? MARIA COM OS ONZE EM ORAÇÃO NO CENÁCULO
Após a ascensão de Jesus em poder e glória, glória que sempre teve "junto do Pai antes que o mundo existisse" Jo 17,5, por ordem de Jesus, os Onze com Maria "permaneceram em oração no Cenáculo de Jerusalém até serem revestidos da força do Alto" Lc 24,49; At 1,12-14. Pentecostes, o derramamento de Ruah, o Espírito de santidade do Pai e do Filho, foi o primeiro efeito da entronização no céu do Cordeiro imolado e de pé como Sacerdote eterno, Orante, Intercessor da nova humanidade e da criação. Maria e os Onze ficaram em
unidade com o eterno Intercessor Jesus durante uma semana esperando Deus Mãe chegar no qüinquagésimo dia após a ressurreição (a plenitude do tempo, 7x7 semanas de anos +1, que é o derramamento da vida de Deus Mãe nos corações e sobre a criação, por vontade do
Pai e do Primogênito da nova criação). A crucificação ratifica a encarnação, a ressurreição
marca o término da vida pública, da missão profética e diaconal de Jesus, e o Pentecostes
marca o início da caminhada do novo povo de Deus, animado pela missionária Deus Mãe, a nova Consoladora prometida por Jesus, para ficar conosco para sempre. Do seu trono de Intercessor eterno, o Cordeiro imolado e de pé junto com o Pai incessantemente enviam Deus Mãe, fazendo o Pentecostes realizado uma vez por todas continuar até o dia de hoje. É indispensável a missão dos contemplativos de todos os credos, unidos ao Contemplativo, Intercessor mor, sumo Sacerdote Jesus, para a continuidade de Pentecostes. Jesus poderia fazer tudo só, mas quis enxertar-nos no seu Corpo pra revelar-nos que o poder intercessor, a missão sacerdotal dele é também nossa e ele a partilha conosco. A missão intercessora, sacerdotal de Jesus na Trindade imanente existe ab eterno. Porém, na Trindade econômica, ela inicia com a instituição da eucaristia, a primeira, única, inrepetível ceia da aliança nova e eterna, em substituição à ceia da antiga aliança, consuma-se no Calvário, consubstancia-se com a volta do Filho pra junto do Pai e Deus Mãe quarenta dias após a ressurreição dos
mortos, cuja confirmação e sinal claro foi o envio da missionária Deus Mãe aos corações e toda a criação. "Não foi com prata e ouro que fostes resgatados da vida fútil herdada dos vossos pais, mas pelo precioso sangue de Jesus Cristo, como de um cordeiro sem mácula e defeito, conhecido antes da criação do mundo, mas, por causa de vós, manifestado no fim
dos tempos. Depois de ter realizado a purificação dos pecados (papel do Cordeiro de Deus, o Goel da humanidade), sentou-se nas alturas à direita do Pai, onde vive a interceder para sempre por nós (como sumo e eterno Sacerdote)" 1 Pd 1,19-20; Hb 7,25; Rm 8,34. Depois de realizar a obra salvífica que o Pai lhe confiou, Jesus retorna para junto do Abba querido Pai e a querida Deus Mãe, Ruah, levando consigo a humanidade e a toda criação que ele salvou das mazelas do pecado do mundo. "Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, é pois necessário que seja elevado o Filho do homem. E quando eu for elevado na cruz, atrairei todos a mim.
