Eu, Kétily Regina Fernandes Martins, 25 anos, nascida em 17 de novembro do ano em que a última Constituição foi promulgada, na cidade de Itaituba, Pará, iniciei a vida acadêmica, no ano de 1992, aos 04 anos de idade na escola Marechal Rondon. Convivi, no entanto, pouquíssimo tempo neste contexto escolar e fui trocada de colégio para a escola Cinderela, na qual estudaria até a 3ª série do Ensino Fundamental.

Filha de dois professores, aprendi desde a mais tenra idade o valor da vida escolar e com o passar dos anos fui entendendo que a educação me garantiria um futuro profissional de sucesso e que fosse capaz de suprir as necessidades que eu, assim como minha família viríamos a ter.

No ano de 1997, mudei para a Escola “A mão Cooperadora”, na qual, pelos próximos 04 anos, concluiria o Ensino Fundamental. Nesta escola, fui instruída não só no conhecimento referente às letras e números, mas também no que diz respeito a valores pessoais e atitudes aceitáveis e adequadas à boa convivência em sociedade.

Em 2002, mudei de escola mais uma vez, pois na anterior não era ofertado o  Ensino Médio. Fui então matriculada no Centro Educacional Anchieta, onde enfrentei certa dificuldade para adaptar-me tendo em vista que havia muitas disciplinas e vários professores: era chegado o tempo de lidar com a realidade do Ensino Médio e todas as suas novidades e transformações.

Era segundo semestre do ano de 2005 e eu e a turma do 3º ano havíamos passado por vários “reforços” por causa do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), do qual eu não sabia muito a respeito, mas entendia a necessidade de realizar a prova a fim de ser avaliada neste nível acadêmico.

Um ano antes, havia sido criada a Lei nº 11.096/2005, que instituía o Programa Universidade para todos, o PROUNI, com a finalidade de conceder bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de cursos de graduação e de cursos sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. As instituições que aderissem ao programa receberiam isenção de tributos, e a nota usada para se inscrever no PROUNI, seria a obtida no ENEM. Assim, realizei a prova, que considerei muito difícil e na época não tinha muita idéia do que aquela avaliação poderia render, tendo em vista que a questão das bolsas de estudo eram uma novidade e apesar de ouvir falar, eu não estava muito interessada. Isto pelo fato de ter certo preconceito com as Universidades particulares, que na minha ignorância naquele período, se resumiam a “Pagou-Passou”.

No fim do ano de 2005, meu foco estava na Universidade Estadual do Pará e eu comecei a me dedicar para cursar música, que sempre foi um sonho. Ritmo, harmonia e melodia sempre fizeram parte de minha história, já que meu pai é músico e naquela época de sonhos possíveis e tão simples de se realizar para uma adolescente, tinha a certeza de que esta graduação era a mais adequada, mesmo que não fosse tão reconhecida. Senti que estava preparada e que tudo daria certo. Meus pais aceitaram, apesar de me orientarem a respeito das dificuldades que eu poderia vir a enfrentar, inclusive na área financeira, mas eu estava decidida. Fiz a prova teórica, obtendo sucesso e aprovação, no entanto, na prova prática fui considerada inapta, pois não conhecia teoria musical e não bastava ter uma voz considerada boa para ser aceita, então tive que retornar para Itaituba para realizar a próxima tentativa.

Paralelo a isto estava em processo minha inscrição do PROUNI, e que me conferiu bolsa integral para o curso de Licenciatura Plena em Letras na Faculdade de Itaituba. No entanto, quando estava prestes a aceitar, comecei pensar que este sonho era o de minha mãe, a quem eu admirava por tê-lo conquistado, mas não era o que de fato me realizaria, pois apesar de nova e imatura eu sabia que se cursasse algo pelo qual eu não tinha paixão, seria muito difícil me realizar pessoal e profissionalmente e o trabalho no futuro poderia vir a se tornar um peso.

No início do ano de 2006 viajei para a cidade de Manaus para conhecer o lugar e para o qual meus pais já cogitavam me enviar. Mas passei as duas “piores semanas da minha vida”, retornando para Itaituba cheia de reclamações da cidade grande quando na verdade o que eu estava tentando fazer – inconscientemente – era sabotar minha ida para Manaus.

Então fiquei com “um ano perdido” e  viajei para a cidade de Santarém no meio do ano e iniciei um cursinho a fim de conseguir aprovação em Fisioterapia, na UEPA, curso do qual ouvira falar ser muito bom, apesar de não ter muita noção do que o mesmo abrangia, achei interessante, com um retorno financeiro razoável, em uma faculdade pública e o mais importante naquele momento: perto da minha cidade natal, o que me permitiria ficar perto da família, de amigos e de um antigo namorado que na época eu achava ser a pessoa mais importante de minha vida.

Antes do fim do ano, realizei nova prova do ENEM, após um tempo de cursinho estava mais bem preparada.

Em dezembro de 2006, realizei a prova da UEPA para Fisioterapia, tendo deixado de entrar por 01 (mínimo) ponto. Juntamente com o resultado negativo da Estadual eu recebia a notícia de que havia sido contemplada com bolsa integral para Psicologia, através do PROUNI, na Universidade Nilton Lins, em Manaus - AM, para alegria dos meus pais e para minha tristeza.

