LOGÍSTICA, PODER PÚBLICO E A EXPANSÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA.

 

Pedro Henrique Oliveira de Freitas – Graduado em Geografia

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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Resumo

O presente artigo propõem apresentar um arcabouço teórico contendo em sua discussão a ampla correlação entre a atividade turística e a ampliação da rede logística, implementada ao território, pela forte atuação de determinadas políticas públicas, que visam promover economicamente o turismo em seu respectivo território. Apesar da forte atuação do poder público, o espaço turístico é modificado por determinados agentes, que visam apropria o espaço inicial ao da intencionalidade turística. A concretização de tais empreendimentos estruturais, instalados pelo poder público, atraiu investidores privados que começaram a construir hotéis, pousadas e resorts, redefinindo espaços e construindo uma estrutura sistêmica para o desenvolvimento dessa emergente atividade. O resultado da trama elaborada é à consolidação da atividade em variados territórios e as redes de acesso contribuíram para que o fluxo de turistas fosse excitado, sendo este uma das principais variáveis que aperfeiçoaram a atividade do turismo nos últimos anos.

 

Palavras-Chaves: Turismo, Políticas Públicas, Logística, Infraestrutura e Espaço.

 

1        INTRODUÇÃO

 

1.1  Espaço e Turismo

 

Na atualidade o turismo desponta como uma das principais atividades de reprodução de capital, e participante do setor de serviços, mas a sua essência enquanto fenômeno é de ordem social. Academicamente ainda existem discussões profundas para a sua definição, por se tratar de um fenômeno que vem assumindo relevância, para autores que trabalham com o tema o turismo constitui um fenômeno social de natureza espacial logo, antes do turismo ser uma atividade econômica, a mesma se caracteriza como um fenômeno social que repercute no espaço.

O turismo expõe o “novo ou o outro” para o visitante tanto na sua vivência temporal, como em seu âmbito espacial, constituindo-se numa quebra da descontinuidade de suas relações sociais “A prática do turismo pressupõe descontinuidade espaço-temporal, uma quebra com o cotidiano.” (FONSECA 2005, p.27).

Segundo a Organização Mundial de Turismo – OMT (p.44), turismo “compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e permanências em lugares distintos ao seu entorno habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano com fins de ócio, por negócios e outros”. A partir deste conceito de turismo, observa-se que o fenômeno turístico detém um tempo e diversas finalidades.

A paisagem turística possui singularidades em relação às outras, pois ela é caracterizada pela valorização cultural de determinados aspectos em que ela é constituída. Toda paisagem pode ser turística, a mesma precisa ser apropriada pela intencionalidade de ações que resultem em sua formação.

Determinadas paisagens, são valorizados e possuem singularidades que atraem a atenção de segmentos sociais, que buscam desfrutar lazer em definida paisagens definida em um momento oportuno, segundo as suas motivações:

Os lugares explorados pelo turismo são, em grande parte, vendidos como cenários produzidos sobre uma base paisagística preexistente que, associada a aspectos culturais, históricos e geográficos, constitui a matéria-prima para o processo continuo de produção e consumo do espaço. (SILVA, 2004, p.21)

O rompimento com o cotidiano é algo que é determinante para a atração dos indivíduos em relação à atividade turística: fugir da mesmice rotineira, desfrutar tempo livre e de lazer com a família, e conhecer novas culturas e paisagens, são exemplos de novas experiências que o turismo pode oferecer.

SANTOS (2006) ressalta que existem dentro do conjunto espacial determinadas categorias analíticas e entre elas, estão à paisagem, a configuração territorial, a divisão territorial do trabalho e o espaço produzido ou produtivo. No bojo da discussão do turismo encontramos elementos espaciais que sustentam tal atividade. A Paisagem, configuração territorial, a divisão territorial do trabalho, a produção e o produtivo fazem parte do ambiente turístico.

 A paisagem é o elemento de pontapé inicial para a produção do consumo turístico, a necessidade de olhar e viver o novo faz com que o individuo queira consumir a paisagem que melhor se satisfaz a valorização da paisagem no turismo, faz com que exista competividade entre os territórios turísticos, acarretando divulgações de marketing, a fim de caracterizar quais são as melhores paisagens turísticas.

