Sinopse

Neste momento será feita uma breve enunciação sobre o tema, Metafísica da interioridade, em Santo Agostinho, com o intuito de apresentar o assunto proposto e apontar o objetivo da temática.

Verifica-se em Agostinho, a procura de um caminho para alcançar o conhecimento durante a investigação do supremo, que encontra-se na alma e em Deus, ou seja, o fundamental, para ele, é o problema do "eu" como auto-conhecimento, pois é conhecendo e preparando o “eu” corpóreo,  que se consegue perceber e alcançar as verdades religiosas e assim se preparar para, em outra vida (não corpórea), estar próximo da pureza e da perfeição do Ser Divino (Deus).

Com a finalidade de busca pela verdade, é através da alma que se encontra o caminho para conhecer as essências das coisas. Ao relacionar a alma com a verdade e essência, encontra-se também o caminho para o transcendente (superior).  

Assim a investigação sobre a alma e sobre Deus, nos leva a conceber, do exterior para o interior, o princípio da interioridade. No interior de si próprio é possível, como caminho verdadeiro, conhecer as verdades divinas e transcendentes. Esse processo não é somente racional, mas também existencial, exigindo a união entre a epistemologia e a iluminação divina, “ajuda de Deus”.

Por conseguinte, encontram-se os tópicos, que foram trabalhados para tentar desta forma, esclarecer esta teoria tão relevante para Agostinho segundo A Metafísica da interioridade.

 Tópicos Trabalhados

1. Ascensão ao conhecimento

 Existe uma unidade do meu ser quando buscamos na interioridade as verdades das coisas? É possível ultrapassar as forças corpóreas, para atingir algo supremo como a revelação divina e a alma. Antes de tudo, o problema da interioridade é fundamental em Agostinho, com o objetivo de alcançar a pureza e imortabilidade, aonde a metafísica do ser, quando buscada no interior, encontra o princípio do bem na dualidade: do exterior para o interior e daí para o superior.

Santo Agostinho ao longo de seu pensamento filosófico atribui muita relevância a interioridade do homem ou “Metafísica da Interioridade”. Segundo ele, o homem, com o intuito de encontrar Deus ou as verdades eternas, deve voltar-se para si próprio, ou seja, há conhecimento no interior do próprio homem.

Existem duas formas de conhecimento, o sensível, que é exterior ao homem e provém dos sentidos ou percepção e também transmite ao homem, as imagens referentes as coisas (objetos), para serem armazenadas na memória humana. Este conhecimento tem importância em Agostinho, pois devido tudo ser criação de Deus, que os fez bom, este conhecimento sensível tem um valor de realidade.

Neste ponto, observa-se uma oposição direta entre Agostinho e Platão, pois Agostinho considera o conhecimento sensível bom, uma vez que foi criado por Deus, como uma coisa boa, atribuindo um certo grau de importância. Por outro lado, Platão despreza tudo o que está no âmbito do sensível, pois para ele, os sentidos atrapalham (vícios) o conhecimento puro, que está apenas num céu inteligível.

Outra forma de conhecimento, segundo Agostinho, é o intelectivo - provém da razão humana e é interior ao homem. Este é dividido em duas razões, a razão (Ratio) inferior, onde estão as noções das ciências, ou seja, é aqui que se apresenta o raciocínio cientifico natural e limitado dos homens.

A razão superior ou visão interior (iluminação) está ligada a sabedoria. Segundo ele, o sábio é aquele que contempla a verdade e não a matemática. Ascender a Deus é contemplá-lo através de um pensamento. Para se contemplar deve-se ter a posse, ou seja, para se contemplar a verdade deve-se ter sua posse e não apenas se utilizar dela. Logo, deve-se partir de um meio (utilizar) visando um fim (possuir).

(Danilo Iluminação não é tópico da sua parte, nem da introdução, isso está do meio para conclusão meu caro, então coloca nos dois últimos tópicos) A iluminação é uma luz incorpórea produzida por Deus e somente com ela somada a razão superior pode-se chegar às verdades eternas. Isto é, a razão superior é de suma importância em Agostinho, pois só através dela se ascende (eleva) as verdades eternas e a realidade suprema de Deus. Com isso observa-se outra oposição a Platão, que defende verdades (idéias) no mundo inteligível e não num Deus (Demiurgo) propriamente dito.

Portanto, no conceito de interioridade agostiniano, o homem tem que primeiramente conhecer-se a si próprio, para depois partir rumo ao conhecimento verdadeiro (verdades eternas) e se aproximar de Deus, ou seja, o homem deve procurar em si, somado a iluminação divina, um caminho que o conduza ao mundo superior. 

