Eu não devo e não estou presa por fazer um aborto, não sou uma criminosa, sou apenas mais uma mulher entre tantas, que já fez aborto.Eu sou Maria de Fátima, mas pode me chamar de Maria.Eu sei que vocês não devem estar entendendo muito bem o que estou falando, mas irei contar um pouco da minha história. Quando eu era criança, morei em um orfanato, não é o melhor lugar para se passar a infância, já que lá no meu “Lar Doce Lar”, não era nada higiênico, ou tinha boas condições, o que me lembro de ter era um senhor mau encarado que molestava crianças, ele nunca me molestou, acho que era por causa da minha cor, o senhor tinha nojo da minha pele negra, bom, pelo menos achei uma vantagem de ser negra na sociedade onde vivemos.Lá eu não tinha estudo e nem uma boa educação, tudo que sei hoje, aprendi com a ajuda de um anjo que apareceu em minha vida,li meu primeiro livro depois dos vinte e poucos anos de idade, é foda, eu sei.Anos se passaram e eu fui crescendo ao lado de outras jovens como eu, fui uma pré-adolescente sozinha, sempre desconfiei de tudo e de todos, e sempre me perguntava o que caralhos eu estava fazendo ali naquele “orfanato” que mais parecia um presídio, nunca encontrei a resposta,mas quem sabe um dia eu encontre. Mais um tempo lá, e eu já havia feito 16 anos, e nesse período, conheci uma garota, ela era nova lá, tinha 15 anos, mas era muito esperta e sabia de coisas que eu jamais iria saber se não fosse por ela, nós nos conhecemos e de cara nos tornamos grandes amigas, ela foi a única com quem tive uma real intimidade e amizade. Depois de um ano naquele lugar essa minha melhor amiga que se chamava Maria de Aparecida, se cansou daquilo tudo que o “orfanato” representava, ela me disse que a rua era melhor que o nosso respectivo “lar”. Decidimos fugir dali, ir morar na rua, iríamos dar um jeito, mas qualquer coisa era melhor que aquele lugar. Me lembro como se não fizesse tanto tempo assim, já de madrugada, quando todos dormiam , pegamos nossas poucas roupas e fugimos, ingênuas como éramos ainda tentamos roubar comida da cozinha, só que a mesma se mantinha trancada, em fim, fomos para a rua, passamos um bom tempo procurando um lurgazinho para nos hospedarmos, até que achamos uma casinha de madeira próximo a um rio, era perfeito para nós duas.Sobrevivemos de esmolas que saíamos pedindo na rua, muitas pessoas nos olhavam com pena, nojo, frustração, e algumas poucas com compaixão, e eu dou a minha cara a tapa, se o que eu disser agora não for verdade, mas muitas pessoas achavam que pedíamos dinheiro para comprar drogas, pessoas iludidas, droga é luxo, e isso é algo que nem sabíamos o que significava.Mais um “Belo Dia” na rua, e uma senhora com pinta de rica, mas que parecia ser boa pessoa, nos ofereceu “ajuda”, perguntou um pouco sobre nossa história, e nos ofereceu emprego, iríamos ser suas empregadas, em troca teríamos um quarto para dividirmos, comida, roupas e um salário para cada uma que girava em torno de 400$ reais, um pouco mais alto que o valor que nós duas juntas conseguíamos pedindo esmola.Eu realmente tinha achado que a vida tinha me dado uma oportunidade digna, mas como a vida nos engana com falsas aparências, justo quando achei que meu sofrimento iria acabar, como eu estava enganada, pois era agora que a história da minha vida iria se aprofundar mais ainda, agora que eu teria a chance de conhecer novas sensações, mas que provavelmente não seriam as melhores da minha vida. Entre todos esses fatos, Maria e eu, passamos bons tempos trabalhando para a senhora “gente fina”, o nome dela é Fátima, mas diferente do meu nome, não tem Maria. Foram meses tranqüilos, passávamos bem, tínhamos pouca intimidade com a Dona Fátima, mesmo assim nós a achávamos uma santa. Na metade do ano o marido Antonio e o filho Fabio de Dona Fátima, voltaram de uma viajem de pai e filho, fomos apresentados formalmente, algo no filho dela me encantava e ele me olhava diferente. Depois deste fato Fabinho e eu nos tornamos amigos, não tão