Quando eu tinha uns 10 anos, ouvi minha mãe falar sobre Psicologia e sobre o que este profissional fazia. Encantei-me e decidi que faria Psicologia pois gostaria de aconselhar as pessoas e ajudar com seus problemas. Na adolescência, havia lido sobre técnicas de hipnose e meu desejo de infância de usar a Psicologia para ajudar as pessoas tinha dado lugar a um interesse um tanto maldoso de aprender a controlar os outros com minha capacidade - a ser adquirida brevemente - de controlar a mente das pessoas.

Iniciei em janeiro de 2007, a vida universitária na Universidade Nilton Lins, notando o quão minha vida seria diferente após os anos ali. Os primeiros períodos foram mais difíceis do que imaginei, por causa do que acontecia paralelamente à minha trajetória acadêmica: a dificuldade de adaptação, a distância da família, o rompimento do relacionamento amoroso, e tantas outras situações em minha vida pessoal. Mas aos poucos, a maturidade começou a ser desenvolvida fui aprendendo a dosar as coisas.

O curso foi me envolvendo conforme eu ia estudando as Escolas de Psicologia, as abordagens terapêuticas, as teorias e seus precursores eu ia tendo maior certeza de que esta era a área com a qual eu me identificaria e teria prazer em tê-la enquanto profissão.

Realizei estágios a partir do 5º período que abrangeram as áreas clínica, hospitalar, organizacional e social. Participei alguns cursos no período acadêmico, a saber: Curso em Extensão Universitária de Redução da Demanda de Drogas e da Violência; Curso de Recrutamento e Seleção; Curso: Casais e Famílias hoje; Diversos seminários de Psicologia Clínica e Hospitalar; dentre outros.

Houve momentos de quase desistência por que o cansaço mental é um forte inimigo dos que anseiam pelo saber.

Durante os anos da faculdade comecei a frequentar uma igreja evangélica naquela cidade, que após algum tempo me tornei membro.

No último ano de faculdade, comecei a desenvolver meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e passei a analisar a vida de algumas pessoas que exerciam sua espiritualidade e me perguntar até que ponto a religião seria influência positiva para a vida psíquica e a partir de que ponto ela seria fator de adoecimento mental tendo então desenvolvido meu trabalho com o tema: “Psicologia e Espiritualidade: Um estudo acerca da fé enquanto instrumento na qualidade da vida psíquica”.

Meus anos de faculdade me permitiram desmistificar muitas concepções errôneas no que diz respeito ao ser humano, pois, apesar de este ser o “objeto de estudo” do campo da Psicologia, ele não pode ser entendido exatamente como afirma tal expressão, sendo “coisificado”. Isto por que é constituído de diversas dimensões: física, biológica, psíquica, espiritual, cósmica, terrena, enfim: milhares a serem compreendidas (ou ao menos conhecidas). Deste modo, meu intento adolescente e maquiavélico de aprender a ter o controle sobre a mente das pessoas, a partir do uso das técnicas psicológicas, deram lugar a uma sensibilidade acerca das necessidades humanas de uma maneira que hoje considero adequada e indispensável ao desenvolvimento bem-sucedido de minha profissão.

Terminei a faculdade na cidade de Manaus no final de 2012 e até novembro do ano seguinte estava desempregada. Para não ficar distante do meio profissional, realizava alguns estágios voluntários, no entanto, nada remunerado. Fui informada que seriam ofertadas vagas para Psicólogo em um concurso municipal na cidade de Itaituba e me inscrevi.

Vim para a residência dos meus pais no fim do ano de 2013 e continuei estudando para o concurso. Antes que realizasse a prova comecei a trabalhar na Secretaria de Assistência Social do município. Neste período conheci um colega psicólogo que trabalhava em outro órgão da Assistência Social e este me informou a respeito da Especialização em Docência para o Magistério Superior. A princípio, fiquei pensativa, pois planejava realizar pós-graduação específica para meu curso. Apesar disso, passei a considerar a possibilidade e verificar os benefícios desta especialização que além de oferecer o conhecimento indispensável à continuidade de minha vida acadêmica, me permitiria realizar algo novo com o qual eu acreditava não me identificar: a docência.

Realizei a prova do concurso e fui classificada, e até o presente momento aguardo a convocação.

Atualmente, curso o segundo semestre da pós-graduação, concluindo a disciplina Política Educacional para o Magistério Superior e me encontro bastante satisfeita com o que tenho aprendido e tenho utilizado deste curso.

Nesta trajetória, precisei mudar de ideia muitas vezes, quebrar paradigmas e ceder. Hoje entendo que tanto nas faculdades particulares ou públicas, o que é, de fato, relevante não é passar, mas aprender a adequar o conhecimento adquirido na academia à realidade de atuação profissional.

Para prosseguir à construção do conhecimento, foi necessário também renunciar vontades, a fim de alimentar minha mente com ideias e teorias que futuramente eu transformaria em práticas com algumas adaptações, já que cada profissional empresta um pouco de si mesmo àquilo que faz.

Sou muito grata a Deus e a todas as pessoas que participaram direta ou indiretamente das vitórias já conquistadas e daquelas que ainda estão por vir.