2. Do exterior ao interior

 Para melhor entendermos o que é a busca pela verdade, do exterior para o interior, podemos fazer uma relação com a biografia de Santo Agostinho. Durante boa parte de sua vida, ao mesmo tempo em que se dedicou aos estudos, pagão, buscou sentido nas sensações de uma vida desregrada, no qual seu intelecto apreendia enquanto ele próprio vivenciava as possibilidades, que surgiam e satisfaziam as necessidades do corpo e a qual até então pensava ele, ser suficiente para a busca pela felicidade. Agostinho percebe após mais de trinta anos, que a felicidade não é encontrada somente no mundo material, e sim na busca pelo conhecimento interior e pelas verdades metafísicas (superiores).

Para Agostinho, nós nunca apreendemos a verdade se não procurarmos dentro de nós mesmos, da mesma forma que, não apreendemos o significado de algo somente pela contemplação de sua imagem e sim por meio do conhecimento objetivo (aplicado) da coisa. Devemos então, perceber que toda verdade é interior e erramos quando preferimos admirar as coisas externas e esquecemos de nós mesmos, pois é no interior de homem, que está a verdade (verificar se isso está certo, parece não estar, as coisas exteriores, por exemplo os outros seres humanos também são verdadeiros pois são criaturas de Deus e são boas).

O sensível não é desnecessário para Agostinho, pois as coisas existentes no mundo sensível revelam a beleza da obra do criador, são provas da existência de Deus, sendo Ele algo abstrato e inacessível, a não ser através de sua busca na memória e em nosso interior. A alma é nosso veículo de acesso ao divino, só ela ultrapassa a felicidade e o conhecimento sensível para alcançar o conhecimento verdadeiro e nos possibilita o encontro com o divino.

Ao tentarmos conhecer nosso próprio espírito, transitamos do exterior para o interior, onde na profundidade do “eu” (Ego), temos acesso a verdade absoluta(assunto do interior para o superior), ou seja, Deus. Afirmando essa idéia, Agostinho deixa bem clara a influência de Platão em sua teoria do conhecimento e busca pela verdade. O que Agostinho faz, assim como Platão, é hierarquizar a nossa existência pela divisão entre mundo superior e mundo material, pois a verdade não pode ser encontrada simplesmente na relação do homem com o mundo, pois é pela sua origem que ele consegue se compreender. A única forma possível de nos aproximarmos de Deus, verdade intima, fundamento primeiro e ultimo do ser, é buscando o conhecimento interior.

Para Agostinho existe somente um Deus, e este é cristão, misericordioso e criou tudo, o mundo, o homem e o tempo. Agostinho muda a visão grega de Deus para a visão cristã, onde é inserida a noção de criação, onde se divide em criador e criatura, sendo o primeiro o único a ser o que é.

3. Do interior para o superior

Agostinho neste movimento de interioridade (homem) visando a superioridade (Deus) enuncia, dentre outros, algumas consideração como, a busca da verdade interior ou conhecimento inteligível, ou seja, o acesso do homem a verdade através de si próprio. Ele também aborda a relação entre transcendência (ascensão) e subjetividade (interiorização) para chegar ao alimento da alma ou o apreço necessário a Deus.

Santo Agostinho defende a tese de que o homem tem a Verdade dentro de si, através da memória, na qual se pode desenvolver a habilidade, o aperfeiçoamento do espírito, do intelecto, ao mesmo tempo em que se vive à transcendência, caminha-se concomitantemente do interior para o superior. Mas, como posso lembrar de algo que não conheci? “Onde experimentei a felicidade para poder recordá-la, amá-la e desejá-la?” (AGOSTINHO, 1973, p. 290).

O movimento para alcançar verdades sólidas, imutáveis e perenes se estabelece, conhecendo o interior, para conhecer o superior. Para Agostinho não é necessário apenas investigar no âmbito dos sentidos, do mundo, da ciência para encontrar as verdades, mas tem que se investigar também no interior do ser humano, como intelecto, conhecimento e revelação divina: “O meu corpo vive da minha alma e esta vive de Vós.” (AGOSTINHO, 1973 p.209).

Na visão agostiniana o homem só consegue chegar a Deus a partir do momento em que mergulha no próprio “eu”, quando persegue o aprimoramento da subjetividade, na busca da vida feliz e ao se libertar das moléstias (vícios), e, vai “se alegrar na Verdade, origem de tudo o que é Verdadeiro”(ficou estranho, se não tiver como mudar tira).

A busca na memória (o interior), a lembrança do que é o Divino, no encontro com a Verdade, transcendendo do interior (memória), para o Superior Deus, cuja vida feliz advém da alegria “em Vós, de Vós, e por Vós”, ou seja, Deus é o fim para todos aqueles, que partindo de si mesmo almejam o supremo. “É na memória como faculdade espiritual que o homem depara com Deus e descobre como Ser Transcendente.” (AGOSTINHO, 1973, p. 471).

