Lucíola e Aurélia mulheres anticonvencionais 

Simone Eufrausino Lima*

Maria Edinete Tomás**

Resumo: 

      Esse trabalho consiste num estudo de analise entre as personagens Lucíola e Aurélia de José de Alencar, ambas pertencentes ao período literário do Romantismo. A Comparação estará voltada para os perfis femininos de Lúcia e Aurélia. Elas representam moças, de certa forma, frágeis, que ilustram a literatura brasileira: Lucíola, “a imagem verdadeira da mulher que no abismo da perdição conserva pureza da alma”, e Aurélia a “estrela que raiou no céu fluminense”, com sua ação condicionada pelo dinheiro. Investigaremos até que ponto o autor e esses dois perfis conversam entre si, com os valores morais e sociais da época. Esse artigo procura expor algumas semelhanças existentes entre personagens de ficção, no caso deste trabalho, as mudanças e transformações de caráter e atitudes das personagens Lucíola e Aurélia. Pretende apresentar os sentimentos e as situações vivenciadas pelas personagens, principalmente pela desproteção familiar, que refletiram em transformações experimentadas por elas. Serão analisados os romances, visando comprovar que os diferentes sentimentos (medo, dor, alegria, tristeza, melancolia, amor, ciúmes, ódio, rancor, avareza etc.) interferiram na movimentação de Lucíola e Aurélia no desenrolar das narrativas.

Palavras-Chaves: Lucíola, Aurélia, Sociedade, Mulheres, Transformação.

Introdução: 

        Descobrir os mistérios e sentimentos que envolvem a alma feminina é tarefa muito difícil. Principalmente para o homem, cujo universo se diferencia do da mulher. E este sempre ditou as regras de seu comportamento na sociedade patriarcal do século XIX.

        Falar de mulheres diferentes e bondosas que se submetem ao pai e ao marido, como exemplo de virtude, é reproduzir um mundo que tenta manter a imagem, que a mulher é um ser menos desenvolvido que o homem.

       Nesse contexto, encontramos traçados por José de Alencar nos romances Lucíola e Aurélia. São mulheres que encantam pela personalidade e, num primeiro momento, anticonvencional, fogem aos padrões de comportamento esperado pela sociedade. Construídas a partir da visão masculina, são conhecidas por meio de seus “defeitos”, qualidades e valores impostos por essa sociedade burguesa. Essas mulheres são protagonistas de romances que mostram os vícios de uma sociedade contraditória, que coloca a superioridade moral da mulher em relação ao homem, mas que a trata como um objeto.

      Ao observar o perfil de Lúcia e Aurélia, dentro da sociedade do Rio de Janeiro no século XIX, tentaremos desvendar a maneira de José de Alencar em penetrar na alma feminina os conflitos na sociedade capitalista, cujos valores vão se renovando com o novo conceito de moralidade. Capitalismo determina o espaço e o papel da mulher socialmente. 

Materiais e método: 

     Tendo como base os romances Lucíola e Senhora e alguns textos que analisam os perfis femininos em Alencar e o papel da mulher na sociedade, continuaremos a análise de Lúcia e Aurélia, mostrando como essas mulheres revelam, reforçam os ideais românticos e ao mesmo tempo refletem através do discurso alencariano, as mazelas de uma sociedade que vive da mercantilização da existência humana.

    Esta analise também pretende deixar clara a posição de Alencar em relação aos sentimentos femininos, na forma como apresenta o amor. Este se submete a corrupção econômica, mas se faz forte para superar toda e qualquer dificuldade. Dessa forma, o amor, permite tanto a Lúcia quanto a Aurélia conhecerem a si mesmas através do outro, Paulo e Fernando obedecendo à ordem da sociedade patriarcal.

    Alencar manifesta, nessas obras, a valorização à ordem social, às instituições, os mecanismos que asseguram e reproduzem essa ordem, como o casamento, a família, a religião e o próprio estado. A despeito de ser uma heroína romântica, Lúcia, da obra Lucíola, tem traços psicológicos fortíssimos, o autor faz questão de colocar detalhes íntimos de sua memória, dos dramas, sofrimentos, enfim, ela passa por uma experiência profunda, que consideramos de extrema importância, mas vive a castidade na alma e no coração. Lúcia se debate entre o materialismo (dinheiro), reflexo da sociedade capitalista, e a espiritualidade (salvação da alma), amparada pelas leis do Cristianismo, base ideológica do Romantismo.

