Reporta ao ano de 1500, quando o homem branco (Conquistador europeu) pisou no – invadiu - o solo dos que aqui habitavam. Com suas roupas estranhas, pele e cabelo diferente, não tinham o cheiro de terra molhada, eram cores e caras estranhas, estranho mundo esse Brasil. Com eles descobrimos o sal e a tintura para a pele, mas, os índios não queriam apito. Gente estranha, novo mundo em uma terra nova - somente a caridade jesuíta poderia salvar os selvagens que aqui habitavam e, era da vontade de Deus que os puros e sábios europeus tomassem conta da nova terra - era uma caridade estranha, principalmente porque a carne é fraca e, todas as atrocidades poderiam ser feitas, foram feitas contra um povo sem alma e condenado a servidão. O primeiro pecado do homem branco foi blasfemar contra a natureza errante dos índios, e por isso, quase foram dizimados os índios. E os poucos que restaram pertencem ao desumano. Sabemos, que a mente do “homem não Selvagem” é como uma porta fechada para o paraíso, sempre fechada para aquilo que ele considere estranho ao seu mundo. Do século do descobrimento, este ser estranho e a social, apenas irá encantar estranhamente os olhares de curiosos, são as estranhas encantações, eles pertencerão a tudo que não for humano, a preguiça e, será um gerar de medo misturado com comoção e caridade (piedade), é uma magia que purificará somente os olhos dos que pouco conhecem e por isso, será travestido de exclusão e negação. O Brasil sendo prospero ou não, sempre irá prevalecer à imagem do irreal herói conquistador e do índio selvagem que foi dominado e colonizado pelo conhecimento do homem europeu. Do “descobrimento até os dias atuais”, prevalecerá a anulação da pessoa do índio, as atitudes serão uma denúncia clara da ambição e cobiça, um mundo se sobrepondo ao panorama indígena. Os índios serão tratados como malditos e metrópoles serão forjados em cima dos mortos, tudo com a bênção do progresso econômico. Hoje, o vazio se estabelece sobre a memória indígena - o que temos é vagas lembranças de um horizonte não pertencente a este mundo - memoria esta que o homem branco faz questão de esquecer. Vemos que existe um certo encanto e poder que permeia a memória do próprio índio. Na época áurea da invenção econômica do Brasil, não era viável economicamente escravizar o índio, então seu destino se encontrará no enclausuramento, nos braços do esquecimento, mas, de qualquer forma, a morte lhe vestirá bem. O índio nega o trabalho como fonte de satisfação material e de consumo - porque dele nunca até então tinha feito uso ou sentido necessidade - e por causa disso, não será escravizado, eis quando surge o negro nesse processo de construção econômica de um país afortunado em dinheiro, mas, pobre e miserável em valores porque exclui antes de tudo a consciência dos estereótipos que não se enquadram na ordem hierárquica da pirâmide aristocrata, daí em diante o que vemos é a segregação e enclausuramento dos desiguais. Apagado o índio da memória cultural e colonizadora, o grande impulso econômico ocorrerá pelo sangue e suor dos negros escravos. Eis que o negro é forçado a embarcar em uma viagem ilusória, atravessar continentes em busca de sua verdade. De fato, a escravidão é uma forma de comunhão do aristocrata com seu império econômico. O negro desembarca no cais da incerteza, e pelas mãos do padre, recebe as benções para estabelecer uma comunhão com o sacro, a sua religião é arrastada para dentro da igreja e ele será enfim um filho da prosperidade, mas, tais frutos não lhe pertencerão. Os negros escravizados são animais e, o homem branco é caridoso, lhe oferecendo abrigo, comida e proteção nas senzalas, é a chance de se regenerarem, até Deus é oferecido aos novos selvagens. Insanos animais, que aportaram numa terra estranha, não era uma viagem simbólica, era o negro em busca de sua verdade, não era algo espontâneo, mas, podemos claramente que a verdade dos negros era as senzalas e suas correntes. Estranho mundo, onde se mistura insanidade e perversão, cujo desejo de lembrança se realiza nos delírios dos sonhos e dos chicotes dos açoites. Estranha verdade, onde o literário não conseguia descrever o