Na hierarquização dos seres criados por Deus, o homem é diferente das demais criaturas tanto inferiores (mundo sublunar), pois ele tem alma (espírito), algo de imaterial no corpo material, provinda de Deus e tem a razão - inferior, noções e superior, visão interna, iluminação divina -, quanto superiores, onde o que lhe faz ser inferior em relação ao Superior é a incapacidade de conhecimento de todas as coisas, pois ele não é o Criador, é perecível e mortal.

A insuficiência da razão humana, que mesmo tendo a capacidade de questionar, com habilidade desenvolvida através do intelecto, de poder fazer juízos, não tem como chegar a uma Verdade pura. Contudo isto é possível através aperfeiçoamento da alma, a qual é o canal de ligação entre a inteligência Superior, verdade suprema, Deus e o homem.

E, quanto mais o homem busca se mirar nos exemplos do Criador, personificados em Cristo (Verbo, palavra de Deus), mais próximo estará da excelência, da perfeição incorporada somente em Deus. Para isso o homem deve estar na mesma sincronia, na sintonia da perfeição (Deus), adquirida de dentro, através das razões (inferior e superior) com a ajuda de Deus (iluminação divina), pois é só com a permissão e ajuda de Deus é que pode-se aproximar Dele. Sendo assim é que se pode buscar fora de si, o Superior, o Deus.

Portanto como se observa, Agostinho nos incita a buscarmos dentro de nós mesmos, as respostas para as dúvidas mais inatingíveis que a humanidade pôde indagar até os dias de hoje, (e, sem conseguir as respostas que perseguiam). Sua filosofia baseada nos preceitos cristãos nos mostra o quanto é possível nos conhecermos na intimidade, nos aprimorarmos, e, aprendermos diante dos ensinamentos do Cristo, numa eterna viagem para dentro de nós mesmos, a procura do que muitos pensam estar fisicamente fora de nós, o autor de “Confissões” sugere e comprova o quanto é possível esse desenvolvimento do homem, em si mesmo, sempre mantendo o elo com o Criador, o Superior, o Deus.

4. O Cogito em Agostinho

 A interioridade foi resultado da busca de Agostinho pela verdade, o que o levou a refutar o ceticismo e a formular o proto-cogito, que lhe garante não só a certeza de sua própria existência, mas também a indicação de que é no interior do homem, em sua alma, que a verdade deve estar. Para que a verdade pudesse ser conhecida, porém, Agostinho precisou estabelecer as condições de possibilidade do conhecimento o que ele fez com a doutrina da iluminação, por meio da qual se sabe que o homem foi criado com uma luz capaz de conhecer as razões eternas e a verdade.

Agostinho postula ser no interior, o local aonde se encontra a imagem de Deus. Desse modo observa-se que inicialmente, a interioridade é pensada, relativamente as questões de ordem epistemológica, ela é, porém, reformulada com o objetivo voltado para as questões éticas, de que a salvação faz parte.

A alma é a grande descoberta de Agostinho, a alma entendida como interioridade. E fala justamente do espiritual. Espiritual não quer dizer não-material; há uma tendência muito freqüente de entender o espiritual como aquilo que não é material; e não é disso que se trata, mas de algo muito importante: espiritual é aquela realidade que é capaz de entrar em si mesma, o poder entrar em si mesmo consiste na condição espiritual. A insistência no imaterial ocultou o que é essencial, que é precisamente a capacidade de entrar em si mesmo. No homem interior habita a verdade.

É Santo Agostinho quem vai perceber que quando o homem fica apenas nas coisas exteriores, esvazia-se de si mesmo. Quando entra em si mesmo, quando se recolhe a sua intimidade, quando penetra precisamente naquilo que é o homem interior, o mundo interior - naturalmente existe um mundo exterior também, mas o decisivo é o mundo interior -, é justamente essa a relação de Deus com o ser humano. É assim que se pode encontrá-lo, e não nas coisas, não imediatamente nas coisas. Primariamente, por experiência, em algo que é justamente sua imagem.

Para Santo Agostinho é preciso levar a sério que o homem é imago Dei (imagem de Deus). É evidente que para encontrar a Deus, o primeiro passo, e o mais adequado, será buscar sua imagem, que é o homem como intimidade, o homem interior. Esse entrar em si mesmo, essa relação com a intimidade, o levará à superação do ceticismo. (assunto do último tópico)

Agostinho fará então um apelo à evidência, e portanto, ao pensamento: eu penso; eu posso errar; posso me enganar; mas não posso duvidar de que existo, porque se me engano então existo, porque só existindo é que posso me enganar. Isto é, eu não posso duvidar precisamente porque é evidente minha realidade pensante. Cogito, ergo sum.

