Dentre as tantas coisas que gosto de fazer, tem uma delas que se sobressai diante das demais. Adoro estar perto do Mar. Não tenho uma explicação mais convincente para tamanha obsessão, só sei que a sensação que tenho, é que cada segundo que passo longe dele, parece que são segundos da minha vida desperdiçados.

Vejo o Mar não como a maioria das pessoas, apenas como diversão e lazer, tenho um apreço especial por ele, muitos vão para a praia com o intuito de torrar no sol, beber cerveja, se empapuçar de comida, eu não, o Mar pra mim é como um habitat natural, uma constante, um estilo de vida, assim como a de um surfista ou de um pescador, tenho que vê-lo sempre que possível, sou dependente dele, assim como um asmático é de seu balão de oxigênio.

Essa paixão deve ter nascido das minhas boas lembranças que tive quando era pequeno, como morava em Teresina única capital do Nordeste sem saída para o Mar, era comum passarmos as férias no litoral, em Luís Correia, muitas das vezes nem dava pra ir. Foram 22 anos convivendo com a distância que alimentava uma enorme agonia, me sentia vivendo um amor platônico, um amor não correspondido.

Geralmente ficávamos em casas bem próximas do Mar, o som das ondas era nosso despertador, podíamos sair a qualquer hora, na varanda e nos deparar com o oceano. Tínhamos a frente uma vista ampliada, sem limites, que dava pra ver ao longe o céu amarelado, efeito dado pelo pôr do sol, anunciando o encerramento do dia e expectativa de um amanhecer seguinte, para o início de um novo e belo dia na praia. Até mesma a solidão longínqua das dunas ao tempo e o odor forte da maresia me impressionavam. Posso sentir o cheiro forte da maresia, de um protetor solar ou de um peixe frito, em qualquer lugar do mundo ou em qualquer fase da minha vida, que minha memória me remeterá, em forma de flashes, a esses preciosos e bons momentos, que não mais retroagirão.

O Mar é também, um lugar perfeito para prática de esportes, de qualquer modalidade, toda folga que tenho, corro pra lá para bater uma bola, ver os amigos, contemplar o horizonte, meditar sobre a vida, adorar o infinito, surfar... é, já tive até uma prancha, era como uma aliança matrimonial, um compromisso com o Mar. E isso sem contar das paqueras, os flertes são constantes, belas mulheres desfilam seus corpos bronzeados e esculturais pela praia em trajes diminutos aguçando a libido masculina, dando mais um bom motivo para se gostar de uma bela praia.

Recém chego em São Luís, fiquei morando a poucos metros do mar, tive um gostinho prévio desse meu sonho maior, morar o mais perto o possível do Mar. Infelizmente esse é um sonho caro, se ter uma casa já é difícil, imagine uma próxima a costa. Busco algo onde que da janela de minha casa pudesse ouvir o som relaxante do Mar, assim como ouvimos no som de uma concha quando pomos no ouvido. Sei que não sou o único dono desse sonho. Mas lutarei a vida toda a fim de garantir meu lugar ao sol e ao mar, será minha sina, meu projeto de vida, meu maior investimento. Ás vezes me sinto como um filho nascido da união entre os deuses Poseidon e Iemanjá, dois grandes guardiões da natureza marítima. Infelizmente devido a grande exploração econômica e especulação imobiliária, nosso litoral apresenta alguns graves problemas, esgotos in natura são despejados diariamente no oceano, não se respeitam a faixa de terras da marinha, vazamento de petróleos são constantes, o aquecimento global põe cada vez mais em risco o avanço do mar sobre o continente, parece que quanto maior a cidade, mais a vida do homem se torna insignificante.

Na ilha de São Luís, como o número de praias é limitado, devemos ter o dobro de cuidado referente a essas questões, várias praias nossas já foram condenadas pela vigilância sanitária, foram tidas como impróprias para banho. Como a cidade cresce e não deixará de crescer, a preocupação que tenho é que São Luís se torne uma ilha ladeada de esgoto, o que não seria nada agradável já que São Luís é um pólo turístico mundial. Não será conveniente que nos desloquemos da ilha para o continente somente para desfrutar de simples banho de Mar.

Essas questões devem ser tratadas com um mais absoluto cuidado, e eu como um amante marítimo, deveria me conscientizar mais e dá minha contribuição ecológica no sentido de preservá-lo para poder desfrutá-lo com a consciência tranqüila. Nossa história será longa, e sei que terei sua companhia por muito tempo, como um retiro espiritual, local de paz e felicidade plena, ótima para um bom final de vida. Não sei se terei coragem de depois de morto cremar meu corpo e jogar as cinzas no Mar, além de não ter coragem, só acho que estarei contribuindo ainda mais para sua poluição, vai que a moda pega... O Mar é lugar de vida, felicidade e alegria e não de morte.

SAULO BARRETO LIMA