MANUEL NUM TERREIRO

As coisas pioraram muito para Manuel. O grande prêmio da loteria, a vida boa que levava, o casamento, tudo ele tinha para ser feliz, mas a bebida não o deixava, aliás ele não conseguia deixar a maldita bebida. O pai estava num desespero só. As irmãs viviam o drama todos os dias com o irmão. Agora tanto fazia ele estar na fazenda no Pantanal ou mesmo na cidade. Onde ia levava bebida e muita bebida. A qualquer momento ele iria se matar. A família vivia preocupada com ele, mas não tinha como andar com o homem pra cima e pra baixo. Aí poderia morrer mais gente. Que sofrimento!

Não tendo outra alternativa o pai procurou um centro de Umbanda para fazer um trabalho para o Manuel. O trabalho no terreiro começou, o pai teria que ir lá toda quinta feira para os trabalhos. Nada melhorou, então foi exigida a ida do Manoel ao Terreiro. Foi um sacrifício enorme para levar o homem à tenda.

Depois de muito sacrifício a família inteira chega ao centro de umbanda. Começam os trabalhos. Manoel achou interessante. Que bonito! Aquelas mulheres dançando pra lá e pra cá, todas vestidas de branco. Tinha mulher boa ali, mas estava tudo coberto e não dava para ver muita coisa. De repente começam as incorporações. Epa! Aí a coisa ficou diferente. Manuel não sabia o que era aquilo, nem como funcionava. Neste momento, porém ele foi retirado da sala e levado a uma outra. Lá estavam alguns homens sentados e diziam receber o Preto Velho. De repente Manuel é chamado e levado a um destes pretos velhos. Tinha um copo de pinga do lado e Manuel já chegou pegando o copo. ? Não, não zifio, este aí é de preto veio. Manuel se aquietou, sentou-se no chão e ficou calado. ? Que é que fio quer? Eu... não quero nada. Quer sim, disse o pai. Ele quer deixar da pinga e ser um homem honesto. ? Ih, zifio, vacuncê ta se matano. Desse jeito não vai longe não. Precisa pará com esta bebida. Oia, se zifio contiuá assim não passa desta sumana. Tem que largá a dita cuja.

Preto veio falou, falou, mas ele não acreditou em nada. Como é que ele aconselhava o Manuel deixar de bebida se ele também bebia e bebia muito? Não não estava certo. Saiu dali bem descrente de tudo. Ele não conhecia nada daquelas coisas, mas agora piorou muito mais a sua fé nestas coisas.

A vida não melhorou e o pai procurou um Centro Espírita de Allan Kardec. Era o último recurso que ele procurava. Precisava saber por que aquele apetite para a bebida. Médico nenhum dava conta, só sendo obra do outro mundo pensava o velho. Coitado! Sofria muito com os problemas causados pelo filho.

No centro espírita foi aconselhado a Manuel que ele fizesse uma reforma íntima, ou seja, retirasse todo o sentimento de maldade, de erros que tivesse. Que fizesse a caridade e ajudasse o próximo. Tudo dependeria dele.

Manuel não aceitou fazer nenhuma mudança. Estava muito bem assim. As coisas tinham melhorado muito. Ele não precisava mais trabalhar, tinha dinheiro de sobra. Queria mesmo era gozar a vida, viver como ele bem entendia. Que o pai deixasse de estar buscando cura para ele. Um dia ele pararia de beber. Tinha certeza disto, ele não tinha vício,bebia só de vez em quando. Assim pensava ele, porém todos sabiam que não era bem assim. Portanto continuaria do mesmo jeito que antes.