Na sociedade atual existe um movimento no sentido de valorização de alguns elementos da natureza, de tal modo que se observa uma busca crescente por áreas com clima quente, pelo binômio sol-praia, pelas paisagens naturais exóticas e/ou paradisíacas e do meio rural, a partir do qual é idealizado um estilo de vida que propicia maior contato com a natureza. (FONSECA, 2005, p.26).

A configuração territorial é o resultado das produções históricas das intencionalidades do homem que acarreta deferindo de maneira negativa na natureza natural que é substituído por uma natureza artificial. “A configuração territorial é dada pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas, cidades etc” (SANTOS, 2006, p.39). Os espaços turísticos começam a ser redefinidos pela necessidade da criação de infraestruturas que facilitam a acessibilidade para o destino de consumo turístico. Essa configuração territorial entra na lógica da competitividade dos espaços turísticos, a configuração melhor articulada é aquela que leva vantagem em relação aos outros espaços. Knafou (1997) ressalta que é o poder público que cria estruturas a fim de fortalecer os espaços turísticos.

O elemento da divisão territorial do trabalho é aquele que manifesta a perversidade da atividade turística dentro do espaço, o mercado se apropria das paisagens e a transforma em suas mercadorias. Ao entorno das paisagens de consumo, criam-se hotéis, resorts e chalés, em prol do consumo do turista para a circulação do capital. Essa apropriação não leva em consideração a existência dos moradores locais, que passam a ser mão-de-obra, e toda a infraestrutura local passa a ser influenciada pela necessidade do turismo no local. Entretanto, aonde o mercado turístico é mais forte, ela vai receber mais turista e seus investimentos negligenciarão o nativo. Evidentemente que a competividade desses espaços criaram hierarquização dos lugares, os tais que penetram com mais ferocidade nesta lógica, estarão no topo da cadeia turística. “Essa divisão territorial do trabalho cria uma hierarquia entre lugares e, segundo a sua distribuição espacial, redefine a capacidade de agir de pessoas, firmas e instituições” (SANTOS, 2006, p.88). A divisão do trabalho supõe a existência de conflitos. O espaço é produzido através da intenção do homem, que reproduz produções associadas ao sistema capitalista vigente. A produção do espaço é o que alimenta o sistema capitalista, seja com matérias-primas ou com o consumo da própria paisagem como é o caso do turismo. A ação do poder público sobre o espaço é agressivo, pois o Estado enquanto agente influenciador da dimensão espacial irá se apropriar da dimensão espacial e reestrutura-lo de acordo com o seu interesse, transformando-o em território turístico, onde as bases estruturais são implementadas por ações do estado com o objetivo de melhorar o serviço turístico e se destacar dentro da competitividade entre os espaços turísticos. Diante deste quadro de competitividade, é que o instrumento da logística será aplicado para o melhor desenvolvimento da economia turística, já que tal atividade desempenha um papel importante na base produtiva no atual contexto da globalização.

 

1.2 Turismo e Logística

O turismo, além de valorizar as singularidades paisagísticas e romper com a barreira do cotidiano, busca diminuir a questão tempo-espaço. Quão mais rápido é o conhecimento de determinados atrativos turísticos por indivíduos o interesse pelo seu consumo é mais inflamado e quando existe a diminuição da distância entre espaços, a vinda de um turista se torna mais rápida. O conhecimento do turista sobre a paisagem visitada define aquilo que o indivíduo poderá consumir na sua estadia, e a flexibilidade rápida de determinados turistas indica que o consumo nas áreas turísticas não terá interrupções.

Algumas características importantes são destacadas no sistema turístico, decorrentes das relações entre os diversos serviços que abastecem a atividade turística. Um dos elementos deste sistema será discutido no presente trabalho: a infraestrutura básica implementada com a finalidade de estruturar o sistema produtivo.

Os espaços turísticos começam a ser redefinidos por políticas públicas que promovem o desenvolvimento turístico através da necessidade de criação de infraestruturas que tem como objetivo facilitar a acessibilidade para o destino do consumo turístico. Essa nova configuração territorial introduz na trama da competitividade dos espaços turísticos, a configuração estrutural melhor articulada é aquela que leva vantagem em relação aos outros espaços. Knafou, (1997) ressalta que é o poder público que cria estruturas a fim de fortalecer os espaços turísticos.

