MEDIDAS DE PROTEÇÃO PARA TRABALHADOR DE ENFERMAGEM NO MANEJO DE QUIMIOTERÁPICOS ANTINEOPLÁSICOS

 

Elizete Procópio[1]

 Gisele da Silva1

Jonh Kleison Teixeira Azevedo1

Juniore de Almeida de Paula1

Jorge Luiz Lima da Silva[2]

 

RESUMO

Este estudo aborda a questão da biossegurança no manuseio dos quimioterápicos antineoplásicos (QA) pela equipe de enfermagem, tendo como objeto de pesquisa os riscos ocupacionais que os profissionais estão expostos devido a não utilização dos EPI e o não cumprimento das normas de biossegurança. O objetivo foi descrever os mecanismos de proteção que o trabalhador deve utilizar no manejo adequado dos QA. Foi realizada uma pesquisa descritiva e exploratória com os dados existentes nos artigos selecionados, além de manuais do Instituto Nacional do Câncer. Como resultados foram encontradas portarias regulamentadoras, técnicas e equipamentos necessários para proteção do manipulador de QA, de forma a minimizar, ou até anular os fatores de riscos ocupacionais. Foi explicada a importância da utilização adequada dos EPI e as normas de segurança além de termos explicitado a relação direta que a segurança tem com a saúde do trabalhador. O enfermeiro e profissionais envolvidos no preparo de quimioterápicos devem tornar obrigatório o cumprimento das medidas de proteção.

Palavras-chave: biossegurança; saúde do trabalhador; fatores de risco; enfermagem oncológica.

 

1 INTRODUÇÃO

 

Este estudo aborda a questão da biossegurança no manuseio dos quimioterápicos antineoplásicos (QA) pela equipe de enfermagem, uma vez que os QA inibem o crescimento de células cancerígenas pela interferência na síntese de DNA, RNA e/ou proteínas, conferindo risco      aqueles profissionais que manuseiam e preparam este tipo de droga, visto que estas drogas possuem característica mutagênica, carcinogênica e em algumas circunstâncias teratogênica. Desta forma, o princípio ativo desses medicamentos pode interferir na saúde do profissional que atua com QA.

Embora existam recomendações e normas estabelecidas pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), órgão que regulamenta a prática de enfermagem no Brasil e pelo Instituto Nacional do Câncer (BRASIL, 2008a), alguns profissionais de enfermagem adotam parcialmente as medidas necessárias para o manuseio e preparo dos QA, conduta que pode conduzir o trabalhador a problemas de saúde.

A iniciativa desta pesquisa deu-se pela importância do tema no contexto da atenção primária no cerne da saúde do trabalhador, profissionais de saúde que atuam diretamente com QA e que necessita conhecer normas de segurança para preservar sua saúde.

A biossegurança pode ser entendida como aquela que envolve além dos riscos biológicos, os riscos químicos, físicos e fatores ergonômicos. A resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) – RDC N° 220 de 21 de setembro de 2004 em seu artigo 1° - aprova o regulamento técnico de funcionamento dos serviços de terapia antineoplásica onde, no item 4.5 do anexo 1 dispõe sobre o equipamento de proteção individual (EPI), em terapia antineoplásica, destinado à proteção de risco suscetível de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho (BRASIL, 2004).

O desrespeito às normas parece estar mais relacionado à falta de disponibilidade de recursos materiais e as falhas organizacionais das unidades hospitalares do que ao nível de conhecimento, de desinteresse e/ou ao desestímulo dos profissionais de enfermagem (ALMEIDA, 1998).

De acordo com a política de saúde do trabalhador no Brasil, existem normas que regulamentam ações preventivas de promoção e proteção à saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho (BRASIL, 2001, 2008a, 2008b).

O objeto deste estudo são os riscos ocupacionais que os profissionais estarão expostos no manuseio de quimioterápicos, devido a não utilização dos EPI e o não cumprimento das normas de biossegurança.

