Medo do humano...

Há pessoas que se trancam em seus "mundinhos". Todos sabemos disto. Elas criam um monte de barreiras para não serem assediadas, ou sequer  ter um contato. Elas tem medo de seres humanos... 

Nada do que é humano me é estranho" disse o sábio Terêncio, na antiguidade. Sua frase nos ajuda a pensar... O ser humano se caracteriza pela sua infinita capacidade de amar o próximo. 

Olhamos a realidade e algumas coisas nos enchem de orgulho. E sem falsa modéstia reivindicamos reconhecimento. Em relação a outras, fingimos não terem sido feitas por nós.

Quem é o fabricante das armas que as crianças e os adolescentes levam para a escola e atiram contra seus coleguinhas e professores? 

Quem assume a indiferença diante de tantas perguntas infantis?

Quem são os inventores desta "vida Severina" onde se morre vítima da violência antes dos trinta, e de fome um pouco a cada dia? 

Às vezes, temos medo de nossos semelhantes... Outras vezes -- que são a maioria -- fingimos... Não queremos nos comprometermos com o Outro... Compartilhar. Doar. Entrar em comunhão. Adotamos, então, a indiferença. Sob a ótica da indiferença, tudo na vida fica mais protegido... familiar. 

Tornou-se comum dizermos que o mundo está muito violento, que as coisas não têm mais jeito, que as coisas são assim mesmo. Que as pessoas são todas falsas e podem nos magoar... Será mesmo? 

Tudo isso já nos soa tão familiar... 

Vale, então, a pergunta: se "nada do que é humano me é estranho", não será também próprio do homem a capacidade de estranhar? 

O que nos é familiar, será, efetivamente, o melhor? 

É possível conhecer sem estranhamento? 

A violência, hoje, parece-nos extremamente familiar. No entanto, é preciso ponderar que não se trata de um fenômeno contemporâneo.

Um breve olhar para a história da humanidade pode ajudar-nos a perceber as transformações que as práticas violentas vão redesenhando: guerras, massacres, autoritarismo, ditaduras, fascismo, machismo, escravidão, repressão, censura, relações opressoras de trabalho, materialismo desenfreado, exclusão social, falta de oportunidades, sem teto, sem emprego, exposição permanente ao risco social, fome, segregação, preconceitos, etc.

O medo não deveria nos tornar inacessíveis aos novos encontros e às novas possibilidades de interação com o nosso semelhante.

O medo é para proteger- nos e não para, blindarmos os nossos afetos em relação ao próximo!

Reinaldo Müller > "Reizinho"