Observa-se, através do exposto no presente artigo que, sob uma perspectiva de análise linguística, é possível estabelecer relações que evidenciem que o texto conservacional também é estruturado através de tópicos desencadeados pelo falante. Esta seleção de tópicos e de subtópicos é decorrente da própria interação verbal e, algumas vezes das manifestações de compreensão/incompreensão por parte do interlocutor. No entanto, a perspectiva de que o texto conservacional é um texto desorganizado e sem planejamento, como por muitos anos se acreditou, não procede, tendo em vista que ele possui uma seqüência lógica, um tópico a ser desenvolvido. Muitas vezes, diante da incompreensão, o falante reformula de forma a procurar a compreensão responsiva de seu interlocutor, seja por intermédio de repetições, paráfrases ou correções, atividades que não foram descritas e abordadas neste ensaio, mas muito recorrentes no texto conservacional. Sabe-se também que muitas das informações equivocadas que temos acerca das diferenças existentes entre oralidade e escrita decorrem de questões antropológicas e culturais de supremacia/ poder, os quais, muitas vezes delegaram à linguagem escrita um privilégio decorrente do fato de que, inicialmente, era destinada a poucos. Quanto à topicalidade no texto dos falantes idosos, percebemos que ela se assemelha muito ao discurso infantil pela organização em tópicos, que decorrem de outros tópicos, muitas vezes fugindo do tema central do texto. Algo semelhante pode ser observado nas produções textuais (mesmo nas escolares), quando aquele que produz inicia um tópico e começa a se desenvolver argumentos, e dos argumentos decorrem outros tópicos, que fogem do central, muitas vezes concluindo o texto com temas distantes do tratado no tópico frasal inicial. Isto também acontece na conversação, o que aponta que mesmo em meios diferentes, muitas características são comuns.

Já, em relação à questão temporal, observa-se que a linearidade alterna-se constantemente, com idas e vindas, bem como seqüências temporais que, na maioria das vezes, remontam histórias do passado, mescladas com as opiniões que emitem sobre o presente. Vale ressaltar que, fala e escrita numa perspectiva não dicotômica precisam ser consideradas como dois meios de uma mesma língua e não como pontos antagônicos. Conforme aborda Marcuschi (2004, p.125), as diferenças não são tão essenciais no plano do conteúdo nem no plano da organização básica das informações, o que comprova que o texto oral apresenta nos diversos gêneros alto grau de coesividade e coerência, não podendo ser tido como desordenado ou fragmentário.(...) a qualidade cognitiva da oralidade, não fica a dever à escrita no que respeita ao grau de abstração do raciocínio.

Para finalizar, pode-se considerar que o texto conversacional do idoso, mesmo possuindo suas peculiaridades, é marcado pelas características interacionais como de qualquer outro falante: preocupa-se em preservar a face, em estabelecer comunicação, com a alternância de turnos, entre outros aspectos do texto conversacional. Corroborando com estas idéias, Preti (1991, p.49), afirma que “a fala do idoso não pode ser tomada numa perspectiva isolada (...)”. Ou seja, de certa forma, as características pertinentes à fala do idoso, em especial do idoso velho, nos diversos níveis de análise, aponta que as diferenças básicas entre essa linguagem e a dos falantes mais jovens reside mais nas repetições, pausas hesitações, desvios de tópicos, que são mais intensificados com a idade avançada.

As lições que deste trabalho resultaram não poderiam ser tidas por suficientes para os espíritos sedentos de conhecimentos concretos e definitivos e de inovações revolucionárias em sua especialidade. Aliás, a conclusão mais segura a que chegamos ao final deste trabalho é que as pesquisas relativas ao desenvolvimento da linguagem humana ainda estão longe de atingirem uma explicação adequada e eficiente da sua organização, aquisição e evolução na mente da criança. Chegamos também à conclusão de que os professores de línguas e demais responsáveis pela aprendizagem da linguagem infantil deveriam estar sempre atualizados em relação à Psicolinguística e à Pedagogia das Línguas, visto que a escolha (ou criação) de um método apropriado e bem dosado é uma das mais eficazes motivações para a aprendizagem.

