UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS
ÁREA DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM EM CIÊNCIAS DA TERRA E DO AMBIENTE

MAPEAMENTO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO PERÍMETRO IRRIGADO DE MIRORÓS ? IBIPEBA BAHIA

THAIS ELISLAGLEI PEREIRA SILVA

FEIRA DE SANTANA
2006

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS
ÁREA DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM EM CIÊNCIAS DA TERRA E DO AMBIENTE





MAPEAMENTO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO PERÍMETRO IRRIGADO DE MIRORÓS ? IBIPEBA BAHIA



THAIS ELISLAGLEI PEREIRA SILVA




Monografia apresentada à Universidade Estadual de Feira de Santana para a obtenção do título de especialista em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente.
Orientadora: Professora Doutora Joselisa Maria Chaves.











FEIRA DE SANTANA
2006




UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS
ÁREA DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM EM CIÊNCIAS DA TERRA E DO AMBIENTE





MAPEAMENTO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO PERÍMETRO IRRIGADO DE MIRORÓS ? IBIPEBA BAHIA


MONOGRAFIA


THAIS ELISLAGLEI PEREIRA SILVA





BANCA EXAMIONADORA:
Profa. Dra. Joselisa Maria Chaves ? Orientadora
Prof. Dr. Ardemírio de Barros Silva ? Examinador interno
Prof. Dr. Washington de Jesus Sant?anna da Franca Rocha ? Examinador interno












FEIRA DE SANTANA
2006














"Nenhum conhecimento nos ajudará se perdermos a capacidade de nos comover com a desgraça de outro ser humano, com o olhar amável de outro ser humano, com o canto de um pássaro, com o verde de um jardim. Se o homem fez indiferente à vida, não há nenhuma esperança de que possa fazer o bem".
Erich Fromm







"Fé na vida, fé no homem, fé no que virá, nós podemos tudo, nós podemos mais, vamos lá fazer o que será".

Erasmo Carlos






"Não se mede o valor do Homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui. O verdadeiro valor do homem está no seu caráter, nas suas idéias e na nobreza dos seus ideais".

Charles Chaplin



























DEDICATÓRIA


Aos meus pais, José Estácio Limeira da Silva e Jarí de Souza Pereira Silva, que são os principais responsáveis por mais um sonho realizado, pois com os seus ensinamentos e regras me ensinaram à importância da competência, da ética, do profissionalismo e, acima de tudo, me mostraram que na vida tudo dar certo quando nos enchemos de amor, boa vontade e perseverança.















i
AGRADECIMENTOS


"Tudo o que você pode fazer ou sonhar você alcançará, sendo assim, mãos à obra".
(Goethe)

Dedico esta monografia como forma de agradecimento e expressão de minha eterna gratidão àqueles que me fazem sonhar e acreditar que é possível fazer o sonho acontecer.

A Deus, por ter me iluminado em todos os momentos da minha vida, me dando sempre sensatez, humildade e perseverança diante das dificuldades impostas pelas circunstancias do cotidiano.
Aos meus irmãos Cátia, Jonathan e Bruna, pela cumplicidade e compreensão e, por sempre acreditarem na minha capacidade de vencer.
Aos meus sobrinhos Maria Clara, Bruno e Estácio Neto, que com a sua inocência enchem a minha vida de paz, amor e alegria, me ensinando que a família é, sem dúvida alguma, o maior e melhor de todos os presentes.
Ao meu cunhado Valter, que com a sua alegria e simplicidade tem me mostrado que a vida não é tão complicada, somos nós quem a complicamos.
À Profª. Dr.ª Joselisa Maria Chaves, que me orientou durante todo o curso e me direcionou no caminho da construção do conhecimento.
Ao Prof. Dr. Heraldo Peixoto ? UFBA, que muito me auxiliou nos contatos com a CODEVASF ? Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba.
À CODEVASF ? Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba ? que sempre me disponibilizou todo o material necessário para a realização da minha pesquisa e colaborou irrestritamente em todos os campos realizados durante a realização deste trabalho.
Aos funcionários da CODEVASF ? Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba, que todo o tempo me trataram como sendo parte do corpo funcional de tão conceituada autarquia.
Aos professores do curso que, além de colaborar com os seus conhecimentos, sempre foram compreensivos e flexíveis, na medida do possível.
Aos colegas que dividiram comigo estes momentos de aprendizagem e por que não dizer diversão. Em especial agradeço àqueles que foram mais que colegas e hoje são amigos. O meu especial obrigado a Fábia e Leila por todo o apoio, compreensão e paciência, a Arislena e Elias pela solidariedade e ao Eric e Tavares pela sua atenção durante as aulas e sua constante preocupação em sempre me ajudar durante o curso.
Ao Projeto Mirorós e ao povo desta "minha terra" que me serviu de inspiração maior e fonte de pesquisa.
Por fim agradeço a todos aqueles que um dia, de uma forma ou de outra, passaram pela minha vida e deixaram suas marcas, seja como professor, colega, amigo ou simples conhecido. Àqueles que por acaso eu tenha esquecido os meus sinceros agradecimentos e ao mesmo tempo o meu pedido de desculpas por ter sido traída pela memória.



ii
RESUMO

O processo de uso e ocupação do solo se constitui numa das principais fontes de transformações ambientais praticadas pelo homem. Desta forma, a agricultura se constitui num caminho para as modificações ambientais, influenciando diretamente no processo de uso e ocupação do solo e também nas condições de vida das comunidades subjacentes às áreas agrícolas, uma vez que esta é de fato a fonte de subsistência social.
O Mapeamento de Uso e Ocupação do Solo do Projeto Irrigado de Mirorós (2002) se constitui num mecanismo de identificação das modificações do processo de uso e ocupação do solo a partir da implantação da agricultura irrigada, que resultou na modificação das classes de uso e ocupação do solo, uma vez que é perceptível a estratificação do bioma nativo caatinga, o aumento do cultivo agrícola, a redução das áreas de pastagem natural e ainda a ampliação considerável das áreas de solo exposto, que apesar de terem sido desmatadas encontra-se em situação de improdutividade.
Estas transformações, por sua vez, influenciam diretamente nas condições de vida da população que habita esta comunidade tendo em vista que houve o surgimento de novas vagas de trabalho e também a maior circulação de capital, o que resulta no aumento do poder de consumo das pessoas, fazendo com que haja um certo crescimento econômico na comunidade.
A metodologia de estudo baseia-se em quatro pilares: revisão bibliográfica sobre a área de estudo, o processo de uso e ocupação do solo, a agricultura irrigada, sensoriamento remoto e processamento digital de imagens; o uso de técnicas de processamento digital de imagens para a elaboração do mapa de uso e ocupação do solo; o campo para validação dos dados; e a aplicação de questionários socioeconômicos, para avaliação dos impactos sociais ocorridos na comunidade.
Deste modo, foi possível traçar um breve diagnóstico das transformações sócio ambiental ocorridas com a implantação da agricultura irrigada, percebendo-se, assim, a intensificação do desmatamento e a conseqüente estratificação do bioma nativo ? caatinga ? e, ainda, o aumento do cultivo agrícola que resultou numa modificação estrutural da comunidade para atender às necessidades da empresa administradora do perímetro irrigado ? CODEVASF ? e, também, o aumento de vagas no mercado de trabalho, não contribuindo,
entretanto, para o desenvolvimento e sim para o crescimento econômico, uma vez que os indicadores sociais, como saúde, educação e moradia não sofreram alterações significativas.












































iii
SUMÁRIO


Dedicatória .............................................................................................................................i
Agradecimentos .....................................................................................................................ii
Resumo .................................................................................................................................iii

PARTE I: Considerações Iniciais

CAPÍTULO I ? Considerações Iniciais

1.1 Introdução ........................................................................................................................2

CAPÍTULO II ? Revisão de Literatura

2.1 Introdução ........................................................................................................................6
2.2 Sensoriamento Remoto ....................................................................................................6
2.3 Processamento Digital de Imagens ..................................................................................7
2.4 Uso e Ocupação do Solo e as Transformações Ambientais e Sociais ............................11

PARTE II ? MATERIAIS E MÉTODOS DE ABORDAGEM

CAPÍTULO III ? Localização e Caracterização da Área de Estudo

3.1 Localização.....................................................................................................................25
3..2 Características técnicas do Projeto Mirorós...................................................................27
3.2.1 Aspectos Sociais ..........................................................................................................29
3.2.2 Climatologia ............................................................................................................... 34
3.2.3 Pluviosidade ................................................................................................................30
3.2.4 Pedologia .....................................................................................................................30
3.2.5 Geomorfologia ............................................................................................................31
3.2.6 Geologia ......................................................................................................................32
3.2.7 Vegetação ....................................................................................................................32

CAPÍTULO IV ? Materiais e Método de Abordagem


4.1 Materiais .........................................................................................................................33
4.2 Método de Abordagem ...................................................................................................33


PARTE III ? RESULTADOS E DISCUSSÕES

CAPÍTULO V ? Resultados e Discussões

5.1 Revisão Bibliográfica .....................................................................................................37
5.2 Processamento Digital de Imagem..................................................................................37
5.2.1 Pré-Processamento.......................................................................................................37
5.2.1 Pré-Processamento.......................................................................................................37
5.2.2 Processamento..............................................................................................................40
5.2.3Mapa de Uso e Ocupação do Solo do Perímetro Irrigado de Mirorós..........................45
5.3 Impactos Socioeconômicos ............................................................................................47

PARTE IV ? CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

CAPÍTULO VI ? Conclusões e Recomendações................................................................53
REFERENCIAS..................................................................................................................54





































LISTA DE FIGURAS


Figura 1. Evolução das Áreas Irrigadas no Brasil ? 1950-2001 .........................................17
Figura 2. Mapa do Estado da Bahia ? SEI ..........................................................................25
Figura 3. Mapa de Localização do município de Ibipeba Bahia ? SEI ..............................26
Figura 4. Croqui do Projeto Mirorós ...................................................................................28
Figura 5. Fluxograma Metodológico ..................................................................................35
Figura 6. Recorte da Área de Estudo (cena 218/68-2002) ..................................................39
Figura 7. Classificação Não-Supervisionada Isodata ... ......................................................41
Figura 8. Classificação Não-Supervisionada K-Means ......................................................42
Figura 9. Classificação Supervisionada por Mínima Distância ..........................................43
Figura 10. Classificação Supervisionada por Mahalanobis Distance..................................44
Figura 11. Mapa de Uso e Ocupação do Solo......................................................................46
































LISTA DE QUADROS


Quadro 1. Bandas do sensor TM+ LANDSAT 5 ...............................................................10
Quadro 2. Áreas irrigadas, métodos de irrigação: estados, regiões, Brasil ...............................................................................................................................................18
Quadro 3. Áreas com Infra-Estrutura, Ocupadas e em Produção nos Projetos Públicos de Irrigação (1)...........................................................................................................................20
Quadro 4. Distribuição da área do projeto de acordo com a qualificação do proprietários e o uso da terra ........................................................................................................................29

























































