Marcos na trajetória de 50 anos da Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado, a ETECAP

Rogério Duarte Fernandes dos Passos

Professor da ETEC Hortolândia e da ETECAP

A partir de consulta a documentos contidos na biblioteca da própria instituição, é possível apontar alguns marcos da trajetória da Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado (ETECAP).

1. A trajetória.

Parte substancial da história da Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado – a ETECAP – remonta à Associação Campineira de Ensino Técnico Industrial (ACETI), entidade criada pelo Rotary Club e presidida por Lucien Eugène Antonin Genevois, engenheiro francês e diretor administrativo da Companhia Rhodia Brasileira (Rhône Poulenc) (1). A ACETI, por sua vez, foi resultado de uma audiência com o Dr. Clóvis Salgado – então ministro da educação –, materializando o intuito de agregar outros colaboradores para a causa da construção de uma unidade de ensino apta a formar técnicos químicos ao crescente mercado de trabalho industrial da região.

Como oportunamente assinalou o advogado e jornalista campineiro Ruyrillo de Magalhães (1917-2003), a concretização da ACETI já refletia um movimento capitaneado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) desde o ano de 1957, quando se propunha em nível nacional a criação de uma rede escolar para a formação de mão de obra para a indústria, em ações que objetivavam articular o esforço de Municípios, Estados e União (Magalhães, 1960).

Em assim sendo, para a concretização dessa unidade de ensino, através do Decreto nº 41.599, de 16 de Janeiro de 1962 – de lavra de Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto, à época governador do Estado – houve a doação de uma significativa área então integrante do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e que pertencia à planta da Fazenda Santa Elisa, de forma que a ACETI pôde dar continuidade às ações já intencionadas por meio da celebração em 8 de Dezembro de 1960 de um convênio com o MEC e o Governo do Estado de São Paulo (ETECAP, s.d.; Correio Popular, 1974), através do qual era determinado que a direção da escola caberia a um Conselho Técnico Administrativo, trazendo consigo representantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), além de uma Diretoria Executiva (Correio Popular, 1974).

Como lembra Benedicto Maurício Bueno – diretor da ETECAP entre 19-05-1982 a 07-04-1998 – a unidade de ensino então criada resulta desses esforços, tendo como data de início de suas atividades o dia 24 de Junho de 1964, ocupando uma área de cento e cinquenta mil metros quadrados e distante dez quilômetros do centro da cidade de Campinas (Bueno, 1989), localizada no corredor viário conhecido como Estrada dos Amarais – em seu km 3,5 –, comumente ora denominado Avenida Cônego Antônio Roccato, ora Rua Sylvia da Silva Braga, ou, ainda, Avenida Comendador Aladino Selmi, nas imediações do bairro Jardim Santa Mônica. O nome da escola no período foi o de Escola Técnica Industrial Conselheiro Antônio Prado (ETICAP) (ETECAP, s.d.), homenageando o advogado, cafeicultor, político e empresário paulistano que viveu entre 1840 e 1929, e que chegou a ocupar o cargo de ministro das relações exteriores do Império no ano de 1888 (2).

Nas festividades da data de inauguração, primeiro uma cerimônia na sede regional de Campinas do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), às 09:30 h, quando estiveram presentes o Dr. Max Pontual – representando Armando Hildebrand, à época na frente da diretoria de ensino industrial do MEC –, e, evidentemente, o mentor Lucien Genevois; em seguida, às 11:30 h, cerimônia nas dependências da própria escola, com a presença do Dr. José Carlos Ataliba Nogueira – secretário estadual de educação –, Modesto de Camargo – representando o CIESP e a FIESP –, o engenheiro Roberto Moreira – então presidente da Rhodia do Brasil –, o Dr. Cláudio Novaes – secretário do governo municipal –, mais o vereador Mário Paolieri, o monsenhor Emílio José Salim e o professor Antônio Raya – reitor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP) –, além de personalidades outras, como Mário Panoni e Hélio Martini (Diário do Povo, 1964). Na ocasião, tomaram posse os membros do Conselho Administrativo da escola, notadamente o professor Creso Assumpção Coimbra – futuramente homenageado com o seu nome em uma das atuais salas administrativas da ETECAP –, além do engenheiro Renato Marcos V. Ferrari, e dos professores Ophir Correia de Toledo, Osmar Salles de Figueiredo e Álvaro França de Barros (Diário do Povo, 1964). Assim, já no ano de 1965, após a realização de um curso preparatório para os exames de admissão, tinha-se o início do funcionamento de uma estrutura com três salas de aula, laboratório, diretoria, secretaria e almoxarifado, no bojo de um curso técnico de química industrial, perfazendo um total de cento e vinte e dois alunos (ETECAP, s.d.).

