MECANISMO E A METAFICÇÃO O JOGO DE MANIPUÇÃO DENTRO DA NARRATIVA DO CONTO “A QUINTA HISTÓRIADE CLARICE LISPECTOR

 

SOUZA, Maria Cristina Silva ¹

ARAÚJO, Tancy Abreu Benício²

1.0   O MECANISMO DE “A QUINTA HISTORIA”.

A quinta historia é uma narrativa que apresenta repetição do mesmo núcleo de uma forma diferente, com roupagem diferente. A obra possui o mesmo núcleo (um núcleo básico), mas com diferentes manifestações. Cria um jogo de polaridades (igual x diferente). Seu início recorre a uma narrativa milenar em forma de espiral (voltas com formas iguais, mas na verdade são diferentes).

Para Moisés, 2005, p.29;

                                       (...)3 a narrativa é um espetáculo rememorado,por entre nevoas de incertezas,ou sutileza oníricas,como se transcorresse no interior do “eu” a narrativa desdobra-se na mente de quem a vai tecendo,como se desafiasse o novelo da memória ,se a abandonasse devaneio ou pervagasse os confins do sonho; 4)a vaguidade,ocasionada pela ambigüidade do relato , conduz reminiscências.5) o por menos fabulativo sonha-se numa luz espectral,difusa,irreal(...) 8)a tessitura dos acontecimentos ,por natureza estrepectivana mergulha na introspecção ,como se os astratos inconscientes aflorassem a cada notação da intriga ou como se, afinal o membro de fora. O “não-eu” e o mundo de dentro, o “eu”, de repente se coordenasse num só, anulando as diferenças em favor de uma unidade bifronte formada pelo seu intercurso.

Dessa forma, as narrativas Claricianas trás esse confronto do próprio “eu”, falando de uma situação cotidiana, que faz o leitor buscar um entendimento de dentro de o próprio ser, dando assim, uma relação da literatura intimista.

Diante disso, a quinta história mecaniza os fatos narrados, esse mecanismo acontece por representar varias vezes a mesma situação. Onde o inicio de pelos menos três historias tem um único relato que é reiniciado várias vezes, até que, estabelecido o mecanismo, o narrador abandona o texto, sugerindo que este continuará se repetindo por inércia, é tão explicito, que insinua uma intenção demonstrativa

Entre uma e outra versão do mesmo relato, encontramos uma baratinha desesperada ante a morte não apenas irremediável, mas iminente. Ela tem as antenas brancas, sujas do pó branco usado pela narradora para matar baratas, uma mistura de farinha, açúcar e gesso – "A farinha e o açúcar as atrairiam, o gesso esturricaria o de dentro delas" – e grita desnorteada – "é que olhei demais para dentro de mim!".

Dessa forma, corrobora a nossa escolha no fato de  Moises, em seu dicionário de termos literários (2004), ter observado que o mecanismo é projeção que apresentada por Freud constituem uma importante explicação do seu conceito de poesia como ênfase no “eu” em detrimento do “não-eu”.

Evidente entre, os contos “eu” refletem o mundo físico, do “não-eu”, mas “sujeito” infletem no mundo das “representações” mentais quase se gravou a realidade física, não para ela própria não é a realidade concreta que lhe importa, por ventura, se dirigi para lhe elo, presente o esquema inicial, uma vez que o “eu” vai ao encontro de si próprio ou buscar o “não-eu”. Projeta-se para fora em suma. De onde implicar uma “projeção” inclusive no sentido freudiano. (Moises, 2004, p.361).

Sendo assim esse mecanismo, constitui uma situação onde a historia se passa, com formas parecidas e ao mesmo tempo diferentes. Onde se reflete o mundo físico do “eu” e do “não-eu”.

 Entretanto,a quinta historia,apresenta a função de fazer com o que no qual visivelmente se extasia ao antever a devastação que vai praticar, já agora no plano empírico. O conflito, que era latente ("uma casa tão tranqüila onde se podiam ignorar as baratas"), passa a manifesto ("impossível continuar ignorando esse mal secreto"), o que pode ser assim formulado: o desejo se sobrepôs a uma exigência moral, duas forças de sentido contrário estão, ao menos provisoriamente, fluindo no mesmo sentido. O  narrador está decidido a matar, e disso nos vão dar conta as descrições de sua crescente animosidade.

2-0 A METAFICÇÃO NO CONTO “A QUINTA HISTÓRIA”

A metaficção esta presente no centro “A quinta historia”, pela forma que o conto é produzido. A autora não vai escrever para um leitor passivo e vulnerável, a interação a participação do leitor esta presente em toda a historia.

Pode-se perceber um paradoxo no conto, como metaficcional o texto lembra ao leitor que ele esta diante de um fato ficcional, mas percebe-se a participação do leitor na construção do texto:

Seu paradoxo central [da ficção] para o leitor é que, enquanto está lendo e assim distanciado de qualquer identificação inconsciente no nível da personagem ou enredo, leitores de metaficção são ao mesmo tempo tornados conscientes de seu papel ativo na leitura participando e construindo a significação textual (Hutcheon, 1984, p.XII).

                                                                              

De um lado a o leitor está distante do texto, a narrativa é uma ficção, por outro lado ele contribui constantemente com a criação do texto. A narradora cria cinco historias, intitulando-as de acordo com o assunto, sendo que ela chama a atenção do leitor, indicando elementos presentes na historia anterior.

O conto “A quinta história”, é comparada a um jogo, onde a narradora e o leitor são considerados os jogadores, o jogo é a historia em si; O jogo pressupõe jogadores diante de determinadas regras e a manipulação delas para atingir determinado objetivo. A narradora joga durante a composição de cada historia, passando a vez de jogar para o leitor, ou seja, no conto a narradora apenas intitula a historia e a inicia, mas não a continua, nem a conclui, a vez de jogar é do leitor, que fica responsável pela continuação e conclusão da historia. Acreditamos que “A quinta historia” instaura o jogo metafcional ao discutir, supostamente com o leitor, as opções de títulos que as historias adiante narradas receberiam.

Entretanto, ”A quinta história”, mostrando um mecanismo entre os fatos narrados e usa a metaficção para manipular o leitor, e esse passa a entrar no jogo dos fatos narrados e de certa forma passe a participar da história.

REFERÊNCIAS

 

HUTCHEON, linda.narcisista, narrative: the metaficcional paradox. New York: nethuen.

LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. Rio de janeiro. José Olympio, 1975.

MOISÉS, Massoud. Dicionário de termos literários. 2004.