Estar em um país em guerra me deixava muito assustada, mas confiava muito em meu marido, já que ele era um dos mais destacados militares de meu país. Certo dia em um ataque das forças internacionais e do governo, houve a morte de muitas pessoas e as forças internacionais levaram toda a culpa, meu marido chegou muito transtornado com o que tinha acontecido e afirmando que as forças internacionais não tinham culpa daquelas mortes, mas concordou comigo que esse país tem seus problemas e o povo dele tem que resolvê-los sem a intervenção de ninguém, decidimos juntos a sairmos do país e voltarmos para casa. Assim que ele saiu para o quartel general comecei arrumar as malas, já deixei tudo ajeitado para quando ele chegasse podermos ir embora.

Mas, tinha algo muito estranho acontecendo, as pessoas estavam passando correndo, algumas com malas, e no rosto delas a expressão de desespero e angustia, logo depois há um grande silêncio, só quebrado por uma explosão muito grande, seguida por outra, e por outra e por mais uma e gritos horripilantes, depois se seguiram tiros. Eu ouço vidraças se quebrando, e percebo que estão entrando nos vizinhos dos fundos, meu coração dispara e fico com muito medo e começo a fechar toda a casa e vou até o telefone, mas esta mudo, pego o Mateus e o levo para cima, me tranco no quarto dos fundos e espero.

As casas continuam a ser arrombadas, eu então deixo Mateus no quarto dos fundos e vou ao quarto na frente, e olho pela janela e vejo alguns homens arrombando as casas no fim da rua, aquelas que eles acham pessoas eu posso ouvir os gritos das mulheres e tiros, as que eles acham homens na casa eles levam para fora e dão tiros na cabeça. Então, pego uma pistola de meu marido e volto para o quarto do fundo fecho a porta, entro junto com o Mateus no guarda roupa e fico olhando pela fresta, pedi para meu marido voltar logo para casa.

Neste ínterim, percebo que a porta da frente é arrombada, ouço homens conversando, meu coração dispara, peço para Mateus ficar quieto. Começam a subir as escadas, o medo toma conta de mim, seguro forte o meu bebe e oro a Deus para eles não nos achem. De repente, mexem na porta do quarto, abrem a porta, um diz para o outro:

-           Veja se não tem algo de valor nos guarda-roupas, enquanto vou ao ultimo quarto?

Abrem a primeira das portas, e não tem nada, abrem a segunda e também não tem nada, seguro a boca do bebe para que ele não chore, e abre a terceira e também não tem nada, vejo a sombra dele se aproximando, ele pega na maçaneta da porta que estou e quando vai abrir, já me preparo com a arma para dispará-la, o outro grita:

-           Se não têm nada nas outras porque iria ter nessa, vamos descer para comermos alguma coisa.

Depois de ficar dentro do guarda roupa por cerca de duas horas, e ouvir a algazarra que eles fazem, o silêncio volta a reinar na casa e parece que não há mais perigo, decido sair, peço para o Mateus ficar ali dentro do quarto, vou bem de vagar, olhando no corredor, dou mais alguns passos e vou até o quarto da frente e espio pela janela, o que vejo é assustador algo que eu nunca imaginava ver, corpos pela rua, mas parece tudo calmo, então decido descer, saio do quarto da frente, passo pelo corredor bem devagar e com muita cautela, começo a descer as escadas e Mateus me chama, ele já estava no corredor, o pego no colo o levo de volta para o quarto e tento acalma-lo:

- Bebe, mamãe vai até aqui embaixo pegar um tete, fica aqui bem quietinho que mamãe já volta, esta bom. – peguei uns brinquedos e deixo-o brincando.

Fecho a porta, para não ter o risco de ele sair de novo, começo a descer bem devagar a escada com a arma em punho, chego lá embaixo no corredor, e vejo a porta da frente arrombada, dou mais alguns passos até chegar à sala e olho para dentro, há dois homens deitados no sofá, volto bem devagar para não chamar atenção, mas ai acontece algo, alguém vem por traz de mim e me segura, numa reação instintiva lhe dou uma cabeçada, ele me empurra, caio batendo na mesa, a arma que esta na minha mão cai, levanto e tento pega-la, mas me dá uma rasteira e caio de novo, se aproveita e pula em cima de mim, e fico cara a cara com o sujeito que grita para os outros:

-                              Olha o que eu achei, uma estrangeira.

