Quem somos nós, os professores, e qual o nosso verdadeiro papel perante a sociedade?
Conforme consta no "Aurélio": "(1) Professor é aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina; mestre; professor universitário; professor de ginástica. Professar (1) reconhecer publicamente; confessar: Os homens deveriam professar os princípios que norteiam suas ações. (2) Preencher as funções inerentes a (um cargo ou profissão); abraçar (cargo ou profissão): professar a advocacia (3) Ensinar na qualidade de professor ou lente; lecionar, professorar: "Como ele professava pedagogia na secção didática do meu curso, esperava encontrar ali a realização das idéias que ele nos expunha na sua cátedra" (Fidelino de Figueiredo, Um Colecionador de Angústias, p.84)".
O professor desempenha papel essencial no processo ensino/aprendizagem, mesmo nos tempos pós-modernos e com todas as tecnologias da nossa era. Quem não recorda a sua primeira experiência como aluno, a sua primeira professora ou o professor que mais marcou a sua vivência estudantil? É o professor que cria as condições para que os alunos construam conhecimento e acompanham a formação da base do seu vir-a-ser. Uma vez que a escola é vista como ambiente destinado aos processos didático-pedagógicos, professores e alunos convivem quase diariamente durante o período letivo, devendo existir entre eles relações humanas e proximidade pessoal. Essa proximidade estabelece a relação dialógica em que se vai fundamentar todo o processo ensino-aprendizado.
A evolução dos tempos indica que não deve mais, o professor, manter uma atitude de "detentor" do saber, porque aprendemos sempre, antes com nossos professores, atualmente com os alunos. Isso porque ninguém é uma "tábua lisa", em branco, todos têm as suas experiências e todos aprendemos uns com os outros.
O importante é mantermos a humildade, contribuir sem subjugar. Nossa aprendizagem é um processo em construção, não se acaba e finda como um copo cheio. Há sempre uma circulação de conhecimentos formais e sistemáticos, de que os professores são titulares, como também de saberes da vida cotidiana, das formas e conteúdos culturais, de que os alunos são igualmente portadores, experiências existem em ambos os lados. E é nessas relações docentes que se dão as trocas entre professor e aluno.
Sabemos que o professor está sempre aprendendo, pois só assim é capaz de compartilhar o que sabe. Ele é capaz de ler o mundo sob as múltiplas e inusitadas perspectivas, compartilhando o conhecimento que constrói e reconstrói, quando necessário, com seus alunos. É alguém que está constantemente criando, dividindo anseios, idéias, alegrias, frustrações, conquistas... E tem a humildade e a capacidade de reconhecer quando se faz necessária uma mudança.
O professor necessita conhecer, entender e perceber os vários métodos de ensino/aprendizagem, esforçando-se para ir ao encontro dos alunos e tentando compreender o seu processo de conhecimento, auxiliando na articulação de sua experiência sobre a ação, respeitando e valorizando o grau de individualidade dos alunos e as dificuldades apresentadas. Cabe a ele refletir sobre seus métodos, mas como processo.
Basicamente, a educação escolar está registrada, fundamentalmente, no trabalho dos docentes e discentes, cujo objetivo deve ser o de contribuir como artefato de humanização de ambos os segmentos, tendo uma visão de trabalho pautada na prática social e buscando uma transformação crítica e reflexiva, desse modo, o professor precisa saber fazer e avaliar as suas atitudes.
Professores e alunos estão ali em diferentes lugares e posições de poder, muitas vezes distanciados pela natural diferença de idade, de origem e posição social e até mesmo pela linguagem utilizada por ambos.
Apesar das contradições, dos conflitos, das diferenças, há a possibilidade de se estabelecer uma relação de parceria. E isso, naturalmente só vem a somar, a estreitar os laços e facilitar o processo. Desde que, dos dois lados, exista a compreensão dos limites dados à situação. O professor pode ser afável, receptivo, sem que, todavia, perca a inerente autoridade.
Em pleno século XXI, o professor deve funcionar como um facilitador no acesso às informações. Agir como um bom amigo que auxilia o sujeito a conhecer o mundo e seus problemas, sua história, seus fatos, suas injustiças e suas solidariedades, de maneira que o aluno possa caminhar com liberdade de expressão e de ação. Como contrapartida, o aluno deve respeitar o espaço escolar e valorizar o professor, sabendo aproveitar a magia do momento, o encantamento do processo aprender-ensinar-aprender.
