O teatro, antes de realizar-se plenamente no momento da representação (a peça, o espetáculo), constitui-se em texto literário. Na medida em que adota a palavra como veículo de comunicação, o Teatro participa das expressões literárias, e só perde a sua essência literária no momento em que é representado, criando para si novos signos. Assim, para o teatro a literatura não é um objeto de consumação, mas um produto criativo capaz de gerar representações que extrapolem o signo verbal. O leitor de teatro (do texto teatral), da mesma maneira que o leitor de outros tipos de textos literários, precisa exercitar sua imaginação para compreender os conteúdos e significados presentes no texto. E é neste processo de resgate à fantasia que surgem as diversas releituras e recriações, tão diversificadas quanto o número de seus leitores. A obra literária "constitui uma preparação a uma segunda leitura concentrada e viva, que deve ser uma espécie de recriação" (MICHAUD, 1957:17). Os mediadores entre o texto teatral e seus leitores "simplificam" a tarefa da recriação, empregando ao texto suas impressões. Há, assim, "uma soma de esforços de artistas que conscientemente sabem ser a obra teatral um ato de criação coletiva para a coletividade" (NEVES, 1987:10). Quando o que interessa é o texto teatral, a literatura, a linguagem é concebida como um conjunto de metáforas. O texto apresenta em sua natureza a ambigüidade, permeado por múltiplos sentidos, sugestões e sinalizações. É necessário que se perceba a profundidade de sentidos, sem deter-se apenas na sua leitura superficial. Assim, Literatura e Teatro realizam suas funções: questionar, provocar, entreter (ligada ao caráter essencialmente lúdico da arte) e formar conhecimento.

Referência:
GUINSBURG, J., NETTO, J. Teixeira e CARDOSO, Reni. Semiologia e teatro. São Paulo: Perspectiva, 2006

MOISÉS, Massaud. A análise literária. São Paulo: Cultrix, 2002.

NEVES, João das. A análise do texto teatral. Rio de Janeiro: INAGEN, 1987.