MANUEL NO OUTRO MUNDO

Manuel acorda de um sono profundo. Tem a cabeça muito pesada. Não consegue ver nada. Está em plenas trevas. Não tem noção do tempo, nem sabe onde está. Tenta se levantar da cama. Não vê absolutamente nada. Põe o pé no piso, mas não encontra o mesmo. Como é que vai sair dali? Não pode. Grita por alguém, não sai a voz. Perdera a voz? E o pai e a mulher e as irmãs? Ele está cego, tenta se lembrar de alguma coisa, não consegue. A última coisa de que se lembra, é que chegara ao Areia com o carro. Não se lembra de mais nada. O que aconteceu? Grita de novo. Nada. A voz já saía perfeitamente. Fica desesperado e grita forte: meu Deus, tenha dó de um pobre homem. No mesmo instante a luz se acende. Há seis pessoas em volta dele, todos de branco. São três homens e três mulheres de cada lado. Estão com as mãos estendidas sobre ele e falando: volte a si, caro irmão, volte a si, caro irmão. Lembre-se de Deus, lembre-se de Deus.

Ele senta na cama afobadamente e grita: que é isto? Ficaram loucos? Ele é impelido a deitar-se novamente. "Pensa em Deus Pai, pensa em Deus. Ele é justo e bom". Ele ficou ali olhando aquelas pessoas e... aquela parecia ser a sua mãe, mas há tanto tempo que ela tinha morrido. Não pode ser. Aquilo é sonho. E aquele homem - é seu avô? Que está acontecendo? O que é que aconteceu, gente? Calma, irmão, calma. Tenha paciência. Todos oravam por ele.

Manuel teve um pressentimento: será que tinha morrido? Não podia ser. Como é que morreu se ele estava ali? Impossível. Sempre ouvira falar que existia um espírito, mas ele nunca se importara com isto. Mas e sua mãe e seu avô, não eram reais? O que é que estou fazendo aqui? Só então seu avô explica tudo. Explica tudo bem devagarinho. Morri nada, vocês estão é gozando em mim. Se estou morto, como é que estou aqui? Eles explicam que ele realmente está ali, o corpo dele é que não está. - Quero ver o meu corpo então. Eles aconselham a não ver, mas ele insiste tanto que eles concordam. Você não vai gostar de vê-lo. Ele se deitou na cama. Os seis começaram a rezar do mesmo modo e dizendo: retorna ao corpo, retorna ao corpo. Logo Manuel se vê diante de um muro alto e um lugar enorme. Parece que ele já conhecia aquele lugar . Que será aquilo e onde fica? Ah sim! É o cemitério.Ele já estivera ali. E agora? O portão estava fechado. Manuel anda assim mesmo como se uma força o empurrava. Passa através do muro com a maior facilidade. Tem alguma coisa estranha mesmo. Anda pra lá e pra cá, sem rumo. Nada de novo, já conhecia mesmo aquele cemitério. Quando vai regressar, vê uma sepultura nova. Dá vontade de vê-la. Está toda enfeitada de flores. Esta família tem bom gosto - pensa. Deve ter sido uma boa pessoa. E a plaqueta? Vai ler a plaqueta e sente o corpo estremecer: aqui jaz Manuel...nem lê o resto e cai. Após um torpor, acorda. Não acredita. E o corpo? No mesmo instante parece que ele foi diminuindo e foi se adentrando na sepultura. Manuel entra no corpo de Manuel. Nossa Senhora, que calamidade. Milhões de vermes comem o corpo de Manuel por todos os lados. Ele tenta sair dali de qualquer maneira. E o mau cheiro, que coisa mais terrível, me acodem aqui, me acodem, pelo amor de Deus. No mesmo instante Manuel se encontra na cama de novo ao lado das seis pessoas. Volta Manuel, pensa em Deus. Volta, Manuel, pensa em Deus. Ele abre os olhos e sabe realmente que está morto. Manuel chora muito e se lastima dos horrores que fez. As seis pessoas passam a orar por ele. Sua mãe o abraça e diz que vai ficar ali um bom tempo ao lado dele. Precisavam esperar os outros e seguirem juntos novas jornadas para a frente.

Há muitos Manuéis nos cemitérios do mundo. Quando virem umas cruzinhas abandonadas lá, orem pelos Manuéis da vida, amém.