1.1 OBJETIVO

O objetivo do presente estudo foi descrever os mecanismos de proteção que o trabalhador deve utilizar no manejo adequado dos QA.

1.2 JUSTIFICATIVA

A relevância deste estudo está no caráter de alerta os profissionais de saúde para a utilização dos EPI, além do cumprimento das técnicas de segurança no manuseio destas drogas, que por não dependerem de outras pessoas, ou seja, de iniciativa individual, é a mais acessível a todos, só bastando a conscientização de cada um (BRASIL, 2008a).

A enfermagem atuante no serviço de quimioterapia tem o papel fundamental no sentido de conhecer os riscos ocupacionais presentes em seu processo de trabalho, seus efeitos, formas de proteção, prevenção e controle dos mesmos e formação de uma consciência crítica e reflexiva frente a esses riscos de forma a proporcionar um ambiente de trabalho seguro e a melhora da qualidade de vida no trabalho (OMS, 1973).

           

2 METODOLOGIA

           

            Para atender ao objetivo deste estudo a pesquisa foi de caráter descritivo exploratório. Trata-se de um estudo do tipo bibliográfico, pois esta pesquisa tem por finalidade descrever as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno (ANDRADE, 1999).

            Para tanto foram selecionados artigos dos últimos vinte anos no período de janeiro a fevereiro de 2009, tendo como palavras-chave: biossegurança, saúde do trabalhador, fatores de risco e enfermagem oncológica. Os sites da BVS, Fiocruz, Inca e Scielo foram acessados. Os artigos selecionados foram aqueles que apresentavam relação com o objeto deste estudo.

            Devido à escassez de materiais encontrados em ambiente virtual, foi necessário ampliar o período de publicação levando em consideração os critérios vistos anteriormente.

            Após a coleta de dados foi realizada leitura seletiva e interpretativa, pois conforme Andrade (2001), a leitura seletiva consiste em ser mais detida dos títulos e subtítulos, do conteúdo das partes e capítulos das obras que foram selecionadas após leitura prévia, verifica-se com mais precisão as partes que contém informações úteis para o desenvolvimento do trabalho. Esta leitura consiste na análise do texto lido, que propõe estabelecer as relações, confrontar idéias, refutar ou confirmar opiniões, ou seja, a interpretação consiste em um processo de reelaboração pessoal das informações e idéias extraídas das leituras (SEVERINO, 2002).

            As informações foram organizadas de forma a explicar os tipos de riscos a que os trabalhadores de enfermagem se expõem e foi confeccionado um quadro com as medidas de proteção necessárias.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

            Destacando-se a evolução histórica da concepção de riscos ocupacionais, a Organização Mundial de Saúde (1973) classificou-os em biológicos, físicos, químicos, mecânicos, riscos ergonômicos e riscos psicossociais.

Riscos biológicos: são os que abragem as doenças transmissíveis agudas e crônicas, reações tóxicas e alérgicas. O risco para enfermagem, no setor de quimioterapia, está representado pelos processos infecciosos causados por vírus, bactérias, ritkesias, clamídias e fungos devido ao contato freqüente com clientes infectados, considerando que a clientela assistida é constituída por pessoas com diminuição das defesas imunológicas como é a situação dos clientes com câncer.

Riscos físicos: são constituídos por temperaturas extremas (frio excessivo pelo ar condicionado), as mudanças bruscas de temperatura (ao sair do setor de trabalho para as demais dependências do hospital) e os ambientes fechados.

Riscos químicos: são diversas formas: líquidos, aerossóis, gases, vapores entre os quais se encontram os quimioterápicos antineoplásicos (citostáticos), desinfetantes (hipoclorito, álcool a 70% e substâncias iodadas, entre outras), detergentes, produtos de limpeza (que podem afetar o DNA); são associadas a efeitos sobre a reprodução. Os quimioterápicos antineoplásicos, dentre estes os citostáticos, tem efeitos mutagênicos, cancerígenos, carditóxicos, hepatotóxicos, hemorrágicos, produzem alteração corneal, irritação da pele e mucosas e emetizantes. Existe uma associação significativa entre exposição ocupacional e risco para a reprodução com efeitos como: más formações congênitas, natimortalidade, prematuridade e abortamento espontâneo.