Sendo assim, temos a garantia plena para entrar no Santuário (Casa do Pai onde Cristo é Mediador) pelo sangue de Jesus. Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas, réplica do verdadeiro, e sim no próprio céu, a fim de comparecer, agora, diante da face de Deus no céu em nosso favor. Temos um sacerdote eminente constituído sobre a casa do Pai. Nele temos um caminho novo e vivo, que ele mesmo inaugurou através do véu, isto é: através de sua humanidade". Por meio dele, "penetramos para além do véu (humanidade), onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito sacerdote ab eterno segundo a ordem de Melquisedec" Jo 3,14; 12,32; Hb 6,19-20; 10,19-20; 9,24. Está feita a ponte entre a terra e o céu, o céu e a terra. Doravante, Criador e criatura estão indissoluvelmente unidos graças à eterna aliança selada no sangue do Cordeiro pra reconciliar todas as coisas da terra e do céu, do céu e da terra. São emblemáticas as últimas palavras de Jesus no auge da entrega por nós na cruz, antes de dar o último suspiro: "Está consumado. Pai, entrego meu espírito em tuas mãos. Dizendo isto, expirou (entregou a vida ao Pai, concluí a tarefa salvífica que me confiaste). O Pai me ama, porque dou minha vida para retomá-la. Ninguém a tira de mim, mas dou-a livremente. Tenho poder de entregá-la e de retomá-la" Jo 10,17-18. O Pai entregou ao Filho a vida pra que ele a partilhe em abundância com a criação, revivificando todos os seres, sobretudo o humano. Ao entregar a vida ao Pai, o Primogênito consuma a obra que o Pai lhe entregou pra realizar: "fazer novas todas as coisas", restaurar e vivificar a criação e a humanidade pelo dom da vida. Desde a instituição da eucaristia, Jesus doou ao mundo a vida que recebeu do Pai. Desde então, não é mais do mundo: doravante, suas ações se desenrolam na eternidade (kairós), não no tempo. Ao dar o último suspiro, dar ao mundo a vida que recebeu do Pai, Jesus sinaliza em definitivo seu novo modo de viver: ele retorna à eternidade e não poderá mais ser visto ou tocado na dimensão histórica, a menos que ele mesmo se deixe ver e tocar, com vista a reavivar a fraca fé dos discípulos. Durante quarenta dias, da ressurreição à ascensão, ele intensifica a pedagogia da fé: desaparece e reaparece, deixa-se ver, tocar pelos discípulos, conversa, alimenta-se, com eles e os instrui sobre a continuidade da obra missionária iniciada por ele, apoiada na fé e na presença viva do Senhor no meio deles. O objetivo da pedagogia, da educação pra fé é incutir nas mentes e corações dos discípulos a responsabilidade pela obra salvífica de Jesus, sem sua presença visível doravante. Jesus continuará com eles, pelo apoio pneumático da oração sacerdotal e nossa fé. O apoio da oração sacerdotal é Deus Mãe, que Jesus o Pai enviam aos enviados, pra animar sua missão diaconal e profética. Mas Ruah não é muleta, é a energia divina pra missã dos enviados de fazer e dizer no Nome de Jesus as coisas que ele fez e disse durante a vida pública. "Como o Pai me enviou, também envio-vos eu. Ide e anunciai a boa nova a toda criatura: o Reino de Deus está entre vós, mudai a vida. E eu estou convsoco todos os dias até o fim dos tempos. E eles saíram por toda parte a pregar, agindo com eles o Senhor, confirmando a Palavra através dos sinais que a seguiam: no meu nome falarão em novas línguas, expulsarão demônios, pegarão em serpentes, se beberem algum veneo mortífero, nada sofrerão; imporão as mãos sobre os enfermos, e els ficarão curados" Jo 20,21; Mt 28, 20; Mc 16,17-20. Pela fé, somos chamados e enviados por Jesus para realizar sua obra no mundo: anunciar e viver os valores éticos, o direito e a justiça, tirar o pecado do mundo,.
No dia ascensão, quando os Doze perceberam que Jesus já havia retornado ao Pai e vivia