A ideia de Lucien Genevois – atualmente homenageado no nome de uma pequena praça defronte à unidade de ensino e também na denominação dada ao amplo auditório da unidade escolar –, concretiza-se assim em uma escola de química, seguindo-se a oferta desta habilitação também no período noturno no ano de 1973 (período em que já havia a denominação de Colégio Técnico Industrial Conselheiro Antonio Prado, COTICAP), além da formação em bioquímica, no que, em 1974, igualmente, surge o curso de petroquímica (Bueno, 1989).

Em matéria do jornal Correio Popular de 22 de Junho de 1974 que assinala os dez anos de existência da unidade de ensino – onde já é apontada como um colégio modelo –, são ainda mencionados como mentores seus – ao lado de membros não citados da sociedade civil que se empenharam em favor da criação da escola – os nomes de Antônio Devisate, presidente da FIESP, Cid de Castro Prado, vice-presidente da ACETI – em 1974 já falecido –, Hildebrando Armando, diretor do departamento de ensino industrial do MEC, e Fábio Penteado, arquiteto com diversos trabalhos em prédios escolares (Correio Popular, 1974).

A propósito dessas comemorações, como também noticia a edição do jornal Diário do Povo de 25 de Junho de 1974, a solenidade que teve lugar em suas instalações contou com a participação de outras personagens ilustres da época, como o Sr. Paulo Gomes Romeo – secretário da pasta de educação do governador Laudo Natel –, o professor Zeferino Vaz – então reitor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) –, Sr. Renato Marcos V. Ferrari – representando a ACETI –, José Maria de Toledo Camargo – comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Exército –, Agostinho Tavolaro – delegado regional do CIESP –, José Alexandre dos Santos Ribeiro – secretário de educação do Município de Campinas –, professor Rubem Costa – representando a divisão regional de educação –, Reinaldo Calil – então prefeito do Município de Paulínia –, e Marco Antônio Jordano – representante dos alunos –, quando Lucien Genevois foi homenageado com o desterramento de uma placa (Diário do Povo, 1974) (3).

Tendo iniciado a sua trajetória como servidor na escola em 1982, no ano de 1994 – quando a dirigia – Benedicto Maurício Bueno ainda nos traz nomes importantes na história da instituição, como os dos professores Alcides Guarido, Miguel Henrique Russo e Silvano Lopes de Castro, no que nos acrescenta que a unidade de ensino passou a integrar a estrutura pedagógica e administrativa do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS) no ano de 1981 (Bueno, 1994).

Será também em 1981 que surge a denominação atual de Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado, no que se assinala que no ano de 1998 se dá a separação entre ensino médio e ensino técnico e, em 1999, têm-se o oferecimento do curso técnico em meio ambiente (ETECAP, s.d.). Se o curso de petroquímica não mais existe desde 1997, além das formações já mencionadas, atualmente a ETECAP oferece os cursos técnicos de papel e celulose, além de administração de empresas, contabilidade, técnico judiciário e técnico em comércio, distribuídos em extensões existentes nas escolas estaduais Professor Moacyr Santos Campos, no Jardim Nilópolis, e Professor Adalberto Prado e Silva, na Vila Costa e Silva, ambas no Município de Campinas.