Riscos mecânicos: são aqueles fatores presentes no ambiente de trabalho os quais constituem causa real ou em potencial de acidente de trabalho, lesões, tensão ou mal estar. Estes são constituídos pelos pisos inadequados, pelas quedas e contusões, a presença de materiais pérfuro-cortantes, falhas na sinalização e identificação das áreas, manutenção insuficiente de equipamentos, móveis e áreas de circulação já que a manutenção deve ser preventiva e não corretiva, os traumatismos e feridas provocadas pela fadiga física ao final da jornada de trabalho, ocasionada pela sobrecarga de trabalho.

Riscos ergonômicos: os aspectos ergonômicos ligados à saúde da equipe de enfermagem do setor de quimioterapia estão relacionados com a permanência contínua em uma mesma postura ou adoção de posturas forçadas e inadequadas como no caso da posição utilizada para a punção de veia devido a mobiliário inadequado, aspectos envolvidos com o transporte de equipamentos de trabalho, movimentos repetitivos entre outros. Têm-se ainda os efeitos ergonômicos como as lesões osteomusculares, lombalgias, varizes e fadiga.

Riscos psicossociais: podem ser definidos como aqueles que originam o desgaste psíquico e sofrimento mental, cuja fonte é a organização do processo de trabalho sendo estes vinculados a diversas causas, manifestando-se em nível individual como coletivo podendo trazer conseqüências do tipo fisiológicas como hipertensão, secreção de adrenalina e noradrenalina, alterações das secreções de corticóides e catecolaminas; e psicológicas como irritação, preocupação, depressão, transtornos psicossomáticos, reações do comportamento, acidentes de trabalho, doenças mentais entre outras.

De acordo com Belland e Passos (1996), as necessidades pessoais do trabalhador de enfermagem e sua ansiedade em relação às circunstâncias com as quais ele se defronta geralmente prejudicam o tipo de atendimento que ele sabe dar e que gostaria de poder dar, causando um sofrimento no profissional. Para os profissionais de enfermagem do setor de quimioterapia o estresse constitui um fator de risco importante pela natureza do serviço que presta, pelo tipo de clientela assistida, que inclui pessoas com doenças graves como é o câncer, a presença da morte como ameaça constante, o desgaste físico pela sobrecarga de trabalho, a duração da jornada de trabalho, as responsabilidades, insatisfação pela baixa remuneração e os conflitos pessoais entre outros podem influir na presença do estresse destes profissionais.

A resolução do COFEN N° 210, de 01 de julho de 1998 dispõe sobre a atuação dos profissionais de enfermagem que trabalham com QA. Em seu artigo 1° aprova as normas técnicas de biossegurança individual, coletiva e ambiental dos procedimentos a serem realizados pelos profissionais de enfermagem que trabalham com QA. Tendo como competência do enfermeiro e do profissional do nível médio de enfermagem manter a atualização técnica e científica da biossegurança individual, coletiva e ambiental, que permita a atuação do profissional com eficácia em situações de rotina e emergenciais, visando interromper e/ou evitar acidentes ou ocorrências que possam causar dano físico ou ambiental (OMS, 1973, COFEN, 1998).

De acordo com a norma regulamentadora número 7 (NR-7) o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados do PCMSO, que tem como objetivo a promoção e preservação da saúde do seu conjunto de trabalhadores. As diretrizes no PCMSO são: considerar as questões que incidem sobre os indivíduos e a coletividade de trabalhadores, privilegiando o instrumental clínico, epidemiológico na abordagem da relação entre sua saúde e do trabalho. O PCMSO deverá ter caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho, inclusive de natureza subclínica além da constatação da existência dos casos de doenças profissionais ou danos irreversíveis a saúde do trabalhador (BRASIL, 2008b).

