propriedades físico-químicas (quente, frio, úmido, seco) são alguns dos conhecimentos metrológicos, adquiridos naturalmente (educação informal).

 

As orientações didáticas quanto à metrologia, constante na educação formal [22], descreve o modo de se apresentar aos alunos o conhecimento nesta área, e lembram que na atualidade, o SI fundamenta-se a partir de unidades de base.

 

Desde muito cedo as crianças têm experiências com as marcações do tempo e outras medidas embora, não significa que tenham construído uma sólida compreensão dos atributos mensuráveis de um objeto, e muito menos que dominem procedimentos de medida. A metrologia se inicia com o programa de matemática, trabalhando objetos e figuras geométricas, a percepção espacial, sendo apresentadas as unidades de medida de acordo com noções geométricas.  Mostrar e comparar as grandezas e as medidas de mesma natureza; realizar medições, utilizar instrumentos são práticas que trabalham as representações mentais e relacionam as medidas cotidianas com experiências intuitivas e informais, com a medição. As tabelas de conversões são apresentadas gradativamente em períodos subseqüentes.

 

De modo geral, o ensino da metrologia não é enfatizado no conteúdo programático do ensino médio [23], nem nos currículos de física, matemática, química e biologia - disciplinas que dependem das informações metrológicas. A metrologia é apresentada nos níveis iniciais, de forma superficial sempre em complementação ao conteúdo programático da matemática.

 

A partir dos cursos de graduação de nível superior a metrologia passa a ser representada por um tópico nos cursos de física, e assim permeia outras áreas com iniciativas tímidas e limitadas [24]. Na engenharia se faz presente no em cursos específicos, como de mecânica ou elétrica, com a denominação de metrologia dimensional e medidas elétricas, respectivamente. Essa tímida limitação apresenta uma metrologia superficialmente ministrada, elevando às dificuldades de entendimento [25] dos alunos, quanto aos princípios e fundamentos da ciência, como as grandezas, a necessidade das conversões e escalas semelhantes, incerteza das medições, e tratamento dos erros.

 

Apesar dessa tênue presença nos currículos escolares, a metrologia tem despertado grande interesse em profissionais de várias áreas, quanto à necessidade da certificação profissional em metrologia [26].

 

2.4 Metrologia como disciplina

 

O documento - As Diretrizes Curriculares (2001) para os cursos de física [27] - define perfis específicos para serem ser tomados como referencial pelos formandos em função da diversificação curricular proporcionada através de módulos seqüenciais complementares ao núcleo básico comum e menciona a metrologia como uma disciplina importante, sendo uma especialização interdisciplinar (que se conecta com demais áreas do conhecimento) de escolha do aluno em função do mercado de trabalho que deseja atuar e da disponibilidade oferecida.

 

A CAPES [28], também classifica os cursos de metrologia como interdisciplinares admitindo-os para os cursos de engenharia. A conceituação é entendida como a convergência de duas ou mais áreas do conhecimento, não pertencentes à mesma classe; que seja imprescindível na contribuição para o avanço das fronteiras da ciência ou tecnologia; que transfira métodos de uma área para outra, gerando novos conhecimentos ou novas disciplinas. 

 

Ao mesmo tempo em que essas referências na área de educação citam a metrologia e conceituam-na como interdisciplinar (integração curricular e interesses disciplinares conservados), define respectivamente, perfis profissionais não adequados e delimitações das áreas de ação, o que denota entendimento superficial sobre a matéria.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais [29] recomendam uma nova proposta para se trabalhar o conhecimento no ensino médio e que seja estendida aos demais níveis para atender os processos formativos da educação [30], expressando os valores fundamentais à democracia e á cidadania, representados também pela Metrologia que deve ser considerada e trabalhada como um tema atual.

 

Independente da conceituação dada à metrologia na área da Educação, existe diversas expectativas e intenções [31] relacionadas ao campo técnico-científico visando à inclusão de tópicos de metrologia, normalização e qualidade nas diretrizes curriculares de graduação.

 

Apesar da presença tênue da metrologia nos currículos escolares, ela tem despertado grande interesse em profissionais de várias áreas, quanto à necessidade da certificação profissional em metrologia [32].

 

2.5 Metrologia da sobrevivência

 

A metrologia é considerada uma ferramenta estratégica por permitir à sociedade operar em níveis cada vez mais elevados de eficiência e produtividade sendo, o elemento essencial do atual modelo sócio-econômico, que enfatiza a importância da qualidade minimizando os desperdícios e maximizando a produtividade.

