Florianópolis, 27 de agosto de 2010.

Olá, meu querido amigo Pedro,

Li seu livro de memórias e fiquei encantada com suas histórias. Quem não tem um baú de lembranças em sua vida, cheio de recortes de papéis, escritos guardados para depois, anotações em cadernos ou velhas agendas? Às vezes, o baú até chega a transbordar e virar livro mesmo! Em outras, porém, fica esquecido em algum canto da nossa existência; outras ainda nem damos tanta importância assim e passamos a vida sem sequer lembrar dos bons momentos vividos, só reclamamos das dores acumuladas, das culpas não perdoadas, dos sonhos não realizados, das pessoas que perdemos, dos amores não correspondidos, das doenças adquiridas, das feridas não curadas... e de tudo que nos entristece e adoece no presente. Se temos algo de bom para fazer, deixamos sempre para amanhã como se fôssemos donos do tempo, do ciclo da vida! Lançamos para um futuro incerto a certeza da alegria e o prazer de viver o presente.
Temos sim um baú de memórias que são poucos os corajosos como você que conseguiu registrar para as próximas gerações. São poucos os que, mesmo no silêncio, sabem dizer, com um gesto certo ou um olhar que toca a alma, a palavra que conforta e anima. São poucos os que fazem do dia presente um dia de perdão. São poucos que são tochas de luz em um mundo de escuridão e amargura. São poucos que no silêncio dizem tudo. São poucos os sábios... Porque, realmente, "o mundo está tão carente de alegria!" (Le Lezard, p.29), de um toque terapêutico de bom humor, de paciência, de otimismo.
Agradeço muito as palavras que agora posso ler repetidas vezes e, quem sabe, me sentir encorajada a me curar dos males físicos que, neste momento, estão me incomodando e fazendo de mim este ser pacato que só tem tempo para escrever rapidamente estas linhas e dizer ao amigo aí para não esquecer desta que ainda está em suas adoráveis memórias.
Um fraterno abraço!
Sua amiga de infância e brincadeiras,
Antônia

Autora: Luciane Mari Deschamps