A NR-9 estabelece a obrigatoriedade da elaboração, implementação por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores através da antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais (BRASIL, 2008b).

Valanise cols. (1999) verificaram uma provável correlação entre manuseio de quimioterapia e infertilidade no grupo de profissionais que não utilizavam medidas de proteção. Na experiência prática, observa-se que algumas drogas tais como carmustina, mecloretamina e streptozocin, causam efeito irritante sobre a pele, mucosas e outros tecidos quando absorvidas pela epiderme ou em contato com os olhos.

O risco ocupacional em um centro de quimioterapia está sempre presente em todas as nossas ações, desde o preparo do QA, na administração até a eliminação de excretas pelo cliente. Por estes motivos, deve-se reivindicar e exigir por melhores condições de trabalho com embasamento teórico-científico para que se possa conseguir equipamentos, materiais adequados e exames periódicos necessários para o controle de saúde dos funcionários.

As normas de segurança estão divididas em: normas de segurança no preparo de quimioterapia antineoplásica: determinar um local exclusivo de preparo das drogas; preparar os QA em uma área centralizada; proibir a ingesta de alimentos ou líquidos, fumo e aplicação de cosméticos na área de trabalho (HADDAD, 1996).

Os QA devem ser preparados em uma capela de fluxo laminar vertical classe II tipo B (exaustão externa) que garante a proteção pessoal e ambiental, pois o fluxo de ar filtrado incide verticalmente em relação à área de preparo e a seguir é totalmente aspirado e submetido à nova filtragem; realizar manutenção da capela de fluxo laminar vertical por profissional especializado pelo menos uma vez ao ano, para assegurar seu perfeito funcionamento; trocar os filtros de acordo com os prazos recomendados pelo fabricante; fazer limpeza diária da capela de fluxo laminar com álcool a 70% antes de iniciar o trabalho e ao seu término; lavar semanalmente a capela de fluxo laminar vertical com água e sabão ou com um agente alcalino seguido de água; ligar a capela de fluxo laminar vertical 30 minutos antes de qualquer procedimento (BRASIL, 2008a).

O preparo de QA sem a capela de fluxo laminar vertical só deverá ser realizado quando o número de manipulações for pequeno, seguindo os seguintes cuidados: manter um ambiente tranqüilo, sem corrente de ar, restrito aos funcionários do setor. Neste caso, o uso de equipamento de proteção individual é de suma importância: máscara de carvão ativado, óculos, avental absorvente, impermeável e descartável, dois pares de luvas cirúrgicas não entalcadas e sobrepostas; usar uma cobertura absorvente impermeável e descartável, sobre a área de trabalho, para minimizar a contaminação por gotículas ou respingos - caso haja contaminação trocar as coberturas absorventes imediatamente -; as luvas devem ter punhos longos para cobrir os punhos do avental; as luvas externas devem ser descartadas a cada 60 minutos ou após sua contaminação com respingo de uma droga e as duas a cada 120 minutos; lavar as mãos antes e após o preparo de QA; usar agulhas, seringas, equipos e conexões com rosca (luer-lock); remover todo o líquido do gargalo da ampola dos QA, posicionando a parte superior da mesma na direção oposta ao preparador e envolvendo o gargalo com uma folha de gaze esterilizada. Em seguida, quebrar o gargalo da ampola, mantendo-a mais afastada possível do corpo e desprezar o excesso de solução da ampola dentro de um frasco selado; reconstituir os QA contidos em frascos-ampolas usando um filtro que permita a entrada de ar e a saída de aerossóis; respeitar o equilíbrio das pressões interna e externa dos frascos, deixar o diluente escorrer lentamente pela parede do frasco; retirar a dose do agente com a seringa; esperar até que a pressão do frasco se iguale com a da seringa para remover a agulha. Remover lentamente o ar da seringa contendo QA, sobre uma cobertura de gaze estéril ou dentro do próprio frasco da medicação. O equipo deve ser preenchido com solução fisiológica/glicosada antes de adicionar o QA (BRASIL, 2008a).