agora na dimensão do Espírito, embora pedagogicamente inda se deixasse ver, como o fez agora pela última vez e pra lhes dá as últimas instruções antes de desaparecer de vez da vista deles e ocupar em definitivo junto ao Pai e Ruah o lugar do Primogênito das criaturas e exercer a silencioso permanente missão sacerdotal a favor dos irmãos e da criação, Jesus lhes diz: "Estas são as palavras que vos falei quando inda estava convosco: era preciso que fosse cumprido tudo que está escrito sobre mim na lei de Moisés, nos Profetas e Salmos (a Lei, os Profetas e Escritos formam a tríplice divisão da Bíblia hebraica, a Torá, que os cristãos partilham com os irmãos judeus, cuja fé remonta a Abraão, o pai da fé de judeus, cristãos e muçulmanos). Então lhes abriu a mente para entenderem as Escrituras e disse-lhes: Assim está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome fosse anunciado a todas as nações o arrependimento pro perdão dos pecados (sem mais necessidade de recorrer a sangue de animais), a começar por Jerusalém. Eis que vos enviarei o que meu Pai prometeu (Deus Mãe), o novo Consolador que ficará convosco para sempre. Por isso, permanecei na Cidade até serdes revestidos da força do Alto. Sois testemunhas disso" Lc 24,44-49. Jesus sabia que, apesar das instruções dados por 3 anos e quarenta dias sobre o que as Escrituras dizem dele e da missão régia e profética dos Doze em continuidade à sua, recebida diretamente do Pai e comunicada a eles e a todo o povo da nova aliança, os discípulos ainda não haviam entendido o que ele disse. Pois, preocupados com a partida iminente de Jesus, "estando reunidos, assim o interrogaram: ?É agora, Jesus, o tempo em que irás restaurar a realeza em Israel? (Inda o viam como rei terreno, embora tenha por três anos anunciado o Reino de Deus e dito a Pilatos: "meu reino não é daqui"). Ele lhes respondeu: Não vos cabe conhecer os tempos e momentos que o Pai fixou com sua autoridade. Mas, recebereis a força de Ruah, que descerá sobre vós e sereis batizados dentro de poucos dias. Tenho muitas coisas a dizer-vos ainda, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da verdade, que o Pai enviará no meu Nome, ele vos ensinará e recordará tudo que eu vos disse e vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras: receberá do que é meu e vos anunciará, sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia, Samaria, até os confins da Terra. Dito isto, foi elevado à vista deles e uma nuvem ocultou-o a seus olhos" (nuvem simboliza a presença de Deus, captada pela fé, não pelos sentidos). Jesus se refere à simbologia da nuvem quando diz a Tomé: "Porque viste (com olhos da carne), creste. Felizes os que não viram (com olhos carnais) e creram" Jo 20,28. A fé dos Onze era inda fraca para entenderem o que Jesus dizia. Por isso, ficaram atônitos, ao vê-lo subir ao céu, olhando para o alto, como se lhe dessem o adeus final, antes de voltarem para suas vidas medíocres, sem esperança e sem rumo. Parece que não entenderam sequer o que lhes dissera a minutos, tamanha era a desorientação diante da ascensão, última aparição de Jesus dirigindo-se para o alto, pra que entendessem que agora vive no alto, não no sentido físico, mas figurado de ascensão em poder, desde o dia da ressurreição. Na verdade Jesus não subiu ao céu como parece, pois sempre esteve lá, até na condição encarnatória. "Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai"? Lc 2,49, disse Jesus a Maria e José quando o encontraram entre os doutores da Lei em Jerusalém. Ora, a casa do Pai é o céu, a morada da Família Trinitária, o Paraíso. O céu não é lugar físico, mas pneumático, assim como os valores e sinais são lugares teologais, presença de Deus. "Deus é amor; quem ama está em (lugar) Deus, Deus nele". Podemos dizer: Quem pratica o direito, a justiça, a paz está em Deus e Deus nele. Isto é: quem pratica esses valores vive em Deus, está no céu. A volta de Jesus pra junto do Pai é, pois, simbológica: significa que sua condição existencial agora é pneumática, não física, condição necessária da fé. Continua agindo no mundo, mas não é mais do mundo. Para quebrar a resistência dos discípulos em aceitarem isto e fortalecê-los na fé, Jesus lhes diz: "É do vos interesse que eu parta, pois, se eu não for Deus Mãe não virá a vós. Mas se eu for, eu e o Pai a enviaremos a vós e ele vos ensinará tudo, recordar-vos-á tudo o que vos disse e conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras" Jo 14,16;16,7. A exigência de Tomé de condicionar sua fé à visão de Jesus tem aqui a resposta cabal: "Felizes os que não viram e creram" Jo 2,29. Por isso, a fé dos Patriarcas e Profetas já era em Jesus, "que existe em Deus desde o princípio", de toda eternidade. "Abraão creu em Javé e lhe foi tido em conta de justiça" Gn 15,6. Jesus Cristo é o Deus de Abraão, Isaac, Jacó, e de todos que vivem eticamente, Deus o único justificador e santificador, mediante a fé.