Os novos rumos tomados pela Linguística a partir de Chomsky, com a gramática gerativa e transformativa, sem dúvida têm revolucionado os estudos psicológicos relativos à linguagem, acarretando, conseqüentemente, uma retomada de posição da Didática da Linguagem, nas teorias da aprendizagem e na Pedagogia em geral.

Referente ao ensino de línguas estrangeiros (vivas), as reformas metodológicas mais importantes já concretizadas em todo o mundo foram um resultado da aplicação das teorias estruturalistas, começando com o uso didático sistemático de audiovisuais e áudio-orais, e da aplicação da teoria gerativista-transformacional de Chomsky, da qual se desenvolveram diversos métodos de alfabetização, direta ou indiretamente.

Entendemos facilmente que há uma relação muito estreita entre o pensamento e a linguagem. Que há mesmo uma interdependência relativa entre eles, de tal forma que muitos pensamentos e muitos conceitos seriam irrealizáveis sem o auxílio da linguagem e que ela é, quando exteriorizada, a simbolização do pensamento; quando interiorizada, o elemento básico de sua organização.

Do mesmo modo, não foi difícil compreender que todos os homens têm uma competência lingüística, mais ou menos evoluída, no sentido de conseguir ou não um discurso mais ou menos abstrato e mais ou menos complexo, seja de modo ativo (produzindo-o), seja de maneira passiva (compreendendo-o). Competência esta que é sempre suficiente para organizar pessoalmente a gramática da língua a partir da amostra a que se estiver exposto. E mais, que tem uma evolução extraordinariamente regular em toda a raça humana e só na raça humana. Dada essa competência universal, a aquisição da linguagem é natural e espontânea em todos os seres humanos normais, desde que sejam colocados em contato com outras pessoas que usam alguma linguagem durante um período mínimo.

Enfim, é importante que lembremos que a aquisição de uma língua nativa independe de cuidados especiais e mesmo os dispensam, pois o que é mesmo necessário é que a criança esteja exposta a uma língua durante os primeiros anos de sua vida. E mais ainda, que a aquisição da linguagem (ou de uma segunda língua) será mais difícil à medida que a criança vai avançando em idade, sendo mesmo muito difícil para um adulto, e quase impossível, se pensarmos numa aprendizagem perfeita. A execução ou o uso de uma língua não afeta em nada a sua organização subjacente, ou seja, a sua estrutura profunda. Isto é tratado pela Psicologia como o desempenho linguístico, ou seja, o modo pelo qual cada indivíduo usa a sua competência lingüística. O desempenho linguístico é um problema de registro, de estilo ou de preferências individuais.

As controvérsias, dúvidas e mistérios que rondam os estudos a respeito da linguagem do idoso demonstram que este é um campo que ainda necessita evoluir muito, mas que está em franco crescimento e tem caracterizado-se pelo enfoque interdisciplinar. Certamente, é necessário avançar ainda mais para desvendar a cognição do idoso. Na busca por respostas às suas perguntas, o pesquisador que se ocupa deste campo deve voltar-se para a valorização do idoso. Independente dos resultados demonstrarem declínios, habilidades preservadas ou superiores, a investigação deve retornar com frutos positivos para os sujeitos.

A medida que o entendimento sobre a cognição do idoso avança, a posição dos pesquisadores começa a convergir para a idéia de que os estudos devem mover-se em direção a atitudes produtivas, abandonando a simples constatação de declínios. De acordo com Birren; Deutchman (1991), é necessário realizar uma intervenção que possibilite ao idoso desenvolver a compreensão e a valorização do self. O idoso, estando em um estágio mais avançado da vida, necessita encontrar o sentido de sua vida para o mundo, adaptar-se ao envelhecimento e realizar escolhas positivas para si mesmo. A proposta destes autores é o uso das narrativas auto-biográficas, que são fonte de prazer para o idoso e ao mesmo tempo possibilitam seu desenvolvimento psicossocial. Wood (2000), em um estudo que investigou a auto-eficácia cognitiva e a memória de trabalho em um programa de treinamento cognitivo para idosos, verificou que os efeitos da intervenção cognitiva em idosos são promissores, sendo que são de grande importância a prevenção e a reabilitação de conseqüências prejudiciais do envelhecimento sobre a qualidade de vida.

