UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – LICENCIATURA

MAPEAMENTO DAS REFERÊNCIAS CULTURAIS IMATERIAIS CONTIDAS NAS FOTOGRAFIAS DO PESQUISADOR JESCO VON PUTTKAMER

ROBERTA RODRIGUES DE SOUSA GÓES

Goiânia - GO,

Março de 2013

ROBERTA RODRIGUES DE SOUSA GÓES

MAPEAMENTO DAS REFERÊNCIAS CULTURAIS IMATERIAS CONTIDAS NAS FOTOGRAFIAS DO PESQUISADOR JESCO VON PUTTKAMER

Projeto de Pesquisa apresentado à Faculdade de Ciências Sociais como requisito básico da Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, para a obtenção do títuloCiências Sociais - Licenciatura.

Orientador: Profa. Dra. Izabela Maria Tamazo

Goiânia - GO,

Março de 2013

 

Banca Examinadora

 

 

 

 

Profa. Dra. Izabela Maria Tamaso – Universidade Federal de Goiás/ FCS

 

 

 

 

 

 

Prof. Dra. Nei Clara de Lima - Universidade Federal de Goiás/ FCS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goiânia 2013

 

 

SUMÁRIO

 

 

1. INTRODUÇÃO – TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO ......................................... 03

 

2. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 05

 

3. OBJETIVOS ............................................................................................................ 06

3.1 GERAL ......................................................................................................... 07

3.2 ESPECÍFICOS .............................................................................................. 07

4. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 08

 

5. METODOLOGIA DA PESQUISA .......................................................................... 11

 

6. CRONOGRAMA ....................................................................................................... 14

 

7. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 15

 

8. ANEXOS.......................................................................................................................17

 

 


 


  1. 1.      INTRODUÇÃO

A tarefa que este projeto de pesquisa se impõe é a de refletir sobre as informações referentes a patrimônio imaterial contidas no material fotográfico do pesquisador Jesco Von Puttkamer[1]. Para essa pesquisa propõe-se a seleção das fotografias com base no acervo pessoal do pesquisador Acary de Passos Oliveira[2], sob guarda do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (MA-UFG). 

Sob uma perspectiva gerencial e sistêmica, pretende-se mapear e inventariar as informações sobre referências culturais imateriais incorporadas nas fotografias de Jesco Von Puttkamer. Analisaremos a relação que as referências culturais têm com os lugares e a freqüência de suas ocorrências com base no Método proposto pelo INRC (Inventario Nacional de Referências Culturais), que se constitui hoje um dos principais instrumentos para a identificação e documentação de bens culturais na atual política de valorização do patrimônio imaterial, originada pelo decreto 3551 de 4 de agosto de 2000.

O referido método, idealizado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN[3] foi, sob vários aspectos, extremamente importante no que diz respeito à seguridade dos bens e saberes culturais. Envolve questões relacionadas aos direitos de propriedade intelectual, ao uso de informações sobre a repartição de benefícios com as comunidades detentoras do saber e ao uso sustentável, incluindo a preservação de monumentos históricos e sítios arqueológicos. Em sua essência, o método propicia uma historicidade no processo de transformação e de preservação das referências culturais, as quais são manifestadas tradicionalmente por meio das expressões coletivas e das construções sócio-culturais que compõem o universo simbólico dos grupos e indivíduos.

Evidenciaremos então, por meio do Mapeamento, as categorias patrimoniais existentes no acervo fotográfico — celebrações, formas de expressão, modos de fazer, lugares e saberes. Como toda constituição do pensamento intelectual, que busca compreender o papel do pesquisador na pesquisa de campo -  através de meios teóricos, práticos e metodológicos que possam assim transformar o universo da pesquisa, possibilitando e reinventando novas formas de pesquisar - busca-se ainda, salvaguardar aspectos que remetem à historicidade e à produção de conhecimento.