 

No processo de globalização o país que não leva em consideração a importância estratégica da metrologia, da normalização e da qualidade adequada a uma necessidade estará sujeito a uma forte barreira comercial [33] bem como as perdas na produção e os desperdícios de energia que representam valores econômicos relevantes, significantes para a sobrevivência dos segmentos sociais.

 

Atualmente a metrologia também é considerada [34]uma das principais ferramentas para acessar conhecimento dos mecanismos na origem e manutenção da vida por meio da sua utilização prática, pois se refere a uma variedade de técnicas e equipamentos que permitem quantificar um número parâmetros significativos na área da saúde, pois a evolução do conhecimento biológico e médico e sua implementação se baseiam em estudos quantitativos.

 

Outro campo que diz respeito à vida, como a proteção do meio ambiente, tem na metrologia os meios para medição de parâmetros que definem a qualidade de componentes relacionados à nossa sobrevivência (ar, água, poluição do solo, radiações, a presença de agrotóxicos, resíduos nucleares e industriais, ruído e luz dentre tantos outros elementos). Sua aplicação permite também controlar a composição total e temperatura da atmosfera e dos oceanos, e é um importante instrumento para acompanhar a evolução do efeito estufa e do aquecimento global, conhecimento necessários à manutenção da vida.

 

Serviços como [35] de telecomunicações, transportes e a navegação dependem das grandezas mensuráveis como freqüência e tempo; a saúde e segurança são áreas dependentes de medições confiáveis tanto nos diagnósticos como nas terapias.  A agricultura e seus produtos derivados, de nutrição, são setores submetidos a controles quantitativos rigorosos quanto ao uso de pesticidas e aditivos e para isso devem estar disponíveis meios confiáveis de detecção de produtos nocivos presentes na alimentação e na cadeia produtiva.  A proteção ambiental e estudos relacionados a mudanças climáticas são atividades necessitam de medições precisas. As teorias físicas relacionadas às nossas atividades de alta tecnologia são confiáveis (dentro de um nível pré-determinado) desde que suas previsões possam ser testadas e verificadas quantitativamente. Estes são alguns exemplos que dizem respeito ao que denomino de metrologia da sobrevivência.

 

3. CONCLUSÃO

 

A Metrologia ainda não tem seu espaço delimitado no ensino formal, provavelmente pela falta de debates sobre o que ela representa, ou pelo desconhecimento dos formadores de opinião na Educação quanto a Metrologia, ou mesmo por se restringirem à sujeitos específicos do ensino e suas teorias (filosóficas, pedagógicas, psicológicas, comportamentais e conceituais), deixando os conteúdos objetivos e tecnológicos à margem.

 

Outras razões que levam às restrições quanto à metrologia na universidade podem ser reflexos da falta de cultura metrológica na sociedade acadêmica resumida em desinteresse ao se considerar a metrologia como exclusiva das atividades técnicas, e laboratoriais; na dificuldade em se separar dos conceitos e ligações atávicas entre a física e a matemática desenvolvidas no ensino fundamental; no desconhecimento da história quanto a participação dos cientistas na criação dos padrões metrológicos, e na falta de visão das tecnologias futuras, resultante da evolução desses padrões [36].

 

As iniciativas de organização de programas de graduação em metrologia sempre foram desestimuladas ao se considerar a metrologia como uma ciência multidisciplinar [37], com interface em várias áreas e especialidades do saber, limitando toda a atividade concreta na graduação ao adotar a inserção de disciplinas de metrologia aos cursos já existentes. Sempre foi justificado que a atividade de metrologia está relacionada à formação técnica-profissional da área de Engenharia a ser complementada por um treinamento ou especialização à parte, ou mesmo que a criação de disciplinas e cursos específicos pulveriza os recursos destinados à universidade.

 

O Decreto Lei no240 (1967) que definia a Política e do Sistema Nacional de Metrologia [38], no capítulo relativo ao ensino e formação de pessoal, já previa prerrogativas específicas ao INPM ( órgão anterior ao Inmetro), e aos seus órgãos delegados (hoje denominada RBMQ-I), quanto a organização de cursos de formação metrológica, de grau superior e médio, para preparar de técnicos em metrologia, permitindo para esse fim, acordos com órgãos públicos autárquicos ou privados, incluindo a Repartição Internacional Pesos e Medidas, e outros órgãos metrológicos estrangeiros, e para estabelecer tanto o modo como os cursos e os programas respectivos deveriam ser ministrados como a maneira de custeá-los. Desde essa época vem sendo previstas ações com o objetivo de garantir o ensino continuado da metrologia, sem que sejam concretizadas.