A linguagem, sendo um fator que sofre influência de possíveis processos cognitivos em declínio na velhice, é um aspecto que não deve ser negligenciado na intervenção cognitiva do idoso. Tanto este como seus familiares devem conhecer e saber lidar com os processos cognitivos que podem modificar-se com o aumento da idade.

Estratégias que visem a intervenção sob aspectos como a memória de trabalho, a atenção e a velocidade de processamento devem ser desenvolvidas para trabalharem a favor da linguagem, utilizando recursos que promovam a valorização do self e que tirem proveito dos pontos fortes da cognição do idoso, como a preservação da memória episódica, o uso de estratégias de compreensão que valorizam o contexto e os aspectos globais do discurso do interlocutor e a habilidade de produzir narrativas interessantes e marcadas pela riqueza na expressão das emoções.

INTRODUÇÃO

Os objetivos deste trabalho são, como se vê, eminentemente práticos, visto que se reduzem a uma tomada de posição frente às dificuldades pedagógicas do ensino-aprendizagem das línguas, tanto no que diz respeito à língua materna, quanto a uma segunda língua.

A linguagem do idoso, cada vez mais, tem sido o foco de pesquisas da psicologia e da linguística que buscam identificar transformações e detectar as causas de possíveis mudanças que ocorrem no processo de envelhecimento. Este artigo revisa importantes estudos sobre a linguagem do idoso, enfocando as descobertas, as controvérsias e as hipóteses da manutenção ou do declínio de funções linguísticas na velhice. A pesquisa neste campo ainda está em período inicial, porém a interação entre disciplinas é crescente. Além disso, os estudos começam a enfocar as funções que são preservadas ou que evoluem com o avanço da idade e surgem tendências para o desenvolvimento de perspectivas futuras de intervenção durante o processo de envelhecimento. As pesquisas vem demonstrando que independente dos resultados demonstrarem declínios,

habilidades preservadas ou superiores, a investigação deve retornar com frutos positivos para a vida dos idosos.

PSICOLINGÜÍSTICA

Com o nome de Psicologia da Linguagem, a Psicologia trata do fenômeno da produção da linguagem humana, do seu comportamento e do seu desenvolvimento.

"Psicolinguística" é, portanto, um neologismo que surgiu da necessidade de se denominar essa fase de revolução na Linguística e na Psicologia, principalmente depois que Chomsky publicou nos Estados Unidos um trabalho sobre gramática gerativa denominado Syntactic Structures.

Jean-Yvon Lanchec, em seu livro Psicolinguística e Pedagogia das Línguas, diz que "a Psicolinguística tem por objetivo estudar as relações entre a mensagem pronunciada por um sujeito A e o modo pelo qual é percebida por um sujeito B, que só retém uma parte dos elementos dessa mensagem".

Na realidade, afirma Langacker,

sendo a linguagem um fenômeno em grande parte mental, seu estudo pode ser considerado um ramo da Psicologia. Qualquer teoria adequada da Psicologia Humana deve dar alguma explicação de nossos processos de pensamento; a linguagem é de importância central aí porque a maioria de nossos pensamentos assume forma lingüística. Muitos, se não a maior parte de nossos conceitos, recebem algum tipo de rótulo verbal. Assim, a relação entre linguagem e formação de conceitos é de grande interesse para os psicólogos. A linguagem também testa significativamente teorias de organização psicológica. As línguas são altamente estruturadas, e aprendemos a identificar e descrever suas estruturas de forma consideravelmente detalhada. Qualquer teoria da organização psicológica, portanto, deve consiliar adequadamente os tipos de estruturas que sabemos serem características das línguas humanas.

Demonstrando que a competência linguística de um locutor possibilita-lhe a criação de todas as frases da língua que fala, a teoria chomskyana da gramática gerativa mostrou que a linguagem é um tipo de comportamento humano muito mais complexo do que até então era considerado, levando os estudiosos a um "saudável respeito pelas complexidades do comportamento linguístico", visto terem todos eles fracassado ao tentar uma super simplificação das regras gerativas da linguagem.

Toda esta revolução dentro da Psicologia se deu a partir das idéias gerativistas e transformacionalistas de Chomsky e seus sequazes.