íntimos, mas ele me contava as coisas que acontecia com ele, me perguntava como tinha sido o meu dia, e me dizia palavras amigas, coisas simples que fazem falta no nosso dia a dia.Eu contava tudo para a minha amiga, e está ficava feliz por mim, mas sempre me alertava e fazia questão de me lembrar que para Fábio,eu e ele éramos de “mundos” diferentes, lógico que eu ficava triste, mas era a mais pura realidade, eu apenas não queria enxergar. Em um final de semana os pais de Fabio, viajaram para o Guarujá, eu não fazia mínima idéia do que era aquilo, entretanto não me importei. Eu estava na cozinha organizando as coisas, sempre tive mania de limpeza e organização, estava distraída quando Fabio me chamou para entrar na piscina com ele, dei mil e uma desculpas para não entrar, pois a piscina era dos meus patrões e eu era apenas a empregada, não achava que eles iriam gostar ou que fosse certo, porem de nada adiantou, Fabinho me pegou no colo e pulou na piscina comigo, neste dia estava apenas ele e eu sozinhos, minha amiga havia saído para fazer comprar para a casa. Estava tão bom na piscina, até que ele me beijou, eu fiquei surpresa e sem jeito, nunca tinha beijado ninguém, então me deixei levar por aquela experiência nova e sensação nova,ficamos ali na piscina desfrutando daquilo, até que senti o membro sexual de Fabio ficar ereto, eu não sabia o que era aquilo, nunca nem tinha beijado, fiquei com medo e recuei, sai da piscina com a desculpa de que teria varias coisas para fazer e logo minha amiga chegaria, não dei tempo para ele argumentar, apenas fui saindo. Depois deste meu pequeno desespero, esperei minha amiga chegar, contei todo o ocorrido para ela, apesar dela ser menor que eu, quem cuidava e dava conselhos era ela. Pois bem graças ao Universo, Maria conseguiu me tranqüilizar e me explicou por cima fatos sobre sexo, mas me disse que na hora H eu iria saber o que fazer, minha amiga assim como eu não era expert no assunto sexo, mas ela sabia mais coisas que eu,pois já teve apenas uma relação sexual, antes de ir para o “orfanato”. Logo após este ocorrido, Fabinho e eu sempre nos agarrávamos pelos cantos da casa, escondidos é claro, e também nunca passou dos beijos na boca, no pescoço e algumas mão bobas, mas eu tenho certeza que se não fosse por Fabinho ter medo de ser pego pelos seus pais, ele iria ser mais ousado. Pra mim, mesmo ficando com Fabinho sempre, aquilo ainda era muito recente, e ao mesmo tempo intenso, acho que por conta disso me apaixonei por Fabinho, e com toda a certeza do mundo, eu faria o que ele quisesse, eu inocente como era, tinha certeza que iríamos casar e sermos felizes para sempre, como em um conto de fadas que minha amoga Maria me contou, o conto de fadas se chama Cinderela, mas hoje em dia, depois de ler este conto com atenção, percebo que a cinderela queria apenas um vestido lindo, e uma noitada, o príncipe é quem queria casar, em fim, isso ainda não estava nítido na minha cabeça, e eu acreditava fortemente que só iria ser feliz se casasse com Fabio, mais uma vez eu estava redondamente enganada. No dia do meu aniversario de 19 anos, eu comemorei com minha amiga e Fabinho, os meus outros patrões viajaram novamente, e ficou apenas nós três, foi meu primeiro aniversario comemorado com um bolo descente, que dava para encher a barriga, Maria quem tinha o feito e estava uma delicia, ela me deu um perfume de presente, era muito bom o aroma, eu realmente sempre amei minha melhor amiga.Fabio por sua vez me deu um vestido preto simples, que valorizava minha curvas, e pediu para eu usá-lo naquela noite, o seu pedido foi prontamente atendido.Depois de algum tempo que estávamos ali comendo,bebendo e conversando coisas amenas ,Maria minha amiga foi vencida pelo cansaço e foi dormir.Na cozinha só restou Fabinho e eu que já nos mantínhamos levemente alterados. Fabio me disse para irmos ao seu quarto, pois iria me dar outro presente, ingênua como eu era, fui com ele, ao chegar no quarto ele me disse que o presente