Normas de segurança na administração de quimioterápicos antineoplásicos: uso de equipamento de proteção individual: avental e luva cirúrgica, a máscara e óculos são opcionais. É indicado o uso de máscara com protetores faciais; lavar as mãos antes e após o uso das luvas; proteger a conexão da agulha com o injetor lateral com gaze embebida com álcool a 70%. A conduta de preenchimento dos equipos com solução fisiológica/glicosada antes de se adicionar QA, ainda na capela de fluxo laminar, é para evitar a contaminação ambiental e pessoal na sala de administração (BRASIL, 2001, BRASIL, 2008a).

Normas de segurança relativas aos descartáveis, frascos e ampolas: desprezar os objetos pontiagudos, seringas conectadas com agulhas, os frascos vazios ou com restos de medicações, frascos de solução fisiológica vazios, equipos, algodão e gaze contaminadas em um recipiente rígido e impermeável de polipropileno, identificado como “lixo perigoso”, e encaminhá-lo para incineração a1.000°C; não reencapar a agulha ou desconectá-la da seringa após o término da administração (BRASIL, 2008a, 2008b).

Normas relativas à contaminação ambiental e pessoal: retirar todo equipamento de proteção contaminado e descartá-lo imediatamente; lavar com água corrente e sabão neutro exaustivamente a pele exposta; irrigar o olho exposto com água ou solução isotônica por 5 minutos mantendo a pálpebra aberta; procurar atendimento médico; preencher a ficha de acidentes de acordo com as normas da instituição; neutralizar com sódio a 5% ou permanganato de potássio a 1% caso ocorra derramamento de drogas, utilizando equipamento de proteção individual para retirar o excesso com papel absorvente, acondicionando em saco plástico e recipiente rígido de polipropileno tipo descartex, lavar abundantemente com água e sabão o local do acidente (BRASIL, 2008a).

Normas relativas ao manuseio dos pacientes: utilizar equipamento de proteção individual (luva e capote) no manuseio de secreção e escretas; desprezar com cautela as secreções e excretas para evitar a contaminação através de respingos; manusear roupa de cama, camisolas e pijamas contaminados com luva; embalar em saco plástico fechado e identificar como roupa contaminada antes de encaminhar à lavanderia (BRASIL, 2001, BRASIL, 2008a).

Normas de segurança relativas ao pessoal: manter o registro completo do pessoal que manipula QA para seguimento clínico e pesquisa; manter programas de treinamento e atualização dos profissionais que manipulam QA; especializar profissionais que manipulam QA; supervisionar o cumprimento das normas de segurança; afastar mulheres grávidas e nutrizes das atividades que envolvam manipulação de QA; limitar o número de profissionais que manipulam QA; manter fichas de registro de acidentes com profissionais que manipulam QA; estabelecer avaliação médica semestral incluindo exames laboratoriais tais como: hematológico, provas de função hepática, renal e pulmonar; evitar que profissionais expostos a riscos adicionais como radiologia e radioterapia manipulem QA; realizar treinamento de atualização dos profissionais das unidades de internação que recebem pacientes em tratamento quimioterápico sobre a segurança na manipulação de excretas destes pacientes e o risco ocupacional (BRASIL, 2008a).

Manipular quimioterapia envolve riscos, especialmente quando as recomendações de segurança não são seguidas. Além disso, ainda não são totalmente conhecidos os potenciais efeitos dessas drogas a longo prazo. Os equipamentos de proteção são uma extensão de um serviço de qualidade, pois exercem um papel importante na prevenção e proteção de acidentes.

No Brasil, o problema da segurança no manuseio dos QA é agravado pela apresentação inadequada de algumas drogas e pela falta de informações completas nas bulas que as acompanham. Todo quimioterápico deveria ser acondicionado em frasco ampola resistente, sempre que possível já diluído e não em frágeis ampolas. Além disso, o descaso ou mesmo a ignorância com relação aos riscos que envolvem a manipulação ainda são muito grandes: em alguns hospitais e, principalmente, em clínicas e consultórios médicos, manipulam-se QA fora da capela de fluxo laminar (BONASSA,2005).