De qualquer maneira, o assunto, ou a disciplina, é de grande importância para quem está preocupado com o problema da linguagem, sua evolução (aprendizagem ou aquisição), seu comportamento e os seus problemas patológicos.

O PENSAMENTO E A LINGUAGEM

A PERCEPÇÃO, OS CONCEITOS E OS SÍMBOLOS

Como o pensamento e a linguagem estão estreitamente unidos em seus usuários, é preciso que se analisem as possíveis interferências que um deles pode ter sobre o outro, assim como o modo pelo qual eles se relacionam.

Em seu livro, Metodologia da Linguagem, J. Budin ensina: "Há inúmeras experiências cujo objetivo é conhecer a extensão das representações mentais infantis. Podem ser apresentados à criança objetos e figuras a fim de verificar se ela sabe dar-lhes nomes." Essas experiências são feitas assim porque se supõe que os conceitos, o pensamento, a percepção e a linguagem são elementos que se acham estreitamente ligados entre si. O que, aliás, não deixa de ser verdade. No entanto, é fato já sabido que "os conhecimentos de um escolar são, em regra, maiores do que sua capacidade de exprimi-los verbalmente."

A partir da percepção é que a criança formula os seus primeiros e mais elementares conceitos, representando os objetos pelo pensamento (que, provavelmente é anterior à linguagem), por meio de suas características gerais.

Novamente é Budin que nos apoiará com as suas palavras: "Os conceitos infantis limitam-se aos que a criança faz aos objetos e ao que os objetos produzem nela. Só depois de aprender a falar inclui nos seus conceitos experiências alheias, fato que só se processa lentamente."

O que é compreensível, dada a complexidade da linguagem. E mais:

Todas as coisas vindas através dos sentidos ou da manipulação revelam-se úteis à formação de conceitos. No começo, qualquer homem é "papai"; qualquer mulher, "mamãe". Há o que se chama generalização, isto é, reação idêntica a coisas semelhantes. Bola é qualquer objeto redondo: laranja, maçã, etc.
Uma certa hora, porém, surge a diferenciação, como resultado de uma análise, pela qual a criança verifica que pode comer laranjas e maçãs, mas não bolas. "Papai" deixa de ser um homem qualquer para se tornar um determinado homem, com características bem definidas.

Por meio da linguagem, os pensamentos e os conceitos tomam uma forma mais simples, de tal modo que as percepções de um indivíduo possam ser transmitidas às outras pessoas numa "boa forma", conforme pregam os gestaltistas. E "a 'boa forma' é, antes de tudo, uma forma simples e regular."

Já que lembramos os gestaltistas, os seus defensores afirmam que

as linhas melódicas e as figuras, no sentido mais geral, são formas; quando as percebemos, elas constituem um todo e não um agregado de percepções. Esse todo tem uma unidade própria. A respeito disso o austríaco Ehrenfels observa que, se um elemento estranho for acrescentado — uma nota numa melodia, pontos ou linhas num desenho —, a percepção tornar-se-á totalmente diferente, enquanto que a transposição de uma melodia num outro tom permite-nos, contudo, reconhecê-la. Essa importância da organização do conjunto foi também evidenciada na aquisição da língua materna ou na aprendizagem de uma segunda língua. Por essa razão, os esquemas entoativos parecem mais importantes para a compreensão do que a articulação correta dos fonemas que compõem a mensagem.

Tanto os gestaltistas, quanto os funcionalistas, os estruturalistas, gerativistas, transformacionalistas e todos os que se preocupam com a organização do pensamento e sua comunicação dão grande importância ao problema da linguagem humana e o modo por que ela é formulada na mente de quem fala e de quem ouve.

Ora, se a linguagem é uma forma simbólica de exprimirmos os nossos pensamentos, ajudando-nos a organizar nossas percepções e a formular conceitos a partir dessas percepções, além de servir de recurso mnemônico indispensável, que fenômenos mentais poderão ocorrer que não estejam relacionados com a linguagem e até mesmo dependentes dela?

 Entre a linguagem autêntica (aquela que, quando se diz, diz-se pela primeira vez e com originalidade) e o pensamento não cabem distinções, pois ela é o próprio pensamento.

Embora não tenhamos condições de discutir tal afirmativa, o que apresentaremos aqui não será uma confirmação exata, mas uma análise das opiniões correntes entre os especialistas no assunto.