   O lado material e o lado espiritual entram em choque, pois necessita de recursos financeiros, mas não se permite abandonar os valores cristãos, em que foi educada, não pode abrir mão da salvação da alma. Pela sua sedução, chega a ser comparada a Lúcifer, anjo de luz que desceu ao inferno.   

  Em Senhora, a personagem Aurélia ora representa o lado romântico das mulheres que sempre estão à procura do príncipe encantado, através dos sonhos, da valorização da subjetividade, da imaginação, que satisfazem o interior feminino, ora é caracterizada pelo narrador como a imagem da salamandra, lembrando a própria Eva, associada ao pecado e ao demônio, pela sedução que exercia sobre as personagens masculinas. Fugindo, assim, dos moldes da escola romântica, sendo capaz, inclusive, de pagar para ter o homem que ama.

  Paixão, ódio, sedução, amor, perdão, são sentimentos que a personagem vive todos, exageradamente. Mas ao final, como personagens bem construídas, tanto Aurélia como Lúcia, se encaixam nos padrões da escola romântica. A primeira deixa o amor falar mais alto, perdoando o amado que se deixara comprar, a segunda, buscando na morte a redenção ao pecado da prostituição, que pensava não merecer em vida. 

Resultados e Discussões: 

  Seguindo o movimento do Capitalismo, a mulher passa a ter uma nova função social, além da de mãe e esposa. Administra a casa e as amas cuidam das crianças. Organiza reuniões, e incentiva o marido a novas conquistas. Dessa forma, então, uma nova fase para homens e mulheres que começam a vivenciar uma situação de dependência: a mulher, a dependência do lar e o homem, a dependência da produção de bens. A mulher, entretanto, ocupa a posição de dependente absoluta, pois, cabe a ela proporcionar a estrutura para o homem ser bem sucedido.

      Essa função da mulher ocupa seu tempo ocioso dá a ela a sensação de liberdade, pois adquirira algum poder. Aparente liberdade, porque dependia das condições financeira do marido, a quem era submissa para alcançar algum prestígio na sociedade.

    Ainda, que a mulher tivesse conseguido uma posição, continuava sendo vista como um objeto. A mulher romântica, cheia de beleza, cumpre seu papel que é de fazer e receber visitas, frequentar festas, onde revela toda sua sexualidade através das roupas e joias que usa, mostrando a riqueza familiar.

 Perfis femininos: Lúcia e Aurélia. 

   Os romances Lucíola e Senhora, escritos por José de Alencar, trazem personagens femininas que ganham nova roupagem ao saírem dos valores de uma sociedade hipócrita que age de acordo com o moral e costumes que lhe convêm. E, para descobri-la, nada melhor que duas mulheres atuando de maneira inversa. Tira de certa forma, a visão de que a mulher traz na alma e no corpo qualidade como pureza, bondade, simpatia, ternura, amor e santidade. E, por ter tantas qualidades, acaba perdendo sua individualidade, para servir o outro.

   Lúcia e Aurélia representam a consciência dessas relações impostas à mulher na sociedade. Podiam se impor, se desligar de tudo e se tornar independentes dessa sociedade, pois tinham seu próprio dinheiro, eram inteligentes e bonitas. Realizavam-se, porém, na submissão ao ser amado, resgatando, no romance romântico, os valores da sociedade patriarcal.

   Mulheres belas, jovens, são capazes de seduzir e encantar qualquer homem com seus trajes luxuosos e exuberantes. No entanto, não são admiradas e endeusadas da mesma forma, ganham olhares e considerações. Mesmo despertando todo o prazer que o corpo de uma jovem de dezoito e dezenove anos pode oferecer. Aurélia é virgem e moça de família e, ainda que fosse desejada como Lúcia, certamente seria tocada com pudor pelas mãos do homem. Até porque, segundo as leis da época, a mulher tem sua sexualidade menos desenvolvida que o homem:

  “A formosa moça trocara seu vestuário de noiva por esse outro que bem se podia chamar traje de esposa; pois os suaves emblemas da pureza imaculada, de que a virgem se reveste quando caminha para altar, já se esfolhavam como pétalas da flor do outono, deixando entrever as costas primícias do santo amor conjugal.” (Alencar, 1983, 89).