Quadro 1: Função, riscos e proteção através do uso de EPI.

EPI

FUNÇÃO

RISCO

PROTEÇÃO

Capela ou Cabine de Fluxo Laminar Horizontal

Usada em trabalhos estéreis

quando não se  manipula patógenos ou substâncias

tóxicas.

Exposição geral do manipulador.

Não confere proteção ao manipulador.

Capela ou Cabine de Fluxo Laminar Vertical Classe II Tipo A

Usada quando o volume de manipulação é peque- no ou quando o       nível de periculosidade do pro- duto é baixo.

 

Não confere proteção em uso prolongado.

Confere proteção ao manipulador e ao ambiente a curto tempo.

Capela ou Cabine de Fluxo Laminar Vertical Classe II Tipo B

Indicada para manuseio de material altamente tóxico ou quando o volume de manipulações é grande.

 

Risco mínimo se associado aos outros EPI.

 

Confere proteção ao manipulador e ao ambiente

Luvas não talcadas

Diminuir o risco de absorção da droga pela pele

 

Pode haver variação na permeabilidade de cada luva.

Confere proteção parcial ao manipulador.

Avental de mangas longas e punhos ajustados

Diminuir o rico de contato com a droga.

 

Contato com as drogas durante manipulação.

Confere proteção parcial ao manipulador.

Máscara (padrão alemão DIN58654fhM).

Diminuir área de contato com as drogas.

 

Absorção de aerossóis.

Confere proteção parcial ao manipulador.

Óculos de Proteção e

Gorro

Minimizar ou até mesmo impedir a contaminação por respingos eventuais que possam ocorrer no ato da manipulação.

 

Contaminação por aerossóis.

 

 

 

Confere proteção parcial ao manipulador.

Fonte: BRASIL/INCA /MS-2008a.

É fundamental que todos os profissionais envolvidos sejam adequadamente informados, treinados e supervisionados no cumprimento das medidas de proteção disponíveis. Todavia, cabe aos empregadores de qualquer área (hospitalar, home-care, consultórios e clínicas), oferecerem informações precisas e condições seguras para o preparo, aplicação e descarte dessas drogas. No Brasil, embora existam portarias regulamentadoras para o manuseio de QA, os locais de preparo não são regularmente fiscalizados. Farmacêuticos e enfermeiros devem unir esforços nesse sentido para tornar realmente obrigatório o cumprimento das medidas de proteção. Vale lembrar que os esforços para conquista de melhores condições de trabalho não são de responsabilidade somente das organizações empregadoras ou governamentais, mas coletiva, onde cada indivíduo muda sua realidade na promoção da saúde do trabalhador.

As normas regulamentadoras atuam como ação preventiva, estruturando o setor de quimioterapia. A práxis destes programas permite que o trabalhador se integre ao ambiente, na sua rotina, mantendo a qualidade da segurança desde o preparo até o ato do cuidar.

 

CONCLUSÃO

        

            A pesquisa alcançou o objetivo na medida em que elucidou a importância da utilização de EPI e do cumprimento das normas de segurança além de ter explicitado a relação que a segurança tem com a saúde do trabalhador e que a negligência, a imperícia e a imprudência podem se converter em um risco á conhecidos no meio científico.

            Os profissionais que trabalham no manejo dos QA, quando não utilizam os EPI estão deixando de lado as normas de segurança, negligenciando assim cuidados tanto para si próprio quanto para os clientes. Tal fator acaba por influenciar na qualidade da saúde do trabalhador e do cuidado prestado.

            Foi verificada a escassez de obras sobre esta temática muito relevante para a manutenção da segurança do ambiente de trabalho que envolve preparo dos fármacos quimioterápicos. Este fato, em parte, serviu como motivação para a realização deste estudo, de forma a contribuir e estimular a reflexão sobre os riscos que envolvem o manejo de fármacos antineoplásicos.  