Na verdade, do céu Jesus nunca saiu e pra lá nunca voltou, pois sempre esteve lá, mesmo estando com os discípulos todos os dias até o fim do mundo. Mas, por não terem fé, não o percebem com eles. Maria sabe que Jesus nunca a abandonou, antes da ressurreição nem depois, e continuará com ela e os discípulos depois da ascensão. Primeiro, porque é Deus-conosco, Emanuel, que veio para ficar conosco para sempre. Segundo, antes de passar da dimensão temporal à eternidade, ele assegurou aos Doze: "Não se agite vosso coração: eu não vos deixarei órfãos. Eu vou e volto. E vos enviarei o Paráclito, o novo consolador, que ficará convosco para sempre. Eis que estou convosco todos os dias até o fim dos tempos". Terceiro, durante 40 dias Jesus provou que estava com os discípulos, não da forma como esteve antes de passar pelo batismo de fogo da cruz, mas realmente vivo, dando-lhes apoio pra continuarem a missão régia e profética de Jesus, concluída na instituição da eucaristia, quando inicia sua missão intercessora, sacerdotal invisível, porém a mais eficaz, porque está em ação permanente até enquanto dormimos e estamos distraídos da missão que Jesus nos confiou. Pra provar que estava conosco, embora invisível, Jesus aparecia e desaparecia da vista dos discípulos por 40 dias, para educá-los aos poucos no seu modo pneumático de existir e avivar-lhes a fé na sua presença ativa com eles, sem eles precisarem vê-lo. Após a ascensão, dois anjos deram o último impulso pedagógico na fé nos discípulos, para firmar nos corações deles a certeza que, doravante, caminharão com os próprios pés, apoiados na fé em Jesus. As aparições, a visão, o toque no corpo de Jesus eram sinais que ele está vivo conosco. Mas não são muletas para nos apoiarmos em nossas desculpas, paralisias, medos. Foram aprendizado, pedagogia, concessão da misericórdia divina à fraca fé dos Doze. A ascensão foi a última concessão pedagógica de Jesus aos Doze antes de lhes enviar Ruah, o novo Consolador e entregar-lhes o destino da nascente comunidade de fé. A ascensão pôs fim à concessão da presença visível e tangível de Jesus. Ele continuará para sempre com eles, mas sua presença só será percebida na fé. Como os Doze ficaram olhando para o céu depois da ascensão, os dois mensageiros celestes chamaram a atenção deles, para que, na fé, decodificassem o sentido da ascensão: "Homens da Galiléia, por que estais aí a olhar para o céu? Este Jesus que foi arrebatado dentre vós pra o céu, assim virá do mesmo modo como o viste partir" Jo 14,26; 16,12-15; At 1,5-11. Jesus havia repetido essas instruções em várias ocasiões. Mas, se a inteligência deles as entendia, seus corações não aceitavam ainda. O impulso decisivo pra fé será dado quando Jesus e o Pai enviarem Deus Mãe aos corações dos Doze e todo o povo, tirando-os do chrônos, pondo-os no kairós, na dimensão da eternidade, do Espírito, capacitando-os a crer em Jesus e comprometer-se pelos valores éticos do Reino de Deus que anunciarão. Eles haviam esquecido as palavras que Jesus lhes falou durante os 3 anos de convivência com eles e repetiu exaustivamente antes da paixão, após a ressurreição e antes da ascensão: "Não se perturbe vosso coração: não vos deixarei órfãos. Eu vou, volto e virei a vós. Ainda um pouco de tempo e o mundo não me verá, mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis. Um pouco de tempo e já não me vereis, mais um pouco e ainda, me vereis. Saí do Pai e vim ao mundo. De novo deixo o mundo e volto pra o Pai. Enviar-vos-ei o Paráclito, o Espírito da verdade que o Pai enviará no meu Nome e que ficará convosco para sempre. Quando ele vier, ele vos ensinará e recordará tudo que eu vos disse e vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras: receberá do que é meu e vos anunciará e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia, Samaria, até os confins da Terra" Jo 14,18-19.28; 16,19.28. Tudo isto lhes parecia muito irreal: como Jesus poderia estar presente entre eles sem poder ser visto e tocado? Era a mesma dúvida de Nicodemos: como alguém pode nascer de novo sendo velho. "Respondeu-lhe Jesus: és mestre em Israel e ignoras estas coisas? Quem não nascer da água e do Espírito não verá o Reino de Deus" Jo 3,10. Entrar no Reino de Deus (vida eterna) é viver na fé, apoiado na Palavra fidedigna de Jesus. Pelo tempo que Jesus os instruiu, dava para os Doze entenderem o que ele falava. Mas todos eram incrédulos como Tomé e Nicodemos. Jesus falava da sua presença real no Espírito, só captada pela fé, pela qual alguém nasce de novo, sem precisar voltar ao ventre materno, e percebe Jesus presente, mesmo invisível, intangível. Só um banho profundo nas águas de Ruah os tirará da letargia espiritual em que a incredulidade os submergiu. Numa semana tudo mudará, quando Ruah for derramado nos corações débeis e eles entendam quem é Jesus, creiam nele e o anunciem com destemor.