PARTE I ? CONSIDERAÇÕES INICIAIS

CAPÍTULO I ? CONSIDERAÇÕES INICIAIS


CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA













CAPÍTULO I ? CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1 - INTRODUÇÃO

O homem em sua busca constante pela utilização dos recursos naturais de maneira a atender às suas necessidades de sobrevivência e desenvolvimento, cumpre o importante papel de agente transformador do meio ambiente, muitas vezes, provocando danos irreversíveis ao ecossistema.
A agricultura, aqui considerada sob a perspectiva do processo de uso e ocupação do solo, é responsável por grandes transformações no ecossistema, haja vista que para o seu desenvolvimento são necessárias a utilização de técnicas que resultam na alteração das condições naturais. A retirada do bioma nativo, aliado à aplicação de técnicas de plantio ? desmatamento, queimada, e uso de defensivos agrícolas, entre outras ? podem resultar na degradação ambiental.
Desta forma, o processo de uso e ocupação do solo se constitui num dos fatores determinantes da transformação ambiental, uma vez que influencia diretamente na manutenção ou retirada do bioma nativo, bem como tem significativas implicações sobre a qualidade do solo, da água e das condições de vida da sociedade subjacente a este ecossistema.
O monitoramento ambiental, através do acompanhamento da dinâmica do uso e ocupação do solo, possibilita a atuação racional do Homem sobre o ambiente, diminuindo, assim, os efeitos prejudiciais ao ambiente físico, uma vez que o acompanhamento desta dinâmica processual permite o diagnóstico das mudanças ambientais ocorridas a partir da sua atuação sobre o Meio Ambiente, servindo de suporte para tomada de decisão quanto às áreas prioritárias e ações de conservação da biodiversidade.
O conhecimento do processo de uso e ocupação do solo torna-se um caminho para a construção do conhecimento acerca das transformações ambientais, além de uma possibilidade para o uso racional dos recursos naturais, inclusive abrindo perspectivas para a resolução de problemas ambientais causados pelo intenso e desregulado uso do solo.
Na atualidade, o Sensoriamento Remoto é uma das ferramentas que vem sendo de grande utilidade na análise do processo de uso e ocupação do solo, uma vez que nos dá a oportunidade de analisar áreas mais amplas e com maior precisão, através dos diversos recursos provenientes do processamento digital de imagens, o que as tornam importantes ferramentas e fonte de dados espaços-temporais no acompanhamento e distribuição do uso e ocupação do solo, permitindo analisar as mudanças na forma como o espaço está sendo utilizado.
A agricultura, contudo, não influencia apenas nos aspectos físicos de um ecossistema, mas também nas condições sociais da comunidade onde se dá tal processo. Diante disso, muitas vezes, os fatores naturais são tomados como sendo responsáveis pelo subdesenvolvimento de determinadas regiões, uma vez que estes podem se constituir em fator determinante na atividade agrícola, caso não haja o uso de tecnologias que possam minimizar os efeitos das intempéries naturais em áreas de clima semi-árido.
O principal fator explicativo do subdesenvolvimento do Nordeste com relação ao Centro-Sul do País era, até final dos anos cinqüenta, a condição climática adversa (seca) (RODRIGUES, 2001). Contudo, desde essa data, Furtado (1998) vem apresentando diagnóstico distinto, chamando atenção para a importância do desenvolvimento de ações que busquem conviver com as estiagens prolongadas, uma vez que afirma ser a causa principal do subdesenvolvimento da região a sua organização social, que gera impacto maior, em períodos de estiagem prolongada, nos produtores de alimentos.
Deste modo, o desenvolvimento da agricultura irrigada se torna de grande significado como uma forma de estimular a produção de alimentos, mantendo a regularidade da oferta, atenuando os efeitos da seca e criando uma classe de agricultores regantes, organizados em unidades familiares.
Este trabalho tem como objetivo, a partir do mapeamento do uso e ocupação do solo e a análise das condições socioeconômicas sobre as quais vivem os membros desta comunidade, diagnosticar as mudanças ocorridas no processo de uso e ocupação do solo, no Perímetro Irrigado de Mirorós, após a implantação da agricultura irrigada, bem como as implicações socioeconômicas para os membros da comunidade, podendo assim, perceber as mudanças sócio-ambientais ocorridas nesta área.
Busca, deste modo, analisar a contribuição de um projeto de irrigação ? o Projeto Mirorós ? no processo de desenvolvimento da região na qual está inserido. Este projeto é desenvolvido numa parceria do Governo Estadual com o Governo Federal, através da CODEVASF ? Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba ? onde o Estado busca combinar política agrícola, uso da água, incentivos fiscais e financeiros para instalação de indústrias, como base para dinamizar a economia das regiões mais pobres.
O processo de planejamento macroeconômico envolve o estabelecimento de planos, programas e projetos. Nesse contexto, o Projeto Mirorós é vinculado à política de irrigação do estado da Bahia, que tem como norteador o Plano Estadual de Irrigação, desenvolvido pela Secretaria de Irrigação e Recursos Hídricos, Saneamento e Habitação ? SRHSH. Inaugurado em 1997, com uma extensão de 2.166 hectares, destina-se à exploração agrícola por empresários e pequenos produtores, objetivando, sobretudo, usar os recursos disponíveis para favorecer a diversificação da produção agrícola e agro-industrial, permitindo o desenvolvimento do "agrobusiness".
O desenvolvimento não é algo espontâneo, dado pela livre evolução das forças de mercado, podendo ser alcançado apenas pelo planejamento estatal. Obviamente, o conceito de desenvolvimento não é único, e utiliza-se aqui esta definição: "Desenvolvimento é o padrão das transformações econômicas, sociais e estruturais, através da melhoria qualitativa do equilíbrio relativo ao meio ambiente" (GOODLAND, 1989).
A transformação estrutural, de extrema importância ao desenvolvimento, é obtida somente mediante a crescente integração e diversificação entre as subestruturas primária, secundária e terciária. No item que trata dos resultados e discussão, tais subestruturas econômicas serão discutidas verificando como tem sido a sua integração.
Por ser um trabalho que tem como produto o mapeamento de uso e ocupação do solo, utiliza-se a imagem digital do sensor LANDSAT 5 ETM+, obtida em 29/10/2002, comparando-se com a época que antecede a implantação da agricultura irrigada, sendo possível diagnosticar as principais mudanças ambientais, bem como, de maneira sucinta perceber as implicações para a comunidade desta área de estudo. Nesse sentido, foram aplicados cerca de 80 (oitenta) questionários socioeconômicos junto a moradores da comunidade, tais como, trabalhadores rurais, proprietários rurais e comerciantes.
Para o desenvolvimento da pesquisa monográfica foram determinados os seguintes objetivos específicos: i) levantamento de dados do Projeto de Irrigação Mirorós; ii) processamento da imagem do satélite LANDSAT 5 ETM+, visando realçar as classes de uso do solo; iii) análise da atual situação de ocupação do solo no Projeto de Irrigação Mirorós e, iv) análise das transformações sociais ocorridas na comunidade inserida nesta área de estudo, diagnosticando-se, assim, os impactos sócio ambientais da agricultura irrigada.
A monografia é composta de quatro partes. A primeira parte trata da introdução ao tema de estudo, os objetivos do trabalho e a revisão de literatura, com o intuito de propiciar aos leitores um apanhado geral das bases teóricas nas quais se fundamentam este trabalho. A parte seguinte diz respeito aos materiais e métodos, onde serão apresentadas localização e caracterização da área de estudo, materiais utilizados e a metodologia de trabalho.
A terceira traz os resultados e discussões onde serão discutidas e analisadas as mudanças sócio ambientais ocorridas no Perímetro Irrigado de Mirorós. Por fim, a quarta parte traça as considerações finais, expondo-se as conclusões obtidas a partir da análise das imagens, bibliografias consultadas, questionários aplicados e campos realizados, sendo colocadas recomendações e/ou sugestões para o melhor e mais racional aproveitamento dos recursos naturais da área de estudo, bem como o melhor planejamento socioeconômico para a comunidade inserida no Perímetro Irrigado de Mirorós, além da bibliografia consultada como subsídio para a elaboração deste texto. Acrescentando-se, ainda, as referências bibliográficas e os anexos, onde são apresentados alguns dos documentos utilizados na pesquisa que são peças importantes para a melhor compreensão deste trabalho, tais como planilhas, relatórios, questionários e fotografias, entre outros. Deste modo, respondendo aos principais questionamentos desta monografia: (i) quais as mudanças ocasionadas pela implantação da agricultura irrigada no processo de uso e ocupação do solo do Perímetro Irrigado de Mirorós? (ii) quais os impactos sociais da agricultura irrigada na comunidade do Distrito de Mirorós?









CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Introdução
O mapeamento de uso e ocupação do solo através de imagem de satélite apoiou-se teoricamente em três pontos: (i) Sensoriamento Remoto, tratando especificamente das técnicas de aquisição dos dados físicos pelos sensores a bordo dos satélites; (ii) Processamento Digital de Imagens que consiste nas diversas técnicas de melhoramento da imagem com o objetivo de facilitar a distinção dos alvos imageados, resultando, assim, na elaboração de um mapa de uso e ocupação do solo de melhor qualidade; e (iii) O Uso e Ocupação do Solo e as Transformações Sócio Ambientais, que busca o entendimento de como o processo de uso e ocupação do solo reflete nas características físicas do ecossistema, bem como os impactos sociais sobre a comunidade inserida na área de estudo.