seria “Uma noite de A-M-O-R”.mas que na verdade para ele era só sexo, e mais um hímen rompido.Tive minha primeira relação sexual, confesso que no começo foi horrível, doeu, sangrou, mas eu tive uma nova sensação, a de prazer, e Fabio também,porem para ele era só mais uma sensação.Depois desta “noite de amor”, me bateu o desespero, eu havia perdido a virgindade.No outro dia quando acordei Fabio já não estava do meu lado, fui contar para minha amiga o que se passava comigo, ela ficou não tão feliz por mim, mas ficou imensamente preocupada, me perguntou se eu tinha usado camisinha, me perguntei “o que diabos é camisinha ? “, ela percebeu a careta que eu fiz e me explicou que camisinha é um preservativo, que previne doenças e gravidez, eu não soube dizer se ele usou ou não, Maria me recomendou ir perguntar para ele, e se caso a resposta fosse não, eu deveria tomar a pílula do dia seguinte, assenti e disse que assim que ele chegasse, eu o faria, mas para meu azar Fabio nunca chegava ou dava alguma noticia. Assim que a noite caiu, Fabio chegou, logo eu estava conversando com ele, e o mesmo havia me dito para ficar tranqüila, pois havia usado preservativo, me deu um beijo na testa e disse que iria deitar,pois estava cansado,não me deu ao menos satisfação de onde estava, bom, pelo menos grávida eu não ia ficar, alias, eu não podia ficar, eu não tinha condições financeiras e psicológicas para ser mãe, e quem iria sofrer era a pobre criança.As semanas foram se passando e Fabio sempre passava o dia inteiro fora de casa, ele já não era o mesmo, e quando eu lhe pergunta onde ele estava, me dizia apenas que não devia explicação para uma empregadinha qualquer. Eu estava aos cacos, chorava pelos cantos, não tinha vontade de nada e minha amiga tentava me fazer superar, mas se a decepção fosse a pior coisa a ter acontecido, por mim estaria tudo bem, porem o pior ainda estava por vir. Minha menstruação estava atrasada, eu sentia fortes enjôos,tonturas e vomitava a cada uma hora, para mim era por causa do coração iludido e ferido, mas Maria me disse:”-Cara você ta grávida, eu tenho absoluta certeza.”,nossa, quando escutei aquilo entrei em desespero e desmaiei, ao me acordar, Maria me deu um copo com água e açúcar, e disse para eu ficar calma, que tudo ia ficar bem, que no final sempre fica, realmente eu acreditava que tudo passa,até uva passa. Maria comprou três testes de farmácia, e todos deram positivo, eu estava grávida de 3 semanas. Me lembro de passar um dia inteiro chorando, como aquilo foi acontecer comigo ?Por que ninguém nunca conversou comigo a respeito disso?O que fiz para merecer tamanho desespero?Sinceramente, até hoje eu não sei. Entretanto, abençoada que minha melhor amiga é, ela conversou comigo, me disse que tinha uma amiga, que conhecia jeitos para se fazer um aborto, eu não sabia o que era aborto, mas com toda a paciência do mundo Maria me explicou que aborto é quando se interrompe a gravidez, retirando o feto de dentro de mim, eu fiquei chocada e disse para minha amiga:”-Mas você ta dizendo para eu tirar a criança?”Ela calmamente me respondeu :”-Ainda não é uma criança,é apenas uma célula em desenvolvimento, não tem cérebro ,sendo assim, não sente, não vê, não é um ser vivo ainda.”Perguntei com curiosidade:”-Então quando começa a ter vida ?”E novamente ela me responde:”-Não sei ao certo quando de fato uma vida começa, ainda está sendo estudado, mas o feto só desenvolve um cérebro a partir do terceiro mês de gestação, então, você ainda tem tempo.”Eu realmente me espantei com o conhecimento da minha amiga, e a perguntei como sabia de tudo aquilo, ela me disse que reencontrou uma amiga de longa data, que faz faculdade de psicologia e estuda sobre aborto, a ensinou tudo isso, e disse também que um dia eu iria conhecê-la.Agora com a duvida de fazer ou não o aborto, eu decidi falar primeiro com Fabio, a final ele também é pai, eu não fiz o filho com o dedo, ele também tem suas obrigações.Fui conversar com o pai do meu futuro