Por mais doloroso que possa ser, o fato nos transporta a especulação, embora ainda noticiado como "suspeito" como fazem, habitualmente, os jornalistas, para não serem criticados.

É muito difícil acreditar que uma pessoa de comportamento normal possa tramar e executar um plano desses. Mas o fato esta aí ? de modo cruento e devastador, de modo que nos faz pensar a cerca da nossa sociedade e daquilo que buscamos como seres humanos.

É bem verdade que os animais, abandonam seus filhos, as vezes até os comem, num comportamento que foge aos padrões da normalidade ? alguns puristas vão perguntar o que entendo de normalidade ? basta-me não praticar atos e fatos agressivos à sociedade ? como esse de matar o seu próprio filho ? de modo cruel e premeditadamente, para ser classificado como anormal.

Pelo visto a morte do menino de cinco anos, foi tramada de modo racional ? talvez para não haver qualquer falha ou se quer dar uma mínima chance que ele pudesse sobreviver. Segundo a informação o Professor Dr. Renato Ventura Ribeiro ? fez doutorado em direito e é autor de quatro livros ? três sobre direito comercial e um sobre direito eleitoral ? portanto, estamos diante de um homem extremamente preparado para pensar com exatidão.

O Dr. Renato, fez curso de tiro dois meses antes de cometer seu ato, e adquiriu uma arma para executar o seu intento. O que nos coloca numa situação delicada porque houve tempo para que aquele intelectual pudesse pensar cuidadosamente e não o fez, se o fizesse certamente não teria cometido o desatino brutal que cometeu. Matar um inocente é ou não um desatino grave.

O fato de matar o menino no dia do aniversario da mãe ? também advogada ? Fabiane Húngaro Menina ? nos conduz a um sentimento de vingança desproporcional ? já que dez dias antes do fato, perdeu a guarda do menor. E tudo leva a crer que esse desfecho era esperado, mas não aceito pelo Doutor. O que deveria ser facilmente aceito por quem lida com leis, juizes, tribunais emfim.

Usar a vida de um menino de cinco anos para se vingar da mãe ? pode significar desequilíbrio mental, mas no caso esse desequilíbrio não pode ser advogado porque o preparo intelectual é atestado de grande poder mental e vasto conhecimento, então resta pouca margem para explicar o que pode significar um motivador de tal comportamento.

Aliais como ele mesmo escreveu em sua carta ? deixada no computador - "a decisão foi fruto de cuidadosa reflexão e ponderação". A ser assim, concluímos que o Doutor ? nos seus longos e laborados estudos não chegou se quer a entender o que significa reflexão e ponderação, já que após tudo que pensou e refletiu chegou a uma conclusão completamente estabanada e não aceita sob qualquer ótica.

O Doutor segue em sua carta com frases como: a) "a maior demonstração de amor de um pai para o filho" b) "bêbado agressivo" c) Não coloquei meu filho no mundo para ficar longe dele e para que ele sofresse" d) Se errei, é hora de corrigir o erro, abreviando-lhe do sofrimento.

O Doutor Renato, como tantos outros seres, na verdade, é produto de uma época ? onde o tecnicismo substitui a faculdade de pensar ? e pensar corretamente ? aprofundam seus conhecimentos de modo tal que passam acreditar-se donos de todos os poderes, principalmente, quando lidam com leis ? passam acreditar que são os senhores de todas as verdades e detém a onipotência. Acreditam-se verdadeiros deuses e como tal possuidores de todos os poderes ? entre esses a vida e da morte.

Razão porque não pode compreender a perda, em um tribunal, da guarda de seu filho, já que se considerava superior a tudo que circulava à sua volta. Não pode compreender que mesmo os mais sábios e poderosos são passíveis de derrotas ? e, ironicamente, as vezes perder para alguém que julgam em seu interior muito inferiores ao seu intelecto.

Não pode compreender que o mundo não gira somente embasado conceitos que lhe foram ensinados. A diversidade e o contraditório ? apesar de lidar com isso no seu dia a dia ? não foi perfeitamente entendida ou não foi na extensão que deveria ter sido. E no caso não foi aceita de modo radical, dando-nos total razão a esse entendimento.

Quando diz: a) "a maior demonstração de amor de um pai para o filho" - Não pode estar falando de um sentimento que domine e compreenda ? porque o maior sentimento de amor de um paí é dar vida ? "e vida em abundância ? e não suprimi-la abruptamente. A falha da formação tecnicista de hoje ? e a muito tempo vem sendo assim ? reside exatamente em formar indivíduos que não sabem lidar com sentimentos ? nem os seus nem os dos outros aos seu redor, não tem uma formação humanista e se atropelam facilmente com os sentimentos, porque apesar de não os refinarem, eles permanecem lá no seu interior o tempo todo.

E permanecendo embrutecidos, não lapidados, incompreendidos, são vítimas e algozes de toda sorte de acontecimentos desastrosos quando tem de lidar com eles. A ponto de julgar-se deus onipotente ? para ceivar a vida de inocentes ? Quando sabemos nós a ninguém é dado o direito de mata alguém ? principalmente inocentes.