Ronald W. Langacker, em seu livro A linguagem e sua estrutura, escreve que

Se definirmos pensamento como atividade consciente, podemos primeiramente observar que pensamento, ou pelo menos certos tipos de pensamento, podem existir completamente independentes da linguagem. O exemplo mais simples é a música. Do mesmo modo, ao se descobrir de repente que duas partes de um quebra-cabeças completadas separadamente se ajustam uma à outra, uma pessoa que está absorta na sua solução não realiza nenhum ato lingüístico, embora possa em seguida exclamar: "Ah! Isso deve se encaixar aqui!" É pois difícil compreender por que certas pessoas sustentam ser impossível o pensamento sem a linguagem.
Eis o que diz Sapir, por intermédio de J. Budin, a respeito das palavras: "São adequados envoltórios do pensamento que abrangem milhares de experiências diversas e são capazes, ainda, de englobar milhares de outras." E acrescenta o mestre: "Pensamos, pois, por meio de símbolos, símbolos que constituem conceitos, utilizando aqueles que são familiares e adequados a cada situação. Os mais empregados são as palavras, instrumentos preciosos na intercomunicação. Pensamos, em geral, por meio de palavras, o que não impede o uso de símbolos matemáticos, notações musicais, cores, linhas, etc."

Como a percepção da criança é inferior nos seus primeiros anos, dificilmente ela conseguiria distinguir o que pensa do que percebe e do que faz, visto que os seus conceitos estão ligados ao que ela "faz aos objetos e ao que os objetos produzem nela". Assim, a criança, durante muito tempo, fala sempre em voz alta, acompanhando as palavras de ações apropriadas.

"Na evolução normal do pensamento há uma gradual transição da linguagem clara para a murmurada e, finalmente, desta para a implícita. A sanção social age no sentido de internar o pensamento e os que não o fazem ou de fato são loucos ou são considerados como tais.

Inquestionavelmente — depõe Piaget —, parece que o surgimento da linguagem amplia as possibilidades da criança, proporcionando-lhe uma série de operações que realmente ultrapassam os limites da inteligência sensório-motora. Graças à linguagem, a criança é capaz de evocar situações passadas, libertando-se das fronteiras do espaço próximo e presente nas quais permanece prisioneira, enquanto mergulhada na pura etapa sensório-motora. Por outro lado, também graças à linguagem, os objetos não são mais atingidos em sua condição de puro imediatismo perceptivo, mas inseridos num quadro conceptual e racional que enriquece a possibilidade de seu conhecimento.
Na maior parte das civilizações, inclusive a nossa, tem-se dado um valor extraordinário à verbalização como forma de simbolização dos fenômenos que se processam na mente. Isso vem acontecendo a tal ponto que "acarretou, praticamente, uma verdadeira identificação do pensamento com a linguagem." E, como é um fato desta nossa civilização, "a educação coletiva tende a forçar o pensamento a se sujeitar constantemente aos quadros das construções gramaticais."
Considerando a estrutura do pensamento e a estrutura da linguagem, especialmente após o surgimento do conceito de estrutura profunda da linguagem, o reflexo de uma sobre a outra parece tornar-se mais evidente.

Numa outra parte ele nos apresenta argumentos que realmente esclarecem que a existência do pensamento sem a linguagem é óbvia. Um deles

É a experiência muito comum de querermos exprimir uma idéia e não podermos encontrar a maneira satisfatória de transformá-la em palavras. Esse problema não existiria se o pensamento fosse impossível sem a linguagem. Não obstante, a maior parte de nossos pensamentos envolve evidentemente a linguagem, muitas vezes de modo essencial. O problema, contudo, de determinar qual a influência da linguagem sobre o pensamento merece ser tratado com cautela.

Como já mostramos anteriormente, ao apresentar o problema, por exemplo, de conceitos como "democracia", "justiça", etc., "os estudiosos estão geralmente de acordo que as palavras facilitam em muito certos tipos de pensamento, servindo como referências ou símbolos, que se manipulam sem dificuldade."