real, por mais que falasse da vida sofrida nas senzalas, porque a cor da pele era denunciada como símbolo mítico. Com a aparição das naus negreiras, vemos surgir modelos não éticos, mas tipos sociais estranhos que embarcavam em uma grande viagem sem volta para encontrar seu destino, não era a fortuna ou a terra prometido, mas, consciência e visão figurada do destino insano. No início, tanto as Naus quanto os negros serviram para alimentar a mente dos romancistas, porque eram exóticos ou fabulosos, alimentando a ideia do mundo segregado por raça e indiferença por causa da cor, em função da promessa homérica do cristianismo de abençoar somente os escolhidos e predestinados a salvação. Os negros eram capturados por mercadores e forçados a embarcarem na grande Nau, e em seus porões eram trancafiados, mas, antes eram entregues aos marinheiros, atravessando todo Atlântico, agora se compreende melhor a Odisseia que foi a Nau dos negros, como uma enorme sobrecarga negativa. De fato isto abala negativamente o prestígio econômico do Brasil, porque foram os negros que atracaram aqui em suas naus, que forjaram o lucro, estes negros eram tipos a-sociais, rostos estranhos e alheios a esse mundo. A escravidão alimenta o ego do ocidente, primeiramente com a formulação das naus, depois com o enclausuramento e por fim com a segregação do mundo em raças. Insano mundo das senzalas e da divisão racial que sobrepõe ao negro uma intensa pedagogia e disciplina dos troncos, de onde vemos surgir um misto de dor e prazer, era o mundo dos delírios e sonhos de liberdade, por onde os tempos de glória do mundo passado teimavam a permear os sonhos e delírios negros. SEGREGAÇÃO RACIAL E CONSCIÊNCIA De um lado temos o mito do progresso, do outro temos a construção de uma nação a base de contradições culturais, sociais e política, e por causa da enorme diferença entre os pilares sociais, estamos cada vez mais gerando distrações e erros históricos. Em um país completamente jovem, com pouco tempo de democracia, o que geralmente chamamos de desenvolvimento, na verdade não passa de ideologia de classe, onde existe uma aristocracia que sempre mando no país e continuará mandando, por meio da fabricação de mitos e ideologias. Em um país com distrações históricas, talvez o maior mito seja o da igualdade racial ou de classe. A quem interessa a propagação de ideia de que o pobre um dia será rico e o negro um dia terá os mesmos privilégios que os brancos? E uma contradição ou um erro acharmos que sistemas de inclusão social por meio de cotas raciais poderão corrigir distorções e enganos históricos em relação aos negros. Na verdade o Brasil só é Brasil por causa da consciência multicultural que opera na mistura das pessoas, que em sua grande maioria são segmentos étnicos segregados, que por meio de suas culturas incorporam capital cultural e moral ao patrimônio racional. Sem o índio, o negro e o branco não têm desenvolvimento econômico. Só que a distorção reside na ideia de que a forca do pioneirismo europeu e que impulsionar o desenvolvimento desta nação, quando que na verdade, o Brasil e forjado por meio de sangue e suas, tanto de negros quanto de índios. O problema e que a riqueza e o sentido de grandeza estão representados pela logomarca do branco, quando na verdade ele não passa do invasor, explorador (sentido negativo) e escravizados. Existe claramente uma ideologia da prosperidade representada pelo pioneirismo do explorador, com isso, vemos surgir o mito do patriotismo, da descoberta e da colonização como um mal necessário, do empreendedor que ama a sua nação, mas, que explora aqueles que consideram inferior por causa da cor da pele ou da condição social, assim, temos claramente a ideia do que seja uma sociedade que cultua o mito e propaga a divisão social. A nação brasileira é contraditória, porque prega em seu discurso a falsa ideia de igualdade social, quando na verdade é um país extremamente preconceituoso e racista, o fato se configura quando olhamos para a política e vemos que pobre não vota em pobre, em negro ou índio, e quando faz é por motivo de deboche, na qual mascara este fato chamando-o de voto de protesto. O SAGRADO; O