As infraestruturas articulam e conectam os espaços de origem do turista ao espaço que o mesmo pretende desfrutar. Aeroportos, portos, rodovias, hidrovias e ferrovias são estruturas que oferecem o deslocamento e a dinâmica que o turismo necessita. Outras infraestruturas como iluminação, saneamento e pavimentação, são bases estruturais determinantes para a melhor estadia do turista.

A competitividade existente na atividade turística ocorre quando um território que possui maior concentração de infraestrutura se constitui em destinação mais forte em relação a espaços que possuem infraestruturas escassas (exemplo: as áreas que possui uma melhor acessibilidade reproduzem uma máxima facilidade de tráfego do que áreas que possui acessibilidade frágil). As infraestruturas representam a materialização do planejamento político e as suas repercussões dentro do território, são formados por sistemas de engenharias como: rodovias, ferrovias, aeroportos, hidrovias. O turismo usufrui dessas estruturas para ampliar a sua atividade produtiva, sendo fundamentais para a existência da atividade turística. Sem infraestrutura não é possível expandir o turismo, como observa (CRUZ, 2005, p. 31).

Como não há turismo sem deslocamento, um dos focos centrais da ação pública federal sobre o território nos últimos anos tem sido justamente, a ampliação e a modernização da rede de transportes nas áreas prioritárias para o desenvolvimento do turismo.

SANTOS (2006) ressalta que o estudo do espaço esta relacionado à trama entre os fixos e os fluxos. No turismo, a paisagem  que o individuo ira consumir é fixa, mas o seu consumo  pode provocar mudanças à mesma. 

Os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as condições sociais, e redefinem cada lugar. Os fluxos são um resultado direto ou indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor.” (SANTOS, 2006, p.38)

           

A interação entre os fixos e fluxos é o que destaca a trama geográfica, pois ela explica a movimentação entre os objetos e as ações. A realização de uma viagem é o resultado de uma escolha onde para que ela seja concretizada, irá depender de uma ação onde os objetos irão facilitar que tal ato seja realizado. “Os objetos que nos servem são, cada vez mais, objetos técnicos, criados para atender a finalidades específicas. As ações que contêm são aprisionadas por finalidades que, raramente, nos dizem respeito.” (SANTOS, 1994, p.7). A finalidade da ação implica no uso do objeto dentro do espaço, atendendo sempre a intencionalidade dos atores hegemônicos que aplicam o ato. Desta forma, os objetos são as materializações manifestadas no espaço referente à ação da intencionalidade de atores hegemônicos que através de políticas públicas propõem planejar o desenvolvimento de determinadas atividades.

A implantação de infraestrutura decorre pela atuação de determinada atividade e a sua repercussão no lugar. A estrutura criada para o desenvolvimento da atividade turística pretende atender a um determinado grupo que não possui vinculo com um lugar, entretanto depende das infraestruturas para que o seu desfrute seja de melhor qualidade. Por sua vez a infraestrutura criada para a finalidade do incremento turístico passa a ser utilizado de maneira distinta pelos moradores locais. Entretanto, o que se observa é que os dois segmentos são beneficiados, pois a estrutura está fixa e concreta.

A estabilização de determinado destino turístico parte do pressuposto que naquele local houve uma significativa melhora na infraestrutura. A construção de bases estruturais em determinado espaço, indica que nele existe um planejamento vigente, ações que indicam a tendência de um determinado recorte espacial e o uso que ele reproduzira para a sociedade. Para o desenvolvimento da atividade turística é imprescindível o amplo aparato estrutural, a fim de fortalecer o sistema turístico.

Mas antes de entender-se como se origina o fortalecimento de um sistema turístico, temos que entender o uso do espaço. As infraestruturas são objetos formados dentro de um princípio maior do que a própria sistemática turística, claro que a implantação delas depende da ação humana, levando em consideração qual a motivação que determinada ação levou a construção de certo objeto, esse é o conflito e o enigma que se estrutura o espaço. 

Nas últimas décadas a logística assume um importante papel na dinamicidade do sistema capitalista através da fluidez que a mesma propõe empregar. O avanço logístico acarreta o desenvolvimento produtivo territorial. O processo de reestruturação produtiva é manifestado no espaço através da explosão de fluxos materiais e imateriais, devido à necessidade de circulação que o sistema capitalista precisa. O avanço do meio técnico promoveu um novo rearranjo nas redes de transporte e comunicações, o que solicitou o uso da logística como uma maneira de planejar o território em uma dimensão produtiva.