Desde 1988, a política de Patrimônio cultural brasileiro, através da promulgação Federal dos artigos 215 e 216, estabeleceu a noção de que o patrimônio cultural brasileiro compõe-se de bens de natureza material e imaterial, abrangendo o universo simbólico dos modos de criar, fazer e viver dos grupos formadores da sociedade com base no conceito “antropológico de cultura” e nas ideias de “dinâmica” e “referência cultural”.  A noção de bem cultural de natureza imaterial que se refere às criações culturais fundamentadas na tradição foi implementada às políticas de salvaguarda somente em 1997, estimulando a criação do Decreto nº 3551, que funda o programa nacional do patrimônio imaterial e o sistema de registro de bens culturais de natureza imaterial pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN (CASTRO, Maria. 2008)[4].

Acreditamos que a fotografia, agregada de forma envolvente no âmbito do universo documental e como parte integrante das construções culturais, permitirá uma melhor compreensão dos aspectos imateriais contidos na representação das imagens. Esperamos, principalmente, obter subsídios para compreender como certas narrativas profissionais foram produzidas e como isso resulta em intenso diálogo, envolvendo imaginação e autoridade intelectual.

As imagens feitas por Jesco Von Puttkamer, que por quase 40 anos dedicou-se à arte de fotografar, filmar, gravar e registrar em seus diários o cotidiano de grupos indígenas, sofreram influencias de sua fase indigenista – que teve início com as viagens que realizou pelo interior do país e seus encontros com os índios, no início da década de 1960. A maioria desse acervo encontra-se no Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia (IGPA) e no centro cultural[5] que leva seu nome. Entretanto, uma pequena parte de suas fotografias foram encontradas unidas ao acervo pessoal de seu amigo intimo e profissional, Professor Acary de Passos Oliveira. Esses documentos foram doados recentemente pelos familiares de Acary ao Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás, do qual o professor Acary foi um dos fundadores e primeiro diretor.

O ato dessa doação e da história que o professor teve com a instituição, estimulou o desenvolvimento de um projeto de pesquisa com o título Imagens e Relatos de um Sertão Desconhecido[6], que encontra-se em andamento. A equipe reúne professores do curso de museologia, bolsistas das áreas de Ciências Sociais, Museologia e História e profissionais vinculados ao Museu Antropológico. O projeto, realizado no MA-UFG, é vinculado à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFG (PRPPG) e financiado pela Fundação de Apoio a Pesquisa na UFG (FUNAPE). A proposta é proporcionar o tratamento e o acondicionamento adequado a todos os documentos que compõem o acervo, constituído por materiais bibliográficos, iconográficos, jornais, revistas e diários de campo, com a proposta de organizá-los, catalogá-los e disponibilizá-los através de um sistema de software desenvolvido para o Museu Antropológico com o intuito de sistematizar os dados.

Um dos objetivos deste projeto, aqui apresentado, é identificar as fotografias de Jesco Von Puttkamer contidas no acervo do Professor Acary, e posteriormente mapeá-las, selecionando as que remetem a informações relacionadas ao patrimônio imaterial dos grupos representados por meio dessas imagens. Acredita-se que a partir dessa primeira etapa contemplada nesta proposta, há vários outros desdobramentos possíveis que poderiam ser desenvolvidos em etapas posteriores, tais como a sistematização em categorias, a elaboração de um software que abrigue esses dados, a disponibilização dessas informações a pesquisadores que tenham interesse em analisá-las e estudá-las e divulgação ao público em geral dessas informações.

Ao desígnio desse estudo, pretende-se corroborar a real importância da preservação da memória, de fatos pessoas ou ideias, na intenção de contribuir para a compreensão de um conjunto de atribuições empreendidas pelo viés do caráter coletivo. Nesse contexto, o mapeamento, de tais categorias poderá contribuir para a proteção dos bens patrimoniais e favorecer reconstruções históricas nacionais e regionais que abarcam tanto a pesquisa documental, quanto a memória e a identidade.

  1. 2.      JUSTIFICATIVA

No Brasil, o pensamento sobre a institucionalização do patrimônio cultural tem como baliza a década de 30, quando o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) foi estabelecido. Nesse momento, o tombamento permaneceu com aparelho legal e oficial de preservação que se restringe ao plano somente dos bens materiais. Mário de Andrade então, elaborou em 1936, um modelo que expandiu o campo do patrimônio abrangendo também as produções culturais populares.