A mãe de Jesus, mulher de fé, orava no Cenáculo com os Doze, não porque duvidasse da presença dele na sua vida nem que enviaria Deus Mãe aos corações. A querida Mãe Maria não tinha dúvida que seu Filho Jesus está vivo e com seu povo para sempre, conforme diz Isaías: "Eis que a virgem conceberá, dará à luz um filho, o chamará com o nome de Deus- conosco, Emanuel" Is 7,14. Com esta certeza no coração, convicta que em Jesus cumpriu-se a promessa de Javé "em favor de Abraão e da sua descendência, pra sempre" Lc 1,54-55, após a ascensão, "os onze com algumas mulheres, entre elas Maria mãe de Jesus e seus irmãos (parentes), que voltaram a Jerusalém, reuniram no Cenáculo, "onde costumavam ficar, e todos estes, unânimes, perseveravam na oração", esperando a vinda de Deus Mãe. Por estarem em oração, o Espírito do Ressuscitado estava neles, com eles: "Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu Nome (na fé), estarei entre eles". No Cenáculo, unânimes intercediam ao querido Abba que não tardasse em enviar Ruah pra confirmar nos corações a vida nova conquistada por Jesus na cruz e impulsioná-los pra missão régia e profética a eles confiada. A missão de Jesus agora é junto ao Pai. Desde a instituição da eucaristia, ele exerce em plenitude com exclusividade, a missão sacerdotal mediadora, intercessora junto ao Pai, em especial pelos anunciadores do Reino de Deus no seu Nome. Por isso, após a ascensão, toda oração é participação na missão sacerdotal de Jesus, como Maria e os onze fizeram no Cenáculo durante a semana que antecedeu Pentecostes. O resultado primeiro da oração da comunidade do Cenáculo foi a escolha de Matias, para substituir Judas Iscariote.
Deus Mãe só é enviada sobre a comunidade de fé inteira, cujo símbolo são os Doze. Jesus
sempre invocava Ruah antes de tomar decisões de futuro durante sua vida pública. Antes de escolher os Doze e os setenta e dois discípulos, Jesus passou a noite a sós com o Pai em oração. Quando os Doze pediram para ensiná-los a orar, Jesus também estava em oração. Vendo a beleza que era Jesus orar ao querido Abba, Paizinho, os discípulos não resistiram e lhe pediram: "Senhor, ensina-nos a rezar, como João ensinou seus discípulos". Jesus lhes disse: "Quando orardes dizei: Pai que estás no céu...". Fazendo-nos seus irmãos adotivos, ele nos ensinou a rezar a mesma oração que ele dirigia ao Pai. O ofício principal de Jesus no céu e nosso também pela fé é interceder ao Pai. Por isso, no dia da ascensão, ele ordena os Onze que fiquem recolhidos em oração com Maria (12), até que Deus Mãe, a Prometida do Pai, lhes seja enviado e derramado nos corações. É na oração que entramos em sintonia com Deus Mãe, o Espírito de santidade do Pai e do Filho, que nos é comunicada e faz-nos filhos de Deus pela fé e nos impele para missão régia e profética. Foi também enquanto os apóstolos oravam que Estevão e mais seis homens piedosos foram escolhidos diáconos da Igreja nascente. Pela oração recebemos a energia da fé. Os dias que antecedem Pentecostes são de intensa oração, pois estava em jogo a continuidade da obra de Jesus no mundo. Sem a vinda de Ruah ela fracassaria. Completada a semana de oração e convívio fraterno dos Doze com Maria, quando participaram intensamente do ministério sacerdotal de Jesus pela fé, estavam preparadas as condições para o derramamento de Ruah sobre a criação inteira. A partir daí inicia caminhada da Igreja, guiada por Deus Mãe e sob o comando dos Doze, Pedro á frente, "Jesus agindo com eles", mediante a permanente oração intercessora junto ao Pai, missão silenciosa de sumo sacerdote da eterna aliança, firmada com a humanidade no seu sangue. Na terra, os contemplativos, partícipes da missão sacerdotal de Jesus, são o ponto de apoio dos enviados em missão regia e profética no mundo. No escondimento, os orantes são o pulmão dos missionários. Investidos do Espírito do Ressuscitado, os Doze e sucessores, todo o povo de Deus, a partir de Jerusalém começaram a caminhada da Igreja no mundo, apoiados na fé na presença invisível, mas real, de Jesus em Espírito entre eles e com eles, pra darem continuidade à missão régia e profética de Jesus, interrompido por 50 dias (7 X 7 + 1), da instituição da eucaristia