"É válido reforçar que o papel do educador no contexto
escolar não é de apenas ensinar conteúdos e sim fazer dos
alunos, seres capazes de intervir e conhecer o mundo,
ensinando-os a pensar o certo. (Freire -1996, p.32).

Isso nos faz refletir sobre a atual situação da educação no país e na relação professor/aluno na era pós-moderna e que se reflete fora do ambiente escolar. Não podemos negar que ao longo das décadas, o professor foi perdendo prestígio e, principalmente, o respeito da sociedade. Já não há mais o respeito mútuo entre discentes e docentes; convivemos com a indisciplina em sala de aula; é imensa a dificuldade que os estudantes encontram em usar a linguagem escrita como elemento de reforço ou registro da fala, a ignorância da literatura e a falta de leitura é uma triste realidade.
Se, por um lado, lutamos para sermos vistos como trabalhadores da educação, por outro lado, perdemos a aura, passamos a ser meros mortais. É preciso resgatar a imagem do professor e valorizar o seu importante papel na escola e na sociedade. É preciso resgatar a magia do aprender/ensinar.
Daí que somos seres sociais pela própria natureza. Desde muito jovens vivemos em sociedade, fazemos parte e formamos grupos com pessoas das mais diversificadas crenças, origens e personalidades. Graças a esse convívio no decorrer de nossas vidas, vivemos situações que nos constrangem ou enaltecem, sofremos desilusões, aprendemos com nossos erros e acertos e, através de comparações, conseguimos construir a nossa personalidade e interagir com o universo. Se as relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais na realização de mudanças em nível profissional e comportamental, não podemos ignorar a importância de tal interação entre professores e alunos:
"O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca." (FREIRE, 1996, p.73)
A escola não é um espaço exclusivo para aquisição de saberes, ela é também um espaço formador de caráter, de aquisição de valores e comportamentos morais, é nela que o jovem vai desenvolvendo suas habilidades de intervenção no mundo. E, essa é a contribuição do docente.
Na verdade, o professor bem formado, age com sabedoria e competência crítica, usa de metodologias, sabe planejar e tem domínio do conteúdo. Avalia, re-avalia, e se preciso for, recomeça com uma nova abordagem de maneira a contemplar a todos de forma igualitária. Sabe usar dos recursos avançados que a tecnologia e a modernidade oferecem e os coloca a serviço do processo docente.
Todavia, até que ponto essas ferramentas modernas podem entrar no cotidiano da escola sem interferir no relacionamento professor/aluno?
Hoje existem os sites de relacionamento, o orkut, twitter, facebook... São aparelhos que, se devidamente usados, podem diminuir distâncias, superar dificuldades. Entretanto, parece que os nossos professores não estão inteiramente preparados para usar dessas ferramentas. Dentro e fora da sala de aula, é forçoso que o profissional da educação saiba manter a sua postura.
Realmente, na escola ou no shopping, ele vai mostrar a sua formação, seus valores éticos e morais. E, lamentavelmente, deparamos com profissionais que se perdem ante os instrumentos modernos, confundindo as relações inter-pessoais, descambando para uma atitude permissiva e não condizente ao profissional. Não é permitido ao professor que use termos de baixo calão, como não deve permitir que se dirijam a ele nesses termos, sob pena de vir a sofrer sanções por não manter postura adequada.
É preciso muita maturidade e criticidade a fim de não se deixar levar pela permissividade. O professor ainda é o exemplo, o modelo, dentro ou fora da sala de aula. Ele precisa ter o discernimento necessário a fim de não esquecer que determinado grupo pertence ao seu lado profissional, então, vai manter o nível adequado às falas, à linguagem e ao trato formal. Mesmo sendo amigo, próximo, de seus alunos, ele é o profissional, além de tudo, ele é o adulto que deve determinar os limites da relação.
Finalizamos, refletindo que não podemos esperar a valorização externa se nós próprios, educadores, não tivermos uma atitude positiva de valorização enquanto pessoa em constante evolução e aprendizagem.