Apenas na década de 1970, inicia-se a introdução do conhecimento das “referências culturais” no campo do patrimônio cultural. Ao que se compreende hoje, sobre a ideia de patrimônio cultural imaterial brasileiro de acordo com o Instituto de Patrimônio Histórico  e Artístico Nacional (IPHAN) diante da Lei 3.551, de 4/08/00, destaca-se categoricamente, os saberes, ofícios, festas, rituais, expressões lúdicas e artísticas, que, integrados a vida social configuram-se como sistemas constitutivos das categorias identitárias. Como, (VIANNA, 2001, p. 96 e 97):

“Nos artigos 215 e 216 da referida Constituição, o conceito de Patrimônio Cultural que abarcam tanto obras arquitetônicas, urbanísticas e artísticas de grande valor (patrimônio material) quanto, manifestações de natureza “imaterial”, relacionadas à cultura no sentido antropológico: visões de mundo, memórias, relações sociais e simbólicas, saberes e práticas; experiências diferenciadas nos grupos humanos, chaves das identidades sociais afirmadas ao longo do secular processo de globalização”.

O conceito de patrimônio imaterial no contexto brasileiro é entendido de acordo com o artigo 2º da Convenção de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (UNESCO, 2003):

“[As] práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.” (CASTRO, Maria Laura Viveiros de. 2008, p. 11-12).

Tendo em vista a possibilidade de analisarmos as múltiplas formas de experimentar e compreender o universo patrimonial, optamos por nos debruçar sobre a experiência do método do INRC[7], pensando nele como um instrumento de reconhecimento da diversidade cultural. E para isso, há algumas justificativas relevantes a serem destacadas. A principal delas encontra-se no fato de que a as imagens ou as fotografias se encontram em um espaço tido como “espetacular” no que se refere à rememoração social. Partindo desse pressuposto vimos à importância de trazer a público tudo que foi visto, sentido e até mesmo tocado pelos que ali estiveram. Marcando o início de um desenvolvimento, de nossa história social, política e econômica através das grandes expedições, ou seja, o desbravamento de novas terras e de novas riquezas.

A finalidade primeira será a de analisar, compreender e mapear tais características expressivas através dos documentos pessoais, em específico as fotografias. Apreender as categorias que fundamentam o processo de memória e de patrimônio, justifica-se, uma vez que permitirá observar, sistematizar e gerenciar dados relevantes, contidos no acervo, contemplando um universo social e territorial que consentirá na manutenção e em sua reprodução, promovendo a documentação, a pesquisa e o reconhecimento da diversidade étnica e cultural.

Nos agarraremos a esse fluxo de sentidos trazido pelas imagens, que, são capazes de veicular aspectos singulares das reminiscências dos sujeitos, pelas ações de rememorar vivências passadas e experimentar a tensão entre forget e reminds, a partir do contato com a materialidade fotográfica.

Em conformidade com os objetivos que se pretende com essa pesquisa, os resultados a serem depreendidos poderão propiciar indicativos para que outras instituições, pesquisadores e a população em geral recebam informações pertinentes ao patrimônio imaterial brasileiro e regional. A identificação das fotografias de Jesco Von Puttkamer, seu mapeamento, seleção e sistematização são etapas essenciais e necessárias para que essa disponibilização pública ocorra. Além disso, agrega ao projeto Imagens e Relatos do Sertão Desconhecido novos indicativos.

Reforça-se, portanto, as possibilidades de contribuição dessa proposta de pesquisa para a preservação da memória, de fatos pessoas ou ideias, na intenção de auxiliar para a compreensão de um conjunto de situações voltadas para a cultura imaterial. Espera-se assim contribuir para a proteção dos bens patrimoniais e para a publicização dessas informações.

3. OBJETIVOS

3.1 GERAL

Mapear, em uma perspectiva gerencial e sistêmica, as Referências Culturais de caráter Imaterial contidas nas fotografias do pesquisador Jesco Von Puttkamer pertencentes ao acervo pessoal do pesquisador Acary de Passos Oliveira com base no Inventario Nacional de Referências Culturais (INRC).