     Lúcia ao contrario de Aurélia, teria a oferecer mais prazer do que amor, sem vestir o manto da santidade ou desrespeitar o lugar sagrado, reservado ao “amor conjugal”, o lar.

  Por ser uma cortesã, não tem as mesmas obrigações que uma mulher casada e seu espaço é a rua, já que se sustenta com a venda do corpo. Teria sua individualidade, pois satisfaz os desejos dos que a procuram, despertando o prazer do pecado, “da concupiscência da carne manifestada tanto no olhar que desnuda a corporeidade, como no corpo que se exibe ao olhar.” (Portiere, 1988; 39).

    Segundo Massaud Moisés (2006), as personagens de uma obra literária são seres semelhantes às pessoas reais, vivenciam dramas e diversas situações refletidas em seus atos, provam dos diferentes sentimentos (medo, dor, alegria, tristeza, melancolia, amor, ciúmes, ódio, rancor, avareza etc.). Mudanças ou deformações podem ocorrer no caráter e nas atitudes das personagens, que se transformam no desenrolar da narrativa. Em Lucíola, as personagens desfilam nas páginas do romance de Alencar representando a sociedade burguesa da época, e seus costumes ficam cristalizados na obra como numa pintura.

   A personagem principal, Lúcia, apresenta um traço determinista: a sina da prostituição ocasionada pela hostilidade do meio que lhe impõe condições econômicas adversas sem outra solução, contudo, esse realismo sucumbe à evidência do amor romântico, pois “[...] Alencar crê nas “razões do coração” e, se as sombras de seu moralismo romântico se alongam sobre as mazelas de um mundo antinatural [...], sempre se salva, no foro íntimo, a dignidade última dos protagonistas [...]” (BOSI, 2003, p. 139).

  A menina é corrompida pela situação em que se encontra e submete-se à prostituição para salvar sua família. A febre amarela, que acomete a família, e a condição de pobreza, em que se encontrava, forçou Maria da Glória a tomar a difícil decisão de vender o corpo para Couto, um vizinho mais velho que se aproveitou da necessidade econômica e da inocência da jovem. Essa decisão custou caro à personagem, porque, aos olhos da sociedade, feriu os princípios morais. Estabelecida à saúde do pai, este descobre o acontecido e expulsa a filha de casa. Maria da Glória, como solução, segue a vida de cortesã e passa a viver com uma amiga, a verdadeira Lúcia. Quando esta morre, Maria assume o seu nome para preservar a sua antiga e pura identidade.

       Ao criar a Lúcia e Aurélia, José de Alencar provoca a sociedade da época, que vive em função do dinheiro em detrimento do amor. A estratégia de abordar mulheres portadoras de um discurso moralizante reforça a ideia vigente de que a mulher é moralmente superior ao homem. Lúcia apesar de se entregar aos prazeres, traz dor, o peso do desprezo da família que salvou com a venda do seu corpo, se regenera e tem seu próprio código de honra. Aurélia, por sua vez, condena o casamento por dinheiro e a sociedade que utiliza dele para corromper os outros. Essas mulheres refletirão as contradições dessa sociedade de que exige delas a moral, mas que as expõe como objetos de luxo, simbolizando o desejo de possui-las.

     A sociedade, indiferente ao sofrimento de Lúcia e à sua luta para salvar a família, joga-a ao mundo dos negócios, a venda do corpo. A partir desse momento, a menina, pura que era assume uma nova personalidade, enterrando a doce e inocente Maria da Glória. Com nova identidade, Lúcia tenta se adaptar ao novo mundo e usa sua beleza para sobreviver. Mas suas lembranças e seu coração não são tocados por nenhum homem. Então, Paulo surgiu em sua vida, só ele consegue enxergar a pureza da sua alma, só ele a vê de forma diferente. Porém, não a assume publicamente, nem quando ela resgata sua verdadeira identidade, no final do romance. Ela o ama, mas não fala desse amor e, quando resolve, já é tarde. Lúcia não exige nada do homem que ama, porque sabe que a vida de uma mulher é sua honra, se não a tem mais, não precisa viver.