Aliás, já por volta dos quatro anos de idade a criança tem elementos a partir dos quais já se pode afirmar, segundo Piaget, que "o pensamento antecede a linguagem, embora esta possa desempenhar um papel importante no sentido de concorrer para a aquisição de formas de equilíbrio mais avançadas e para a produção de esquemas representativos mais flexíveis ou móveis."

Portanto, "nosso pensamento é condicionado pela categorização lingüística da experiência, de modo que é mais fácil operar com conceitos codificados por uma só palavra do que com conceitos para os quais não há uma palavra especial disponível. A maneira, portanto, pela qual nossa língua divide a realidade conceptual tem pelo menos um efeito mínimo sobre o pensamento. Mas não há absolutamente evidência que sugira ser essa influência de algum modo tirânica ou poderosa."

Por exemplo,

quando pensamos em aritmética podemos empregar a palavra "aritmética" como um símbolo em nosso processo de pensamento. É muito mais fácil usar a palavra aritmética em nossos pensamentos do que operar com todo um complexo de conceitos simbolizado por essa palavra. O uso dos símbolos verbais torna, portanto, em muitos casos, mais fácil o pensamento. Pode-se mesmo argumentar que certos tipos de pensamento seriam impossíveis sem a existência desses símbolos com os quais podemos operar convenientemente.
Como a capacidade para aprender a falar uma língua é básica na inteligência humana, as regras subjacentes na aprendizagem da língua devem ser características do modo como funciona a mente humana.

Diga-se a propósito que Piaget já pensava de modo semelhante, bastante tempo antes de Chomsky se lançar como luminar da teoria gerativista-transformacional, quando escreveu que "a linguagem estende indefinidamente o poder do pensamento e lhe confere uma mobilidade que ele não poderia atingir por si mesmo, mas ela não é a sua fonte." E acrescenta: "Entre a linguagem e o pensamento existe, assim, um círculo genético tal que um dos dois termos se apóia, necessariamente, sobre o outro numa formação solidária e uma perpétua ação recíproca. Mas ambos dependem, no final de contas, da própria inteligência, que é anterior à linguagem e independente dela."

Enfim, "o pensamento deve ser verbal para poder comunicar-se."

A linguagem, portanto, poderá ser estudada sob vários aspectos, devendo-se "distinguir nitidamente o âmbito da Lingüística, que estuda a atividade pela qual se comunica um conteúdo de consciência de um indivíduo a outro, e a Psicologia, que, como a Lógica, se ocupa em examinar o próprio conteúdo da consciência humana."

Deste modo, pensamento e linguagem, embora não sendo uma mesma coisa, têm muito em comum. A Psicolingüística tenta definir tais relações nos ouvintes e falantes, analisando-as meticulosamente.

USOS E FUNÇÕES DA LINGUAGEM

A linguagem tem uma grande importância na organização da conduta da criança e no seu desenvolvimento. Primeiro a sua influência é feita de fora para dentro; depois, passa a se projetar de dentro para fora. No início, o controle da conduta é feito pelos pais, através da linguagem; mais tarde, pela própria criança. "A conduta da criança, inicialmente controlada pelos adultos sob a forma de incitações e recomendações verbais, progressivamente passa a ser controlada por ela própria, através da linguagem interiorizada".

A montagem das conexões perceptomotoras far-se-á com certa lentidão, todavia. Não obstante, aos 14/16 meses de idade parece certo que as crianças têm sua conduta regulada pela palavra do adulto. Solicitada a dar um objeto colocado diante dela, ela o fará sem maiores dificuldades. Tal já não acontecerá a partir do momento em que se aumente o grau de complexidade da situação.

No caso de uma insanidade mental, as formas que primeiramente são atingidas são exatamente as menos organizadas, mais complexas e menos automáticas. Só em casos extremos seriam afetadas as funções e usos mais simples. Assim, "na medida em que se instalam condições psicopatológicas decorrentes de lesões cerebrais no falante, registram-se dissoluções que logo atingem as duas formas superiores de utilização dos signos verbais, isto é, as formas representativa e dialética, persistindo as formas beneficiadas por maior organização e maior automatismo, isto é, as formas afetivas, lúdicas e práticas."

A função emotiva ou expressiva da linguagem corresponde ao uso afetivo, visto anteriormente, pois ela exprime a atitude do sujeito em relação àquilo de que fala e está centrada sobre o sujeito emissor.