2.2. Sensoriamento Remoto
Segundo Meneses e Madeira Netto (2001), entre as varias definições de sensoriamento remoto, a mais simples e usual o define como sendo uma técnica de aquisição de dados físicos dos objetos existentes na superfície, sem que haja contato físico direto entre o sensor e o objeto.
Um ponto a ser considerado é que não há contato físico entre o sensor e o objeto, o que significa ausência de matéria no espaço interposto entre o objeto e o sensor, os dados físicos sobre os objetos podem ser transportados ou transferidos para o sensor através da atmosfera ou do vácuo.
Este processo de transferência de informação só pode ocorrer por meio da radiação eletromagnética ? REM, uma vez que é a única forma de energia capaz de se propagar no vácuo e atravessar a atmosfera. Baseado nisso, pode-se definir o sensoriamento remoto como uma medida de trocas de energia, que resulta na interação da energia contida na REM de determinado comprimento de onda, com a energia dos átomos e moléculas constituintes daquele material.
Esta técnica tornou-se fundamental a partir do momento que atende à necessidade do Homem de "subir ao espaço para ver a Terra". Os sensores a bordo dos satélites de sensoriamento remoto tornaram-se a extensão dos olhos humanos para ver nosso planeta, uma vez que estes olhos conseguiram superar o poder da visão do Homem aumentando a capacidade de identificar os objetos terrestres, muito além dos comprimentos de onda da luz normalmente percebidos pela visão humana.
Os sensores remotos utilizados detectam a intensidade da REM refletida ou emitida cuja intensidade e qualidade são função das propriedades físicas que definem a absortância e a transmitância do objeto. Não podendo, contudo, esquecer que a reflectância dos objetos tem uma relação direta com as suas propriedades espaciais, como tamanho, forma, estrutura e textura de sua superfície. A soma desses atributos é o determinante das características da imagem do objeto registradas pelo sensor. Tais características são codificadas pelos valores digitais e representam os correspondentes valores da intensidade de reflectância daquele objeto.
Desta forma, para analisar e interpretar as imagens dos objetos registrados por um sensor imageador faz-se necessário um bom nível de conhecimento sobre o comportamento espectral dos alvos ao longo dos diferentes intervalos de comprimento de onda da REM. Isso torna a radiometria espectral uma das mais importantes áreas do conhecimento do sensoriamento remoto, uma vez que são as medidas radiométricas, de laboratório ou de campo, que nos permitem descobrir a intensidade com que cada material reflete a REM nos diversos comprimentos de onda do espectro, permitindo explicar e entender como cada objeto aparecerá na imagem.
Nas imagens multiespectrais é a resolução espectral que permite que os objetos possam ser identificados ou discriminados por meio de suas diferenças de reflectância. Assim, conhecer os padrões das respostas de reflectância dos diferentes tipos de materiais torna-se fundamental para análise e interpretação das imagens multiespectrais. Os diferentes materiais exibem comportamentos distintos de reflectância por conta das suas diferentes constituições físicas, químicas e biológicas, o que resulta na variabilidade da capacidade de absortância e/ou reflectância de cada um.

2.3. Processamento Digital de Imagens

Segundo Meneses & Rosa (2001), normalmente associa-se processamento digital de imagens com imagens multiespectrais de satélites, uma vez que os sensores imageadores adquirem os dados em formato digital. Os detectores eletrônicos registram de forma numérica a imagem do objeto, que pode ser transferida e armazenada, digitalmente, em mídias compatíveis ao computador.
Os dados detectados pelo sensor são transmitidos na forma de radiação eletromagnética refletida ou emitida pela superfície do objeto. Por conta da maior eficiência e versatilidade que esses detectores têm para registrar a REM em diferentes intervalos de comprimento de onda, os sensores imageadores têm grande capacidade para gerar, simultaneamente, um grande numero de imagens em diferentes partes do espectro.
O imageador é um instrumento que a cada instante capta a energia eletromagnética refletida ou emitida de pequenas amostras de uma área da superfície terrestre, convertendo-a através dos detectores, em um sensor elétrico. Todos os sensores imageadores, a exceção dos radares, são constituídos de três sistemas: um sistema óptico, um eletrônico e um sistema de registro de dados (ou unidade de saída), que são agrupados em uma única unidade aeroportátil.
A imagem digital é uma representação quantizada dos valores de reflectância correspondentes a cada elemento de área unitária imageada no terreno pelo sensor. Os valores digitais são apenas valores inteiros ou discretos, que se associam a cada pixel, representando a reflectância integrada dos diferentes objetos dentro daquela área unitária de imageamento.
Os pixels podem ser dimensionados por dois atributos:
 pela posição espacial, isto é, coordenadas espaciais que o pixel ocupa na imagem; e
 pelo valor de radiância do pixel.
Como as coordenadas espaciais do pixel é um sistema cartesiano, a imagem digital tem a representação na forma matricial. Os índices das linhas e colunas da matriz da imagem identificam as coordenadas x, y de cada pixel e o valor de f de cada elemento na matriz identifica a reflectância que é expressa na imagem por níveis de cinza.
O histograma é uma forma simples para se examinar na imagem digital a sua distribuição estatística de cada nível de cinza em termos do numero de pixel. Geralmente tem um comportamento gaussiano, portanto pode ser representado pelos parâmetros estatísticos de média e variância. A média está relacionada com o valor de nível de cinza, e a variância, como medida, dá uma idéia de como o contraste dos níveis de cinza na imagem, ou de suas reflectâncias. Contudo, o histograma da imagem não contém nenhuma informação sobre a distribuição espacial dos níveis de cinza da imagem.
Uma das grandes vantagens de um sensor multiespectral é a possibilidade de se construir imagens coloridas através de monitor padrão RGB. O padrão RGB é um sistema aditivo das três cores R+G+B. Para se formar uma composição colorida é preciso que se sobreponham três imagens idênticas do objeto, representadas cada uma por suas respectivas intensidades de cores vermelha-verde-azul. Da interseção, soma, ou combinação, dos três spots de luz, resultam as chamadas cores secundárias, por exemplo:
? Vermelho + Verde = Amarelo
? Vermelho + Azul = Magneta
? Verde + Azul = Ciano
A área de interseção entre as três cores primárias resultam no branco.
A imagem da área de estudo foi obtida a partir do Sensor ETM do LANDSAT 5, que é imageador multiespectral do tipo de varredura mecânica; possui um espelho rotativo que oscila perpendicularmente à direção de deslocamento do satélite, no sentido de leste-oeste e oeste-leste, segundo um ângulo de varredura de 5,8 graus. São necessários 10,7 micros segundos para que complete uma varredura completa. O sinal coletado pelo espelho é direcionado para um telescópio portátil com diâmetro de abertura de 41,15 cm e uma distancia focal de 243,8 cm.
No quadro 1, estão listadas as bandas deste sensor, que serão úteis na realização deste trabalho e os critérios que definiram a sua seleção, para fins de aplicações na pesquisa dos recursos naturais ? água-solo-vegetação.
A partir da combinação de bandas é possível determinar as principais classes de uso e ocupação do solo, uma vez que possibilitará a melhor distinção entre os alvos. As escolhas dessas bandas tem uma relação direta com o padrão espectral da imagem. Sabendo-se que as imagens são formadas por um grande numero de pixels, se faz necessário a utilização de determinados recursos/realces para análise e interpretação, tais como: Correção Geométrica, Correção Atmosférica e Correção Radiométrica, Transformação Histogrâmica, Transformação de Cores, Transformação Aritmética ? divisão de bandas ? Transformação por Principais Componentes, Transformação por Filtros de Convolução, Classificação Supervisionada, Classificação Não Supervisionada e Segmentação.
Quadro 1 - BANDAS DO SENSOR TM+ LANDSAT 5
Banda Comprimento de onda (μm) Região Espectral Aplicação
1 0,45-0,52 Azul diferencia a qualidade da água; para discriminação solo/vegetação e identificação de feições culturais; e identificação de oxidação no solo.
2 0,52-0,60 Verde Identificação da área de cultivo.
3 0,63-0,69 Vermelho Diferenciação de vegetação verde da vegetação seca; identificação de estradas de terra e os limites da área.
4 0,76-0,90 Infravermelho Próximo Cálculo da biomassa da vegetação e mapeamento de corpos de água.
5 1,55-1,75 Infravermelho de ondas curtas Detectar os diferentes alvos, por ser esta a banda de maior variação de contraste entre os alvos em geral.
6 10,4-12,5 Termal Análise de umidade do solo.

Após o processamento digital das imagens e sua posterior analise e interpretação, passar-se-á à etapa de validação dos dados obtidos. Esta validação será feita através do trabalho de campo onde poderemos nos certificar se as informações contidas nas imagens são condizentes com a realidade.
As etapas para o Processamento Digital de imagens podem ser separados da seguinte forma:
 Pré-processamento de imagens ? consiste na restauração quantitativa de imagem para corrigir degradações radiométricas e geométricas inseridas pelo sensor, no processo de formação das imagens, incluindo também a técnica de registro para "overlay" e mosaico.
 Realce de Imagens ? são técnicas matemáticas que procuram melhorar a qualidade visual fazendo com que as informações extraídas sejam melhor interpretadas.
 Análise de imagens ? relaciona-se com a extração de informação das imagens. Inclui a segmentação (partição da imagem em regiões com características diferentes) e classificação de imagens (segmentação específica usando técnicas de reconhecimento de padrões). O resultado é uma descrição da imagem de entrada (lista de propriedades do objeto: posição, tamanho, formato), um campo vetorial representando o movimento de objetos em uma seqüência de imagens, mapas, ou uma representação gráfica. A descrição pode ser simplesmente o nome da classe a que o objeto pertence.

Um dos obstáculos à aplicação direta de determinadas bandas espectrais para interpretação de elementos de uma dada região, com importação de resultados de região diversa, é o comportamento diferenciado da variável devido a mudanças na latitude, topografia, clima, composição litológica ou combinação dessas. Logo, o trabalho de campo é outro aspecto importante a ser considerado na análise da imagem, pois a partir desses dados é possível validar os processamentos realizados.