a Pentecostes, quando é entronizado Senhor do céu e da terra, pra exercer dia e noite, minuto a minuto, hora a hora, instante a instante a missão sacerdotal, intercessora junto ao Pai, cujo efeito principal é o incessante envio de Deus Mãe sobre todo ser vivo, particularmente sobre os Doze (comunidade de fé), pra que não esmoreçam na diaconia e anúncio do Evangelho a toda criatura, fazendo que os povos de todas as nações se tornem discípulos e discípulas de Jesus. Com o apoio, a consolação e a inspiração de Ruah e mãe Maria, iniciará a missão dos Doze, que continuarão a missão visível de Jesus. "Tendo chegado o Dia de Pentecostes, estavam todos (Maria e os Doze) reunidos no mesmo lugar (Cenáculo). De repente veio do céu um ruído como o agitar-se de um impetuoso vendaval, que encheu toda a casa onde se encontravam, apareceram-lhes, então, línguas como de fogo (os dons), que se repartiam e pousavam sobre cada um deles. E ficaram todos repletos do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, como ele lhes concedia exprimirem-se". Maria estava em oração também quando Gabriel apareceu-me e a saudou: "Ave, cheia de graça". Os Doze e Maria, o Corpo de Cristo, estavam em oração quando a Igreja nasceu, e também ficaram "repletos do Espírito Santo", da gratuita vida de Deus como Maria na anunciação. A encarnação prenunciou Pentecostes, assim como a transfiguração foi o prenúncio da ressurreição. Pentecostes ratifica e explicita a encarnação: cada ser humano foi gerado filho de Deus na encarnação, ao mesmo tempo e segundo o mesmo processo do Filho único na carne no ventre de Maria. Em Pentecostes, em virtude do derramamento de Ruah sobre todo ser vivo, fica claro que, já na encarnação, Ruah e o Pai não geraram só Jesus, mas também filhos e filhas no Filho no ventre de mãe Maria. Esses filhos e filhas constituem o novo povo de Deus, o Corpo Místico de Cristo, a Igreja de Deus, gerados e unidos ao Ressuscitado pela fecundidade de Deus Mãe. Os Doze representam todo o povo de Deus. Maria é a mãe de Jesus e de todos que estamos unidos a ele pela fé e vivificados por Deus Mãe que, com o Pai gera o Filho ab eterno e o ressuscita dos mortos. Doze simboliza, pois, o povo de Deus gerado na fé, pela fecundidade de Ruah. Por isso, do Cenáculo, Deus Mãe foi derramado sobre todos que estavam em Jerusalém. Simbolicamente, primeiro veio Ruah sobre os Doze e Maria, derramando-se a seguir sobre os que estavam em Jerusalém e todos os povos e criaturas do universo, representados ali por "judeus piedosos vindos de todas as nações que há debaixo do céu", pra a Festa do Pentecostes judaico, que, como a nova Páscoa, coincidiu com o Pentecostes cristão, para marcar a novidade de Ruah derramada nos corações, como prometido pelos profetas, o fim da aliança na Lei. Pentecostes sela o fim da antiga aliança, iniciado desde a instituição da eucaristia e a morte de cruz. O vendaval que chamou a atenção é afim aos característicos prodígios cósmicos do Dia de Javé (teofania) ocorridos na hora em que Jesus entregou o espírito nas mãos do Pai: "houve treva sobre a terra inteira, tendo desaparecido o sol, a terra tremeu, as rochas se federam, túmulos abriram-se, muitos corpos de santos falecidos ressuscitaram. Rasgou-se ao meio o véu do santuário, em duas partes, de cima a baixo, e Jesus deu grande grito: "Pai, em tuas mãos entrego meu espírito: dizendo isto, expirou" Lc 23,44-46; Mt 27,51-54. O véu que separa o Santo do Santo dos Santos (Santíssimo), tendo sido rasgado sinaliza o fim da antiga aliança e a instauração da nova e eterna aliança na Pessoa do Filho que se entrega em sacrifício por nós e entra definitivamente no céu, onde intercede por nós sem cessar. O prodígio cósmico de Pentecostes foi ouvido por quem estava em Jerusalém, bem como os do dia da morte de Jesus foram vistos e ouvidos pelos estavam perto da cruz: "Um ruído como o agitar-se de um vendaval impetuoso produziu-se, a multidão acorreu e ficou perplexa, pois cada qual os ouvia falar no seu idioma (em Babel ninguém entendia a língua do outro). Estupefatos, surpresos, diziam: acaso, não são galileus todos esses que estão falando? Como, pois, cada um de nós os ouve falar no seu idioma? Partos, medos, elamitas; habitantes