Amor não pode ser posse. Vida não pode ser propriedade de ninguém. Amar é muito mais querer ver o objeto de seu amor realizado e feliz do que a si próprio. Quem ama esta pronto a dar sua vida -não sua morte, seu trabalho, seu sacrifício, para que o objeto de seu amor alcance a maior parcela de felicidade e realização possível. Um paí que ama seus filhos ? sucumbe a todos os prazeres para realizar a vida e ver a felicidade de seus filhos. Como aquela mãe que diante da proposta de Salomão em retalhar o seu filho, abre mão de seus cuidados, apenas para que ele vivesse, mesmo que em mãos de uma outra mulher. Fora disso não há como entender o amor materno ou paterno.

Na esteira desse acontecimento detectamos falta de leitura de textos que formem uma consciência moral em seus técnicos, para que possam sair da faculdade como homens completos e não apenas como meios ? digo isso pensando em razão e sentimento ? não adianta investir apenas na razão e deixar o sentimento sem lapidação ? do mesmo modo não adianta formar ápices em sentimentos sem trabalhar a razão. O homem deve ser formado por inteiro ? e não meio, como pudemos sentir no Doutor Renato.

Quando se refere ao seu cunhado como: b) "bêbado agressivo" não consegue se livrar dos julgamentos de terceiros ? não consegue aceitar os defeitos dos outros ? não vê que essa agressividade não pode justificar outra agressividade em contrapartida. Não aprendeu a aceitar os seres que é obrigado a conviver sem julgá-los inferiores e que não lhe compete, por mais doloroso que seja, condenar quem quer que seja por seus hábitos.

O Doutor Renato, no seu julgamento de ser um deus onipotente, em seu mundo, acredita que: c) Não coloquei meu filho no mundo para ficar longe dele e para que ele sofresse" - Por ser pai o filho somente encontraria felicidade se estivesse ao seu lado, como um elefante amarrado ao pé da árvore ? é verdade um paí tem o dever de cuidar do seu filho ? está previsto legalmente ? o que não se pode aceitar ou entender que diante de uma nova realidade outra pessoa ? a mãe, por exemplo ? possa também e as vezes de melhor maneira ? fazer o filho viver uma vida plena e feliz, aliais, como entendido pelo juiz de seu caso.

Infelizmente, para nossa constatação sabemos agora que junto com o pai o menino alcançou a maior das infelicidades possíveis ? não teve direito à vida. E pelo pior dos motivos seu pai não procurou entender, como procurou entender outras coisas, o que realmente significa amor, felicidade, direito e deveres que um pai deve ter para com seu filho.

Hoje vemos os povos definindo como felicidade igual ao contentamento em possuir ou adquirir bens materiais ? vemos cada vez mais um distanciamento radical daquilo que possa significar uma vida feliz ? alcançada no trabalho e na paz e na harmonia. Vemos um radical materialismo definindo ? até nas igrejas vemos pregação associando felicidade a aquisição de bens materiais. O que conduz a raciocínio deturpados e pouco benéficos a sociedade como um todo ? já que o materialismo se apoia, principalmente, no egoísmo e no egocentrismo, desprezando os demais entes que formam a sociedade.

O pior dessa deformação intelectual é quando nos deparamos com seres como o Doutor Renato que apesar de formação muito acima da formação mediana ? desconhecer totalmente, qualquer parâmetro de sentimento e julgamento que possa ferir a sociedade como um todo, julgando-se senhor e julgador da felicidade ou infelicidade alheia. Não sei se pobre ou imbecil.

O Doutro Renato é tão ignorante ? tão brutalmente destituído de qualquer senso ? que ao pensar sobre o assunto ? antecipadamente, como vimos chega a conclusão; d) Se errei, é hora de corrigir o erro, abreviando-lhe do sofrimento. Ou seja, neste mundo apenas existe sua vontade soberana ? a ponto de que o nascimento de um filho tenha sido o seu erro e agora para corrigir tenha de matar e morrer. Pior ? quem lhe disse que no futuro a criança iria sofrer. Que fatos futuros pode ser do conhecimento de alguém que, por mais letrado que seja, possa prever o sofrimento, o contentamento, ou a felicidade de alguém de cinco anos.

Além de se julgar um próprio deus, o Doutor Renato demonstra não ser dos mais fecundos pensadores, porque chegou a uma conclusão totalmente errada, porque apesar de pensar com a razão ? é seu mister ? pensar com lógica ? com conceitos jurídicos ? aportou em um lugar totalmente descabido e inconcebível.

O Doutor Renato, nos fez viajar ? como tantos outros dessa época ? por ensinamentos bíblicos que a mais de cinco mil anos já nos alertavam do perigo do homem cometer desatinos e se perder quando pensasse ser deus. É esse o caso.

Estou me referindo a Gênesis ? 3, 4-5 -

"A serpente disse então à mulher: "Não morrereis! Mas Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como deses, versados no bem e no mal". Bíblia de Jerusalem ? Ed. Paulinas. (1985)

Quando os instintos do homem (serpente), assegura que o homem será como deus ? versado no bem e no mal, e que os olhos serão abertos (entendimento); é preciso, claramente, compreender quem fala é o responsável pelos malefícios aprontados pelo ser humano. Isto é, a crença de que agora é deus e que sabe tudo e, portanto, pode tudo. Que estrada é esta, que após trilhar os longos caminhos do conhecimento nos deparamos com um desastre, ou quase isso.

Pense nisso.

Apolinario de Araujo Albuquerque

Praia de Mauá, 24 abril 2009.
Arq.: Pasta: Ano 2009/abr/Matar o próprio filho

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