PROFANO E AS FAVELAS A raça negra comporta de pessoas agregadas, herdou de seus ancestrais africanos um estereotipa exclusivo, que se reflete na arte, no estético e em suas comunidades. Quero aqui ressaltar que nas favelas brasileiras habita um ser único, um tipo que jamais deixara de ser essencial a existência do homem branco. E o negro que incorpora tudo aquilo que o branco sonhou ser e nunca teve coragem para assumir. O primeiro tipo e o malandro, aquele que e bom de samba, alegre, conquistador das belas mulatas, rústico, selvagem, mas galanteador e, um ser da noite. Aparece nas rodas de samba, nos carnavais ou ate mesmo na vida dura dos canaviais, mas jamais perde sua ternura. Na arte faz música como ninguém, é fonte de inspiração, tem no seu terreiro o samba e os barracos, os becos e vinhetas das favelas. Quando quer se comunicar com Deus, vai até os terreiros, cria através dos batuques uma comunhão harmoniosa com o sagrado, e o sagrado existe, se faz presente em sua fervorosa fé. O negro anda em comunhão com suas crenças desde a África, sua terra e seu deus. No esporte, temos uma verdadeira agregação, onde existem esportes para brancos (ricos) e negros (pobres), mas, a verdadeira arte de competir existe nos esportes de massa, no futebol vemos os negros se destacarem, com raça, habilidade, são tratados como verdadeiros deuses, existe mesmo uma idolatria, enfim, se existe uma raça inferior, seria o homem branco com sua pele amarelada, com aspectos doentios. O negro por sua vez, tem a cor de sua pele uma rara beleza, e que quase sempre viril. O negro através de seu ritmo, estimula a propagação de uma relação intima com o sagrado, e estes aspectos fazem com que tudo se multiplique, e o milagre da propagação da fé e da satisfação da raça por meio de sua cor negra. O MITO DA HISTÓRIA Um comum e olharmos que todas as contradições e distorções serão corrigidas através do julgamento histórico dos fatos, atores e discurso-como e que a história pode servir de parâmetro ou de tribunal do júri se o povo brasileiro tem memoria curta e errante? Em pleno curso de sua existência contraditória, o Brasil se caracteriza pela quase total alienação ideológica, quando provocada de forma questionada, não reage, apenas diz amem ao poderio mediático e ao discurso aristocrata, acreditando que erradamente que esteja vivendo ou age do desenvolvimento social e econômico. Como pode uma nação querer ser forte e desenvolver vida se a educação esta sucateada? Que desenvolvimento e esse se a educação não serve de parâmetro? Que desenvolvimento e este onde a educação não e libertadora, apenas mascara a pobreza e introduz a ideia de satisfação? E um erro acreditarmos na ordem social, porque historicamente, os exploradores jamais querem descer a condição de explorados, muito menos irão permitir não ascensão racial do negro ou do índio, por que esta enraizada em nossa cultura a ideia de separação biológica por raça. E por causa disso, qualquer medida na tentativa de igualdade racial que venha de uma para baixo será um desastre, podendo gerar ate uma segregação racial espontânea. Já esta introduzindo no meio da sociedade a mentira de que erros históricos serão corrigidos por meio de medidas políticas, por que a classe política foi e sempre será maculada pelo sentido de conceber em uma aristocracia plena, e por isso, governa para atender seus próprios interesses. A exploração, a segregação e a escravidão são delineadas na sociedade de forma contínua e homogênea, por meio da não propagação de conhecimentos verdadeiros sobre a história e política. E a maioria dos miseráveis sempre será negada alguma coisa, que será essencial para a sua libertação. Acreditamos fielmente no passado como símbolo do progresso e da ordem, mas, para esse ideário concretizar, somos obrigados a fazer concessões, verdes as almas dos nossos índios e negros, justificando o progresso por meio da raça perfeita X imperfeita. Acreditamos na forca da raça como alicerce para justificar um progresso que não existe. Nossa história esta cheia de mártires negros que morreram pelo ideal de liberdade, mas, coube ao homem branco se tornar herói e posteriormente se