 

As diretrizes estratégicas para consolidar o desenvolvimento da educação e da cultura metrológica no Brasil, (2008- 2012) [39]cita diversos desafios a serem alcançados: o fomento da pesquisa básica e a implementação de programas para formação; a certificação de pessoas com competências e a elaboração de programa de inserção de conteúdos metrológicos em disciplinas dos cursos de nível superior; a promoção da pesquisa científica e tecnológica em todos os níveis acadêmicos. Todos deverão se traduzir em ações capazes de divulgar a metrologia a ponto de se fazer entender que seu ensino formal é de fundamental importância, por que garante o desenvolvimento das estruturas cognitivas ao transmitir o conhecimento, permitindo seu aproveitamento de maneira continuada, capaz de ser repassado às gerações futuras.

 

É certo que existe espaço para a inserção da metrologia nas diversas instâncias da educação desde novos cursos nos diversos níveis de educação formal, até a introdução em disciplinas em cursos regulares, ou mesmo com o paralelismo de temas transversais, nos programas e conteúdos pedagógicos, na qualificação do mercado de trabalho, e na construção da cidadania.

 

Preencher essa lacuna faz parte das estratégias para a Metrologia Brasileira na Educação, e esforços deverão ser empreendidos, até que seja reconhecida importância da metrologia formal.

 

REFERÊNCIAS

 

[1] BRASIL. Lei no 9394 de 20/12/1996 “Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional”.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm

 

[2] Fazenda,I.C.A. “Interdisciplinaridade - História, Teoria e Pesquisa”. Editora Papirus. Ed. 13. p. 17, (2006)

 

[3] La Métrologie Internationale: Les travaux du BIPM et de l’OIML, “La métrologie est presente partout”; disponível em: www.metrologyinfo.org,

 

[4] BRANDI Humberto, “Programas Mobilizadores”, Modelos de inserção de C, T&I para o desenvolvimento nacional • Regionalização de C&T e geração de riquezas, Revista Parcerias Estratégicas, no. 20/jun./2005; disponível em: www.cgee.org.br/parcerias/p20.php - 44k

 

[5] Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC - Rio Programa de Pós–graduação em Metrologia. Disponível em http://www.pucrio.br/ensinopesq/ccpg/progmetr.html#apresentacao

 

[6] Universidade Federal do Paraná – Programa do Curso de Extensão do Departamento de Engenharia Mecânica. Disponível em: http://www.ufpr.br/adm/templates/busca.php?acao=procura2&tipo=1&busca=metrologia;                     

 

[7] Universidade Federal de Minas Gerais – Programa do Curso de Especialização em Metrologia. Disponível em: www.demec.ufmg.br/port/p_grad/CursoEspe/Cemetro/documentos/objetivos.htm - 11k;

 

[8] Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG - Departamento de Engenharia Mecânica – Curso de Introdução à Engenharia Mecânica. Disponível em: www.demec.ufmg.br/port/d_online/diario/Ema015/ATO01.pdf;                

 

[9] BUREAU INTERNATIONAL DE POIDS ET MESURES (BIPM).

Disponível em: http://www.bipm.org/en/si,

 

[10] Disponível em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/sofistas/protagoras.htm

 

[11] D’AMBROSIO, U. “Para uma abordagem multicultural: o Programa Etnomatemática”. Entrevista de Vieira, N., Revista Lusófona de Educação, Lisboa,(2008) disponível em: www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?...

 

[12] GWILT, J. “ARCHITECTURE of Marcos Vitruvius” – in tem books, Book III, Cap. I, p. 64, Ed. John Wayle – Harvard College Library-London (1860) – Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=Blbg

 

[13] disponível em: http://www.bibliaem100dias.com.br/pesos-e-medidas/

 

[14] Disponível em: www.inmetro.gov.br/consumidor/Resumo_SI.pdf

 

[15] CASTILHO, Maria Augusta de, “Roteiro para elaboração de monografia em ciências jurídicas”, 2ª Ed., Editora Sugestões Literárias, São Paulo, (2000).

 

[16] TABELA DAS ÁREAS DE CONHECIMENTO elaborada pela CAPES, CNPq, FAPERGS, SEsu / MEC; disponível em http://www.cnpq.br/areasconhecimento/1.htm

 

[17] MOSCATTI, Giorgio; “As bases científicas da metrologia e vice-versa”,– Encontro para a Qualidade de Laboratórios (ENQUALAB-2005) Rede Metrológica do Estado de São Paulo – (REMESP) junho de 2005, São Paulo, Brasil. Revista Metrologia e Instrumentação, edição 36 disponível em http://www.banasmetrologia.com.br/revista.asp?codigo=1273

 

[18] INMETRO. Sistema Internacional de Unidade. SI - Senai. (2000)

 

[19] MONTEIRO E. C., LESSA, M.L. "A Metrologia na Área de Saúde: Garantia da Segurança e da Qualidade dos Equipamentos Eletromédicos". Engevista, v. 7, n. 2, p. 51-60 (2005).