filho,mostrei os testes de gravidez, tudo certinho, e ele me disse de uma vez só que era impossível o filho ser dele, pois havia se prevenido e ainda me disse que eu era uma vagabunda querendo se aproveitar do dinheiro dele, mesmo que o filho fosse dele, nunca iria assumir ou me ajudar, pois não queria ser visto como pai do filho da empregadinha ex-moradora de rua,e se eu ousasse contar para seus pais ele me demitiria, as palavras dele me atingiram como uma faca no coração, um soco no estomago, e um tiro na cabeça, eu realmente não iria ter condições de ter a criança, e se ele realmente me demitisse, o que eu tenho certeza que ele faria, o que seria do neném?Iria passar fome, frio, e humilhação, com certeza iria seguir a vida do crime, por que ninguém merece ser empregada como eu, e ainda ser humilhada no próprio emprego. A minha decisão estava tomada, eu iria abortar, mas como ? No outro dia, conversei com Maria, ela me disse para tomar um remédio chamado CYTOTEC, ela sabia onde vendia, eu dei o dinheiro para ela comprar dois deste remédio, já que o preço era bem salgado, e eu queria que desse certo, também não estava em condições de sair de casa. Mais um dia se passou, e minha amiga já estava com o CYTOTEC, eu o tomei e queria que de imediato surtisse efeito, porém eu não abortei, foram alguns sangramentos bem leves, mas não passou disso, meu organismo era bem forte pelo visto.Meu nível de desespero era enorme, eu chorava sempre, não comia, estava parecendo um zumbie, fazendo tudo apenas por fazer, eu havia gastado 400$ reais nos remédios e não adiantou, foi o meu salário de um mês inteiro, e a única ajuda que eu recebia era da minha amiga, já que Fábio já havia deixado bem claro que não iria mover um dedo, e se eu contasse para Dona Fátima, obvio que ela iria ficar do lado do seu filhinho, e ainda iria me dizer “Deu a buceta, abriu a perna,agora agüenta a conseqüência”mas falar para o seu filhinho “Meteu o piru, agora agüenta a conseqüência” eu tenho certeza que ela não falaria, como se a gravidez fosse o castigo da mulher por ela ter sentido prazer, e apenas o homem pudesse sentir tal sensação. Uma semana havia se passado, e Maria venho me dizer que tinha encontrado uma clinica de aborto clandestina, e que custaria apenas 500$ reais, eu pensei “Não tenho outra escolha, ou vai ou racha”, minha amiga me emprestou o dinheiro, e eu iria abortar novamente.Eu estava na minha quinta semana de gravidez quando fui na tal “clinica”, eu estava com medo, mas tinha certeza do que eu queria, Maria de Aparecida como sempre estava do meu lado, me apoiando e me dando força, e eu só consegui pensar “É agora!”.Quando eu adentrei aquele ambiente escuro e fedido, avistei um homem que vestia um avental de açougueiro todo ensangüentado, ele pediu para minha amiga esperar em outro cômodo, ela assentiu, mas antes me disse:-“Estou aqui, não se preocupe, tudo vai ficar bem.” e saiu.Os instrumentos do homem eram claramente grosseiros e artesanais, ele me aplicou uma anestesia que eu nem sei se surtiu efeito, pois senti uma dor insuportável e grotesca, e enquanto isso o homem de avental me torturava dizendo:-“Se você não estivesse aqui não estaria passando por isso, agora agüenta sua vadia suja.”, depois desse trauma , tenho pequenos flashs da minha amiga, ao meu lado em uma ambulância, e quando eu cheguei no SUS, me lembro da enfermeira orientando minha amiga a dizer para o médico que o aborto foi espontâneo, e logo depois as enfermeiras convencendo o doutor de que eu era uma “moça direita “, o médico me socorreu, e depois de todo o procedimento do hospital, me lembro da mesma enfermeira que havia orientado a minha amiga, adentrar o quarto, e dizer:-“Ainda bem que o doutor se convenceu que o aborto foi espontâneo, caso contrario ele iria te deixar morrer.”Eu fiquei pensando nestas palavras que ela me dirigiu, que ironia, não? Um médico que estudou para salvar vidas, ia me deixar morrer, e tudo em defesa de uma “vida”, sendo que na verdade era apenas