RESUMO: Pretendo apontar neste artigo as diferentes mobilizações brasileiras em torno do entendimento da arte da meditação e seu benefícios para o ser humano, principalmente em momentos de crise, onde a fisiologia do corpo verdadeiramente se altera, gerando ansiedade e comportamentos desadaptativos. Salientamos também a grande contribuição de pesquisadores e escritores brasileiros no sentido de apronfundamento do tema, gerando assim um interesse maior da população e de profissionais de saúde para o uso desta técnica milenar oriental. Para tanto, sentimos necessidade de utilizar o referencial teórico da Gestalt-terapia, para que pudesse dar suporte à proposição e dicusão do tema em questão, e sua futura utilização, como técnica supressora de ansiedade. Como a meditação não se encontra ainda reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia Brasileiro, preferimos propor neste instante histórico, a sua utilização apenas como recurso terapêutico, desvinculando o seu uso das sessões psicoterápicas, mas podendo ser utilizada nas diferentes clínicas em psicologia, como já vem sendo utilizada.

PALAVRAS- CHAVE
Meditação, momentos de crise, fisiologia, técnica milenar oriental, técnica supressora de ansiedade.


1.INTRODUÇÃO


A meditação já não pode mais ser definida apenas como uma prática associada a certas crenças espirituais. Hoje é considerada, sobretudo, como uma técnica que favorece a saúde, entendida esta como estado de equilíbrio mental e físico. Ao meditar, o pensamento racional, que tem lugar no córtex cerebral, começa um "diálogo" tranquilo com os centros emocionais do sistema límbico, resultando na liberação de um dilúvio de neurotransmissores calmantes, que aliviam o corpo inteiro. Assim, se estabelece um esquema cerebral relaxado, onde dominam as ondas alfa e onde o sistema nervoso parassimpático, eu protagoniza a resposta de relaxamento, passa atuar.
Sabe-se que a meditação não se propõe a ser uma cura definitiva para muitas enfermidades, mas devido aos seus efeitos comprovados e a isenção de efeitos colaterais, tem se destacado como técnica de importante função terapêutica.
Numa época onde a pesquisa científica está disponibilizando observações confiáveis do que acontece no interior de nossas mentes, o estudo das bases neurofisiológicas da meditação e suas conclusões revertidas para o bem estar do homem, se tornam emergentes.
Ainda destacamos a questão do fazer clínico na contemporaneidade, principalmente diante de situações de crise. Kátia El-ID, professora, pesquisadora e coordenadora de estágios (com foco na atuação clínica em contextos de crise), na Universidade católica de São Paulo entende que os desafios da clínica contemporânea são inúmeros e têm cada vez mais, mostrado novas formas de mal-estar e sofrimento mental, por sua imbricação com o contexto sócio político e econômico. Cada vez mais, o profissional de psicologia tem se deparado com a necessidade de dispor e construir novos recursos para o trabalho de acolhida dos pacientes nesses diversos contextos em crise (EL ? ID, s/ano). A neurofisiologia da meditação parece vdar suporte à proposição do uso desta técnica como recurso terapêutico ou psicoterapêutico, desde que te conhecido pelo Conselho Federal de Psicologia.