Existe uma dificuldade em definir logística, esse termo foi inicialmente empregado na civilização grega e era utilizada no uso da matemática. A origem da palavra logística vem de logísticos que tem como significado relativo ao calculo. (MONIÉ, 2011). Na literatura geográfica, a palavra logística foi inspirada por estudos empíricos sobre estratégia militar, devido à necessidade de deslocamento de tropas, mantimentos, armamentos e combustíveis. As inovações técnicas facilitaram esse deslocamento, principalmente por causa da evolução dos meios de transporte. O avanço técnico dos transportes que ocorreu nos meados do século passado atendeu positivamente ao dinâmico sistema de deslocamento e consumo.

Com a evolução do sistema capitalista, a logística deixa de ser somente uma exclusividade na prática militar e é inserido como um importante artificio para o sistema produtivo capitalista. Algumas concepções da logística militar são adaptadas ao meio empresarial no período pós-guerra, principalmente no que tange a reconstrução das bases produtivas que foram destruídas durante a guerra.

O fordismo era o sistema de produção vigente no pós-guerra e suas bases produtivas estavam muito bem consolidadas, entretanto as organizações produtivas necessitavam de inovadoras soluções de fluidez, pois o elevado desenvolvimento do capitalismo no mundo ocidental acarretou uma maior intensidade de interações espaciais entre produtores e consumidores (MONIÉ 2011). O primeiro grande desafio da logística era aperfeiçoar a qualidade da distribuição da circulação de mercadorias concomitantemente com a melhor posição dos pontos de produção. Neste período o uso da logística como instrumento de planejamento produtivo foi absorvido por inúmeras empresas devido à alta competitividade entre as mesmas, pois a logística promoveu o aumento da fluidez de mercadorias com baixa redução de custos.

Aos meados da década de 1970, devido à crise do sistema produtivo fordista, os países centrais começam a adotar as novas políticas neoliberais. As empresas, devido ao colapso do capitalismo decorrente da crise do Petróleo em 1973, obtiveram resultados negativos e nos anos seguintes, reformularam o sistema logístico nos moldes do sistema de acumulação flexível, onde o emprego tecnológico passa a ser determinante para a estratégia logística, criando redes verticais e horizontais com a finalidade de racionalizar as interações decorrentes da realização do ciclo de reprodução do capital: produção, distribuição, troca e consumo.

O uso da logística no turismo beneficia e desenvolve a atividade turística, principalmente com o avanço técnico dos meios de transportes. A atividade turística possui uma particularidade em relação a outras atividades, pois a mesma necessita de deslocamento para ocorrer, é o consumidor que necessita de se deslocar para o desfrute do produto turístico, é por isto que há a necessidade de uma acessibilidade apropriada para a introdução do individuo turista ao atrativo turístico.

O aperfeiçoamento da rede de logística facilitou a construção de inúmeras rodovias nos destinos turísticos, assim como aeroportos e a melhor divulgação dos destinos turísticos nos meios de comunicação. A posição das bases estruturais, elaboradas pelo pensamento logístico, a fim de desenvolver o turismo foi determinante para que a rede turística se disseminasse.

O turismo se apresenta como uma incorporação onde à logística atua fortemente e a inclusão de diversas atividades e serviços atuam com a finalidade de conforto e lazer do turista. Tais relações e as tramas destes diversos serviços formam um sistema. (BOULLÓN, 2002). A acessibilidade nas últimas décadas tem sido priorizada para o desenvolvimento do sistema turístico, alguns segmentos de serviços como: locação de carros, linhas de ônibus de turismo, depende de uma aperfeiçoada rede de logística para desenvolver suas atividades em relação ao turista.

O desenvolvimento da logística acarreta uma boa organização de acessibilidade, trazendo implicações socioespaciais, no que diz respeito a melhor circulação do turista que ira consumir as mercadorias oferecidas ao sistema turístico. Se a paisagem que o turista irá desfrutar é imóvel, então é necessário acessos para a melhor fluidez do turista, a relação entre o desenvolvimento de bases produtivas e a evolução técnica dos transportes desenvolve o território turístico.