 

[20] BRASIL - Senado Federal – Legislação-Lei nº. 5.966, de 11 de dezembro de 1973; “Institui o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, e dá outras providências”, publicada no DOU12/12/1973. Disponível em: www.senado.gov.br/ - 43k,

 

[21] BRASIL, Regimento Interno do Inmetro Portaria INMETRO / MDIC número 82 de 01/04/2008 “Aprova o Regimento Interno do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO, na forma do Anexo à presente Portaria”, disponível em http://www.inmetro.gov.br/legislacao/

 

[22] MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO - Parâmetros Curriculares Nacionais; disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php;

 

[23] da SILVA, J.A.; LUIZ, A. M; “A relevância da Metrologia no Ensino Médio” - XVI Simpósio Nacional de Ensino de Física, disponível em www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xvi/cd/resumos/T0454-2.pdf;

 

[24] AQUINO NETO, F.R., “Políticas públicas: serviços, inclusão social, saúde pública e metrologia”. Quím. Nova vol.28  suppl.0 São Paulo (2005). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422005000700017&script=sci_arttext

 

[25] MARINELI, Fábio; PACCA, J. L. Almeida; “Uma interpretação para dificuldades enfrentadas pelos estudantes em um laboratório didático de física”; Revista Brasileira de Ensino de Física, v.28 n.4 São Paulo (2006), disponível em http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/

 

[26 ] SCHNEIDER, C.A., “ Certificação de pessoas e capacitação profissional para a competitividade empresarial – Uma experiência na área de metrologia”. Enquête Nacional da Fundação Certi. Disponível em: www.educor.desenvolvimento.gov.br/public/.../arq1229103701.ppt

 

[27] MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO; Conselho Nacional de Educação; CES; Diretrizes Nacionais Curriculares para os Cursos de Física (2001); Disponível em: www.ceunes.ufes.br/downloads/PDE-Diretrizes%20-%20Física.pdf.

 

[28] CAPES - Comitê de Cursos Interdisciplinares - Documento de Avaliação Continuada – Área Multidisciplinar, disponível em: www1.capes.gov.br/DistribuicaoArquivos/Avaliacao/Arquivos/1999/Doc_Area/1999_045_Doc_Area.pdf

 

[29] BRASIL - LEI nº. 9.394, de20 de Dezembro de 1996,

Lei de Diretrizes e Bases da Educação; disponível em: http://www.abrelivros.org.br/abrelivros/dados/anexos/111.htm,

 

[30] BRASIL - Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, (1998). Disponível em: http://www.mec.gov.br/pcn e portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ttransversais.pdf;

 

[31] BRASIL. Ministério da Educação. Extrato de Protocolo de Intenções. Cooperação técnico-científica celebrado entre o MEC e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO. D.O.U., Brasília, v. 241, n.125, p. 30,1 jul. 2004. Seção 3.

 

[32] COUTO, P. R. G. Couto, MONTEIRO, L.C. - “Função de um laboratório de metrologia de acordo com o contexto globalizado”. Disponível www.inmetro.gov.br/producaointelectual/.../46_obraIntelectual.pdf

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[33] BORDÉ, C., KOWALEVSKY, J. (coordenadores). “Rapport du Groupe de travaille sur la metrologie du future”. Academie dês Technologies. (2004). Disponível em: www.academie-technologies.fr/

[34] QUINN, T., KOVALEVSKY, J.  “The development of modern metrology and its role today”

Phil. Trans. R. Soc. A 2005 363, 2307-2327. Disponível em: rsta.royalsocietypublishing.org

 

[35 ] COTTERET M.A., “Métrologie et enseignement”Université Paris - Thèse N° 0312495T (2003).Disponível em:

http://mac.quartier-rural.org/these/partie1_these_mac.pdf

 

[36] ALMEIDA, L. A. “Metrologia: instrumento de cidadania” Centro Técnico Científico da PUC - Rio de Janeiro:, (2002), disponível

http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/

 

[37] Decreto-lei nº 240, de 28 de fevereiro de 1967, “Define a política e o sistema nacional de metrologia e dá outras providências”. Disponível em:

http://www.dji.com.br/decretos_leis/1967-000240/1967-000240.htm

 

[38] CONMETRO - COMITÊ BRASILEIRO DE METROLOGIA – CBM “Diretrizes Estratégicas para a Metrologia Brasileira (2008 – 2012)”. Disponível em: http://www.inmetro.gov.br/noticias/conteudo/diretrizesEstrategicas.pdf