da Mesopotâmia, da Judéia, da Capadócia, da Ásia, do Ponto, Frigia e Panfília, do Egito e regiões da Líbia próximas de Cirene; romanos que aqui residem; tanto judeus como prosélitos, árabes e cretenses, ouvimos apregoar em nossas línguas as maravilhas de Deus! Estavam todos estupefatos. Atônitos, perguntavam uns aos outros: que vem a ser isso? Outros zombavam: estão cheios do vinho doce. Pedro, então, junto com os Onze, de pé levantou a voz e assim lhes falou: Homens da Judéia e todos vós, habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto, prestai ouvidos às minhas palavras. Estes homens não estão embriagados como pensais. Esta é só a terceira hora do dia. Está acontecendo o que foi dito por intermédio do profeta Joel: sucederá nos últimos dias que derramarei meu Espírito sobre toda a carne, diz o Senhor. Vossos filhos e filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, vossos velhos sonharão. Sim, sobre meus servos e ervas derramarei Ruah. Farei aparecerem prodígios em cima, no céu, e sinais embaixo, na terra. O sol se mudará em escuridão e a lua em sangue, antes que venha o Dia do Senhor, o grande Dia" At 2,1,21. O Dia de Javé chegou na hora de Jesus, quando ele entregou a vida ao Pai, que explodiu no Pentecostes. A instituição da eucaristia e morte de cruz, ascensão, Pentecostes são um só mistério celebrado em vários momentos do tempo. Pentecostes é o conseqüência da morte de cruz e garante a continuidade da obra de Jesus no mundo.
A nova aliança está selada. Pé na estrada, guiados e inspirados por Deus Mãe, que o Pai e Jesus enviaram aos nossos corações como força para dar continuidade à missão que Jesus realizou em nome do Pai: "Como o Pai me enviou, eu vos envio também. Ide e anunciai a boa nova a toda criatura". Pela fé sabemos que Jesus, o Pai e Deus Mãe que os une estão conosco todos os dias. "O Pai enviará o Paráclito em meu Nome. Ele ficará convosco para sempre, vos ensinará e recordará tudo o que vos disse, vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si, mas dirá tudo que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras: receberá do que é meu e vos anunciará e sereis minhas testemunhas até os confins da Terra. E estou convosco todos os dias até o fim. Eles saíram e foram anunciar a boa nova por toda parte, Jesus agindo com eles, confirmando a Palavra através dos sinais que a acompanhavam" Jo 14,18-19.28; 16,19.28; At 1,8; Mt 28,28; Mc 16,16. Que sinais? Primeiro a fé despertada nas pessoas; segundo, a comunidade de fé que se formava; os sacramentos, especialmente o batismo e a eucaristia; as curas, a partilha, o amor fraterno, a expansão do Reino de Deus fora da Palestina (Império Romano). Sinais servem pra despertar e alimentar a fé. Depois da ascensão, Jesus não é mais visível e tangível, mas está de fato presente conosco, agindo na pregação dos apóstolos, no diaconia, sobretudo na eucaristia, onde Jesus se nos dá em alimento sob as espécies e os sinais sensíveis do pão e vinho. Ele deixou os sinais eficazes da sua presença entre nós para reavivar nossa fé nele e nos alimentar: ao comermos o pão e bebermos o vinho santos, declaramos nossa adesão a Jesus, com a certeza que ele nos transformará na sua imagem e semelhança, ele que se fez imagem e semelhança nossa pela encarnação, exceto no pecado. Sob a aparência do pão e vinho, nos alimentamos do corpo e sangue de Jesus, a vida de Deus Trino, mediante a fé. Sem fé em Jesus presente entre nós e a nós dado em alimento espiritual, não vale comer o pão e beber o vinho. A fé nos une a Jesus, invisível e intangível, mas real. Entre a ressurreição e a ascensão, ele deixava-se ver pelos discípulos e desaparecia, pra educá-los na sua presença real e invisível com eles pela fé. Fez isso com Madalena e os discípulos de Emaús, na manhã e na tarde da ressurreição: eles o reconheceram na partilha do pão; reaparece aos Onze, trancados com os discípulos de Emaús com medo dos Judeus. Às margens do Mar da Galiléia comeu peixe com Pedro, Tiago e João. Essas aparições inesperadas seguidas de desaparecimentos estratégicos eram para dizer aos discípulos que a maneira correta de estar com Jesus agora é pela fé, não pela visão carnal. Jesus é