"De todas as paixões o medo é aquela que mais debilita o bom senso" (Jean Retz)

Sentimento este que espreita a frágil sanidade de nossa sociedade "bem sucedida". Temos medo de perder o fruto de nosso trabalho por crises econômicas, pela insegurança da vida urbana, pelas catástrofes naturais e por questões políticas, por exemplo.

Zigmunt Bauman chamaria esta realidade de incertezas constantes e vida precária de "vida líquida" o que nos leva a "moralidade líquida" que se baseia na afeição da imagem que nós construímos do objeto ao invés do objeto em si. Transformando o outro em um objeto de consumo que deverá suprir nossas carências sem necessariamente assumimos um compromisso afetivo com o mesmo.

Esta tentativa de suprir nossas necessidades em algo externo a nós não é exclusividade das relações interpessoais. Quando tratamos do medo causado pela violência que assola nossa sociedade, buscamos meios que nos garantam uma sensação de segurança. Ao analisarmos a fundo esta sociedade amedrontada podemos identificar estruturas de uma arquitetura do medo, que cada dia está mais presente por câmeras, muros cada vez mais altos, cercas eletrificadas e trancas cada vez mais complexas, por exemplo.

Todos estes meios, na verdade, estão longe de garantir nossa liberdade, acaba por nos aprisionar cada vez mais, gerando a paranóia da constante insegurança ilhando o indivíduo e virtualizando suas relações cada vez mais. Afinal, como diria Bauman: "Manter-se a distância parece ser a única forma razoável de proceder".

Ainda segundo Bauman, a liberdade sem segurança não tende a causar menos infelicidade do que a segurança sem liberdade. Já Freud em "O mal-estar da civilização" diria que "trocamos uma parcela de nossas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança".

"A supressão dos desejos é também um remédio útil contra o medo" (Sênega)

Já para boa parte das grandes empresas, o medo é um recurso renovável absoluto para obter lucros altíssimos. Sem ele empresas automotivas e farmacêuticas sucumbiriam.

Outro mercado que lucra e exerce poder sobre as massas graças ao medo são os meios de comunicação, em especial as telecomunicações. Principalmente os mais sensacionalistas que geram em nós uma relação dúbia de sentimentos. De um lado a repugnância, o horror e a lamentação diante da violência, e do outro lado um gozo secreto pela oportunidade de ver a destruição humana em múltiplas maneiras no conforto de nosso sofá. O resultado destas instâncias não tardam a aparecer, eis o medo.

De certo nunca ficamos e nunca ficaremos livres deste opressor. Para alguns um alívio, já que não estão preparados para lidar com a liberdade. Para nos livrar de qualquer parcela de medo temos de estar preparados para não termos mais o refúgio seguro daquele medo para nos escondermos. E você? Esta preparado para livrar-se de alguma parcela de medo?

"A conquista da liberdade é algo que faz tanta poeira, que por medo da bagunça, preferimos, normalmente, optar pela arrumação."

( Carlos Drummond de Andrade )