3.2  ESPECÍFICOS

  • • Selecionar, entre o material fotográfico que compõem o acervo no acervo pessoal de Acary Passos Oliveira as fotografias de autoria de Jesco Von Puttkamer.
  • •Identificar, nas fotografias de Jesco Puttkamer os aspectos que remetem a situações de cultura imaterial
  • •Categorizar, as situações de cultura imaterial identificadas nas fotografias de Jesco Puttkamer com base no método proposto pelo INRC.
  • •Sistematizar as informações e categorias patrimoniais identificadas nas fotos de Jesco Puttkamer por meio de sistema digital de armazenamento de dados.

4. REFERENCIAL TEÓRICO

 

Eixos teóricos

A decorrência de estudos voltados para o campo dos arquivos museais nos últimos tempos, vem crescendo consideravelmente, proporcionando diversas produções teóricas ligadas ao pensamento de definição do “lugar museal” como um lugar de “memória”. Em A problemática dos lugares, de Pierre Nora, esses “lugares de memória” seriam monumentos, instituições, rituais, dentre outros, criados com o intuito de preservar uma memória oficial. O que difere do que ocorria em sociedades nas quais a memória era algo vivido no cotidiano e a sua preservação realizada pelos próprios grupos sociais.

Esses lugares de memória surgem a partir do momento em que a memória se torna o resultado de uma organização voluntária, intencional e seletiva. Segundo NORA, “Menos a memória é vivida do interior, mais ela tem necessidade de suportes exteriores e de referências tangíveis de uma existência que só vive através delas” (NORA, 1993, p. 14). Tal afirmativa parte também do esclarecimento efetuado por Halbwachs, apud Bossi (2003) acerca da natureza fundamentalmente social e coletiva da memória. Halbwachs, dando relevo às instituições formadoras do sujeito, nega a afirmação de Bergson de que “o espírito conserva em si o passado na sua inteireza e autonomia”(apud, Bossi, 2003 p. ); para ele, o momento presente é definidor do substrato da memória.

As teorias de Halbwachs e Bartelett, respondem pelos principais fundamentos teóricos sobre a memória coletiva no pensamento social. Ambos tiveram mérito de mostrar, pela primeira vez, a importância de estruturas coletivas e processos interativos nas formas individuais do lembrar. Dimensões da memória ate então consideradas pouco relevantes por filósofos e psicólogos. As abordagens desses autores aproximam-se das teorias estruturalistas culturais; portanto, definem o ato de lembrar a partir de resultados tanto da prática reflexiva quanto de construções sociais que antecedem a prática[8]

Os “lugares” de memória surgem a partir do sentimento de que não há memória espontânea. Daí a necessidade de vincular sinais, informações e documentos sobre o passado, que se tornaram hoje registros da historicidade. Instituições como museus, arquivos e bibliotecas surgem com a finalidade de salvaguardar uma memória que deixou de ser múltipla e coletiva, para se tornar única e sagrada. No entanto, em algumas vezes tais arquivos permanecem nas instituições sem terem a possibilidade de exaltar seus conteúdos informativos que compõem tal historicidade, ora esquecidas pelos pesquisadores e ora indisponíveis ao acesso, por diversos fatores ligados aos elementos de codificação da documentação, bem como a constituição de mecanismos gerenciais anteriormente associados a historiadores e arquivistas.

O recorte empírico adotado por este projeto atravessará diversas questões conceituais e paradigmáticas. Uma delas está direcionada ao uso de fontes arquivísticas na pesquisa antropológica como um novo modelo de “campo” e a sua relação com a produção etnográfica tradicional. Sendo que, este novo “campo” admitirá imaginar o arquivo como “campo povoado por sujeitos, práticas e relações suscetíveis à análise e à experimentação antropológica”. (CASTRO,2005). Pois, segundo AMONT, “Em todos os seus modos de relação com o real e suas funções, a imagem procede, no conjunto, da esfera do simbólico (domínio da produção socializada), utilizável em virtude das convenções que regem as relações interindividuais”. (AMONT, 1990, p. 81).