Se Deus é a suma Existência e a Suma Bondade, os seres para alcançar a verdade tem de procurá-lo. Julgar que o caminho para se atingir a verdade seja humano, ou dependa apenas de esforços humanos, constitui soberba, pois a verdade é externa e independente do homem. Para Agostinho, o conhecimento da Verdade depende em última instância da Graça Divina, que agracia apenas alguns escolhidos. Qual é o dever moral do homem então, qual é o seu campo de ação, se ele parte em busca da verdade sem saber se a vai encontrar?

Para um cristão, porém, a felicidade é um dom de Deus. Não obstante, o homem deve procurá-la através da purificação da alma. Para purificar a alma o homem tem de reconhecer a condição miserável da humanidade após o pecado original, e tem de ter a humildade de reconhecer o a felicidade como alheia a si. O homem tem de se tornar digno de receber a graça.

Para Agostinho, a semelhança do homem com o seu criador é a razão. Deus, conhecedor de todas as coisas, possui também a razão infinita. Porém a razão humana está corrompida, e distante da divina. O homem tem um “déficit moral”, e por isso não consegue cumprir plenamente a sua natureza de animal racional.

Estando a alma purificada, está preparado o terreno para conhecer. A fé chama a razão para algo além dela própria, para o mistério. À razão cabe investigar os conteúdos da fé. A memória é o espírito, ou a parte mais importante da alma humana. Nela estão guardadas todas as sensações e vivências dos indivíduos. As imagens apresentam-se à inteligência, que as une, relaciona e ordena.

Em Agostinho a contemplação da luz divina não é uma lembrança da vivência anterior da alma, mas uma irradiação presente. Deus ilumina o intelecto com sua luz, tornando-o capaz de conhecer segundo sua ordem natural. Para Agostinho, todos os homens querem ser alegres e felizes, mas a verdadeira alegria só vem de Deus. A carne e seus apelos, a matéria, podem levar o homem a confundir-se e fazer aquilo que pode fazer, mas não aquilo que realmente quer fazer. Deus é a felicidade porque é a verdade. E a alegria reside na verdade. Esta é uma só, e Deus a sua fonte.

5. Relação Divino x Humano na Interioridade Agostiniana

Como visto anteriormente, o processo da interioridade agostiniana consiste em um movimento da alma com a finalidade de possuir a verdade. Esse contato com os conhecimentos verdadeiros apresenta uma implicação epistemológica e também moral. A filosofia de Agostinho não está desvinculada da práxis, exigindo uma aplicabilidade dessas verdades conhecidas durante o seu método para de volta com o exterior.

Logo, se no âmbito do conhecimento, o acesso à verdade eterna somente é permitido através da iluminação divina. No âmbito moral, o acesso à verdade consiste no movimento de transformação interiorização do ser humano voltando ao exterior, a sua alma resgata o divino presente nela mesma permitindo reconhecimento do ser humano como imagem e semelhança de Deus. Desse modo, o reconhecimento do homem como imagem da trindade divina se empenha com a finalidade de busca da sabedoria e felicidade. Nesta busca da felicidade envolve basicamente o conhecimento verdadeiro, moral e divino.

Todo conhecimento depende de Deus, pelo princípio que ele criou todas as coisas, criou o conhecimento da verdade, o pensamento como via de raciocínio e a mente humana, capaz de abstrair as imagens e armazená-las na memória. Logo, as verdades eternas foram criadas por Deus e o pensamento humano não é suficientemente completo para decidir sobre todas as razões. No estado de interioridade, o ser humano pode conhecer verdades que estão além da sua dimensão, que compõe a razão divina.

Esta razão divina ou verdades eternas provenientes de Deus, não estão fora dele mas constituem parte dele próprio. Elas não foram criadas e, ao contrário, são causa de tudo o que existe.

Portanto, um primeiro momento, através do princípio da criação e sobre as verdades eternas presentes no ser humano é possível compreender o movimento de interioridade, e num segundo movimento, compreender como a iluminação divina e o reconhecimento do ser humano como imagem do Deus, segundo a trindade, completam o processo de interioridade agostiniana.

Referências Bibliográficas

AGOSTINHO, Santo. A cidade de Deus: contra os pagãos, parte II / Santo Agostinho. Tradução Oscar Paes Leme. Ed. 2. Petrópolis: Vozes, 1990. 589p.

______. Confissões, De magistro (Do mestre) / Santo Agostinho. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrosio de Pina [Confissões], Tradução de Angelo Ricci [De magistro].  São Paulo: Abril Cultural, 1973. 356p.

______. Solilóquios e a vida feliz / Santo Agostinho. Tradução de: Soliloquia / Tradução, introdução e notas Adaury Fiorotti. De beata vita / Tradução Nair de Assis Oliveira. São Paulo : Paulus, 1998. 157p.