Contar história é uma arte. Arte transmitida de geração para geração. Arte se perdendo no emaranhado de tecnologias. Contar história é um costume humano ávido de auxiliar na busca premente de formar leitores.
Falar é uma das primeiras formas de comunicação e sem dúvida a mais usada. Em todos os momentos da vida necessitamos das habilidades de comunicação oral, seja nas relações familiares, em um contato com visinhos, numa compra de supermercado ou no ambiente de trabalho. A oralidade está presente das situações mais corriqueiras às mais formais. Desenvolver essa habilidade é uma carência. Conversar sobre assuntos diversos e em qualquer situação é uma qualidade. Ler qualquer tipo de texto e compreender o que está sendo lido é uma necessidade.
Mas de que forma conseguir o desenvolvimento de tal habilidade?
Para contribuir na solução desse problema apresentamos a literatura. Textos poéticos e polissêmicos, cheios de sentidos ambíguos e interpretações diversas que levam o leitor a viagens inimagináveis. No entanto, a dificuldade está em convencer o leitor de tais benefícios e, nesse mundo tecnológico, destinar um tempo à leitura.
Para tal desafio apresento a história contada. Tradição milenar transmitida de pai para filho, que tem sido relegado frente a tantos recursos de imagem e som, inovações High Tech e 3D, se perpetuando somente com a ação heróica de velhos e novos contadores.
Criar contadores de histórias da forma tradicional parece complicado nesse momento do desenvolvimento humano, então, a opção é difundir o princípio de que todos são narradores de contos e que para isso basta conhecê-los, afinal elas estão nos livros.
Eis aqui o momento em que a prática popular se entrelaça com premência acadêmica.
Existem, principalmente na área de educação, cursos voltados para o despertar do gosto pela contação. Esses cursos buscam desenvolver algumas habilidades inerentes ao ofício, apresentando um repertório de recursos a serem utilizados e um leque de histórias a serem contadas. Um conhecimento rico, mas que fica limitado ao corpo docente.
Penso que deveríamos ampliar tal prática. Proporcionar ao aluno o contato, a vivência com tais conhecimentos e, torná-los Contadores de Histórias. Levá-los a percorrer as trilhas das narrativas eruditas e populares, apresentar um universo dos contos fantásticos e de aventuras, e a riqueza dos personagens criados pelos autores daqui e de lá.
Para gostar de contá-las é preciso ouvi-las sendo contadas, conhecer vários recursos e treinar algumas técnicas. Vejamos:
A voz.
Ela é a grande aliada. Conduz o ouvinte pelos caminhos do conto.. Quando grave, transmitindo força e quando aguda, fragilidade, também pode ser modulada para, de acordo com a personagem, colorindo o texto com timbres diferentes.
O ritmo.
Seu compasso na narrativa dá a pulsação necessária a cada trecho e momento. A narrativa lenta contribui para o sucesso antes do clímax e acelerar tornar a aventura mais emocionante.
É claro que preciso citar: o silêncio.
Tão importante quanto a palavra, permiti que o ouvinte tenha tempo para construir suas imagens calmamente.
A linguagem corporal.
Tão característica do povo latino, conduz com movimento e expressões às sensações, aos sentimentos.
Os recursos do teatro.
Mais do que o corpo e a voz, o teatro contribui com a mágica cedendo os fantoches, os dedoches, os bonecos em varas, os objetos... Personagens criam corpo para ilustrar a cena, saltam em varas para longas jornadas, colheres e cachecóis viram meninas e ovelhas em outras paragens.
Escolher a história ou ser escolhido por ela? Tanto faz.
Para ser escolhidos ou escolher é preciso ler. O contato com o texto, com o livro, com a ilustração. É desse relacionamento que nasce a simpatia, a paixão, o amor pelas histórias.
Convém escolher uma diversidade de material: Contos, fábulas, lendas, mitos, ficção, poesia, advinhas. Tudo junto e misturado forma uma deliciosa salada literária.
Um emaranhado de textos, técnicas e recursos facilitadores na construção das caravelas que levarão à redescoberta do fascinante mundo da literatura.
Eis aqui um caminho. Não será o único e nem mais original, no entanto, sem sombra de dúvida, um dos mais prazerosos encontrados.

Bibliografia
Ribeiro, Jonas. Ouvidos Dourados: a arte de ouvir as histórias (para depois contá-las). São Paulo: Mundo Mirim, 2008.
Coelho, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 1. ed. São Paulo: Moderna, 2000.