Mesmo não estando ligada necessariamente ao corpo do estudo, mas acreditando que ela traz consigo reflexões importantes, ressaltamos o pensamento de formação da “memória histórica”, seguindo os caminhos de Noé Sandes. O autor apresenta um esboço das representações que definiram o sentido da região a partir desse pensamento e indica que comporta uma tensão em relação ao termo, uma vez que a memória e a história formam um par de difícil convívio (Sandes, 2002, p. 16). Afirma ainda que a “A produção de uma auto consciência acerca do processo vivido fixa uma memória em uma história que atribui anexo às inúmeras sociabilidade experimentadas, cuja ordenação e classificação expressam a formação da identidade regional. (apud,Bourdieu, 1989).[9]

Ainda, porém, que não venhamos a discutir em profundidade a questão acima, utilizaremo-nos de reflexões Sobre a imagem de Jesco Von Puttkamer para compreender a estrutura e dinâmica de sua relação com o olhar e o conhecimento. Conceitos como os de inventividade, ligada ao método da prática antropológica e a questão epistemológica direcionada à ideia de registros como signos visuais do outro; Função visual da imagem, em que o olho “é apenas um instrumento, porque na realidade vemos com o intelecto, (...) algo que sai de nós e vai para o exterior” (apud, Argan 1999, p. 32)[10]; visualidade, que aglomera vários artifícios que utilizamos para “visualizar”, que no caso das Referências Culturais se compreendem intrínsecas aos processos culturais ou sociais (Novaes 2009, p.41)[11]. Tendo em vista que é o olhar que acarreta, operações complexas, direcionadas ao psíquico e ao cultural, todos esses conceitos serão por nós discutidos no corpo do trabalho, juntamente com as reflexões propostas pelo método INRC ligadas ao PNPI[12].

Na antropologia, as imagens, sejam fotográficas, fílmicas ou de outros suporte[13] têm a ver com a tradição etnográfica. As imagens produzidas pertencem a um lugar, que está relacionado à perspectiva ilustrativa e à uma função interpretativa. Etienne Samain aponta que “a fotografia produzida por Malinowiski funciona como ponto de partida, desencadeadora, mola inspiradora do texto: a fotografia apresenta, representa”.

Por outro lado, compreendemos como essencial a discussão e utilização dos conceitos de Patrimônio imaterial x fotografia x pesquisador x pesquisa. Como sabemos, o patrimônio imaterial está inserido nas práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas. Esta definição é constantemente recriada pelas comunidades, atribuindo sentido e contribuindo assim a promover o sentimento de identidade e de continuidade. Focalizar a imagem por meio da fotografia, aguça o sentido visual tornando a imagem uma comunicação significativa, pois selecionar esse espaço da cultura fixando-a a transformará em um artífice da memória.

Analisando a imagem antropologicamente, seus aspectos visuais referem-se às muitas linguagens e, ao mesmo tempo, a diferentes gêneros; em suma, a diferentes tipos de subjetividade. O observado, aqui, como análise, em vez de objeto passivo – torna-se um sujeito que, por sua vez, observa o observador, o modifica e, portanto, se modifica e o interpreta.

5. METODOLOGIA

Os registros e inventários, de um modo geral, são instrumentos legítimos que se encontram à disposição do Estado e da sociedade, são incumbidos de sistematizar, identificar e reconhecer os bens que constituem o patrimônio imaterial brasileiro, cuja preservação escape à esfera de tombamento. Assim, propiciando caminhos e estímulos para a sociedade nacional brasileira e seus diversos segmentos, estabelecem comunicação com o Estado no sentido de conduzirem as demandas sobre suas referências culturais[14].

A metodologia INRC propiciará um mapeamento do patrimônio imaterial por meio da fotografia, pesquisando o acervo do Museu Antropológico. Posteriormente, tomará o viés comparativo entre acervos institucionais diferenciados, como por exemplo o do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) e o Núcleo, Centro Cultural Jesco Von Puttkamer ambos situados na região de Goiânia no Estados de Goiás. [15]

Instrumentos metodológicos.

Não obstante estes já terem sido citados no corpo do projeto de forma implícita ou explícita, serão apresentados aqui na forma de tópicos. Adverte-se, neste ponto, que mesmo os instrumentos metodológicos poderão ser redirecionados se, durante o desenvolvimento da pesquisa, detectarmos falhas ou incompatibilidade ou até mesmo ajustes ao modelo apropriado tornando-se inerentes no registro e apreensão da realidade estudada.

