Recentemente, alguns jornais de grande veiculação nacional publicaram suas matérias sobre a temática ambiental, focalizando o “fracasso” creditado ao COP-15 (o encontro de mudanças climáticas realizado pelas Nações Unidas em dezembro/2009). Sérgio Nascimento (Presidente da Associação Meio Ambiente, Preservar e Educar) comentou o encontro enfatizando a expectativa de um acordo “prático” entre as nações. O que não aconteceu. 

Em determinados tópicos, alguns populares reclamavam das situações das praias, outros se esquivavam da responsabilidade individual dizendo que a solução é “reflorestar” e muitos ditos “ambientalmente responsáveis”, conclamavam que estavam fazendo sua parte, organizando e separando seus resíduos para a coleta seletiva. Difícil é esperar que todos façam a Coleta Seletiva nos PEV´s (Posto de Entrega Voluntária), já que na maioria das cidades, as prefeituras, quando fazem, atingem apenas alguns bairros e apenas uma vez por semana.

O fato é o que assunto definitivamente está em voga e é sumária a necessidade de adoção de comportamentos adequados e permeados de responsabilidade. Aliás, o primeiro passo é esquecer o que aprendemos na escola sobre os recursos naturais ilimitados, Pau-Brasil (o que foi isto mesmo?), clima, definição das estações do ano, etc.

 

O mundo está demudado... Desenvolve-se gigantesca e inconsequentemente, embalando a cultura individualista e consumista. Até quem não precisava de eletrodomésticos novos, viu-se tentado a comprar diante da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a “linha branca”. A mesma redução foi aplicada aos automóveis novos. Milhões lançados às ruas, sem que as vias, o sistema de trânsito fosse preparado para absorver o contingente e muito menos o meio-ambiente tenha sido priorizado com a medida. Até março de 2010, a redução permanece para carros FLEX, ou seja: incentivo ao consumo do álcool – combustível nada ecológico e que internamente sai muito mais caro. Por que não incentivar o diesel, tal qual nos países desenvolvidos?

 

Medidas que ilustram o sintético e ilógico “desenvolvimento insustentável”, reflexo da mesma exploração econômica que reduziu os 1.000.000 Km² de extensão de Mata Atlântica aos vergonhosos 7% (onde apenas 2% estão protegidos em unidades de conservação oficiais).

 

A questão é que: Meio Ambiente e Trânsito são temas que não podem ser tratados e noticiados apenas numa semana de junho e outra de setembro, respectivamente. Também não adianta eleger e esperar recursos de apenas um responsável (governo, família, cidadão, escola etc.) para esmiuçar e garantir mudança nos padrões do comportamento humano e sua relação com o trânsito e meio ambiente, que efetivamente produzam aquisição de práticas educacionalmente corretas e civilizadas.

 

O momento crítico exige um envolvimento cada vez menos linear e mais uniformemente sintonizado. A ampliação da consciência crítica dos cidadãos é desígnio primeiro das ciências da Educação, enquanto provocadoras diretas nos processos de compreensão, apropriação do real e desenvolvimento humano.            

 

Enquanto as faculdades continuam formando “especialistas”, a carência é pelo profissional “generalista”, capaz de inter-relacionar as diversas áreas do conhecimento e cingir discursos identificadores da maioria. Assim como fez o economista e filósofo alemão Karl Marx (1818 – 1883), quando em 1867 – na sua obra O Capital, já sinalizava sobre a importância de garantir uma economia equilibrada, com justiça social, consumo consciente e preservação da qualidade do meio ambiente. John Bellamy Foster (Professor de Sociologia da Universidade de Oregon) escreveu o livro A Ecologia de Marx – Materialismo e Natureza, onde ilustrou o trecho escrito por Marx em Manuscritos econômico-filosóficos, de 1844: “O homem vive da natureza, isto é, a natureza é o seu corpo, e tem que manter com ela um diálogo ininterrupto se não quiser morrer. Dizer que vida física e mental do homem está ligada à natureza significa simplesmente que a natureza está ligada a si mesma, porque o homem é parte dela”. (MARX).

 

O diálogo profundo entre o saber e a prática, atravessou a fronteira do: URGENTE!

 

Ou seja, o designer responsável pela concepção do contêiner coletor tem que conversar com o catador de lixo e se certificar que o modelo permitirá a retirada apropriada dos resíduos. Assim como o engenheiro e/ou arquiteto devem lembrar ao desenhar a planta do depósito, de se apropriar da serventia do local, garantindo que o sistema elétrico não comprometa a segurança e a integridade do material que servirá para reciclagem.