2.4 Uso e Ocupação do Solo e as Transformações Ambientais e Sociais

De modo geral toda a produção mundial de normas, metodologias, métodos e técnicas destinados à gestão ambiental têm como fundamento o conceito da transformação ambiental. Este é o tema central, sobre o qual se desenvolvem outros conceitos, e para o qual convergem todas as abordagens. Isto se deve ao fato de que todos os esforços metodológicos e normalizadores realizados tinham e têm como objetivo otimizar as transformações passíveis de ocorrência nos espaços territoriais afetados pelas diversas formas de uso e ocupação do solo (SENNES, 2004). Contudo, são perceptíveis as limitações na realização desta abordagem holística que deve ter como base todo o conjunto ambiental, entendendo o homem não apenas como sujeito ativo da transformação, mas também como agente passivo que sofre as conseqüências das transformações por ele provocadas.
Tais limitações ocorrem, em primeiro lugar, por conta de que as mais evidentes alterações do ambiente são de cunho físico e biológico, logo a maioria das proposições de estudos das áreas transformadas se encaminha na direção da reabilitação biofísica dos espaços territoriais, colocando em segundo plano as transformações antrópicas, principalmente as transformações sócio-culturais, conduzindo a um conceito incompleto de transformação ambiental, haja vista que não contemplam de maneira adequada as transformações exclusivamente vinculadas ao habitat preferencial do homem. Em segundo lugar, em função da grande variedade de óticas com que é observada e analisada a transformação ambiental dos territórios, ensejando leituras diferenciadas e conflitos mais ou menos discretos de propostas de solução e tratamento gerencial. Neste trabalho temos como objetivo principal perceber as transformações ambientais no seu aspecto físico, contudo não serão esquecidas as conseqüências que de fato ocorrem no contexto social desta comunidade.
Deste modo, é de extrema importância o entendimento da origem dos processos de transformação ambiental. Segundo SENNES, (2004), há uma tendência, já incorporada ao discurso ambientalista mundial, em afirmar que existem transformações ambientais naturais e transformações ambientais proporcionadas por algum tipo de ação do homem. Esta dicotomia representa uma proposta para demonstrar que ou o homem não é uma coisa natural ou o homem é tão mais importante do que os demais fatores do ambiente que merece estarem acima deles, em uma instância hierarquicamente superior à da Natureza, como um deus.
Independentemente do propósito de qualquer uma destas alternativas, é claro, o fato de que o Homem está considerado como um elemento externo à Natureza, e não raro em oposição a ela. Isto conduz ao entendimento do homem como "a mais insignificante e indesejável parcela da Natureza". Este tipo de abordagem conduz, forçosamente, os equívocos de análise, de avaliação, de propostas de medidas e de gestão ambiental, uma vez que o território pode ser explicado como o espaço ambiental conformado pelas relações mantidas entre seus fatores ambientais básicos: em âmbito físico (ar, água e solo), biológico (flora, fauna e os demais elementos da biota) e antrópico (homem), tendo em vista que todos os fatores ambientais, indistintamente, são agentes de mudança permanente e sistemática, em função das relações que mantém entre si, contudo, com diferentes formas de expressão, pois são funcionais, essenciais e dimensionalmente distintos.
Por serem os mais antigos e os de maior expressão física (energia, volume e massa), ar, água e solo, conformando o substrato do ambiente, a partir do qual se manifestam os demais fatores, têm a capacidade de interferir na formação do comportamento dos demais fatores, e de acordo com suas características estabelecem relações ambientais de ordem física e química.
Como agentes de mudança intermediários, flora, fauna e outros elementos da biota, apresentam funcionalidades ambientais distintas e complementares. A flora atua, sobretudo, como elemento de proteção à estabilidade dos fatores físicos, havendo entre eles relações biunívocas e múltiplas, de onde resulta a variedade de tipologias climáticas, hídricas, geológicas, pedológicas, vegetacionais e faunísticas. A fauna, por sua vez, como fator ambiental que apresenta mobilidade individual, utiliza, constrói e reconstrói habitats preferenciais e espaços domiciliares. Desta forma, gera efeitos sobre os fatores físicos e sobre a flora, tornando-se mais ou menos evidentes em função do seu nível de mobilidade e da expressão biofísica de suas manifestações. A partir da associação de suas características, flora e fauna estabelecem relações ambientais de ordem física, química e biológica, embora segundo a visão antrópica ocorram relações do tipo "social". Mas isto é, em última análise, uma tentativa de humanização dos fatores biológicos, para melhor compreensão do seu comportamento.
Juntos, os fatores ar, água, solo, flora, fauna e demais elementos da biota, promovem relações de cunho físico, químico e biológico. Aos fatores físicos é imputada a dimensão biológica nas relações que estabelecem, entre si e com os demais fatores (SENNES, 2004).
Finalmente o homem que poderia perfeitamente ser acolhido como um elemento da fauna merece destaque por dois motivos. O primeiro, porque é responsável pela sistematização, na linguagem humana, do ambiente, permitindo a si mesmo diferenciar-se dos demais fatores ambientais através de uma visão antropocêntrica do espaço que analisa (o que parece justo). O segundo, por utilizar intensivamente metodologias e mecanismos cada vez mais sofisticados, que aceleram e intensificam os processos de mudança nas áreas que utiliza, constrói e reconstrói seus habitats preferenciais e espaços domiciliares. Isto é, desenvolve e aplica cultura, ciência e tecnologia para obter mudanças que julga necessárias nos demais fatores ambientais com que se relacionam. Com base nas suas potencialidades e necessidades, o homem estabelece relações ambientais de ordem biológica, social, política, econômica, tecnológica e cultural, promovendo, deste modo, relações de cunho físico, químico, biológico, social, político, econômico, tecnológico e cultural. Assim, a todos os fatores ambientais devem ser imputadas as oito naturezas acima apresentadas nas relações que estabelecem entre si.
Considerando que todos esses fatores básicos relacionam-se interna e externamente, verifica-se que o ecossistema tende a um estágio de elevada entropia, ou seja, apresentam reduzidas trocas de energia nas relações que mantém com o meio a ele externo, assim como não apresenta perdas de energia com estruturas de controle externas, destinadas a aperfeiçoar os resultados das relações ambientais que mantém.
Esse controle existe, num processo espontâneo, inerente às próprias relações ambientais que se realiza no momento em que ocorrem estas relações. Por isso mesmo, o sistema ecológico possui uma ordem peculiar, mais ou menos identificável. Por conta disso, este processo de controle não possui organização, no sentido humanístico do termo, isto é, procedimentos e formas padronizadas de atuação e de desempenho, com resultados preestabelecidos em quantidade e qualidade. Assim, caso esteja estabilizado, não demanda a injeção de novas energias provenientes de fontes a ele externas.
Deste modo, fica claro que, em tese, o homem não ocorre nem se manifesta em oposição à natureza. Além disso, sua participação na conformação dos ecossistemas não é indesejável ou insignificante, muito pelo contrário. Neste contexto, ao fazer qualquer consideração acerca dos processos de transformação ambiental, optou-se por categorizá-los em processos antrópicos e não antrópicos de transformação do ambiente, uma vez que ambos são naturais, ou seja, os processos de transformação com ou sem a presença do fator ambiental homem. Não é razoável, portanto, confundir natural com desejável e imputar ao homem a parcela do indesejável, somente pelo fato de que, com cultura, ciência e tecnologia mais adequadas, as transformações ambientais por ele promovidas poderiam ser predominantemente corretas do ponto de vista ecológico (KOHN, 2006). Nestes termos, este trabalho analisa o processo de uso e ocupação do solo, sobretudo, no seu contexto físico, contudo não deixa de tecer relevantes considerações à transformação social ocorrida na comunidade a qual está inserida na área de estudo.
O processo de modernização da agricultura é responsável por mudanças radicais no sistema interno de produção e no seu relacionamento com os setores industriais, situados antes e depois da porteira, dando corpo ao conceito de agronegócio ou complexo agroindustrial, que envolve a atividade de produção agrícola propriamente dita (lavouras, pecuária, extração vegetal), aquelas ligadas ao fornecimento de insumos, às relacionadas com o processo agroindustrial e às que dão suporte ao fluxo de produto até à mesa do consumidor final.
O enfoque de agronegócio tem implicações profundas na organização econômica do Brasil, uma vez que através dele revela-se a real dimensão estratégica da agricultura brasileira, que deixa de ser vista como uma atividade estanque e passa a ser considerado o centro dinâmico de um conjunto de atividades econômicas, capazes de gerar riqueza, emprego e divisas.
Sob uma visão sistêmica é possível a melhor compreensão do funcionamento da atividade agropecuária, mostrando a sua real dimensão, auxiliando os tomadores de decisão a formular políticas agrícolas mais sérias e eficazes. Deste modo, rompe-se com as análises segmentadas, que muitas vezes perde informações importantes sobre o encadeamento das ações.
Os índices do PIB, desagregados por região geográfica, confirmam a grande concentração da riqueza nacional na região Sudeste, que representa, em média, 60% do total, no período analisado, enquanto a região Nordeste participa, em média, com 12,5% do PIB do País.
Com o conhecimento atual dos recursos de solo e água, o Brasil tem um potencial de irrigação de 52 milhões de hectares. A área atualmente irrigada atinge 3,0 milhões de hectares, sendo 1,4 milhão de hectares com irrigação a pressão e 1,6 milhão de hectares com irrigação por superfície. A área irrigada no Nordeste é de 495.370 ha e a área potencial de irrigação é de 2.717.820 ha. Têm-se desenvolvido apenas 18,2% da área potencial. A maior concentração de área irrigada está nos Estados da Bahia (33,95%), Pernambuco (17,97%) e Ceará (16,63%).
A potencialidade de expansão da agricultura irrigada apresenta-se promissora em relação a diferentes aspectos que influem sobre o desenvolvimento econômico, quais sejam:
? Do ponto de vista da utilização dos recursos naturais, para regiões semi-áridas permite a utilização dos solos durante todo o ano, obtendo-se, em alguns casos, duas a três colheitas por ano;
? Efeito catalítico que podem exercer as áreas de irrigação em relação às atividades econômicas e aos serviços de apoio governamental que abre perspectivas para adoção de enfoques de desenvolvimento integrado, ensejando a implantação de complexos agro-industriais e serviços conexos, especificamente para a produção de alimentos e produtos de exportação;
? Os efeitos sociais da expansão maciça de áreas irrigadas com a correspondente integração de atividades produtivas deverão traduzir-se numa maior ocupação de mão-de-obra por hectare irrigado.
Vista desta forma, pode-se dizer que a agricultura irrigada se constitui num instrumento de indução do crescimento econômico regional, fazendo-se aqui a devida diferenciação entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico, haja vista que este último vai além do crescimento dos indicadores econômicos, sendo considerada a organização e a estrutura social regional. Sob esta perspectiva, a agricultura irrigada é de fato responsável pelo crescimento econômico regional, contudo na maioria das vezes não alcança o desenvolvimento econômico.
A agricultura irrigada é o maior consumidor de recursos hídricos. Caracteriza-se pelo uso consuntivo, onde a quase a totalidade da água destinada à produção de alimentos é consumida. Em termos mundiais, estima-se que esse uso responda por cerca de 70% das derivações de água. No Brasil, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas publicados em 1998, o consumo agrícola de água supera os 60%.
A irrigação é ainda exigente em termos de qualidade da água e, nos casos de grandes projetos, implica em obras de regularização de vazões, ou seja, barragens que interferem no regime fluvial dos cursos de água e tem efeitos sobre o meio ambiente.
Na Figura 1 apresenta-se a evolução do uso da irrigação no país e respectiva representação gráfica. Observa-se que houve um crescimento das áreas irrigadas de 2.332 milhões de hectares, em 1990, para 3.149 milhões de hectares, em 2001.

Figura 1- Evolução das Áreas Irrigadas no Brasil 1950-2001 (Christofidis, 2002).

O potencial para desenvolvimento sustentável da irrigação é estimado em 14,6 milhões de hectares em "terras altas" e de 14,9 milhões de hectares em "várzeas", totalizando 29,5 milhões de hectares (CHRISTOFIDIS, 2001). Dessas encontram-se sob irrigação 2,090 milhões de hectares em "terras altas" e 1,059 em "várzeas" - totalizando 3,149 milhões de hectares - o que representa 10,7% do potencial de solos aptos para agricultura irrigada sustentável (Quadro 2).
Estima-se que o setor é responsável por pelo menos 1,6 milhão de empregos diretos e 3,2 milhões de empregos indiretos; números que apresentam grande potencial de crescimento pela tendência de se ampliar as áreas cultivadas com culturas irrigadas que exigem uso intensivo de mão-de-obra, como certas modalidades de cultivo em fruticultura.





