Thiago B. Soares[1]

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[1] Doutorando (PPGL-UFSCar). E-mail: [email protected]

 

                Com vistas a tentar responder a questão “Por que é impossível evitar a instância metafísica?”, da qual não temos mais do que uma tácita indicação de sua insidiosa insurgência no âmbito filosófico, trataremos de apresentar uma argumentação que remeta, mormente, a um pensador cuja obra se notabiliza não apenas em seus dias, mas também nos dias de hoje, a saber, Immanuel Kant (1724 – 1804). 

            Nessa eminência da Filosofia, encontramos uma belíssima crítica ao conhecimento humano, ou melhor, as formas de se produzir conhecimentos, tal feito implica a própria “praticidade da razão” e a “racionalidade da empiria”. Noutros termos, o filósofo alemão, reconhece dois grandes campos com os quais os homens são capazes de saber sobre o mundo e, por conseguinte, de saber sobre esse mesmo saber; quer dizer, o empirismo e o racionalismo.

            Entretanto, Kant compreende que o empirismo emprega fontes diferentes do racionalismo, ou seja, no primeiro caso as experiências, sobretudo, as sensoriais, e no segundo a complexidade da instância metafisica.

Já era patente para Kant que o empirismo nega a possibilidade da metafísica. Todavia, para se fornecerem fundamentos ao conhecimento objetivo, a metafisica é necessária, sem ela não existe barreira concebível contra o ceticismo de Hume (SCRUTON, 2011, p. 42).

 

            Assim, o contragolpe de Kant em Hume (1711 – 1776) não era simplesmente negar o ceticismo do filósofo escocês, mas, isto sim, demonstrar a razão advinda dos questionamentos de temas inevitáveis que sempre estiveram em pauta, porém nunca poderiam depender da experiência enquanto justificadora de suas existências. Desse modo, Kant os expôs como razão não empírica, isto é, razão pura.

Esses inevitáveis temas da razão pura são:Deus, liberdade e imortalidade. A ciência cujo fim e processos tendem à resolução dessas questões denomina-se Metafisica. Sua marcha é, no princípio, dogmática; quer dizer, ela enceta confiadamente o seu trabalho sem ter provas na potência ou impotência de nossa razão para tão grande empresa (cf. KANT, s/d, p. 11).

            Tendo em mente o que Kant assevera acerca da metafísica, não podemos deixar de lado que ela é uma instância fundamental não tão-somente para a ciência coeva ao tempo do filósofo alemão, mas para própria ciência da atualidade, porquanto a razão pura está em germe naquilo que é chamado frequentemente por teoria, já que essa pode ser refutada por outra (caso de muitos princípios da mecânica newtoniana dirimidos pelas teses einsteinianas).

            Além do âmbito das ciências, se formos averiguar o tratamento dos temas levantados por Kant, certamente os constataríamos em praticamente todas as sociedades e culturas, sendo levantados constantemente pelas pessoas, dado o alto grau de relevância de que eles estão impregnados. Nesse sentido, poucos, por mais que afirmem o contrário, conseguem passar ao largo da Metafísica, porquanto essa se encontra instalada, desde muito, em nossas indagações sobre a vida e mesmo sobra a morte e todos os seus demais elementos integrantes. 

            Portanto, não é à toa que a pergunta “Por que é impossível evitar a instância metafísica?” traga em seu bojo o pressuposto de que é impossível evitar a instància metafisica, já que a Metafísica é, latu sensu, a instância da qual sempre pouquíssimas respostas conseguimos obter, porém é justamente dela e com ela que as mais intrigantes investigações podem ser empreendidas sem jamais a beleza da razão se perder no escuro mundo das certezas empíricas.

REFERÊNCIAS

KANT, I. Crítica da Razão Pura. Grandes Mestres do Pensamento. Vol. V, s/d.

SCRUTON, R. Kant. Trad. Denise Bottmann. Porto Alegre, L&PM, 2011.