     Ela não se permite amar, por seu corpo é sujo e vergonhoso, e ao fim da vida, quando admite seu amor, declara-se pertencente a Paulo. É a submissão do amor romântico onde a castidade valorizada. Percebe-se também na obra uma crítica social e moral ao preconceito, o romance causou comentários na sociedade. Paulo se viu dividido entre o amor e o preconceito. A atração física superou essa barreira, mas até o final ela se sentia indigna do amor de Paulo e do sentimento de igualdade que deveria existir entre os amantes.

     Lúcia, forte e corajosa, desce ao inferno. É um caminho sem volta, acredita que para ela não existe perdão. Encontra no seu amor por Paulo forças para recuperar a dignidade da alma intocada, a virgindade do coração, como diz Lúcia (Alencar, s/d, 216), “de se desprendendo da vida mundana. Não encontra, porém, forças para começar uma vida nova ao lado de Paulo. As cortesãs, não podiam, segundo as normas sociais, ser felizes.”

    As atitudes de Lúcia se explicam, no dizer de Luís Felipe Ribeiro (1996), “porque o escritor, Alencar, dará vida a sua personagem segundo suas vivências e a da sociedade em que vive, sem ferir os padrões vigentes”.

   Após criar Lúcia, historia em que Alencar assina seu primeiro perfil feminino, surge Aurélia, que ele afirma ser apenas o editor de Senhora. Com suas preocupações com a crítica e com os padrões morais, com as questões como dinheiro, sentimento, família, cria então, segundo Pontieri (1988,17), “sua filha mais ardilosa, a qual se mostra em constante metamorfose”.

    Aurélia não se deixa revelar por inteiro, sua intimidade é preservada o tempo todo. Sua entrega total, de corpo e alma, só ocorre após o fechamento das cortinas, ao consumar o casamento, e ela retomar, seu lugar de mãe e esposa dedicada.

    Ela se desvencilha dos comportamentos sociais impostos à mulher e trama sua vingança contra Seixas. Castiga-o por todo o sofrimento que ele causou. Orgulho ferido por ter sido abandonada, trocada por dinheiro, Aurélia, agraciada pelo destino com uma herança, põe em prática sua vingança: faz sofrer, humilha o homem que destruiu seus sonhos, seus sentimentos. Talvez Aurélia seja a “filha mais ardilosa” de Alencar porque não esconde sua sede de vingança.

   Alencar dá voz a Aurélia, que apresenta a situação das mulheres da época, são mercadorias, seres descartáveis a qualquer momento. Aurélia inverte sua situação e compra Seixas por cem contos de réis. Mas não lhe entrega seu corpo e ainda faz com que ele venda sua alma. Humilha-o de todas as formas e mente para a sociedade, que pensa ser seu casamento bem sucedido, causando inveja a todos. Despreza Seixas e faz dele seu prisioneiro, colocando-o no lugar feminino, já que é ela quem possui a fortuna do dinheiro.

    O dinheiro não muda a personalidade de Aurélia, pois sempre foi forte, inteligente. Escondia da sociedade, todas essas qualidades, eram consideradas defeitos pelo patriarcado. Quando se sente machucada, utiliza, então, dos mesmos meios da sociedade, o dinheiro. Que servirá de instrumento de opressão a Seixas. Poderosa, paga o triplo para tê-lo a seus pés.

    Com o desenvolver da narrativa se percebe que Aurélia não é sanguinária, pois, se mantia lúcida o tempo todo resistindo aos impulsos da paixão.

    O homem que ama aprendera com ela a lição. Repelido do meio deles, o dinheiro, agora pode haver a concretização do amor.

   Aurélia se coloca no seu lugar, não é mais dona do dinheiro nem si mesma, como deve ser, de acordo com os modelos sociais vigentes, implorar o perdão de Seixas. Assim, faz o caminho inverso, converte-se numa esposa recatada, legitima dos padrões românticos de idealizações amorosas.