O uso lúdico

aparece cedo, desde o período da lalação. A criança emite sons e se ouve a si mesma. Sente prazer nesse circuito que vai do ato fonético à impressão acústica que o segue. Quando as lalações começam a apresentar cristalizações, e uma estrutura se esboça nesses jogos, aparece a repetição ritmada. Observa-se a repetição palilálica de um mesmo fonema, ou então do agrupamento de vários fonemas, formando um motivo melódico que se renova por tempo mais ou menos longo.
Esse jogo de repetição ritmada que é, a princípio, autônomo, evolui para jogo de repetição de fonemas emitido pelos que cercam a criança. Ela brinca de responder a um som ouvido pelo que ela sabe emitir, sejam quais forem um e outro sons; mas, assim que o som emitido se assemelha ao percebido, o jogo das mudanças fonéticas muda para o jogo das descobertas fonéticas. Aqui se situa a origem da imitação. Um jogo de nível mais elevado, que serve de base ao uso representativo, é o das perguntas e respostas. Bem antes de a criança poder fixar e utilizar palavras, ela pergunta o nome dos objetos. Não é, porém, uma preocupação semântica que a impele primitivamente a essa conduta. Ela designa objetos um após outro, com expressão oral interrogativa, e o adulto deve responder-lhe. Mas pouco lhe importa, a princípio, a resposta; e isso se verifica no fato de, muitas vezes, ela não esperar a resposta para continuar seu interrogatório.
Quando a criança atinge o uso representativo da linguagem, continua a verbalizar livremente, sem se prender às regras da língua. Encadeia fonemas em grupos desprovidos de significação, associa palavras, pertencentes ao vocabulário da língua, em frases absurdas e incoerentes. Mas, no fundo dessa verbalização, desenham-se motivos regularmente renovados, que vão assumindo o aspecto de uma litania poética.
A que motivos obedecem tais jogos verbais? Percebe-se que esta atividade, inicialmente, busca a satisfação decorrente do estabelecimento de um ritmo e a reprodução constante e monótona de certos motivos, de onde nasce uma espécie de acalanto, que adormece a inquietação muscular e leva o corpo a um estado de euforia. Mais tarde, quando a criança se submete às leis da língua, quando as emissões verbais são cada vez mais determinadas pela significação, os jogos da linguagem proporcionam o prazer de uma atividade sem constrições.

Como se vê, o uso dialético e mesmo o uso representativo, são adquiridos pela criança só bem mais tarde ou, pelo menos, somente depois de uma certa vivência a criança pode desenvolver tais usos da linguagem.

A AQUISIÇÃO E O DESENVOLVIMENTODA LINGUAGEM

J. Budin, em sua Metodologia da Linguagem, escreve que "o melhor meio de acompanhar a formação espiritual e humana da criança consiste em seguir-lhe o desenvolvimento da linguagem", começando pela observação de todas as suas reações verbais mais elementares, já que, "em essência, o grito da criança contém, apenas, sons próximos das vogais, acrescidos de outros, semelhantes a sopros que se produzem na respiração."

Até hoje, infelizmente, ainda não se tem uma explicação suficientemente clara e incontestável sobre a aquisição da linguagem, mas

duas teorias explicam (cada uma negando a outra) a germinação da linguagem infantil:
a) O Nativismo — dá grande importância ao poder inventivo da criança (imaginação). Assim, muito do que ela diz será produto de uma atividade criadora, absolutamente espontânea;
b) O Empirismo — declara que a linguagem infantil se forma pela imitação.
Uma terceira teoria, conciliatória (acrescenta Budin), admite uma atividade congênita, instintiva, involuntária e ancestral (impulso ou instinto de linguagem), sem a qual não pode haver imitação.
De fato, o conteúdo das expressões verbais está condicionado à imitação, o que não diminui o valor da espontaneidade, sem a qual se torna impossível a seleção das palavras.