A implantação das redes no território ao longo do tempo foi sendo intensificado e evoluindo graças ao incremento da técnica. Os territórios que possuem uma tecnologia mais avançada produzem redes melhores aprimoradas e articuladas, pois elas interligam diferentes escalas. Na sociedade contemporânea, a grande densidade das redes surge como condição que se estabelece à circulação crescente de tecnologia, de capitais e de matéria-prima, a logística neste contexto insere o melhor posicionamento das redes.

A Logística se apropria da capilaridade das redes para o aperfeiçoamento de sua rede a fim de conectar o território com as suas bases produtivas, diminuindo custos e abatendo a questão das distâncias. Para a atividade turística a logística tem como objetivo fundamental diminuir a distância entre o ponto de chegada em seu território e o destino final de consumo. Essa diminuição ocorre com o maior número de redes ao entorno das posições de chegada e do destino final, para a logística, não necessariamente para existir uma melhor acessibilidade do território é necessário inúmeras vias de escoamento, mas sim vias em pontos estratégicos, posições onde possuem grande demanda de fluxos de deslocamento.

O modelo de desenvolvimento da atividade turística por Miossec (1977), (Figura 01) demonstra a evolução da atividade turística sendo determinada pela instalação de redes de acesso. No estágio do isolamento, observa-se nenhuma instalação de fixos, assim como nenhuma rede de fluxo, a negligência por parte do poder publico que não cria redes de acesso neste território, faz com que ela seja opaca.

Percebe-se que a partir do segundo estágio, após a criação da rede de acesso é que se introduz a instalação de um fixo. Ponto inicial para a implantação de mais redes de acesso e consequentemente mais instalação de fixos, a expansão das redes de acesso implica na difusão dos fixos.

Portanto na atividade turística, o acesso é a gênese do sistema turístico. Um sistema turístico com uma acessibilidade ineficaz resulta em um sistema enfraquecido. A consolidação de um destino esta associada à alta conectividade entre os pontos ligados por redes.

 

Figura 01 – Modelo de Miossec.

Elaboração própria.

Adaptado de Miosec (1977).

Portanto a logística materializa suas vias de deslocamento em posições vitais do espaço. Posições que recebem maiores fluxos, maiores demandas e que tem forte apelo de deslocamento. No turismo isso é essencial, pois para um destino ter forte apelo turístico, necessariamente deve existir um grande fluxo de pessoas para este local e, portanto é uma área perceptível de ter uma boa e aperfeiçoada rede de logística para facilita o acesso desse determinado individuo.

A consolidação de um destino turístico esta intrínseco no aperfeiçoamento no sistema de acessibilidade, diante desse pressuposto a logística turística em seu primeiro momento a fim de desenvolver e consolidar sua atividade e de atrair objetos para se aliar ao seu sistema, aperfeiçoara as redes de transportes.

 

 

2 O ESTADO E OS AGENTES TURÍSTICO DO ESPAÇO TURÍSTICO

2.1 Os principais agentes do espaço turístico

O Espaço é o objeto de estudo da geografia. Milton Santos é claro quando afirma que: “O Espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá.” (SANTOS, 2006, p.39).

Os objetos são as materialidades, enquanto as ações se caracterizam como a influência do homem neste conjunto, sendo este o principal protagonista do Espaço, que o modifica segundo as suas intencionalidades. No entanto, os objetos são aperfeiçoados pela evolução das técnicas em diferentes temporalidades, o Espaço se mostra como um conceito histórico e atual. “o Espaço é concebido como lócus da reprodução das relações sociais de produção”. (CORRÊA, 2000, p.26). É no Espaço que a reprodução das relações sociais de produção do homem é existente e concretizada. Mas ao mesmo tempo em que o espaço é total, as relações sociais o fragmentam criando diferenciações espaciais.

As diferenciações espaciais são frutos das heranças históricas. O Espaço é modificado em temporalidades diferentes e por isto elas se diferem. Apesar da existência de ações e de objetos, elas se materializam diferentemente nos lugares, formando a chamada trama locacional. Os objetos e ações são operacionalizados segundo a intenção humana naquele lugar. É a partir daí que surgem o espaço industrial, espaço tecnológico, espaço político e espaço banal. As diferentes atividades humanas dentro do espaço geram distintas ações concretizadas nos lugares, segundo o seu uso.