Quadro 2- Áreas irrigadas, métodos de irrigação: estados, regiões, Brasil (2003/04)



BRASIL/REGIÕES e Estados ANO 2003/04 MÉTODO DE IRRIGAÇÃO (hectares)


Superfícies
Aspersão Convencional
Pivô Central

Localizada

Total
BRASIL 1.729.834 662.328 710.553 337.755 3.440.470
NORTE 84.005 9.125 2.000 4.550 99.680
Rondônia - 4.430 - 490 4.920
Acre 550 160 - 20 730
Amazonas 1.050 750 - 120 1.920
Roraima 8.350 420 150 290 9.210
Pará 6.555 165 - 760 7.480
Amapá 1.480 370 - 220 2.070
Tocantins 66.020 2.830 1.850 2.650 73.350
NORDESTE 207.359 238.223 110.503 176.755 732.840
Maranhão 24.240 12.010 3.630 8.360 48.240
Piauí 10.360 7.360 880 8.180 26.780
Ceará 34.038 18.238 2.513 21.351 76.140
Rio Grande do Norte 220 2.850 1.160 13.990 18.220
Paraíba 30.016 8.420 1.980 8.184 48.600
Pernambuco 31.640 44.200 9.820 12.820 98.480
Alagoas 7.140 58.500 6.060 3.380 75.080
Sergipe 30.445 8.825 310 9.390 48.970
Bahia 39.260 77.820 84.150 91.100 292.330
SUDESTE 219.330 285.910 366.630 116.210 988.080
Minas Gerais 107.000 107.970 89.430 45.800 350.200
Espírito Santo 17.340 56.480 13.820 11.110 98.750
Rio de Janeiro 15.020 15.250 6.760 2.300 39.330
São Paulo 79.970 106.210 256.620 57.000 499.880
SUL 1.155.440 94.010 37.540 14.670 1.301.660
Paraná 21.240 42.210 2.260 6.530 72.240
Santa Catarina 118.200 21.800 280 3.140 143.420
Rio Grande do Sul 1.016.000 30.000 35.000 5.000 1.086.000
CENTRO-OESTE 63.700 35.060 193.880 25.570 318.210
Mato Grosso do Sul 41.560 3.980 37.900 6.530 89.970
Mato Grosso 4.200 2.910 4.120 7.300 18.530
Goiás 17.750 24.350 145.200 10.400 197.700
Distrito Federal 190 3.820 6.660 1.340 12.010
Fonte: Estimativas realizadas por Christofidis (2005)

As ações no campo da agricultura irrigada são regidas pela Lei nº 6.662/79 e regulamentada pelo Decreto 89.496/84. Essa Lei tem como objetivo o aproveitamento racional de recurso de água e solos para implantação e desenvolvimento da agricultura irrigada. Ainda várias alterações têm sido realizadas por meio de diferentes normas jurídicas, visando, principalmente, a forma de ocupação das terras beneficiadas, que leve a alcançar maior produtividade e otimização no uso da água.
A inexistência de diretrizes políticas e orçamentárias estáveis fazem com que o setor não possa apresentar um desempenho regular. Excetuando o período do Ministério Extraordinário da Irrigação, o setor tem sido, sempre, um apêndice de algum ministério, o que não tem permitido o desenvolvimento de uma organização gestora coesa. Atualmente, a gestão do Programa de Irrigação e Drenagem é responsabilidade de um departamento, Departamento de Desenvolvimento Hidroagrícola, de uma das seis secretarias do Ministério da Integração Nacional, Secretaria de Infra-estrutura Hídrica.
Destacam-se como principais programas no setor de irrigação: Programa de Aproveitamento Racional de Várzeas Irrigadas - PROVARZEAS, iniciado em 1981, que implementou cerca de um milhão de hectares irrigadas no País, até o final daquela década; Programa de Financiamento de Equipamentos de Irrigação - PROFIR, iniciado em 1983, que fomentou os sistemas de irrigação mecanizados (pivô central, convencional e localizado); Programa Nacional de Irrigação ? PRONI, iniciado em 1986; Programa de Irrigação do Nordeste - PROINE, em 1986. Menos pela insuficiência de resultados, mais pela dificuldade do Governo Federal manter políticas permanentes de investimentos no setor, esses programas encontram-se atualmente desativados.
Instituições que elaboram projetos na área de desenvolvimento rural são o Ministério da Integração Nacional ? MIN, em convênio com os estados, o Departamento Nacional de Obras contra as Secas - DNOCS e a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco - CODEVASF (Quadro 3).
Segundo estudo técnico de apoio ao PBHSF, no Brasil, 61% da água captada é usada na agricultura e principalmente na irrigação. Por outro lado, dessa água captada apenas 50% é efetivamente utilizada pelas plantas. Os 50%restantes são perdidos na captação, armazenamento, distribuição e aplicação da água na irrigação. Portanto, existe um grande desperdício no uso da água na agricultura irrigada acarretando também como conseqüência desperdício de energia.


Quadro 3- Áreas com Infra-Estrutura, Ocupadas e em Produção nos Projetos Públicos de Irrigação (1)



Entidade Áreas (ha)

Empregos Gerados

População Beneficiada

VPB (1000 R$) (3)


Total Com Infra-estrutura

Ocupada

Produção
CODEVASF 334.239 131.983 113.830 75.848 363.540 484.720 990.476
DENOCS (2) 127.603 44.325 40.370 17.091 100.925 129.184 ND
MI 454.369 95.342
TOTAL 916.211 271.650 154.200 92.939 464.465 613.904
(1) Dados do ano 2000; (2) Dados preliminares do DNOCS; (3) VPB = Valor bruto da produção; Vazão correspondente à área total.

Neste trabalho daremos especial atenção à bacia do rio São Francisco, na qual está inserido o Projeto de irrigação tema de estudo. Desde suas nascentes até sua foz, esta bacia apresenta uma produção diversificada na agricultura, pecuária e aqüicultura. A partir da capacidade técnica e financeira do produtor e as potencialidades de cada região da bacia são produzidos desde grãos para subsistência até frutas para exportação; e criados animais em sistemas que vão do extensivo até sofisticados empreendimentos de confinamento e de aqüicultura, por exemplo. Contudo, apesar de existir uma infinidade de atividades rurais que possuam importância na bacia, a agricultura tem se destacado, muito embora atividades como a piscicultura e a criação de camarões e de animais de pequeno porte apresentem grande potencial de crescimento.
Embora a agricultura de sequeiro seja bastante utilizada nas áreas mais úmidas da bacia, há trechos onde a produção agrícola somente ocorre com o emprego de irrigação, constatando-se, deste modo, que a irrigação é utilizada em área de grande significado (mais de 340.000 há), ainda que este seja um número relativamente pequeno se considerarmos o total de terras agronomicamente aptas para irrigação na bacia do São Francisco, que ultrapassa os 20 milhões de hectares.
No São Francisco se desenvolve um dos mais importantes pólos brasileiros de agricultura irrigada ? o Pólo de Juazeiro-BA / Petrolina-PE ?, numa área total de mais de 45.000 ha, onde se produzem principalmente culturas de alto valor econômico, como é o caso das frutas para exportação.
Em termos de extensão contínua irrigada, destaca-se neste pólo o Perímetro de Irrigação Nilo Coelho, que tem 22.000 ha de terras sob irrigação e que produziu em 2000 cerca de 319 mil toneladas entre culturas temporárias e permanentes, auferindo receita bruta de R$ 126 milhões.
Além da implicação na melhoria da produtividade das culturas, os efeitos da agricultura irrigada na socioeconomia dessas duas cidades se fazem sentir sobremaneira nos setores industrial, comercial, de serviços e de infra-estrutura.
Ainda que a agricultura propicie grande geração de riqueza na região, problemas como a concentração de atividades econômicas em pólos ou a dificuldade do agricultor mais rudimentar em adaptar-se a uma agricultura mais tecnificada fazem com que ainda hoje sejam verificados em vários trechos da bacia indicadores socioeconômicos bem piores que a média nacional. Como resultado desse desequilíbrio, observa-se nas áreas mais pobres da região uma forte tendência de expulsão populacional, bem como uma expressiva pressão antrópica sobre o meio ambiente.
O desafio que se estabelece, então, é o de se programar para a bacia ações e investimentos que busquem, além do enriquecimento da região, a minimização das diferenças no campo, seja por meio de um incremento significativo na ocupação de novas áreas com irrigação em regiões mais pobres, seja através de um processo de inclusão e de habilitação de agricultores onde já exista agricultura irrigada de alto nível tecnológico.
Para que se reduzam as diferenças no campo, a agricultura irrigada praticada na bacia do São Francisco precisa ser ainda aprimorada nos aspectos relativos ao rendimento dos cultivares irrigados, aos tratamentos fitossanitários, à salinidade de solos, aos resíduos tóxicos na água e nos alimentos, à melhoria dos produtos de exportação, aos processos pós-colheita, aos estudos de mercado e comercialização, à tecnologia agroindustrial, à organização de produtores e à qualificação de pessoal. O País deve também avançar mais rapidamente na questão do manejo da irrigação, para que se propicie o uso racional da água nessa atividade. Deste modo, o estudo da agricultura irrigada deve se acontecer baseada em quatro pontos de extrema importância para o desenvolvimento das regiões inseridas em tal contexto: (1) sustentabilidade econômica, (2) sustentabilidade social, (3) sustentabilidade ambiental e (4) sustentabilidade político-institucional.
De acordo com a obra A Importância do Agronegócio da Irrigação para o Desenvolvimento do Nordeste, de responsabilidade do Banco do Nordeste, o cenário político-institucional de incentivo à irrigação no Brasil apresentou, até os dias de hoje, quatro fases distintas:
A primeira fase que vai da metade do último quartil do século XIX e a primeira metade da década de 60 do século XX, é marcada por ações isoladas e tópicas dos governos, apenas na esfera federal e voltadas para um público específico, não existindo a correspondente estrutura de políticas ou de programas nacionais.
A segunda fase iniciou-se com a criação do Grupo de Estudos Integrados de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola (GEIDA) no final dos anos 60 estendendo-se até o final da primeira metade dos anos 80, pautada pela ampliação do conhecimento global sobre os recursos naturais disponíveis e pela concepção e implementação de programas nacionais, como o Programa Plurianual de Irrigação (PPI).
Nesse período foram criadas oportunidades para atração da iniciativa privada para a atividade de irrigação e drenagem, por intermédio da concepção de lotes empresariais nos projetos públicos de irrigação. Este modelo foi consolidado no Projeto do I Plano Nacional de Irrigação, quando as ações foram comandadas pelo setor público, no entanto buscando o estímulo à iniciativa privada.
A criação do Programa de Irrigação do Nordeste (PROINE) e do Programa Nacional de Irrigação (PRONI) marcou o início da terceira fase que se iniciou em 1986, onde foi estabelecida uma divisão mais clara entre os papéis do setor público e da iniciativa privada no desenvolvimento de projetos de irrigação. O governo, por meio de prioridades estabelecidas em articulação com o setor privado, restringiu as suas ações à execução de obras coletivas de grande porte como, suporte hidráulico, elétrico, e macrodrenagem, enquanto que à iniciativa privada couberam as demais providências para a consecução dos projetos..
A quarta fase está caracterizada por um redirecionamento das várias iniciativas em irrigação postas em prática ao longo dos últimos 50 anos. Trata-se de uma nova orientação consubstanciada na Política Nacional de Irrigação e Drenagem, denominada, na fase executiva, "Projeto Novo Modelo de Irrigação".
Especificamente, a evolução da agricultura irrigada na região Nordeste e, conseqüentemente na bacia, está ligada aos seguintes aspectos e fatos:
? Na região Nordeste, a irrigação foi introduzida pelo Governo Federal e aparece vinculada ao abastecimento d?água no Semi-Árido e a planos de desenvolvimento do vale do São Francisco;
? Em 1906, foi criado o Instituto Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS);
? Em 1948, foi criada a Comissão do Vale do São Francisco (CVSF);
? Em 1949, o IFOCS é substituído pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS);
? Em 1967; a CVSF foi substituída pela SUVALE; e,
? Em 1974, a SUVALE é substituída pela CODEVASF.

































