No primeiro século da era “anno domini” aconteceu um episódio jamais visto até então. Tratava-se da união de dois elementos distintos, que se entrelaçariam entre si, formando um todo indivisível. De um lado o caráter humano, do outro  o divino representado pelo trino ser. Desse entrelaçamento surgiu um organismo vivo, com características distintas, a ponto de um absorver o outro. Dessa forma o humano e o divino formaram algo jamais visto nos anais históricos da criação. Foi quando particularidades tomaram vulto, excetuando-se das demais organizações existentes na época. Assim, essa distinção passou a ser a marca registrada desse organismo, a ponto de possuir vida própria, porque o doador da vida era parte integrante de sua consistência.
              Não se sabe ainda porque razão essa restrição; essa pureza e essa forma “suis generis” de unidade fora quebrada, surgindo uma mescla de elementos, conceitos, figuras, ritos, donatários de poderes paralelos, e uma infinidade de marcas alheias às da primeira comunidade. Seu teor, outrora cristalino, viu-se chafurdado com  enormes gamas de dotes que mancharam a identidade daquele organismo. Não que e a assembleia primeira tivesse sido desfeita, porém, a que praticamente tomou o seu lugar, engendrou formas de tentar fazer valer suas prerrogativas, alcunhando-se com sugestivos slogans, quase parecido com os do organismo primeiro. Até algumas formas da primeira assembleia foram anexados ao seu seio, formando uma mescla ímpar. Com o passar do tempo avolumou-se a nova organização, a ponto de ganhar fronteiras, disseminando seus tentáculos pelo Ocidente afora. Até em terrenos de domínio alheios as raízes desse sistema foram fincadas, ainda que em menor escala.
             Verse-a mais tarde, que essa parca assimilação dos dotes da magna assembleia, agora mesclada com as novas formas impostas pela organização emergente se dividiu, formando novo núcleo com dotes  idênticos à organização mista. Dessa cisão, o território onde ainda era relutante a aceitação das normas da neo-assembleia, contou com adesões, formando uma outra organização. Mas não parou por ai. O tempo novamente se encarregou de criar vertentes, estas com caracteres bem mais próximos da unidade primeira. Sem entrar nos méritos da questão por que isso ocorreu, vale destacar que depois dessa data, o caráter divisionário continuou a expandir-se, formando verdadeira teia, com dotes além do que se possa imaginar. Células e mais células se formaram, desafiando até as mais argutas inteligências, tanto a dificuldade em descobrir – e somar – o número dessas neo-comunidades ao redor do mundo. Verdadeiras metamorfoses dentro de um quadro pintado logo após o surgimento do Organismo vivo, que é a essência da unidade humano-divina. Sem que se possa explicar, o panorama ao longo do tempo ganhou extensão máxima, com consequências drásticas à vida da magna assembleia.             
                 Tal situação criada em cima da “assembleia dos santos”, tende a se perder nos liames da história dos povos. Confusões enormes, onde o pesquisador/buscador de um lugar ao sol do divino Ser, encontra enormes dificuldades em encontrar o norte verdadeiro, uma vez que todas, sem exceção, decretam para si o slogan da veracidade, da autenticidade e o aval da magna assembleia. Não obstante às inúmeras divergências; as inúmeras diferenças entre essas organizações, todas, sem exceção, conclamam ser o remanescente daquela Igreja. Usaremos daqui em diante esse terno – igreja – porém, como se sabe, não correspondendo ao sentido lítero-figurado do primeiro Organismo. Como se sabe - e é extremamente interessante que se diga – Igreja no seu sentido correto designa apenas aquela assembleia organizada pelo poder divino nos primórdios dos primeiros anos de nossa era. Esta, a verdadeira Igreja, é aquela que se mantém viva, apenas nas figuras dos remidos que já se foram, e naqueles que ainda restam subir ao encontro do Noivo para as boda do Cordeiro. O restante, os desclassificados, são apenas produtos de arranjos humanos, acertos e fugas das diretrizes que marcaram a vida da primeira Igreja.  
               Também, em segunda escala, resultados de divisões que responderam pelo desencanto de líderes em determinadas greis que, não contentes com os sistemas das mesmas, saíram delas, fundando outras conforme o agrado de seus apetites. A exemplo da primeira organização surgida após o primeiro século, que adicionou mundos e fundos aos seus aspectos doutrinários, estas novas comunidades adicionaram interpretações particulares, criando verdadeiros trusts, onde o caráter da matéria e do corpo responde pelo número elevado de adeptos.
            Vemos com espanto que o universo de “igrejas” se multiplicou de tal forma, que somente no ramo denominado “cristão” há mais de mil ramificações, todas com avais humanos. Para cada gosto e postura há uma organização que atenda os clamores da freguesia. “Igrejas” mercantilsitas, nas quais o poder econômico dita normas; onde o “bem estar bem” tem seu ponto alto; onde o homem é o centro de suas reuniões; onde Deus é tido somente como um doador de prosperidade. A submissão, o desprendimento, a entrega, o reconhecimento da condição vil do homem, não tem grande penetração, haja vista que os fatores transitórios dominam os quadrantes nesse tipo de comunidade.

            Nesse torvelinho de adições, que deram origem à “metamorfose eclesial, há que se perguntar:  o que reserva um  futuro não muito remoto, caso o Senhor não velho logo buscar sua Igreja? Que será dessa miscelânea de adições, de interesses, de mudanças da essência para essa nova e perniciosa metamorfose? “Ser ou não ser eis a questão”, dizia Shakespeare.