Eu mais que rapidamente com pouco de conhecimento de artes marciais lhe dou um chute por baixo, e consigo sair debaixo dele, e ele com grande raiva e dor me cata pelo pé e puxa me derrubando, ao cair consigo pegar a arma, viro e lhe dou um tiro bem no meio de sua testa, me levanto e corro por atrás da escada que dá para cozinha, os dois que estavam na sala deitados se levantam, um vem atrás de mim e outro entra pela porta da frente da cozinha e me encontro com ele vindo em minha direção, e sem dar-lhe chance disparo mais três tiros acertando fatalmente,  o outro que vem atrás de mim me dá um empurrão que me joga junto ao pé da pia, minha arma é jogada longe, então ele me pega e me levanta:

-                              Sua branquela estrangeira, vou te arrebentar.

Me segura no pescoço com uma mão e com a outra se prepara para dar um murro, tateio por cima da pia e consigo pegar uma faca e a enterro no seu pescoço, bem na jugular, e ele cai se afogando no próprio sangue.

Pego a minha arma e volto por traz da escada e vejo que não tem mais homens, subo a escada, ofegante quase sem ar, vou até o quarto da frente procuro mais munição e recarrego a arma, abro o quarto do fundo e pego o Mateus no colo em um braço e o outro deixo livre para empunhar a arma e desço com muita cautela para tentar pegar o carro e sair dali, saio da escada entro no corredor que dá para sala e para porta de saída, recebo um murro nas costa de um homem que sai de repente a trás da escada, me joga para frente, tento freneticamente não deixar o Mateus cair mais é em vão, caio e Mateus bate a cabeça no chão começando a chorar:

-                              Cala a boca seu pirralho. – Grita um deles.

Tento socorrer o Mateus, mas levo um chute bem no meio das minhas costelas, sinto que umas quebram dentro de mim, é uma dor excruciante que novamente me joga no chão.

-                              Sua estrangeira cada o seu companheiro? – Pergunta o que me bateu.

-                              Estou sozinha. – respondo quase sem voz e muita dor.

-                              Sua mentirosa, quem matou meus homens? – pergunta ele aos gritos e me chuta de novo, dessa vez me acerta entre meus seios, quase desmaio e parece que vou morrer.

-                              Fui eu. – repondo novamente quase sem voz.

-                              Você esta mentindo, como uma estrangeira como você ia matar homens treinados. - Questiona ele e pede para seu companheiro vasculhar a casa, eu fico imóvel no chão sem forças vendo Mateus chorar muito assustado, tento me movimentar para próximo dele, mas é impossível a dor que sinto é paralisante.

Ele vasculha a casa inteira e não encontra ninguém e volta:

-                              Não tem ninguém na casa, sargento, deve ter sido ela. – diz

-                              Faz essa criança parar de chorar. – grita ele para o soldado, que pega Mateus e chacoalha e grita com o menino e o joga no tapete, que para por alguns instantes por medo e volta a chorar de novo.

-                              Então foi você mesmo que matou os meus homens, vamos ver se você é boa mesmo. Cala a boca desse moleque, esta me irritando. – Ordena ele.

Num esforço sobrenatural de uma mãe em tentar proteger o seu filho, consigo pegar um vaso e jogar em direção do homem que, e quase o acerta. O soldado pega o Mateus pelas pernas o deixando de ponta cabeça. Vendo que não tenho saída começo a gritar com todas as minhas forças que me restam por socorro, isso irrita meu perseguidor, que me dá um outro chute agora no meu rosto e posso sentir agora meu olho direito se fechando, não consigo enxergar e quase desmaio, ele se abaixa e começa me estrangular, nas ultimas das minhas forças consigo pensar no meu filho, já não acreditava que sobreviveria, mas tinha que achar uma maneira  para ele vivesse e nessa força sobrenatural de mãe com grande desespero, continuo gritando com dificuldades. Como um milagre de Deus, aparecem homens e um grita:

-                              Deixa-a em paz.

-                              Fica na sua, isso não é da sua conta, então saiam daqui e fiquem quietinhos. – responde meu agressor.

-                              Não se bate em mulher. - grita o homem.

-                              Não – soltou um murro no meu rosto, que conseguiu tirar as ultimas das minhas forças e neste momento perdi o sentido, tudo apagou instantaneamente.