MENSALÃO E FAXINA ÉTICA
Publicado em 20 de setembro de 2012 por Marcelo Diniz
Recebi uma análise do meu amigo Altamir Tojal ("Este Mundo Possível") onde ele afirma que “o desenrolar do julgamento está superando as melhores expectativas da sociedade, confirmando o acerto do abaixo-assinado e da campanha SOS-STF. Mais importante que os resultados penais esperados têm sido os sinais de que o julgamento terá efeitos no sistema jurídico, dando a real dimensão da gravidade do problema da corrupção e da necessidade de combate à impunidade”.
O brasileiro é um povo que, historicamente, quer acreditar no presidente e nas lideranças constituídas. O governo é como se fosse um pai, encarregado de resolver todas as mazelas, promover os mais significativos benefícios. E as autoridades são chamadas de Excia. Você conhece alguma pessoa que mereça ser reconhecida como excelência? Eu não conheço. Conforme os dicionários: qualidade de excelente = superior em qualidade, primoroso, bem acabado, perfeito, exímio, distinto, magnífico. Se fosse Drumond, haveria controvérsias. Mas aquele pessoalzinho lá de Brasília, valha-me Deus!
Mas vamos em frente: quando o Lula disse na televisão que todo brasileiro tinha o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar, sem entrar no mérito da boa operacionalidade do sistema, o certo é que ele influenciou toda a administração pública, gerou ONGs e sei lá quantos novos projetos de responsabilidade social nas empresas.
Depois disso, o clamor contra a roubalheira tomou conta das redes sociais, das páginas dos leitores nos jornais, de algumas passeatas, o movimento Ficha Limpa foi vencedor, dona Dilma resolveu faxinar, apesar dos tentáculos que a prendem ao PT, o STF tem sido exemplar e, ao que tudo indica, O Altamir está com a razão.
Muita coisa ainda vai rolar além do Mensalão, Marcos Valério já disse que há muito mais dinheiro em jogo, e todos nós sabemos que não é só no PT. Como bem disse o Noblat, “o governo apodreceu”. E não foi só na escala federal. 40% do PIB estão saindo por todos os ralos da administração pública do Oiapoque ao Chuí. A maior parte jamais será descoberta, jamais será julgada, a própria sociedade civil vai tratar de encobri-la porque o cobertor serve a muita gente.
Mas é interessante notar que estamos chegando a um “Ponto de Desequilíbrio” (Malcolm Gladwell, Rocco). É quando um novo conceito se espalha como se fosse uma epidemia, da mesma forma que a sociedade passou a restringir o hábito de fumar, incentivou as viagens para a Disneyworld, adotou os shopping centers, tornou-se escrava dos celulares, voltou-se para o culto ao corpo, e assim por diante. A nova epidemia da ética e da sustentabilidade é do bem. Ainda falta muito para que domine as nossas ações, mas com certeza já começou.
É bom lembrar que nada acontece rapidamente, nem por acaso. Em 1970 o Dr. Cooper veio ao Brasil preparar fisicamente a Seleção Brasileira de Futebol. Fomos os melhores em todos os aspectos naquela Copa. De lá para cá, muita gente fez “cooper” nas ruas, muitos pares de tênis foram vendidos, mas a febre das academias é bem mais recente. E tem gente que não correu 100 metros até hoje.
Mudanças de estilo e mentalidade são um processo e, como sempre, precisam de um empurrãozinho do dinheiro. Não foi à toa que Peter Drucker afirmou, há uns 50 anos atrás, que a ecologia só seria viável quando passasse a dar lucros. No caso da corrupção, eu vejo da mesma forma. Existe uma crescente indústria da denúncia, que gera prestígio e dinheiro. É ela que movimenta a benéfica epidemia da ética, fazendo de um rio um oceano no qual todos os bem intencionados podem surfar.
Salve ela!