PARTE II ? MATERIAIS E MÉTODOS

CAPÍTULO III ? LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

CAPÍTULO IV ? MATERIAIS MÉTODO DE ABORDAGEM












CAPÍTULO III ? LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.1 Localização
O Projeto de irrigação Mirorós está localizado no Distrito de Mirorós, município de Ibipeba (BA), Baixada Serrana de Gentio do Ouro, microrregião de Irecê, numa área cortada pelo Rio Verde ? tributário do Rio São Francisco (Figuras 2 e 3).



FIGURA 2 - Mapa do Estado da Bahia ? SEI (2000)



FIGURA 3 - Mapa de Localização do município de Ibipeba Bahia ? SEI (2000)

Segundo a SEI-BA o Projeto Mirorós situa-se no Submédio São Francisco, à sua margem direita, sob as seguintes coordenadas:
? Ao Norte: 11º 17? (Latitude Sul)
? Ao Sul: 11º 30? (Latitude Sul)
? Ao Leste: 42º 12? (Longitude Oeste)
? Ao Oeste: 42º 21? (Longitude Oeste)
O rio Verde delimita longitudinalmente a área pelo seu limite Oeste, constituindo-se na divisão natural entre os municípios de Gentio do Ouro (a Oeste) e Ibipeba (a Leste), prosseguindo na direção Norte pelos municípios de Itaguaçú da Bahia e Xique-Xique.
O acesso rodoviário, a partir de Salvador, é feito pela BR ? 324 até Feira de Santana e, a partir desta até Irecê pela BA ? 052 (Estrada do Feijão), percorrendo-se 362 km. A partir de Irecê passa-se pelas localidades de Ibipeba, Iguitú e Angicos atingindo-se, então, Mirorós, num percurso de aproximadamente 100 km.
Por via aérea, tem-se o aeroporto de Irecê com capacidade de operar com aeronaves de médio porte. Além disso, existe um campo de pouso na Fazenda dos Alemães, próxima ao povoado de Mirorós, com capacidade para atender a aeronaves de pequeno porte. O aeroporto de Irecê não apresenta vôos comerciais regulares. A distância total da área até a capital do estado, por via rodoviária, é de aproximadamente 650 Km, dos quais 590 km são asfaltados (BR ? 324 a BA ? 052), e já está em fase de construção o asfalto da estrada que liga Ibipeba a Mirorós.

3.2 Características Técnicas do Projeto Mirorós

O Projeto Mirorós iniciou-se, de fato, em 1995, sendo inaugurado em 1997, após muitos anos de planejamento pelo governo estadual, juntamente com a CODEVASF ? Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. É vinculado à política de irrigação do Estado, que tem como norteador o Plano Estadual de Irrigação, desenvolvido pela Secretaria de Irrigação e Recursos Hídricos, Saneamento e Habitação ? SRHSH. Inaugurado em 1997, com uma extensão de 2.166 hectares (Figura 4), destina-se à exploração agrícola por empresários e pequenos produtores, objetivando, sobretudo, usar os recursos disponíveis para favorecer a diversificação da produção agrícola e agro-industrial, permitindo o desenvolvimento do "agrobusiness".
Esta área irrigável está dividida em 23 módulos empresariais ? com uma extensão que varia de 20 a 50 hectares; 200 lotes, destinados aos pequenos produtores e técnicos em Ciências Agrárias, também chamados de lotes coloniais ? com uma extensão de 5 hectares; além de oferecer, ainda 48 lotes de sequeiro destinados à agropecuária com 1064 hectares (Quadro 4). Os lotes empresariais foram vendidos através de licitação publica, e os lotes coloniais através de seleção.
A superfície de 2.166 hectares encontra-se em processo de ocupação, já sendo explorada por 150 pequenos irrigantes em 786 hectares, 18 empresas em 822 hectares e 2 técnicos de ciências agrárias, em 30 hectares. Há uma área reservada para o Projeto Amanhã.
Os principais cultivos são: abóbora, banana, beterraba, cana-de-açúcar, cebola, cenoura, coco, feijão, manga, maracujá, melancia, milho, pimentão, pinha e tomate. Os métodos de irrigação empregados são aspersão e microaspersão.
Grande parte dos produtores trabalha com o sistema de irrigação por aspersão convencional. Entretanto, tem se acentuado o uso da irrigação por microaspersão, tendo em vista o reduzido gasto da água, o que implica em redução de custos para os produtores, sobretudo os de pequeno porte.




FIGURA 4 - Croqui do Projeto Mirorós. FONTE: CODEVASF (2004).







Quadro 4 - DISTRIBUIÇÃO DA ÁREA DO PROJETO DE ACORDO COM A QUALIFICAÇÃO DOS PROPRIETÁRIOS E O USO DA ÁREA

SETOR NÚMERO DE LOTES ÁREA
PEQUENOS PRODUTORES TÉCNICOS AGRÍCOLAS ENGENHEIROS AGRÔNOMOS LOTES RESERVA LEGAL
I 5 5 273,28 259,94
II 34 2 3 249,76 237,71
III 34 8 4 329,10 313,07
IV 24 5 3 224,07 213,61
V 32 2 4 258,41 246,04
TOTAL 150 22 19 1.334,62 1.270,37

FONTE: Equipe Técnica do Distrito de Irrigação do Projeto Mirorós ? CODEVASF/ATIVOS ENGENHRIA (2004)

De acordo com dados da CODEVASF (2005), há hoje na área de estudo quatro classes de uso do solo: uso agrícola, vegetação natural, solo exposto e áreas alagadas, o que torna a espacialização das classes de uso do solo o objetivo principal deste estudo.

3.2.1 Aspectos Sociais

O projeto de irrigação constitui-se num pólo de crescimento para o município, haja vista a geração de emprego e renda para o mesmo. De um modo geral pode-se dizer que o Distrito de Mirorós é, atualmente, uma outra cidade dentro do município de Ibipeba, tendo em vista toda a infra-estrutura implantada para atender à demanda da CODEVASF ? Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco ? e do sistema de irrigação. Atualmente há um fluxo muito grande de visitantes no Distrito por conta das necessidades de mão-de-obra especializada para a manutenção do projeto de irrigação, além deste ter se tornado objeto de estudo para muitos pesquisadores. Isso faz com que a comunidade tenha uma vida social independente da sede do município, o que proporciona uma grande interação entre a comunidade e os seus visitantes, resultando num bom nível de crescimento.



3.2.2 Climatologia

Localizado numa área de clima semi-árido se caracteriza principalmente pela distribuição irregular das chuvas e pelo bioma nativo caatinga, típico de regiões secas. A precipitação pluviométrica média anual é de 621 mm, com as chuvas, geralmente, concentradas em cinco meses (novembro a março). Com uma evapotranspiração potencial médio, segundo Hargreaves (1976), para o posto de Xique-Xique, da ordem de 2.011 mm anuais, o déficit hídrico médio é de 1.390 mm/ano.
Segundo a classificação de Koppen, o clima da região é do tipo BSw"h?, isto é, um clima muito quente e semi-árido, tipo estepe, com temperatura média do mês mais frio superior a 18ºC. De acordo com a classificação de Gaussen, o clima é típico de região xeroquimênica, com 5 a 6 meses secos, enquadrando-se na sub-região 4bTh, tropical quente, de seca de inverno na modalidade caráter médio, e índice xerotérmico entre 50 e 100.
Com base em dados da estação de Irecê, a temperatura média anual da região fica em torno de 23ºC, não havendo significativas variações ao longo do ano. O período de outubro a dezembro é o mais quente do ano, e o período mais frio compreende os meses de junho, julho e agosto. As máximas absolutas ficam em torno de 35ºC, e as mínimas absolutas oscilam ao redor de 11ºC.

3.2.3 Pluviosidade

A precipitação media anual é em trono de 621 mm, existindo uma acentuada diferenciação entre os períodos seco e úmido. O período mais chuvoso corresponde ao trimestre novembro/dezembro/janeiro e o período mais seco corresponde aos meses de junho, julho e agosto, o que mostra que cerca de 84% da precipitação total anual concentra-se em apenas cinco meses do ano ? novembro a março ? enquanto nos meses mais secos ? maio a setembro ? tem-se apenas 3% do total da precipitação. Já os meses de abril e outubro constituem uma interface entre os períodos opostos, detendo cerca de 13% da precipitação média anual.

3.2.4 Pedologia
De acordo com a HYDROS (1986), a partir dos materiais diversificados da cobertura inconsolidada, constituintes do pediplano que caracteriza a maior parte da área do Projeto Mirorós, desenvolveram-se solos também bastante diferenciados, principalmente quanto ás suas características físicas e químicas. No levantamento feito em uma área de 7.547 hectares, com o objetivo de definir as terras irrigáveis do Projeto, foram identificadas as seguintes classes:
? Latossolo Vermelho (LV) ou Latossolo Vermelho-Amarelo (LV) ? com horizonte B profundo a muito profundo, eutróficos ou distróficos e com textura que varia de média a argilosa, ocupando 55% da área estudada;
? Luvissolo Crômico (TC) com horizonte B textural profundos, bem drenados e ocupa 13,1% da área levantada;
? Cambissolo Háplico (CX) com horizonte B incipiente, moderadamente drenado, argiloso, eutróficos, neutros a alcalinos, ocupando 24,3% da área de estudo;
? Areias Quartzosas Distróficas (atual Neossolos Quartzarênico ? Embrapa (1999)) solos pouco desenvolvidos, extremamente arenosos, profundos, excessivamente drenados e com baixa capacidade de retenção de umidade, ocupando cerca de 1,3% da área.