 

 

REFERÊNCIAS

 

ALMEIDA, T.M.S. Segurança ocupacional da equipe de enfermagem no preparo de citostáticos endovenosos. Hospitais do Recife - PE, Salvador, 1998. 111 p. Dissertação (Mestrado em enfermagem) - Escola de Enfermagem, Universidade Federal da Bahia.

ANDRADE, M.M. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. 4. ed. São Paulo, Atlas, 1999.

______. Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação: noções práticas, 4.ed. São Paulo, Atlas, 2001.

BELLAND, I. L.; PASSOS, J. Y. Enfermagem clínica; aspectos fisiopatológicos e psicossociais.  São Paulo: EPU/ Edusp, 1978.  V. 1.

BONASSA, E.M.A. Enfermagem em Terapêutica Oncológica. 3. ed. São Paulo, Atheneu, 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Câncer. Ações de enfermagem para o controle do câncer: Uma proposta de integração ensino-serviço. 3. ed. Rio de Janeiro, 2008a.

______. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 7 e 9 – Programa de Controle Médico, Governo do Brasil. Disponível em<http:/www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nrs7e9.asp>.Acesso em: 20 fev.2008b.

______.Ministério da Saúde do Brasil. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde / Ministério da Saúde do Brasil, Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil; organizado por Elizabeth Costa Dias ; colaboradores Idelberto Muniz Almeida et al. – Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2001.

_____. Resolução COFEN nº 210 de 1998. Dispõe sobre a atuação dos profissionais de enfermagem que trabalham com quimioterápicos antineoplásicos dentro das normas de biossegurança estabelecidas pelo Ministério da Saúde conforme Portaria n. 170. Disponível em: <http://www.portalcofen.gov.br/2007/materias.asp?ArticleID=7045&sectionID=34>. Acessado em: 01/01/2010.

HADDAD, M.C.L. Qualidade de vida dos profissionais de enfermagem. 1996. Disponível em: <http:/www.ccs.uel.br/espacoparasaude/v1n2/doc/artigo2/QUALIDADE.htm>. Acesso em: 20 fev. 2008.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Risco ocupacional em quimioterapia. Genebra, 1973.

SEVERINO, A.J. Metodologia do Trabalho Científico. 22.ed. e ampl. São Paulo: Cortez 2002.

VALANIS, B. et al. Occupational exposure to antineoplastic agents: self reported miscarriages and stillbirths among nurses and pharmacists. Journal of occupational and environmental medicine; v.41, n.8, p.632-638.1999.

 

PROTECTIVE MEASURES FOR WORKERS IN NURSING MANAGEMENT ANTINEOPLASTIC DRUGS

ABSTRACT

This study addresses the issue of biosafety in the handling of antineoplastic drugs (AD) team of nursing, as a research occupational risks that professionals are exposed due to lack of use of PPE and non-compliance with biosafety standards. The objective was to describe the mechanisms of protection that the worker must use the proper management of AD. We performed a descriptive and exploratory research with existing data in the selected articles, and manuals of the Brazilian National Cancer Institute. The results were found related rules, techniques and equipment needed to protect the handler AD, in order to minimize or even negate the occupational risk factors. It was explained the importance of proper use of PPE and safety standards as well as having explained the direct relationship that safety with workers' health. The nurses and professionals involved in the preparation of chemotherapy should become mandatory compliance with the measures of protection.

Key words: biosafety; health of the worker; risk factors; oncology nursing.



1 Acadêmicos de enfermagem do 8º período do curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Plínio Leite (Unipli).

[2] Professor orientador. Enfermeiro (Uff). Mestre em enfermagem (Unirio). Especialista em Educação pedagógica (Ensp-Fiocruz). Professor do Curso de graduação em Enfermagem do Centro Universitário Plínio Leite (Unipli). Coordenador do curso de pós-graduação em Enfermagem do Trabalho do Unipli.