2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A MEDITAÇÃO E OS PESQUISADORES BRASILEIROS

Temos a compreensão deque a Gestalt-terapia, devido à sua abertura em termos de técnicas utilizadas nas intervenções clínicas, propicia uma ampla gama de possibilidades para o uso de meditação em suas práticas clínicas. O Instituto de Gestalt-terapia da Bahia promoveu no seu recente Curso de Formação na Abordagem um amplo espectro conceitual na sua programação. Entre os temas a serem desenvolvidos, o Instituto propõe o estudo do zen budismo e do taoísmo, assim como a discussão a respeito de paradigma. Propõe o estudo do paradigma quântico, do modelo holográfico, dos campos mórficos, da discussão a respeito da dimensão transpessoal do ser na relação e seus estados incomuns de consciência. "A existência humana se afirma como uma luta dialética entre o fluir da consciência e forças que inibem ou dificultam este livre fluir" Perls (1997, apud RODRIGUES, 2007). Desta forma, as forças que inibem ou dificultam o livre fluir do indivíduo sobrevêm, segundo o nosso entendimento, também da fisiologia cerebral de cada ser, sendo possível alterá-la com a prática da meditação.
Nossa primeira discussão será em torno da experiência de Pedro Tornaghi, pesquisador há mais de vinte anos dos temas ligados à meditação, entre outros ligados à Física Quântica, Neurociência, Fisiologia e Espiritualidade e professor da PUC ? Rio, e que coordenou o VI Congresso de Meditação do Rio de Janeiro neste ano de 2008. Ele entende que "estamos cegos psicológica e emocionalmente para a maior parte de nossa existência, sem perceber claramente a nossa realidade externa e interna. Não lançamos mão do nosso processo de percepção..." (TORNAGHI, 2008). Esta colocação nos sugere uma outra discussão, em torno do paradigma mecanicista ocidental, que voltado para um sistema de crenças racionalistas, acabam enxergando o homem de forma fragmentada, dificultando assim o desenvolvimento da percepção de si. Para nós, o homem ocidental desaprendeu a se sentir, a se perceber de forma profunda e a prática da meditação vem provando que o seu uso continuado acaba transformando as percepções humanas, permitindo que a pessoa entre em contato com as partes mais profundas da sua subjetividade. Sendo modificadas, novos circuitos neurais vão sendo desenvolvidos. Este seria um dos pontos de conexão entre a psicoterapia, os recursos terapêuticos, a meditação e a neurociência. A complexa tarefa mental da meditação, assim como os acontecimentos biológicos associados às experiências ritualísticas, têm sido algumas das mais importantes áreas de pesquisa das neurociências (CARDOSO, 2008), cita que no Brasil, além de livros, também se produzem teses sobre meditação. O primeiro doutorando sobre o tema, em nosso país, foi apresentado por Eliza Kozása ao Departamento de Psicobiologia da UNIFESP. Ela estudou os efeitos da meditação e de uma técnica respiratória sobre voluntários com queixa de ansiedade, mostrando bons resultados. Conforme a preposição deste artigo, no sentido de apresentar pesquisas e estudos de profissionais brasileiros, no que concerne ao estudo da meditação, gostaríamos também de citar a trajetória de Adalberto Tripicchio em torno do tema. O referido é graduado em medicina, teologia, filosofia e psicologia, com vários PhD?s. Administra o site da rede psi, onde escreve profundamente sobre a meditação. Num artigo intitulado Neuroquímica correlata da meditação ? parte I, ele testemunha que:
o estudo neurofisiológico da meditação tem oferecido uma fascinante visão da consciência humana, e desta forma, estabelecido uma relação entre estados mentais, a fisiologia corporal, o processamento cognitivo, volitivo e emocional, e as bases biológicas da experiência espiritual... Entre os artigos já publicados, entretanto, nenhum mais do que o de Newberg e Iversen, descortinou a ação da meditação de forma mais precisa, sobre o sistema nervoso. Os autores apresentam, passo-a-passo, o que chamam de "bases neurais do complexo exercício da meditação. Em nosso país, dispomos do livro intitulado "Neurofisiologia da Meditação" de Marcello Danucalov e roberto Simões (Ed. Phorte), resultante de uma monografia de revisão que compilou mais de mil artigos, embora com abrangência que ultrapassa o simples processo meditativo, chegando até aos meandros da espiritualidade (TRIPICCHO, 2007).