3.2.5 Geomorfologia

Na planície de inundação do rio Verde são encontrados solos pouco desenvolvidos, formados a partir de sedimentos recentes de origem aluvial, apresentando um horizonte A com texturas variáveis, assentado diretamente sobre camadas estratificadas sem relações pedogenéticas entre si, classificados como solos aluviais.
Nas encostas íngremes das serras do Salitre e de Mirorós, onde localizam-se as ombreiras da barragem de Mirorós, que represa as águas do rio Verde, predominam os solos Neossolos Litólicos desenvolvidos a partir de quartizitos e/ou metassiltitos.
A área do Projeto Mirorós está situada junto ao rio Verde, pela sua margem direita, desde a garganta formada entre as serras de Mirorós e Salitre, onde se localiza a barragem, até pouco a jusante da foz do riacho Vereda, abarcando ainda o trecho final deste riacho pela sua margem esquerda.
O terreno está situado numa superfície pediplanada, com altitudes de 465 a 530 metros e declividades muito baixas, inferiores a 10%. Terrenos mais elevados e mais íngremes correspondem a relevos residuais em meio ao pediplano, geralmente constituídos por calcários ou, para além do perímetro irrigado, pelas serras quartizíticas com a que está assentada a barragem e a reserva legal, que alcança altitudes de até 800 metros.

3.2.6 Geologia
A bacia hidrográfica do rio Verde está inserida no contexto geológico da Chapada Diamantina ? Região Central da Bahia. De acordo com MARINHO (1977), destacam-se três grandes unidades na região, do ponto de vista paleográfico: o substrato cristalino (Grupo Caraíba); o substrato quartizítico (Grupo Chapada Diamantina) e a cobertura (Grupo Bambuí).
Para RIBEIRO (1985), na microrregião de Irecê predominam as litologias do Grupo Bambuí, formadas por rochas antigas com idade de 500-630 milhões de anos do Pré-Cambriano Superior.
A composição mineralógica demonstra uma predominância do carbonato de cálcio, superior a 90%, seguido por uma pequena quantidade de magnésio (<2%). Teores muito baixos de alumínio-silicatos (1,5%) e quartzo, além de 2% de carbono e pequenas quantidades de sulfatos, que juntamente com a matéria orgânica dão a cor preta à rocha. (SILVA, 1977).

3.2.7 Vegetação
Nesta área, associadas com distintas classes de solos, identificaram-se as seguintes unidades de vegetação:
? Caatinga Alta (Floresta)
? Caatinga Arbórea Aberta
? Caatinga Baixa com Escrube Denso
? Floresta Aberta de Galeria
? Ecossistemas Lacustres
CAPÍTULO IV ? MATERIAIS E MÉTODO DE ABORDAGEM

4.1 Materiais

Na realização desta pesquisa foram utilizados os seguintes materiais:
? Computadores pessoais e do laboratório de Geociências ? para o armazenamento de todos os dados digitais deste trabalho;
? Software: Envi 3.5 ? para o processamento digital de imagens; Arc View 3.3 ? para a digitalização de vetores e elaboração, vetorização da carta imagem e produção do mapa de uso e ocupação do solo; Word ? para digitar o texto, integrar as figuras e tabelas.
? Imagem Landsat 5 ETM+ de 22/10/2002, cena 218/68;
? Câmera fotográfica digital.

4.2 Método de Abordagem

Para o desenvolvimento deste trabalho monográfico foram realizadas quatro etapas fundamentais: revisão bibliográfica, levantamento de dados, campo e processamento digital de imagens, obtendo como produto final o mapa atual de uso e ocupação do solo (Figura 5).
A revisão bibliográfica refere-se à Área de Estudo, a trabalhos desenvolvidos dentro desta linha de pesquisa, ao Processamento Digital de Imagens e ao processo de uso e ocupação do solo, a partir dos quais foram elaborados textos que serve como subsídios para a fundamentação teórica do texto monográfico.
O levantamento dos dados sobre o Projeto Mirorós se deu a partir de estudos anteriores, realizados pela CODEVASF ? Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba ? e com visitas de campo que servem também para a validação e atualização dos dados.
Formou-se um banco de dados que se baseia em informações extraídas do Estudo Pedológico Detalhado ? Rio Verde-Jacaré Zonas de Mirorós, realizado em 1986, de onde se obtém informações acerca da localização das trincheiras e tradagens; tipo de solo e uso do solo. A partir destes dados de períodos anteriores, voltou-se a alguns pontos para a geração de um banco de dados onde se encontra os mesmos atributos, porém com informações atualizadas.
A visita de campo foi feita com o auxílio do GPS de navegação para a marcação dos pontos. Contudo, não foi possível encontrar muitas trincheiras, tendo em vista que o GPS de navegação tem menor precisão quanto à marcação dos pontos e, ainda, por conta de que algumas destas trincheiras já se encontram em área de Reserva Legal da CODEVASF ? Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, com caatinga fechada de difícil acesso, não sendo possível, portanto, a utilização dos dados obtidos em campo para a validação da classificação da imagem.
Deste modo, o campo serviu para o reconhecimento da área e a aplicação de um questionário socioeconômico, através do qual pode-se perceber as condições sociais sob as quais vivem a população do Distrito de Mirorós, bem como as condições estruturais do Projeto de Irrigação e ainda as condições econômicas dos proprietários de lotes de irrigação e quais o reflexos financeiros para o comércio local.
O processamento digital de imagens se baseia em três fases: pré-processamento; processamento e digitalização. O pré-processamento consiste basicamente no recorte da área; no processamento foram feitos composição colorida, realce, classificação supervisionada e classificação não supervisionada, para assim obtivesse a carta imagem. Foram testadas diferentes composições coloridas.
A fase de pós-classificação trata-se da vetorização das imagens para que assim fossem gerados uma carta imagem e o posterior mapa de uso e ocupação do solo. Este mapeamento baseia-se em imagem do ano de 2002, contudo será traçado ainda um comparativo com dados de 2006, tendo em vista que a visita de campo foi realizada em janeiro de 2006, o que nos permite perceber a existência, ou não, de alterações nas classes de uso e ocupação do solo. Assim, a classificação e a pós-classificação é o marco deste trabalho, tendo em vista que o mapeamento se deu basicamente por meio destes.













Figura 5 - Fluxograma Metodológico da pesquisa.























PARTE III ? RESULTADOS E DISCUSSÕES

CAPÍTULO V ? RESULTADOS E DISCUSSÕES















CAPÍTULO V ? RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo apresentamos as discussões a cerca dos resultados obtidos a partir do processamento digital de imagens para obtermos o mapa de uso e ocupação do solo, bem como o resultado da análise do questionário socioeconômico que foi respondido por moradores do Distrito de Mirorós, trabalhadores rurais, comerciante e proprietários. A Abordagem seguirá o fluxograma metodológico proposto na figura 5.

5.1 ? Revisão bibliográfica

Essa etapa permeou todo o período da pesquisa, e pode melhor ser observado no capítulo 2 dessa monografia.

5.2 ? Processamento digital de imagem

5.2.1 - Pré-Processamento

Por se tratar de uma imagem georreferenciada, não se fez necessário a correção geométrica da mesma, bem como por ser uma área relativamente pequena, não utilizamos toda a cena (218/68), sendo necessário fazer nesta fase apenas o Recorte da área de Estudo e a Composição Colorida Falsa Cor RGB (Figura 6).
Para a Composição Colorida foram feitos diversos testes com as diferentes bandas, distribuindo-as nos canais RGB, com o intuito de obter maior realce a que chamamos de visível. A combinação de bandas que foi mais favorável ao estudo foi formada pelas bandas 5,4,3, respectivamente nos canais RGB, escolhida a partir de vários testes e da geração das estatísticas das imagens, tendo esta sido a melhor combinação tanto visualmente quanto numericamente.
As melhores respostas visuais foram obtidas através da combinação 5,4,3, tendo assim optado por este tripleto, haja vista que nos dar a melhor resposta visual para a diferenciação das diversas classes de uso e ocupação do solo, tais como: espelho d?água, vegetação, solo exposto, uso ordenado, uso desordenado e pastagem com fazendas improdutivas.

Figura 6 - Recorte da Área na Combinação RGB ? 5, 4, 3
5.2.2 Processamento
? Classificação
A classificação não supervisionada Isodata (figura 7) e K-means (figura 8), foram realizadas com a interação mínima de 5 classes e máxima de 20 classes. Ambas nos auxiliou na exploração da imagem no que diz respeito a inferências associando estas classificações com a composição colorida falsa cor RGB, contudo, não nos deu informações precisas para que de fosse possível determinar as principais classes de uso e ocupação do solo.
Deste modo, optou-se por testar a classificação supervisionada por mínima distancia(figura 9) e Mahalanobis Distance (figura 10), definindo regiões de interesse, a partir de pontos de controle obtidos em campo através de observação e interpretação da composição RGB (figura 6), optando-se por utilizar para a elaboração do mapa de uso e ocupação do solo a classificação supervisionada por mínima distância, por ter sido esta uma classificação mais segura e controlada que satisfez o nosso objetivo.

? Pós Classificação
Com a carta imagem resultante da classificação por mínima distancia, fizemos o trabalho de editar as classes, nomeá-las definitivamente, eleger um padrão de cores e inserir escala, coordenadas geográficas, enfim produzir o mapa final. Optamos por usar a classificação obtida sem nenhum filtro, uma vez que julgamos ser esta forma a que deu melhor resposta visual.











Figura 7 ? Classificação não supervisionada Isodata.

Figura 8 ? Classificação não supervisionada K-Means.


Figura 9 ? Classificação Supervisionada por Mínima Distância.


Figura 10 ? Classificação Supervisionada por Mahalanobis Distance.
5.3 Mapa de uso e ocupação do solo do perímetro irrigado de Mirorós

Conforme mostra o mapa de uso e ocupação do solo (figura11), os solos tem sido utilizado intensivamente para a agricultura, sobretudo agricultura irrigada, o que resulta no intenso desmatamento do bioma nativo caatinga. Deste modo, a caatinga original é encontrada somente na área de reserva ambiental da CODEVASF.
Neste mapa, apresentamos cinco classes de uso e ocupação do solo, tais como:
(i) Água: Barragem de Mirorós que, serve de fonte para a irrigação, bem como para o fornecimento de água potável para toda a microrregião de Irecê, através da Adutora do Feijão;
(ii) Vegetação densa: formada por caatinga original, cobrindo apenas uma pequena parte da área, tendo em vista o alto índice de desmatamento para uso agrícola;
(iii) Vegetação Rasteira: cobre as áreas desmatadas e em muitos momentos se confunde com pastagem, por se localizar em áreas de fazendas improdutivas, resultantes da predominância do latifúndio que teve considerável redução após a implantação da agricultura irrigada;
(iv) Uso Ordenado, que é, em verdade, toda a área do Projeto Mirorós, que se divide em lotes de irrigação e sequeiro;
(v) Uso Desordenado, que consiste em áreas onde não há um uso contínuo e planejado do solo, coincidindo, na maioria das vezes, com os afloramentos rochosos da região e áreas de solo exposto.