 

Assim como dizer que o engenheiro mecânico ao idealizar um veículo, deve se informar sobre a quantidade de acidentes (envolvendo principalmente motociclistas) por causa da largura das colunas (laterais, traseiras e frontais), que aumentam os chamados “pontos cegos dos motoristas” e mudam de faixa provocando a colisão, ou no mínimo “fechando” abruptamente quem segue na retaguarda.

 

Estou discorrendo sobre a inópia de “diálogo”, não de perguntas. Mas se tem uma que eu adoraria vê-la respondida, é sobre qual a justificativa para o papel omisso do Estado brasileiro (oposto ao do Estado alemão, por exemplo), ao aceitar a produção de veículos com velocidades duas vezes maiores às permitidas pelo Código de Trânsito Brasileiro?

 

A quantidade de veículos lançados mensalmente às ruas contribui, mas não responde sozinha, pela cratera na camada de ozônio, alterações climáticas, aquecimento global e elevação no número de acidentes de trânsito.

 

O CO2, maior vilão do assunto, cresceu principalmente pelo uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural) em termelétricas, indústrias e também em função da devastação e queima de florestas. O Brasil está em quarto lugar como maior poluidor (em % das emissões totais de gases do efeito estufa). Em relação ao trânsito, em junho de 2009 a Organização Mundial da Saúde (OMS) utilizando dados de 2007, divulgou o maior estudo já realizado sobre o impacto dos desastres para a saúde mostrando que o Brasil tem o quinto maior número de mortes no trânsito de todo o mundo.

A frota brasileira (até o fim de 2009) estava perto dos trinta milhões de veículos. Na Alemanha a quantidade é (pelo menos) nove vezes maior. Acontece que enquanto o número de óbitos no Brasil atingiu o pico histórico em 2007 com 66.837 mortes segundo os seguros DPVAT (*), na Alemanha esse número não chegou aos 5.000.

Constatando assim, que vivermos num dos países que mais polui o meio ambiente e mata no trânsito, e isto não está relacionado com a extensão territorial nem a quantidade de veículos.

 

Diante do costume individualista impregnado nas pessoas, é difícil impulsionar a consciência ambiental através da propagação da preservação da Floresta Amazônica, feita no litoral e na maioria das capitais brasileiras. Assim como é difícil caracterizar o trânsito como um verdadeiro problema de saúde pública, se as estatísticas oficiais do DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito que elabora seus anuários a partir dos boletins de ocorrência lavrados pela polícia, computando apenas as mortes “in loco”) além de não contemplarem a totalidade dos acidentes de trânsito, ainda disseminam números de óbitos que escondem a verdadeira face da mortalidade e morbidade (termo usado para designar o conjunto de casos de uma dada doença ou a soma de agravos a saúde que atingem um grupo de indivíduos, em um dado intervalo de tempo e lugar específico).

 

Aclarando o explicitado, se apropriar do saber, associá-lo com as diversas áreas de conhecimento, aproximá-lo da realidade de cada população, requer iniciativa do poder público em estruturar políticas públicas EFICAZES, principalmente para a educação (ambiental e de trânsito) continuada em todos os níveis e um sistema atuante de coerção aos infratores.

Não basta capacitar “meia dúzia” de profissionais.

É preciso chegar a todos os confins deste país, estimulando ações justas, financeiramente viáveis, educacionalmente específicas e ambientalmente sustentáveis, como meio de SOBREVIVÊNCIA coletiva. E principalmente enxergar que a interdisciplinaridade / transdisciplinaridade, prevista na Constituição Federal de 1988 e nos Parâmetros Curriculares do Ministério da Educação (MEC) de 1996, só tornar-se-á eficaz, a partir do estímulo à pesquisa e do incentivo à preparação mais diferenciada do profissional generalista responsável pela aprendizagem do nível fundamental ao organizacional.

 

REFERÊNCIAS

 

(*) Mapeamento das Mortes por Acidentes de Trânsito no Brasil. 14 de dezembro de 2009. Disponível em: http://abetran.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=12627&Itemid=2, em 31.jan.2010

 

REVISTA PSIQUE Ciência & Vida, São Paulo, N. 47, 2009, 66 p. Mensal. ISSN 1809-0796

 

REVISTA FILOSOFIA Ciência & Vida, São Paulo, N. 41, 2009, 66 p. Mensal. ISNN 1809-9238