O turismo é uma função social, a sociedade contemporânea faz turismo não por obrigação, mais pela oportunidade de usufruir momentos de lazer, algo dicotômico dentro da lógica do sistema capitalista. A formação de espaços de lazer e a sua apropriação por mercados privados ou pela iniciativa privada é o princípio da atividade turística. É a partir dai que se estruturam os territórios turísticos. A formação dos espaços de lazer é causada por agentes que se utilizam, alteram e modificam o espaço para condicionar o uso e o transforma em territórios, segundo a sua intencionalidade.

O território corresponde aos espaços funcionalizados pelos agentes sociais (SANTOS apud CRUZ,2000, p.18 ) logo ao falar de territórios turísticos, deve-se discutir quais agentes influenciam na apropriação de determinados espaços para que gerem territórios aproveitados para a atividade turística. A apropriação e domínio dos territórios turísticos são causados pelos agentes do mercado turístico, pelo poder público e pelo próprio turista.

Esses agentes influenciam na criação e na existência dos territórios turísticos.  O mercado e o Estado se tornam os principais atores hegemônicos nos espaços turísticos. “Os territórios turísticos, correspondem aos territórios inventados e produzidos pelos turistas, mais ou menos retomados pelos operadores de turistas e pelos planejadores.” (KNAFOU apud CRUZ 2000, p.20). São esses agentes que se apropriam do espaço e criam suas próprias materializações e intenções.

O mercado tem como objetivo selecionar o espaço que irá ser turistificado, através das tendências do determinado lugar, levando em consideração os atributos naturais e culturais, a acessibilidade e incentivos fiscais para a sua fixação.  Uma determinada paisagem que não possui infraestrutura turística, mas que começa a receber visita de pequenos grupos, é logo apropriada pelo mercado turístico, que em primeiro momento através do marketing incide o incentivo a sua procura a fim de estimular o consumo do espaço apropriado.

Conforme afirma CRUZ (2000, p.20) “O poder do mercado e de promotores territoriais é de escolher, delimitar, criar, inventar lugares turísticos parece colocar esses agentes da produção de espaços para o turismo em algum plano superior”. É através do mercado que o turismo se torna uma atividade produtiva, entretanto não se limita a somente isso, é esse mesmo mercado que divulga a ideia de lazer do turismo, então o mercado ressalta também o turismo como um produto social, que se manifesta no espaço.

O mercado tem o papel decisivo na escolha de qual território turístico o turista irá visitar. As localidades mais atrativas são as que possuem melhores hotéis, resorts e chalés, que possuem melhores logísticas e estruturas, esses são os territórios mais consolidados e que possuem grande competividade turística. Para vencer essa competividade, o mercado “tem a permanente necessidade de criação de novos produtos e consequentemente, da expansão do mercado consumidor – característica de acumulação flexível do capital” (CRUZ 2000, p.21), a construção de novos produtos implica também na permanente renovação existente do turismo, já que a necessidade do “novo” do turista é explorada.

O Poder Público atua nos territórios turísticos, criando infraestruturas para fortalecer as destinações, diante da competividade existente dentro da atividade turística. Apesar do mercado não precisar ser atraído pelo Estado para se estabelecer em determinado local, o poder público tenta atraí o maior numero de mercados para se fixar para fortalecer seu espaço turístico.

O papel exercido pelo poder púbico assume enorme importância, na medida em que a gestão do uso do espaço será definida a partir de interesses dos diversos agentes econômicos (empresários de vários segmentos de atividade), além da própria população local (FONSECA 2005, p.38).

A atuação do Estado é de suma importância para a refuncionalização e o fortalecimento dos territórios turísticos. Os espaços urbanos se adaptam a intencionalidade que o turismo necessita para se desenvolve.

Por fim, o Turista é agente modificador dentro dos territórios turísticos, pois esses visitam e consomem esses territórios, de acordo com as suas vontades e motivações. O Território é configurado a partir dos anseios dos visitadores.

Mas dentro do espaço turístico, existe um agente social que não consegue (por ter pouca influência no âmbito do poder) se manifestar de forma mais veemente: a população local.

