Manejo do potro recém nascido

Por Amanda Melo Sant’Anna Araújo

Médica Veterinária (UFRRJ)

Mestre em Ciência Animal (UENF)

Doutoranda em Zootecnia (UFMG)

 

O manejo do potro recém-nascido deve se iniciar durante a gestação, separando as éguas gestantes em lotes de acordo com o estagio gestacional, prevenindo assim qualquer acidente. As futuras mamães devem receber o manejo nutricional e sanitário adequados, tais como suplementação alimentar compatível ao tempo de gestação além de vermifugação, vacinação e higienização do úbere, este próximo ao parto.

As éguas que estão próximas a parir devem ser alojadas preferencialmente em piquetes com pastagem e água em abundancia (sem esquecer do sal mineral). Como a maioria dos partos ocorrem à noite, sua localização ideal seria próximo à casa do tratador para que esteja sempre olhando (mesmo durante a noite) e em caso de partos mais dificultosos possa entrar em contato com o veterinário o mais breve possível. Quando no manejo da propriedade as éguas venham a parir em baias, estas devem ser amplas e arejadas e o fornecimento de forragem deve ser fracionado, porém em abundância, de forma que esteja sempre fresca. Nunca devemos esquecer que o equino é um animal herbívoro e precisa de espaço, então o melhor é sempre um piquete maternidade, e assim reduziremos a tensão da égua com esta simples atitude.  

O nascimento deve ser acompanhado, a uma distância média, de forma que a mãe não se sinta ameaçada e o observador possa identificar qualquer problema eventual. E o que deve ser observado? Primeiramente se a égua limpa o potro, porque é este estímulo que vai ajudá-lo a respirar, limpando as vias aéreas. Depois o potro tenta se levantar  o que pode levar até 1 hora. Aí vem uma das partes mais importantes de se observar, se o potro está mamando e isso deve acontecer nas primeiras 6 horas após o nascimento. Por que?  Porque é neste período que seu intestino é mais permeável ao colostro, que é rico em imunoglobulinas que são células de defesa indispensáveis para um desenvolvimento saudável. Após estas 6 horas o intestino vai ficando menos permeável e com 18 horas não é mais absorvido. O sistema imune do potro depende principalmente disso. Depois da primeira mamada o potro deve eliminar o mecônio, que são as primeiras fezes. Se algum destes “episódios” não ocorrer devemos sempre chamar o veterinário para avaliação e indicação de tratamento adequado quando necessário.

Após estes eventos é imprescindível a assepsia (cura) do umbigo e para tal podemos utilizar iodo ou clorexidina, que é mais efetiva e não agride os tecidos adjacentes, porém por experiência prática normalmente indico o iodo quando não sou eu mesma quem trato, uma vez que tinge a região tratada o tratador não tem como mentir sobre a cura do umbigo. Se realmente tratou vai estar tudo tingido, para qualquer um ver, enquanto a clorexidina, que é transparente, não é possível identificar o tratamento. Acaba servindo como controle, desta forma podemos nos assegurar se houve ou não tratamento.  

E se a égua não tem colostro suficiente, rejeita o potro ou morre, o que fazer? Temos que administrar o colostro o quanto antes. Lembra que temos um prazo? Se na propriedade tiver um banco de colostro/leite, mais da metade do problema está resolvido, se não, temos que fornecer de outra égua ou fazer um preparado com o leite que tivermos à mão, porém os anticorpos do colostro não conseguiremos administrar.

Daí a importância do banco de colostro, que pode ser armazenado por até 1 ano, se for acondicionado em vasilhames estéreis, sem perder suas propriedades de defesa. Não podemos esquecer de identificar e datar o vasilhame, além de só descongelar o que for consumir, não devemos congelá-lo novamente. Esse descongelamento deve ser sempre em banho-maria, porque se a temperatura subir demais as células que conferem proteção, serão destruídas. 

Todo potro nasce com hipotermia e em algumas situações pode ser necessária a utilização de alguns artifícios, tais como:

1-      Recolher mãe e filho para dentro da baia;

2-      Vestir o potro;

3-      Fornecer luz artificial;

Esses cuidados com a temperatura devem ser redobrados quando esses potros vierem a nascer em regiões mais frias, principalmente quando  associado ao final, que são os potros cujas mães emprenharam no início da estação de monta do ano anterior. Dependendo da região geográfica, às vezes é mais prudente atrasar um pouquinho o início das coberturas para que os potros comecem a nascer em períodos em que a temperatura esteja mais favorável.

A vermifugação deve ser feita à partir de 30 dias, este procedimento é muito importante, uma vez, que uma grande infestação parasitária intestinal pode acarretar desde emagrecimento e diminuição do crescimento até o óbito do potro. Porém sua mãe pode ser vermifugada em qualquer tempo, mesmo antes da parição. A vacinação deve ser indicada por um veterinário, que vai prescrever de acordo com as doenças que tem relevância na região.

É muito importante utilizar medicamento de qualidade e na dosagem certa.Todos estes cuidados são essenciais para o nascimento e desenvolvimento satisfatório do potro, quando ocorrem falhas na criação pode acarretar a perda do potro. E isso seria um grande prejuízo, pois o criador terá o trabalho e investimento de quase um ano perdido e  assim ter que esperar mais 11 meses por um novo produto.