Do breve exame de sua história, destaque-se que hoje a Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado – ETECAP – revela-se como materialização do intento de Lucien Genevois – homem de grande visão – marcando a vida de muitas gerações da cidade de Campinas e de pessoas de tantos outros municípios que buscaram o seu ensino de qualidade não apenas como referencial profissional, mas como verdadeira referência de vida, em uma trajetória significativa não apenas para os estudantes, todavia, igualmente para os seus professores e funcionários, em exemplo do percurso da bibliotecária Célia Rosa Galeti de Morais – a "Celinha" –, já no ano de 1994 a funcionária mais antiga em atividade, e que deixou a escola somente no ano de 2012.

Ao longo de sua trajetória, a ETECAP teve na direção os seguintes nomes nos respectivos períodos: Alcides Guarido: 01-09-1964 a 14-10-1965; Osmar Salles de Figueiredo: 01-11-1965 a 30-10-1969; Adalberto Provenzani: 01-11-1969 a 14-01-1970; Silvano Lopes de Castro: 16-01-1970 a 31-21-1971; Miguel Henrique Russo: 10-01-1972 a 19-02-1982; Benedicto Maurício Bueno: 19-05-1982 a 07-04-1998; Marisa Guilherme: 08-04-1998 a 24-06-2000 e 26-10-2007 a 14-07-2008; Vanderlei dos Reis Ribeiro: 21-06-2000 a 30-04-2004; Vilma Aparecida Milano: 01-05-2004 a 14-07-2004; Paulo César Aparecido de Oliveira: 15-07-2004 a 25-10-2007; Rosângela Rodrigues Leme Pellegrino (ex-aluna, auxiliar de ensino e docente da ETECAP): 15-07-2004 ao presente momento.

Na área onde está localizada a ETECAP, anote-se que em 9 de Abril de 2013 é inaugurado o prédio da unidade fixa do programa Via Rápida – que objetiva trazer formação profissional de curta duração –, somando-se a conclusão das obras de um campus da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC) no que mencionamos também desde 2013 a existência de obras de revitalização e ampliação da própria Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado, que ao longo dos últimos anos ampliou a oferta do número de vagas no ensino médio, voltando, inclusive, a oferecê-lo em período integral ao lado do curso técnico de química. 

Marcada fortemente pelo ensino profissionalizante de química, a par de ter alcançado a maior nota no exame nacional do ensino médio dentre as escolas públicas da cidade de Campinas no ano de 2005, a ETECAP, por certo, desde a sua criação bem cumpre a sua missão de formar técnicos e cidadãos, contribuindo com o desenvolvimento cultural, social e econômico no contexto regional e estadual.

2. Considerações finais.

Neste último dia 14 de Julho de 2014, o Município de Campinas celebrou os seus 240 anos de fundação trazendo dados muito significativos no contexto macroeconômico do país, respondendo por cerca de 1% do Produto Interno Bruto nacional – com aproximadamente R$ 36,7 bilhões –, em atividades econômicas ligadas à indústria, comércio, serviços, construção civil, tecnologia e educação (Rede Provectum, 2014, p. 19), no que a ETECAP participa dessa história ativamente desde 24 de Junho de 1964, edificando-se nestes 50 anos como um espaço de convivência, aprendizado e construção de saberes, contribuindo com a cidade, o Estado de São Paulo e com o país através do ensino profissionalizante e da formação de cidadãos.

Que outros tantos anos exitosos venham para a ETECAP.

3. Referências.

BUENO, Benedito Maurício. Um pouco de nossa história. Informativo do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. São Paulo: CEETEPS, ano II, nº 01, Ago. 1989, ed. comemorativa dos 25 anos de criação da Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado.

CORREIO POPULAR. Campinas. Ed. de 22 de Junho de 1974.

DIÁRIO DO POVO. Campinas. Coticap celebrou a 1ª década. Ed. de 25 de Junho de 1974.

ETECAP. História. Disponível na rede mundial de computadores (Internet) no endereço eletrônico. Acesso em 25 Out. 2013.

MAGALHÃES, Ruyrillo. O Comentário do Dia. Associação de Ensino Técnico Industrial. Diário do Povo. Campinas. Ed. de 29 de Março de 1960.

MORATO, Francisco. António Prado. Oração pronunciada no dia 24 de Fevereiro de 1940, à beira da sepultura do Conselheiro António Prado, p. 37-39, mimeo.