A população local não é levada em consideração, quando a configuração territorial do espaço turístico começa a ser reconfigurada, pois nos objetos e ações que começam a ser manifestados, são priorizados a atividade turística e não a população local, que acaba ficando a margem da expansão turística, participando apenas do meio de produção como um proletariado, já que a maioria dos melhores postos de trabalho não é da localidade, são contratados de outros lugares, por isto a territorialização do turismo, em parte é perversa, pois acaba ampliando desigualdades. 

 

2.2 As políticas públicas no paradigma de Estado Neoliberal

 

A globalização que reproduz desigualdades acaba afetando também a atividade turística, a perversidade de tal fenômeno acaba refletindo na escala local.

Perversidade, porque as formas concretas dominantes de realização da globalidade são o vício, a violência, o empobrecimento material, cultural e moral, possibilitados pelo discurso e pela prática da competitividade em todos os níveis. (SANTOS, 1994, p.27).

O Estado é o agente que utiliza o instrumento das políticas públicas para expandir determinadas atividades econômicas. As Políticas públicas têm como objetivo o desenvolvimento econômico pontual do território. Em diferentes temporalidades as políticas públicas criadas pelo Estado foram de suma importância para o desenvolvimento da economia do país. As geografias criadas em torno do espaço, mediante as políticas públicas, teve distintos estilos em diferentes períodos históricos.

Anteriormente, ao falar do território, citamos que a configuração territorial era a materialização concreta dos elementos existentes dentro do território, e as infraestruturas era exemplo desta configuração. Entretanto, esta configuração é fruto de diferentes temporalidades. É recente a importância da atividade turística no território, no entanto a atividade turística se apropriou de infraestruturas passadas e redefiniram os seus usos.

Ao considerarmos o uso do território, recorremos, necessariamente, à sua constituição e, consequentemente, à sua apropriação pela sociedade ao longo do tempo. Esta análise tem, portanto, um conteúdo assumidamente empírico e como trata das políticas públicas de turismo no Brasil e de seus rebatimentos espaciais, recorre à contextualização histórica dessas políticas, reconhecidamente datadas e marcadas pelo peso das novidades, mas também das heranças.(CRUZ, 2005, p.29).

Na teoria neoliberal a expansão da iniciativa privada deve preexistir, devido a livre mobilidade do capital, desse modo, as barreiras que atrapalham o livre comércio devem ser extraídas. Mas na prática ela acarreta uma competitividade exacerbada “A competição costuma resultar no monopólio ou no oligopólio à medida que empresas mais fortes vão expulsando do mercado empresas mais fracas” (HARVEY, 2012 p.77).

O papel do estado neste contexto é criar regulamentações e estratégias para que as empresas que atuam em seu território não possam ser prejudicadas pela competição dos mercados.

O estado neoliberal típico tende a ficar do lado do clima de negócios favorável em detrimento seja dos direitos (e da qualidade de vida) coletivos do trabalho, seja da capacidade de autorregeneração do ambiente [...] os estados neoliberais tipicamente favorecem a integridade do sistema financeiro e a solvência das instituições financeiras e não o bem-estar da população ou qualidade ambiental. (HARVEY, 2012 p.81).

No turismo o papel do estado neoliberal é criar condições de clima favorável aos negócios privados com a criação de infraestruturas e medidas regulatórias para atrair investimentos nacionais e internacionais de cunho privado para expandir os equipamentos turísticos criando territórios turísticos.

Para o neoliberalismo o investimento da iniciativa privada esta acima de questões sociais ou ambientais. No turismo, por exemplo, é comum a instalação de hotéis e resorts em áreas inaptas e que possui proteção ambiental. A finalidade do Estado é desenvolver o capital privado a fim de ampliar economicamente o seu território.

Estados desenvolvimentistas se apoiam no setor publico e no planejamento estatal em estreita associação com o capital doméstico e corporativo para promover a acumulação do capital e do crescimento econômico. Esses estados costumam dar considerável atenção a infraestrutura sociais e físicas. (HARVEY, 2012, p. 82).

O Estado é o agente primordial para a criação do sistema turístico. A ação do Estado é priorizar o desenvolvimento produtivo e articular o sistema espacial, o enfoque neoliberal e suas implicações no sistema capitalista culminaram em reestruturações produtivas, materializadas em investimentos de ordem pública a fim de criar novas bases produtivas ou recriar bases produtivas que estavam sucateadas.