Metodologia da Antropologia em campo/arquivos.

Serão selecionadas dentre 3.400 imagens um montante relativo somente às produções de autoria de Jesco Von Puttkamer no acervo do Professor Acary de Passos Oliveira, o que inicialmente já se constitui em cerca de noventa por cento do material fotográfico. Serão selecionadas narrativas sobre as determinadas categorias patrimoniais a serem averiguadas, o espaço e o cotidiano vivenciados nos lugares de origem da fotografia, bem como acerca do processo temporal histórico, dos primeiros contatos com o espaço museal e a vivência cotidiana nele.

Pesquisa documental.

Pesquisa nos registros do Museu Antropológico, do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), e do Núcleo Centro Cultural Jesco Von Puttkamer. Também será feito um levantamento prévio de possíveis correspondências e objetos/fotográficos oriundos de trocas entre os pesquisadores Acary e Jesco (que tanto podem ser trocados através do transporte pelas agências de correio ou como por visitas pessoais).

Levantamento e registro imagético.

O acervo é constituído por materiais em fotos impressas, negativos e slides. Entre tanto, este projeto se propõe a fazer apenas o levantamento das fotografias impressas.

Revisão bibliográfica.

Estará integrada em todos os momentos da pesquisa, com retorno aos escritos de diferentes áreas do conhecimento sempre que o contato com a realidade esboçada trouxer novos questionamentos.

Considerações preliminares.

A partir de observações preliminares no universo empírico adotado, apontaremos algumas hipóteses prévias. Indicamos que, embora tenham lastro em um longo trajeto na pesquisa empírica empreendida durante os estudos da iniciação científica, são apenas apontamentos, que serão postos à prova e melhor discutidos no decorrer do desenvolvimento de uma possível Dissertação de Mestrado a ser construída.

I) Existem diferentes trajetórias dos arquivos/acervos a serem pesquisados bem como experiências diversas desses documentos com o espaço museal.

II) Tanto os vínculos interpessoais quanto os locais, temporários e circundantes modificam o espaço, ainda que em graus diferenciados, de acordo com o tempo de permanência em cada um desses espaços.

III) Há uma relação íntima entre o que caracteriza a memória de cada fotografia e a sua atuação no processo de acomodação ao espaço formulado, ou seja, a estrutura de dados. As marcas deixadas no espaço/tempo pelas imagens circundantes parecem fluídas, assim como parecem ser de fato a memória. Já que estabelecem um diálogo entre imagem e conhecimento por meio do contato com a memória. Quanto apossibilidade de transformações no “espaço”, algumas mudanças poderão ser bastante significativas, já que, no processo de deslocamento entre um e outro lugar, o de origem e o de destino, possuem laços fundantes, transportando no percurso, práticas, valores e técnicas agregadas ao objeto (fotografia).

IV) Há uma relação evidente entre as fotografias e o contexto histórico social e político no período das Expedições das décadas de 1960 e 1970 no Brasil.

Além disso, tal metodologia contará com o auxílio à instruções dos processos de registro; uma vez que será comunicado ao Departamento de Patrimônio Imaterial -DPI sobre o uso dos procedimentos da metodologia do INRC que são assim estipulados pelo IPHAN. Essa metodologia proposta pelo IPHAN tem como objetivo a promoção do patrimônio cultural imaterial junto à sociedade; a orientação para ações de apoio e fomento a bens culturais em situação de risco ou de atendimento a demandas advindas do processo de inventário; tratamento e acesso público às informações produzidas sobre esse universo.

O INRC é um procedimento de investigação que se desenvolve em níveis de complexidade que prevê três etapas essenciais, correspondentes a níveis sucessivos de aproximação e aprofundamento. Conforme evidencia Maria Castro, tais etapas corresponderão em: “Levantamento preliminar: reunião e sistematização das informações disponíveis sobre o universo a inventariar, produzindo-se, ao final da etapa, um mapeamento cultural que pode ter caráter territorial, geopolítico ou temático. Identificação: descrição sistemática e tipificação das referências culturais relevantes; mapeamento das relações entre estas referências e outros bens e práticas; e indicação dos aspectos básicos dos seus processos de formação, produção, reprodução e transmissão. Documentação: desenvolvimento de estudos técnicos e autorais, de naturezaeminentemente etnográfica, e produção de documentação audiovisual ou outra adequada àcompreensão dos bens identificados, realizadas por especialistas, segundo as normas de cadagênero e linguagem; inclui, ainda, a fundamentação do trabalho de inserção dos dados,obtidos nas etapas anteriores, no banco de dados do INRC”. (CASTRO, Maria, p. 22)