Deus, mesmo na carne. Deus é espírito; espírito não pode ser captado pela percepção corporal, mas pela intuição espiritual, pela fé, que nos capacita a ver Jesus entre nós com os olhos da alma. "O Espírito sonda todas as coisas, até as profundezas de Deus. Quem, dentre os homens conhece o que é do homem senão o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, o que está em Deus, ninguém o conhece senão o Espírito de Deus" 1 Cor 2,10-12. A fé nos põe na dimensão do Espírito e nos faz ver Jesus conosco. Por ainda sentirem e raciocinarem pelo espírito humano, era impossível os discípulos crer, ver pela fé e tomar decisões em função da percepção de Jesus presente em Espírito, mas aparentemente ausente do mundo para quem não crê, em que pese Jesus ter repetido no dia da ascensão pela última vez o que lhes dissera dezenas de vezes durante sua vida pública até a ascensão: "É preciso que o Filho do Homem sofra muito, seja rejeitado pelos chefes de sacerdotes, anciãos, escribas e morto, e ressuscite ao terceiro dia. Eu vou e volto a vós. Não vos deixarei órfãos. Inda um pouco de tempo e o mundo não mais me verá, porém vós me vereis (pela fé) porque eu vivo e vós vivereis. Neste dia, compreendereis que estou em meu Pai, vós em mim e eu em vós. E estou convosco todos os dias até o fim do mundo. Vós sois as testemunhas de tudo que eu fiz e disse. Enviar-vos-ei o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na Cidade até serdes revestidos da Força do Alto (capacidade de crer, de ver Jesus agindo conosco no exercício da missão régia e profética em seu Nome). E foi elevado à vista deles e uma nuvem o ocultou aos olhos deles" Lc 9,22; Lc 24,49; Jo 14,18-20; 16,28. A nuvem oculta e ao mesmo tempo sinaliza a presença de Deus. Como eles não tinham fé, ficaram olhando "atentamente pro céu enquanto Jesus subia", como lhes dando o último adeus. A subida ao céu sinaliza que o lugar natural de Jesus é junto do Pai e Deus Mãe. Nem por isso deixará de estar com os enviados, apoiando com a oração intercessora, sacerdotal a missão profética e régia deles. Mas para perceber a presença intercessora de Jesus, precisa a fé. Para ajudar os discípulos desorientados com a ascensão a se ligarem a Jesus pela fé, "dois homens vestidos de branco achavam-se junto deles" e lhes disseram: "Homens da Galiléia (os Doze galileus estavam no Monte das Oliveiras de onde Jesus foi arrebatado ao céu), por que estais aí a olhar par ao céu? Este Jesus que de entre vós para o céu foi arrebatado, assim virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu" At 1,9-11. Como, quando? No Juízo final, deixando-nos entregues à própria sorte por longo tempo? Não. Jesus já veio, vem e virá toda vez que, pela fé, nos ligarmos a ele presente e agindo conosco, atuarmos os valores éticos, abrirmos espaços de liberdade no mundo escravo do pecado social e pessoal. Jesus é Emanuel, Deus-Conosco, sua presença entre nós é atuante, real, mas no Espírito e por sinais, mediante a fé, não presença visível. Os anjos fizeram os discípulos entender que as aparições de Jesus acabaram, ele só será visto agora pela fé, em Espírito. Sem fé, impossível perceber Jesus entre nós, comunicando vida divina através da Palavra, das boas obras da fé, dos sinais sacramentais. Pentecostes é o sinal definitivo da nova presença de Jesus entre nós. Por isto, quando foram investidos da força de Deus Mãe, do poder do Alto, os Doze abriram os olhos do coração e passaram a ver Jesus pela fé e a se comprometerem pelos valores éticos sem medo. De medrosos e covardes, se tornaram corajosos proclamadores do evangelho de Jesus, movidos por Ruah derramada nos corpos, corações cheios de fraqueza. A missão dos Doze é dizer ao mundo: "Convertei-vos, crede no Evangelho. O Reino de Deus está próximo" de quem crê em Jesus ressuscitado atuante conosco, por meio de Deus Mãe. Converter-se é mudar o olhar da carne pro Espírito. Para percebermos Jesus conosco, é preciso abrir os olhos da fé, ou ele será um ilustre anônimo, que "veio para o que era seu, mas os seus não o receberam" Jo 1,11. Deus Mãe presente em nossos corações nos gerará cada dia novas criaturas, aptas a praticarem o direito e a justiça, ícones dos valores do Reino de Deus.