Essa evolução produtiva culmina, na fase atual, onde a economia se tornou mundializada, e todas as sociedades terminaram por adotar, de forma mais ou menos total, de maneira mais ou menos explícita, um modelo técnico único que se sobrepõe à multiplicidade de recursos naturais e humanos. (SANTOS, 1994, p.6)

É a partir das mudanças na dimensão política influenciadas pela reestruturação produtiva, que o estado irá tornar-se visível aos objetos logísticos com o objetivo de  favorecer o turismo. O Estado, atuando a partir dos preceitos neoliberal, passa a gerenciar as políticas de turismo, a fim de criar um sistema produtivo mais competitivo, através de uma melhor articulação logística. A globalização, fenômeno que vem ocorrendo nas últimas décadas decorrente da chamada evolução do meio técnico-cientifico-informacional, afeta o turismo no que tange a intensificação da competitividade entre espaços e a busca de atração de novos consumidores turísticos.

Os processos de reestruturação produtiva e de integração do espaço econômico provocaram a explosão dos fluxos matérias e imateriais. No caso do turismo, a logística foi criada para facilitar o deslocamento dos indivíduos para as áreas de atrativos turísticos.   “reestruturação produtiva compreende um conjunto de transformações de caráter estrutural, organizacional e técnico, fazendo-se refletir no espaço geográfico em sua totalidade”. (AZEVEDO, 2013).

A função das políticas públicas no espaço turístico é aprimorar a paisagem turística afim de que os mesmos alcancem uma maior produtividade.

Em um sistema turístico melhor articulado com a implantação de equipamentos turísticos como hotéis, hospedarias, pensões, pousadas, condomínios, entre outros é onde existe a presença da logística, infraestrutura e os investimentos de políticas públicas.

Mesmo um local com um cenário belo onde é propícia a existência da atividade turística, sem possuir um sistema turístico articulado se torna um espaço inoperante no âmbito da atividade do turismo. A competição existente na atividade turística não ocorre somente na seleção dos lugares que apresentem uma paisagem mais bela, mas na qualificação dessas paisagens por meio de infraestruturas que possam atender de melhor maneira possível o turista. Nem todos os território turísticos possui a mesma qualificação.

As competitividades decorrentes das ideias neoliberais criam desigualdades nas áreas que a atividade turística é desenvolvida. A seletividade espacial da atividade turística se torna exacerbada, decorrente da alta competição que o turismo desencadeia dentro de um determinado território. Os territórios que oferecem melhores condições para a atração de mercados turísticos, estes terão mais força para ampliar o desenvolvimento turístico.

Nem todos os territórios obtém um Estado forte que consiga atrair investimentos em infraestrutura que possa incentivar o desenvolvimento da atividade turistica, alguns territórios conseguem com mais intensidade enquanto outros com menor.

3 CONCLUSÃO

O Turismo é uma prática social que se baseia no consumo do espaço. Apesar de ser uma prática social multidimensional, a dimensão econômica do turismo tem se destacado tornando-se responsável por grande parte da arrecadação financeira de municípios e até de unidades federativas.

No contexto de reestruturação produtiva, a atividade turística tem se destacado no Estado do Rio Grande do Norte contribuído para geração de empregos, renda e na dinamização do segmento imobiliário com a atração de investidores nacionais e internacionais.

O êxito dessa atividade, assim como muitas outras (na agricultura ou na indústria) está fortemente relacionado à criação de redes de acessibilidade e à implantação de determinadas infraestruturas que possam aperfeiçoar seu desempenho. Particularmente, no que se refere a atividade turística, observa-se uma total correlação entre esta atividade e a logística.

A logística é imprescindível para o entendimento do desenvolvimento do turismo. O deslocamento de um turista para seu lugar de desfrute e lazer depende de um arranjo de redes que possa leva-lo ao seu destino, no caso do turismo, o acesso é a porta de entrada do turista para o deleite do seu consumo. Assim, a atividade turística no Brasil necessitou (e ainda necessita) da criação de para se desenvolver no território nacional e possibilitar a atração de investimentos privados.

           

REFERÊNCIAS:

 

AZEVEDO, Francisco Fransualdo de. Reestruturação produtiva no Rio Grande do Norte. Fortaleza: Mercator, v. 12, jul. 2013.

           

BOULLÓN, Roberto C. Planejamento do espaço turístico. Bauru: Edusc, 2002

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