REDE PROVECTUM. Campinas: 240 anos. Campinas, Jul./ Ago. 2014, Ano III, nº 16, p. 18-19.

Notas.

1) A composição da diretoria eleita da ACETI em 23 de Março de 1961 para o biênio de 1960-1961 foi a seguinte: Presidente: Dr. Lucien Genevois; Vice-Presidente: Dr. Cid de Castro Prado; 1º Secretário: Sr. Octaviano Stedile; 2º Secretário: Dr. Paulo Mangabeira Albernaz; 1º Tesoureiro: Sr. Eduardo Nunes Silva Filho; 2º Tesoureiro: Sr. Moacyr N. Segurado; Diretor de Propaganda: Sr. Luiz Alfredo Mendes de Almeida; Diretor de Orientação Química: Dr. Louis F. M. Saul. O Conselho Fiscal foi composto pelo Dr. Alfredo Gomes Júlio, pelo Dr. Romeu Tórtima e pelo Sr. Arthur Winslow.

2) Antônio da Silva Prado foi retratado pelo ícone paulista Francisco Morato (1868-1948) da seguinte forma: “distinto nas maneiras e de uma polidez mundana completa, nêle intermisturavam-se, com os faustos e requintes da abastança e fidalguia, sentimentos de finura e simpleza na vida doméstica, de respeito e delicadeza na convivência com os amigos, de absoluta justiça e dignidade no trato com seus auxiliares e colaboradores” (Morato, 1940, p. 38).

3) O teor da placa, exposta no pátio da ETECAP, é o seguinte: “24-06-1974. 10º aniversário do início do funcionamento do Colégio Técnico Industrial Conselheiro Antônio Prado. Homenagem aos seus idealizadores e a todos aqueles que contribuem para a sua crescente expansão. Ministério da Educação e Cultura. Governo do Estado de São Paulo. Associação Campineira de Ensino Técnico Industrial. Conselho Técnico Administrativo. Professores e funcionários”. Abaixo, ainda, uma placa menor: “Ao idealizador do Colégio Técnico Industrial “Conselheiro Antônio Prado” Dr. Lucien Genevois, como reconhecimento pela sua dedicação. Homenagem de professores, funcionários e alunos. 24-06-1974”. No local, temos ainda outras duas placas ilustrativas de sua história, respectivamente, com os seguintes conteúdos: “Centro Paula Souza. Competência em Educação Pública Profissional. Escola Técnica Estadual “Conselheiro Antônio Prado”. 40 anos. ETECAP – 1964 a 2004. Homenagem aos pioneiros e atuais continuadores – professores, funcionários e toda a comunidade – pais, alunos, ex-alunos, empresas, conselho de escola e diretoria. Junho de 2004”; “Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado. ETECAP 45 anos. 1964-2009. 45 anos preparando pessoas para o exercício da cidadania e o exercício flexível e polivalente da vida profissional. Junho/ 2009”. Pela ETECAP, no pátio de entrada, encontramos, ainda, outras duas placas, com o seguinte teor: “Escola Técnica Estadual “Conselheiro Antônio Prado”. Jubileu de Prata – 1964-1989. Homenagem ao seu idealizador Dr. Lucien Genevois e a todos que contribuem para sua crescente expansão: Ministério da Educação e Cultura. Governo do Estado de São Paulo. Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza”. Indústrias da Região. Professores, Funcionários, Pais e Alunos”; “Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza”. Escola Técnica “Conselheiro Antonio Prado”. 1964 ETECAP 1994. Toda uma comunidade trabalhando há 30 anos para a formação do técnico e do cidadão. Homenagem da APM aos Professores, Pais, Funcionários, Alunos e Benfeitores” E, por fim, registremos a inscrição em um marco de concreto existente na portaria principal da ETECAP, trazendo o seguinte: “Colégio Técnico Industrial Antônio Prado. Esta escola destinada à formação de técnicos químicos foi criada por convênio assinado em 8 de Dezembro de 1960 entre o governo federal, o governo estadual, a Associação Campineira de Ensino Técnico Industrial. A inauguração das primeiras instalações foi feita em 24 de Junho de 1964”.