Salta do coletivo e encaminha-se à rua defronte.

A madrugada vai alta. Melhor se apressar, a violência está grande... Teme sim, ser vítima de um assalto. As residências fechadas, as calçadas sem pedestres. Nenhum carro, ou moto. Um cachorro latindo num quintal próximo. Seus passos ecoam com força dentro do silêncio das horas mortas. A essa hora a Marlene deve está acordada, esperando-o. Preocupada. Boa companheira. Até quando se manterá fazendo “serões?”, para melhorar o ordenado pequeno?

- Um dia, estarei “noutra”.

Sorri com o desabafo em voz baixinha.   E se apressa mais. Adiante à esquerda, a travessa de degraus estreitos entre a mercearia de José e a barraca de Seu Paulo, que o conduzirá a residência.

- Tou chegando.

Novamente a voz em desabafo ao que sente e...

- A carteiras e o relógio “coroa!”.

O sujeito com a arma que reflete o brilho  da iluminação do poste vizinho à barraca. Perplexo, trêmulo encaminha a mão direita ao bolso buscando a carteira. Obedecendo, enquanto a outra mão do assaltante com grosseria lhe retira o relógio do pulso. A cena transcorre em segundos e o ladrão com rapidez  adentrando na outra travessa à esquerda,  desaparece de seus olhos aflitos do medo que ainda o domina. 

O cão volta a latir. O vento circula mais frio? Os passos lentos galgam à escadaria.

- Logo comigo. Puta merda!

Agora empurra o portãozinho e cruza o jardim sem flores, maltratado.

- Josias?

- Sim, cheguei.

Então a porta se abre, acolhendo-o.

Ante o rosto sério, fechado, a mulher fita-o, adivinhando...

- Aconteceu alguma coisa?

Sem se voltar, ele responde:

- Aconteceu. Acabo de ser assaltado!

- Mas...

De repente, se calam irmanados no silêncio de não mais falar, pois, as palavras por enquanto, nada solucionam.

- Vou tomar um banho.

- É bom mesmo.

Sozinha, senta-se no sofá próximo e permite então que as lágrimas lavem-lhe as faces.

- Meu Deus e agora?

O apito do guarda-noturno subindo a escadaria. O cachorro latindo... Chora.