uma célula que não sente absolutamente nada, mas e se a célula se desenvolvesse e nascesse uma criança dali, esta pobre e inocente criança ia estar na rua passando fome, e provavelmente roubando para sobreviver. E o doutor não ia se importar, e até iria dizer que “Bandido bom,é bandido morto.” Mas só quando não é alguém do senado.Em fim, depois desta tempestade de sofrimento, traumas, um monte de merdas, e quase que uma morte, eu ainda estava viva em um leito de hospital, eu não estava bem mas tinha certeza que iria ficar, Maria me visitou todos os dias, e me disse que a gente ia mudar de vida, que isso tudo é era uma merda, e estava tudo errado, me disse também que pediu demissão por nós duas do “emprego”, e agora iríamos morar com aquela amiga dela que fazia faculdade, mas que agora se formou, e tem um ótimo emprego de psicóloga. Assim que tive alta fui para a casa da amiga de Maria, tive uma recepção maravilhosa, a amiga de Maria se apresentou como Marcela, ela é simpática e uma ótima pessoa, me recomendou consultas com ela, e me apoiou dizendo que eu era forte e corajosa por ter passado por toda essa merda e ainda me manter de pé, e viva, disse que me entendia e sabia da minha história, que eu era uma mulher guerreira , e todo aquele pesadelo já havia acabado, a partir de agora tudo iria ser diferente.Bom, o que dizer de Marcela ? Ela foi essencial na minha vida e de Maria, foi como um anjo, Marcela nos ensinou a ler e escrever, nos recomendou a fazer supletivo para tentar recuperar os anos perdidos, Maria e eu seguimos o conselho de Marcela com a sua ajuda é claro, mas também tínhamos nossos emprego que havia melhores condições, ajudávamos Marcela como podíamos, mas ela entendia perfeitamente e não se importava, já que seu salário era ótimo.Minha amiga e eu fizemos cursinhos e estudamos feito loucas, ate conseguirmos ingressar em uma faculdade de enfermagem , e hoje estamos aqui fazendo faculdade, e batalhando por um futuro melhor.Maria e eu começamos a estudar mais sobre o aborto, e sempre vamos a protestos a favor da legalização do aborto, vamos a palestras, e depois de tudo que aconteceu na nossa vida, ajudamos os moradores de rua com o que podemos, dando comidas, roupas, coisas para fazer a higiene pessoal, e no que mais conseguirmos.Hoje em dia, eu Maria de Fátima, sei que tive muita sorte de sair viva e ainda dar a volta por cima, mas infelizmente, isso não acontece com a maioria das mulheres que fazem aborto, milhares de mulheres morrem por ano, por não ter como fazer um aborto seguro, na maioria das vezes por falta de dinheiro, pois se eu tivesse uma condição financeira melhor, com certeza eu teria ido para fora do Brasil e teria feito meu aborto lá no Uruguai onde é legalizado e não tem riscos.O que temos que entender é que mesmo o aborto sendo ilegal, muitas mulheres ainda o fazem, e acabam correndo riscos enormes de morte, o aborto não é algo que envolva criminalidade, e sim direitos e saúde, a legalização do mesmo não é questão de opinião ou de religião,já sabemos que isso não é algo de bom agrado, ninguém fala “Aborto? Pô legal vou fazer.”, mas muitas mulheres como eu não tiveram acesso ao conhecimento e a única saída é tal ato, se você é contra fazer aborto e sabe como se prevenir, legal, não o faça, mas é essencial que o mesmo seja legalizado, e eu tenho certeza que as mulheres que o fazem estão em uma onda de desespero tão grande,tão insuportável, que chega a ser imaginável, essas mesmas mulheres precisam de um acompanhamento psicológico antes e depois de abortar.Se legalizarem o aborto, não vai ter um monte de mulheres usando como um novo anticoncepcional, na verdade acho que elas iriam se cuidar mais ainda, a prova disso são os países onde é legalizado, como por exemplo no Uruguai, La os índices de aborto feitos reduziram visivelmente depois da legalização .A realidade é que homens como o Fabio já abortam a muito tempo, e se o homem engravidasse o aborto já seria legalizado a anos e no mundo todo.