METAFÍSICA I

 

Thiago B. Soares[1]

(Quando usar o artigo, lembre-se de citar a fonte)

[1] Doutorando (PPGL-UFSCar). E-mail: [email protected]

 

                Aristóteles (384 – 322 a.C.), como muitos sabem, passou vinte anos de sua vida na academia cujo eminente fundador era ninguém senão Platão (427 – 347 a.C.). Contudo, a relação intelectual entre mestre e discípulo tomou não um rumo de continuidade, mas, isto sim, de descontinuidade.

            O estagirita, como também é conhecido o autor da “Ética a Nicômaco”, ao se desvincular das teses adotadas por seu mestre, acabou por desenvolver uma filosofia própria, seguindo um método investigativo em muitos pontos diferente do de Platão. A teoria das Formas desse filósofo pressupunha a existência de um mundo no qual as formas reais estavam à parte das cópias dessas na realidade.

Aristóteles considerou a teoria das Formas ilógica e impossível de provar. Aristóteles, por sua vez, defendia que o substancial aqui e agora era bastante real e que as Formas não eram elementos separados, mas característicos incorporados no que podemos perceber com nossos sentidos. Ele denominou essa versão das Formas de Universais (MANNION, 2010, p. 39 – 40; grifo do autor).

Tendo em vista essa discordância, as formas ganham estatuto ontológico, porquanto não estão desvinculadas da participação do sentidos do homem para sua percepção. Nesse sentido, Bertrand Russell ilustra bem essa mudança de paradigma, pois:

A forma é algo semelhante ao desenho da coluna, feito pelo arquiteto. Ambas são, em certo sentido, abstrações, pois o objeto real é uma combinação das duas. Aristóteles diria que é a forma, quando imposta à matéria, que faz desta última aquilo que ela é (2013, p. 124).

            Ao realizar essa mudança de terreno, Aristóteles dá impulso ao desenvolvimento de uma metafísica especulativa, muito embora:

A expressão “metafísica” não se origine de Aristóteles, mas do editor Andrônico e designa a parte da obra que segue depois, por conseguinte, além (meta) das coisas da natureza (physika). O próprio Aristóteles utiliza outras expressões (HÖFFE, 2006, p. 129 -130; grifo do autor).

            Todavia, a expressão aristotélica de uma metafísica objetiva produzir visibilidade à unidade do ser e da possibilidade ou não da existência de essências separadas. Nesse sentido, o estagirita produz categorias que tentam refletir e refratar ser e mundo. Desse modo, a metafísica trata de aspectos universais acerca das observações feitas pelos sentidos. Com o objetivo de exemplificar, mas não mais do que fazer um caricatura grosseira, podemos observar o funcionamento básico da metafísica aristotélica quando temos um tipo de enunciado como:

A casa é azul

No qual temos um ser, ou melhor objeto para o qual Aristóteles deu nome de sujeito, casa, e possuímos um acidente, ou seja, um predicado, é azul. Assim, vemos o que conhecemos objetivamente, quer dizer, aquilo do qual sabemos da existência relativamente independente, mas, ligado a esse, está algo dependente. Ou seja, só podemos conhecer perfeitamente o predicado, cujo núcleo do predicativo é um adjetivo, porque ele está vinculado a um objeto, um substantivo.

Nessa toada, a metafísica visa compreender um mundo de universais ligado aos particulares ou por necessidade ou por imposição do homem. Enfim, “Nessa medida, a metafísica não é nenhuma disciplina científica estritamente autárquica, mas a reflexão de fronteira de uma física realizada consequentemente” (HÖFFE, 2010, p. 139).

Portanto, a reflexão metodológica adotada por Aristóteles em sua metafísica não só se distancia de Platão, mas ao mesmo tempo funda as bases para reflexões mais consistentes tanto no campo da filosofia e suas ramificações quanto no campo das ciências. Posto isso, sobre a metafísica aristotélica, podemos encerrar, não sem razão, e sintetizar praticamente tudo o que dissemos ao convocarmos o estagiritaa filosofar:

O mesmo acontece no que se refere à Ideia do bem: ainda que exista algum bem único que seja universalmente predicável dos bens ou capaz de existir separada e independentemente, esse bem não poderia, é evidente, ser realizado ou alcançado pelo homem; e o que buscamos aqui é algo de atingível (2008, p. 24).

Referências

HÖFFE, O. Aristóteles. Trad. Roberto HofmeisterPich. Porto Alegre: Artmed, 2008.

RUSSEL, B. História do Pensamento Ocidental: A aventura dos pré-socráticos a Wittgenstien. Tra. Laura Alves e Aurélio Rebello. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Saraiva de bolso, 2013