imortalizar historicamente. O negro e o índio morreram por liberdade e o branco e imortal por que salva sempre a humanidade, e virtuoso, astuto, rico, forte, cheiroso, enquanto o negro sempre e prisioneiro, fede, vive sujo, ou na maioria das vezes morre tentando fugir. Na maioria das vezes, a história apenas propaga um ideal aristocrata, exaltam a nobreza e a virtude. A nobreza se impõe pela forca desproporcional das leis, exalta sempre a forca dos argumentos perante os fatos. Ela e forte, tem sua própria virilidade expressa como capital cultural, a sua forca que se fundamenta pelo direito de sucessão, a famosa herança sanguínea. A questão da raça, ou da equivalência da pessoa humana por meio da sua cor, passou a ser tratada como um produto político ou econômico, como forma de justificar a superioridade de uma minoria branca. A cor se tornou elemento primordial de status, poder e prestigio, onde uma minoria faz suas manobras políticas para justificar a cor da pele como elemento de superioridade. A história conspira contra os desiguais, ele e elitizada, trata somente sobre os efeitos, negligenciando a ideias, o que de fato move a vida humana. Tem uma linguagem inacessível e trata dos desiguais com mero descaso. Não descreve as ideias que movem as grandes conspirações e maculam os rumos da vida humana. Se no passo não muito recente tivemos a derrota do negro, a grande segregação racial, hoje, tem as classes menos favorecidas, formando uma grande massa de excluídos. A grande luta hoje e pela libertação da população pobre ou alienada, que se encontra subjugada aos ditames do capitalismo. O fascismo opera e macula a sociedade ideológica, carregado por símbolos de propriedade e aspiração a um futuro em função da tecnologia, com isso, simbolicamente trocamos o negro pelo pobre, e a escravidão será a mesma. A miséria esta no gueto, na favela, e se prolifera à custa dos excluídos, estamos diante de uma nação apática, um pacto sem iniciativa, que apenas sabe contemplar, estas características são típicas do estado de alienação que se encontra. O Brasil e separadas pela segregação racial, pelo esclarecimento. Em relação ao negro, deve-se abolir o paternalismo das elites, a sociedade e desigual, e esta mesma elite e preconceituosa, cheia de caridade divina. Nesta relação de um peso e duas medidas, no processo de marginalização e classificação do homem por classe social. A intolerância e tamanha que ainda persiste em alguns casos a ideia de duas raças, uma boa e a outra má, visto que o branco sempre será tratado pela historia como um ser de consciência elevada. Em uma sociedade heterogênea, a consciência política e critica foi negada ao negro, como forma de sempre subjugá-lo. Na condição de pobre, ao negro tudo e negado, da educação ao exercício pleno de cidadania (direito social). Assim, temos as chamadas “políticas publicas para os negros” como a retomada da escravidão, por meio do engano, porque estão querendo corrigir erros usando a historia como parâmetro, em vez de criar bases políticas por meio da consciência individual de cada negro. Porque o processo de construção de uma verdade por meio da historia e uns equivocam? Porque a história sempre vai tratar o negro pelo olhar da elite, a partir de uma classe, negando o principio da identidade individual. A história trata do desenvolvimento econômico ou a construção do Brasil por meio da elite, mas, foi à consciência negra que alavancou o desenvolvimento, porque o que lhe foi negado estava na mesa farta da elite. É um erro acharmos que a segregação dos negros deva ser dissolvida por meio da equidade de raças, devemos ter a percepção de estes aspectos é pertinente à consciência, principalmente quando vemos o surgimento de uma Nau, no qual transportara todos os tipos associais, distinguidos pela cor da pele, era uma viagem real, no qual o negro encontrava a sua verdade. Nestas Naus vem mais do que homens, crianças e mulheres, são transportados consciências, culturas e nações, é um pouco da África que ancora aqui, para forjar uma outra nação, somos mais índios e negros do que o branco europeu. Foram eles que forjaram a nossa cultura, eles são a nossa cultura.