Considerações finais:

     Percorrer os caminhos seguidos por Lúcia e Aurélia é descobrir junto com Alencar os valores trazidos pela burguesia do século XIX. Á mulher de família ficaria o espaço privado, a casa, lugar sagrado, dos bons exemplos, para se criar os filhos e manter a ordem, enquanto o espaço público fica reservado para a expansão e consolidação do mercado e do capital, ou seja, para o homem e, consequentemente, é também o espaço da cortesã que vive da prática comercial do corpo.

   Como se pôde observar, as transformações sofridas pelas personagens protagonistas, nos romances focalizados foram motivadas pelo amor nas suas diversas formas.

  O amor fraternal de Maria da Glória levou-a a tomar uma decisão difícil: prostituir-se para obter recursos a fim de salvar a família da epidêmica febre amarela. Isso resultou na transformação da menina em cortesã; nesse momento, Maria da Glória transforma-se em Lúcia e entrega-se ao amor como forma de subsistência.

   O amor modifica a alma da protagonista com a mesma intensidade em que leva a moça à prostituição e, depois, afasta-a da vida mundana, mostrando, ao leitor atento, o amor sublime, força purificadora, que conduz o desenvolvimento da narração.  A exaltação do amor é um dos traços românticos fortes em Lucíola contrapondo-se à ideia da morte, pois Lúcia vive a contradição do gozo e da dor; do prazer carnal e do amor espiritual. Para não profanar o verdadeiro amor, ela escolhe a morte como saída porque não desejava entregar ao esposo "o mesmo corpo que tantos outros tiveram".

   Aurélia Camargo aparece como uma “nova estrela”, que “raiou no céu fluminense”. Jovem, bela, extremamente rica, vive cercada de admiradores, a quem trata com um desprezo, avaliando cada um pelo preço de sua cotação.

  A extrema graça e a sensualidade, a inteligência brilhante, a nobreza de alma que se percebem em Aurélia não condizem com a ironia, o sarcasmo e o escárnio presentes em seus atos, principalmente quando relacionados ao dinheiro.

  Ao criar duas personagens fortes, distintas, porém, pela separação de classe social e de tempo (Lucíola – 1862 / Senhora – 1875), Alencar, com uma visão ampla da sociedade e do ser humano, reflete as contradições do novo mundo romântico.

    Lúcia e Aurélia representam, nesse sentido, a liberação das mulheres de suas obrigações sociais e se opõem a imagem da mulher, pura, dócil, retraída e sem vontade própria. Aurélia, mais que Lúcia, rompe as barreiras das aparências, pois é uma mulher de sociedade e assume o controle do capital sem se apoiar na figura masculina.

     Alencar, apesar de dar voz a essas mulheres, seres humanos considerados inferiores, não rompe com os ideais românticos de beleza e padrões rígidos da moral a que se refere mulher. Reforça, assim, a imagem negativa de Lúcia com a morte. Para os padrões morais da época, não há perdão para a prostituta. Já Aurélia recupera-se de sua imagem negativa, assumindo sua feminilidade, abrindo mão de gerir o capital e volta para as suas funções de dona de casa, simbolizando a sublimação mais perfeita do instinto e do amor.

   Dessa forma, Alencar, conservador, condena o progresso da cidade urbana e seus novos valores e reeduca suas personagens a fim de reencontrar valores mais profundos que o dinheiro e sua mercantilização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALENCAR, José. Lucíola. Rio de Janeiro: Tecnoprint, [s/d.].

ALENCAR, José. Senhora. São Paulo: Ática, 1991.

POTIERI, Regina Lúcia.  A voragem do olhar. São Paulo:

Perspectiva, 1988.

RIBEIRO, Luís Felipe. Mulheres de papel: um estudo do imaginário em José de Alencar e Machado de Assis. Niterói: EDUFF, 1996. 

BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 41. Ed. São Paulo: Cultrix, 2003. 

MOISÉS, Massaud. A criação literária: Prosa I. 20. Ed. São Paulo: Cultrix, 2006.