Figura 11 - Mapa de Uso e Ocupação do Solo












5.4 - Impactos Socioeconômicos

Pela independência do regime pluvial a agricultura irrigada é o tipo mais avançado do processo de produção agrícola, sendo uma organização mais produtiva em termos técnicos e um processo de produção mais capitalizado (ABLAS, 1989). Desta forma, a irrigação tem um componente modernizador e indutor do desenvolvimento regional, uma vez que, em sentido estrito, possibilita atender à fisiologia do vegetal, a umidade de que carecem as plantas para seu desenvolvimento. E, em sentido amplo, no aqui considerado, acompanha modificações em outros aspectos da vida social. Isso ocorre por conta de que a tecnologia tem um efeito reestruturante sobre o ambiente social e natural, pois implica uma reestruturação fundiária, dos recursos aquáticos, no estabelecimento de novas relações de produção, organização do trabalho, técnicas de produção.
Segundo a CODEVASF, o Projeto Mirorós tem por objetivo aumentar a produção de alimentos e matérias-primas, reduzir os efeitos das adversidades climáticas e aumentar as oportunidades de emprego e renda, tratando-se, portanto, de um conjunto técnico-econômico. Teoricamente a agricultura irrigada eleva o domínio humano sobre a natureza, uma vez que reduz a dependência das variações climáticas e do regime de chuvas; permite o uso intensivo da terra, possibilitando o cultivo durante todo o ano e níveis mais elevados de rendimento por área cultivada; aumenta os postos de trabalho; proporciona uma série de investimentos induzidos em outros setores; modifica as relações de produção elevando a subordinação da força de trabalho ao capital; e aumenta a dependência do agricultor com relação ao financiamento bancário. Deste modo, pode-se dizer que a agricultura irrigada contribui para o processo de desenvolvimento regional e pressupõe a elevação da escala em que se dá a produção e conseqüente evolução das forças produtivas.
Para o diagnóstico da realidade sócio econômica da comunidade do Distrito de Mirorós levantaram-se pontos tais como: (i) ocupação e habitação; (ii) sexo e faixa etária dos proprietários; (iii) grau de escolaridade dos proprietários; (iv) mão-de-obra gerada; (v) comercialização da produção; (vi) situação creditícia; e (vii) principais problemas e maiores dificuldades enfrentadas nos lotes.
De acordo com o levantamento dos dados, 72,7% dos proprietários de lotes de irrigação moram no distrito de Mirorós, enquanto apenas 11,4% dos proprietários residem nos lotes de irrigação. Isso ocorre por conta da falta de energia elétrica e de água tratada para o consumo humano nos lotes agrícolas.
A participação das mulheres é ainda incipiente por conta da estrutura social machista na qual está inserida esta comunidade, onde prover o sustento familiar ainda é papel exclusivo do sexo masculino. Contudo, a participação dos jovens entre 20 e 30 anos, tem se acentuado nos últimos tempos, sobretudo com a participação de filhos e esposas dos proprietários ajudando nas atividades diárias devido à falta de capital para a contratação de mão-de-obra.
De acordo com as informações dadas pelos trabalhadores, a necessidade de mão-de-obra é intensa, contudo a contratação dos serviços geralmente é feita pelo regime de diarista ou empreitada, sendo que muitas vezes é empregada a mão-de-obra familiar, por conta da falta de crédito agrícola para os pequenos agricultores.
Os trabalhadores não possuem nenhum vínculo empregatício com os seus patrões, e poucos participam do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, procurando esta entidade apenas nos momentos em que precisam reivindicar os seus direitos de Segurado Especial junto à Previdência Social. Contudo, apesar do grande emprego da mão-de-obra familiar observou-se o aumento dos postos de trabalho que antes oscilava em torno de 1000, segundo o Ministro do Trabalho, e atualmente está em torno de 5.600, sendo que destes apenas 1,7% representam postos de trabalho permanente, sendo o percentual restante preenchido com a contratação temporária da mão-de-obra.
Apesar das insistentes tentativas da CODEVASF ? Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba ? para formar associação ou cooperativa de produtores com o objetivo de facilitar o escoamento da produção, não existe nenhuma organização deste gênero. Segundo os proprietários isso ocorre por conta da desunião do grupo constituindo-se num empecilho para a formação e o funcionamento de uma associação. Deste modo, os atravessadores se utilizam da falta de estrutura dos produtores para ditar as regras do mercado não existindo transparência e discussões a respeito da comercialização dos produtos.
De acordo com os proprietários, as maiores dificuldades são a comercialização dos produtos por conta da falta de organização dos produtores para o escoamento da produção e as péssimas condições das estradas de acesso ao Perímetro de irrigação, ficando, deste modo, a mercê dos atravessadores; e o acesso ao crédito agrícola. é dificultado pelas restrições impostas pelo Governo Federal, ou por fazer exigências burocráticas às quais os produtores não podem atender, ou por liberar valores ínfimos que não cobre os custos da agricultura irrigada. Aliado a isso, tem-se ainda a falta de infra-estrutura do Perímetro Irrigado de Mirorós, como a falta de Luz Elétrica nos lotes de irrigação e a falta de água tratada nos lotes de irrigação e no Distrito de Mirorós.
A implantação da agricultura irrigada no Distrito de Mirorós se constituiu num elemento modificador do modo de vida dos produtores e trabalhadores rurais, assim como da população residente nesta comunidade.
O baixo uso de maquinas agrícolas, agroquímicos, irrigação, financiamento e assistência técnica era característica dos agricultores desta área. Os agricultores possuíam uma base econômica muito simples e com relativa autonomia para escolher "o que" e "como" produzir. Fazia pouco uso do dinheiro e por conta disso não eram tão dependentes de financiamento bancário.
O Projeto Mirorós foi feito com o objetivo de alterar tal base de forma a incrementar os índices de produção, produtividade e, consequentemente, a renda per capita, uma vez que o investimento na irrigação aliado ao desenvolvimento de pesquisa, assistência técnica, aperfeiçoamento e agroindústria, dinamizaria as subestruturas econômicas, criando pólo de agronegócio e induzindo ao desenvolvimento regional.
Numa região com aparente excesso de força de trabalho, o acesso à terra no modelo de agricultura familiar constituiu fator importante para melhorar as condições econômicas da população local, uma vez que possibilitou o aumento da geração de emprego e renda, aumento da circulação de capital, e a formação de um proletariado rural.
Em termos gerais, a irrigação possui um componente indutor de desenvolvimento regional. Contudo, quando se analisa o desempenho do Projeto Mirorós, observa-se uma série de problemas que impossibilita o desenvolvimento econômico, tendo possibilitado, até o momento, apenas um modesto crescimento econômico em conseqüência do aumento da circulação de capital.
O Estado buscava incrementar os índices de produtividade na região, elevar o nível tecnológico, criar postos de trabalho e dinamizar as demais subestruturas econômicas, entretanto isso por si só não é suficiente para promover o desenvolvimento, uma vez que não planejou a melhoria das condições de vida da população.
Assim, pode-se dizer que o Projeto Mirorós apresenta um potencial em termos de geração de empregos e aumento das relações capitalistas no campo, contudo não representa um instrumento de desenvolvimento regional tendo em vista que não tem propiciado reais melhorias nas condições de vida da população local.




























PARTE IV ? CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

CAPÍTULO VII ? CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
















CAPÍTULO VI ? CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Apesar da grande representatividade sócio-econômica deste projeto, enquanto agente dinamizador da circulação de capital e geração de postos de trabalho é notória a ausência de uma organização que possa permitir aos produtores um escoamento da produção de maneira lucrativa, uma vez que este processo acontece através de "atravessadores" que ditam o preço sem levar em consideração importantes fatores, tais como controle de qualidade e a cotação no mercado produtivo, entre outros.
Segundo a equipe técnica da CODEVASF, a ausência de um programa de apoio aos pequenos produtores, por parte do poder público municipal, é um empecilho para o melhor desenvolvimento desta área, uma vez que por se tratar de um grupo com alto índice de analfabetismo, a equipe se depara com a excessiva falta de conhecimento e confiança nas suas orientações, o que poderia ser minimizado se houvesse uma pareceria com a administração municipal que tem maior proximidade e relações afetivas com a comunidade.
Apesar de toda a estrutura implantada para garantir o funcionamento do projeto, há dois fatos que causam estranheza: (i) apesar da Barragem Manoel Novais1 ser fonte de água potável para todo o Baixio de Irecê, a comunidade de Mirorós não dispõe de uma estação de tratamento de água, o que se constitui num grande problema de saúde pública, uma vez que a água do rio está sujeita aos mais diversos tipos de poluentes, como produtos químicos e coliformes fecais; (ii) não foi implantado nos setores irrigados nenhuma estrutura de iluminação elétrica, sendo que apenas os lotes empresariais possuem este tipo de estrutura adquirida com recursos próprios. Todavia, segundo a CODEVASF há uma previsão para a instalação de luz elétrica, no próximo ano, em pelo menos 144 lotes, através do Programa Luz Para Todos do Governo Federal.
Com a implantação da agricultura irrigada houve consideráveis mudanças no processo de uso e ocupação do solo, haja vista que há uma mobilização de capital com a conseqüente redistribuição de renda e desconcentração da propriedade da terra. Anteriormente predominava os grandes latifúndios, geralmente improdutivos, com safras pouco lucrativas, uma vez que estava a mercê das condições de semi-aridez.
A partir da agricultura irrigada houve um redimensionamento do uso e ocupação do solo e a conseqüente valorização das terras, o que acabou por modificar e estratificar o bioma nativo caatinga. Assim, pode-se dizer que o ecossistema sofreu significantes modificações que resultou em mudanças nas suas feições, mudanças no regime das águas do rio, uma vez que com o represamento da água há variações no volume de água do rio, não tendo sido, contudo, percebido redução significativa na vazão do rio no seu leito abaixo da barragem, porém acima da barragem é percebido uma variação significativa no volume d?água, o que é resolvido com o bombeamento da água, haja vista que 0,25 m3/s são destinados para a perenização e revitalização da Bacia do rio Verde.
Com a agricultura irrigada houve também o aumento significativo do uso de defensivos agrícolas, o que causou à CODEVASF uma preocupação quanto ao controle do uso e o descarte das embalagens. Atualmente é feito um acompanhamento permanente por parte dos Engenheiros Agrônomos e Técnicos Agrícolas quanto ao tipo de defensivo e a dosagem a ser aplicada e, ainda, o descarte correto das embalagens, com estações de inutilização e recolhimento das mesmas, numa tentativa de preservar a vida humana, bem como minimizar a degradação dos solos e a variação da qualidade da água.
No que diz respeito à infra-estrutura de implantação da técnica de irrigação, pode-se dizer que este projeto atende às necessidades e exigências deste tipo de tecnologia, contudo quando se trata de desenvolvimento social o Projeto Mirorós está muito aquém de um pólo de desenvolvimento econômico, tendo em vista que tem propiciado apenas o crescimento econômico em detrimento da melhoria das condições de vida da população. Tal deficiência ocorre não apenas por conta da falta de planejamento estratégico do Governo Estadual para o desenvolvimento econômico do município, mas, também, por conta da quase total ausência do poder público municipal enquanto parceiro do desenvolvimento social.







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