Nos valendo da neurofisiologia e das neurociências, verifiquei como aluna, em recente curso de capacitação em São Mental, realizado pela psicóloga, neurologista e psiquiatria Henriqueta Camarotti, que o sistema nervoso central media a homeostase e atua na regulação de comportamentos. Mediando a homeostase, entendemos que a doença, a dor e o sofrimento psicológico também, fazem parte desse sábio sistema regulador. A regulação de comportamentos, sendo um processo que envolve volição e consciência, estaria desta forma, em profunda interface com SNC e as subjetividades humanas. Verifiquei também que a neurociência tem demonstrado que um comportamento pode ser aprendido e aperfeiçoado pela experiência através de uma alteração na voltagem das sinapses, promovendo a formação de novos circuitos novas memórias neurais.
A meditação parece ser a causa mais provável da rápida recuperação de um estresse: meu estudo explica que há uma menor incidência de ansiedade e distúrbios psicossomáticos entre aqueles que meditam. Pessoas cronicamente ansiosas ou com problemas psicossomáticos possuem um padrão específico de reação ao estresse: o corpo se mobiliza para enfrentar o desafio e não consegue parar quando cessa o problema. A tensão inicial é necessária, pois permite que a pessoa concentre sua energia e percepção para lidar com uma ameaça em potencial. Mas, passado o perigo, o corpo deveria relaxar recuperando as energias gastas, e reunindo forças para enfrentar o próximo estresse (GOLEMAN, 1999, p.16).

Entendemos que na contemporaneidade, crises interferem de forma abrupta na saúde e qualidade de vida do ser humano. Entretanto, diferentemente da cultura ocidental, entendemos crise como um momento de impasse, mas também de abertura para o mundo subjetivo. Se houver uma aceitação desta abertura, o sujeito pode desenvolver a partir da crise, mudanças nos seus referenciais (mutações subjetivas) e, isto pode se dá através da incorporação de outros recursos terapêuticos, entre eles, a meditação.
























3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que os aspectos analisados neste artigo apontam para um enfrentamento da técnica meditativa e seus benefícios, assim como para seu uso terapêutico nos momentos de crise humana, principalmente na contemporaneidade. Verifica-se que a neurociência e a biopsicologia- como uma nova ciência, se propõe a integrar a psicologia com a neurologia e o sistema imunológico. Nesta integração, entende-se que muito se tem a ganhar ? efeitos cerebrais profundos podem ser observados, se a neurologia e a psicologia se unem, dialogam e buscam técnicas favoráveis ao desenvolvimento saudável do ser humano como a meditação. A Gestalt-terapia pode ser uma abordagem utilizada para meditação, por possui base em aspectos filosóficos da fenomenologia-existencial numa perspectiva holística entendendo o homem como um ser total, nas situações concretas da existência e no seu inerente processo de auto regulação organismica.














REFERÊNCIAS
EL-ID, K. Contextos em crise: intervenções clínico-institucionais. Disponível em: http://www.pucsps.br/psicologia/downloadas/2_02_-_Contextos_em Crise_-versao_final_para _coordenacao_de_curso_2009.doc
CARDOSO, R. O cérebro na meditação:livros e teses. 2008. Disponível em: <http:// www.redepsi.com.br/portal/modules/soapbox/article.php?articleID=424> Acesso em 30 nov. 2008.
DANUCALOV, M.A.D; SIMÕES, R. S. Neurofisiologia da Meditação, 2006. Disponível em http://www.phorte.com/shopping/product_enlarge.php?id=204 Acesso em 30. Nov. 2008.
KOZÁSA, E. Dissertações e Teses Homologadas (2002). < http://www.unifesp.br>
NEWBERG. A.B.; IVERSEN, J. The neural basis of the complex mental task of meditation: neurotransmitter and neurochemical considerations, 2003. Disponível em: http://bci.ucsd.edu/~pineda/COCGS175/readings/Newberg.pdf
TRIPICCHIO, A. Neuroquímica correlata da meditação ? parte I, 2007. Disponível em: http://www.redepsi.com.br/poral/modules/soapbox/article.pho?articleID=292