Antes de tudo, devemos ter em permanente consideração que há sempre um controle da parte de Deus para que não sejamos provados além daquilo que possamos suportar e que Ele também nos dá a graça necessária para que sejamos livrados (I Cor 10.13). 

Todavia, nem sempre o crente está consciente desta verdade, ou ainda que a conheça, pode considerar que seja possível que Deus falhe naquilo que nos prometeu, ou então que haja alguma situação excepcional à qual a promessa divina não se aplique, porque poderá, a seu juízo, pensar que ficam excluídas as provações às quais nós mesmos tenhamos dado causa, por um mau comportamento ocasional ou por negligência dos nossos deveres espirituais para com Deus.

Não devemos esquecer que a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2.13), ou seja, ela será sempre concedida por Deus àqueles que têm também usado de misericórdia para com o seu próximo, livrando-os assim de muitos juízos que nos viriam da parte de Deus, caso não fôssemos misericordiosos.

Daqui aprendemos também que a misericórdia de Deus sempre acompanha os Seus juízos, e assim, não permitirá que sejamos provados além das nossas forças, e se compadecerá de nós, dando-nos, a Seu tempo, o escape.

A quem pense que não é possível triunfar sobre determinados tipos de provações, especialmente aquelas que são muito pesadas, a vida do apóstolo Paulo nos foi dada como resposta, para que saibamos que não há grau de provação que seja maior do que a graça de Jesus.

Veja o seu próprio testemunho em I Cor 11.3-33/12.1-10:

 

11.3  São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes.

24  Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um;

25  fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar;

26  em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos;

27  em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez.

28  Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas.

29  Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame?

30  Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza.

31  O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é eternamente bendito, sabe que não minto.

32  Em Damasco, o governador preposto do rei Aretas montou guarda na cidade dos damascenos, para me prender;

33  mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha abaixo, e assim me livrei das suas mãos.

12.1 Se é necessário que me glorie, ainda que não convém, passarei às visões e revelações do Senhor.

2  Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe)

3  e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe)

4  foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir.

5  De tal coisa me gloriarei; não, porém, de mim mesmo, salvo nas minhas fraquezas.

6  Pois, se eu vier a gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas abstenho-me para que ninguém se preocupe comigo mais do que em mim vê ou de mim ouve.

7  E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.

8  Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim.

9  Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.

10  Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.

 

Vemos assim, pelo testemunho de Paulo, que não há provação que possa vencer o crente, quando ele se consagra inteiramente à vontade e ao serviço de Deus.

Há muitos crentes que estão sofrendo terríveis injustiças e perseguições, todavia, nenhum deles tem motivo para se afastar do Senhor, ou alegar que foi abandonado por Ele.

Nenhum deles terá razão quando afirmar que foi desamparado pela justiça, e que servir a Deus não foi afinal um bom negócio, porque suas tribulações aumentaram em vez de diminuírem.

Ainda que nos obriguem a comer o pão da aflição, diariamente, Deus untará com seu Santo óleo as nossas feridas, e abrandará as nossas dores, e trará paz e sossego aos nossos corações.

Este é um mundo adverso, no qual os inimigos do homem são os da sua própria casa. O reino das trevas está presente no mundo e sempre estará até que Cristo volte para inaugurar o Seu reino de paz e justiça eterno e perfeito.

Assim, enquanto estivermos no mundo, necessitaremos da paciência e da perseverança, e sobretudo da fé para buscarmos socorro e auxílio no Senhor, para que sejamos fortalecidos, tal como Paulo, em nossas fraquezas.           

Lembremos que se diz que: “...através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus.” (At 14.22b).

Lembremos também que antes da queda no pecado do jardim do Éden, a alma de Adão estava em perfeita ligação tanto com o seu espírito, quanto com o seu corpo, sendo uma boa serva do espírito, trazendo o corpo de Adão em sujeição ao espírito.

Todavia, depois da queda, a alma usurpou a função principal do espírito, e passou ela mesma a sufocar o espírito, com as suas faculdades da vontade, emoção e razão, de modo que o homem passou a ser conduzido por tais faculdades da alma, e não mais pelas do espírito. E a alma, que dantes trazia o corpo numa boa servidão, agora o usa para satisfazer os seus desejos pecaminosos e paixões.

Daí a necessidade das tribulações para que tanto o corpo, e especialmente a alma, sejam quebrados por Deus, e uma vez crucificados tais desejos, o espírito pode assumir de novo o comando que lhe fora reservado por Deus desde o princípio, e daí se dizer o seguinte em Rom 5.3-5:

 

“3 E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,

4 e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;

5 e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” 

 

Pr Silvio Dutra