 

6. CRONOGRAMA

 

seq

Atividade

Meses

2013

2015

2016

 

 

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

 Novembro

Dezembro

Janeiro

Fevereiro

01

Revisão

Bibliográfica e adaptações do projeto

   

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02

Seleção das Fotos do acervo geral

         

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03

Pesquisa nas fotos selecionadas

                   

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04

Análise dos dados

                           

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05

Preparação do artigo para publicação

                               

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06

Defesa

                                       

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7. BIBLIOGRAFIA

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VILLAS BÔAS, Orlando. O Brasil Central e os Índios: as razões da Marcha para o Oeste. Matéria publicada em o O Popular de 25 de maio de 1978, p.13. Matéria publicada pela Secretaria de Imprensa da UFG em 23 de maio de 1970.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


8. ANEXOS

 

 



[1] Jesco Von Puttkamer, nascido em 1919, em Macaé no Estado do Rio de Janeiro, formou-se em química pela Universidade de Breslau, período em que viveu como prisioneiro da Segunda Guerra Mundial na Alemanha. A fotografia surgiu em sua vida transversalmente a partir do convite para documentar os campos dos deslocados e registrar os acontecimentos no Tribunal de Nuremberg, feito pelo governo militar da Bavária. Fugitivo, Jesco contou com a ajuda norte-americana e se integrou ao programa de repatriamento de brasileiros. No Brasil, recebeu o convite para fazer parte da assessoria de assuntos de imigração e Colonização no Estado de Goiás. Assim ajudando o movimento da Marcha para o Oeste, Operação Bananal e sua relação com a ação indigenista brasileira e na Fundação Brasil Central, na qual se relacionou com os precursores da ação, os irmãos Villas Bôas, Francisco Meireles, dentre outros. Participou também das frentes de atração aos índios Txukahamãe, Txicão, Suruí, Cinta-Larga, Urueuwauwaue, dentre outras comunidades a serem averiguadas.

[2] Pesquisador indgenista, fundador  e primeiro diretor do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás.

[3] Órgão do Ministério da Cultura que tem a missão de preservar o patrimônio cultural brasileiro.

[4]CASTRO, Maria Laura Viveiro de. Patrimônio imaterial no Brasil / Maria Laura Viveiro de Castro e Maria Cecília Londres Fonseca. Legislação e Políticas Estaduais ,Brasília, dezembro de 2008 Brasília: UNESCO, Educarte, 2008. 199 p.

[5]Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia e Centro Cultural JescoPuttkamer – ambos genrenciados pela Pontifícia Católica de Goiás – PUC-GO.

[6] Projeto de Pesquisa desenvolvido pela coordenação de antropologia e Museologia do Museu Antropológico. A observação empírica deu-se no decorrer do segundo semestre do ano de 2012, durante a observação de campo realizado para a pesquisa, Imagens e Relatos do Sertão desconhecido, na condição de bolsista integrada de iniciação científica, financiada pelo FUNAPE e coordenados pela Profa. DraRosani Moreira Leitão e Gustavo Oliveira Araujo.

[7]Inventário Nacional de Referências Culturais - INRC

[8] BOSSI 2003

[9] SANDES, 2002.

[10]NOVAES, 2009.

[11]NOVAES, 2009.

[12]Plano Nacional de Patrimônio Imaterial.

[13] Antropologos como: Margaret Mead, Boas e Malinowisk seguem essa tradição etnográfica.

[14]Metodologia proposta, claro, a possíveis alterações a partir de uma observação mais demorada. Apresentamo-la aqui apenas para que se consiga construir com maior fidelidade um quadro da tarefa a que esta pesquisadora se propõe.

[15]Daí o título deste projeto de pesquisa.