Em seu livro, Psicopatologia da Linguagem (Alguns Temas), Ofélia Boisson Cardoso trata do mesmo tema, escrevendo que

argumentar-se-á com o fato de ser a linguagem adquirida, em início, quando mais rudimentares são os processos de aquisição, através de estímulos exclusivamente sonoros. Não é bem esse o processo, porém. A criança realmente percebe sons e os imita; mas não intencionalmente; há uma atividade lúdica, de jogo, que atende à inquietação muscular, satisfazendo-se no próprio exercício; não há um determinado alvo a atingir. Emitindo os sons que imita, ela não pretende comunicar-se, quando chega a fazê-lo intencionalmente, o som como que já se tornou concreto: e, semelhante à etiqueta, tornou-se consistente. Só depois de vencida esta etapa, abstraindo e generalizando, poderá a criança comunicar-se usando a palavra.

Veremos que "as crianças mostram uma habilidade surpreendente para falar com fluência qualquer língua constantemente usada ao seu redor. Toda criança normal que não seja isolada do uso da linguagem começa logo a falar naturalmente uma ou mais línguas."

Aliás, o que é mais importante é que

a aquisição da língua vernácula pela criança independe de qualquer orientação especial. Os pais podem gastar horas "reforçando" toda parcela de atividade verbal reconhecível de seus filhos com um sorriso ou outra recompensa, ou tentando por meio da linguagem infantil transpor a distância entre sua competência lingüística amadurecida e a competência incipiente da criança. Mas não há razão especial para crer-se que tal atividade tenha qualquer conexão com o êxito final da criança ao tornar-se falante nativo da língua de seus pais. As crianças podem aprender uma língua brincando com outras crianças que a falam o melhor que podem, apesar de todos os esforços concentrados de pais extremosos. A única coisa aparentemente necessária é ficar suficientemente exposto à língua em questão.

Isto não significa que a figura dos pais não tenha a mínima importância para a aquisição da linguagem pela criança. Pelo contrário, ela será importantíssima. Principalmente a figura da mãe, que atuará emocionalmente com uma grande intensidade na psique da criança que inicia a aquisição da linguagem.

A importância das interferências emocionais no desenvolvimento da conduta verbal permite situar o problema da assimilação das formas verbais como um problema vinculado ao aprendizado de novas posições e de novos desempenhos funcionais no interior do grupo. A idéia central é a de que o domínio da linguagem segue rigoroso paralelismo com as modificações da constelação familiar, tal como essas modificações são perceptualmente assimiladas pelo falante, na época própria em que ele se revela, praticamente, sensível ao aprendizado da fala. Significativa, sobretudo, será a forma como se irá viver a relação com a figura materna, pois que a linguagem do falante, em sua fase inicial, se revela essencialmente maternal.

Esta capacidade de aquisição da linguagem é notável por várias razões, acrescenta Langacker. Em primeiro lugar, por sua universalidade em toda a raça humana. Simplesmente não há casos de crianças normais que, tendo tido a oportunidade, não tenham adquirido uma língua nativa.

A aquisição da linguagem é uniforme na espécie humana. É também específica da espécie humana. Toda pessoa normal aprende uma língua humana, mas nenhum outro animal, nem mesmo o macaco mais inteligente, mostrou-se capaz de um mínimo de progresso nesta direção, embora alguns animais possam aprender a resolver problemas, a usar instrumentos, etc.
O processo é ainda mais notável pela relativa rapidez e por sua perfeição. Quando tentamos analisar uma língua para ver como funciona, descobrimos ser ela extraordinariamente complexa, abrangendo princípios de organização altamente abstratos. Mesmo assim, nos primeiros anos de sua vida, qualquer criança consegue dominar pelo menos um desses sistemas. Além disso, o sistema lingüístico dominado pela criança é idêntico para todos os fins práticos ao sistema empregado pelas pessoas que a cercam. As diferenças são realmente mínimas quando se comparam com o vulto dessa realização. Se a criança for regularmente submetida a duas línguas, provavelmente aprenderá as duas; ainda mais, conseguirá manter os dois sistemas lingüísticos separados, o que em si é também um feito considerável.

Demonstrando o caráter essencialmente socializado da conduta verbal, inúmeras e importantes discordâncias existem contra a afirmação de Piaget de que a resposta verbal da criança é egocêntrica.

Vejamos, a seguir, a abordagem da evolução ou desenvolvimento da linguagem nos primeiros anos da vida da criança:

Nos primeiros dois meses de vida, os nenês emitem todos os sons da linguagem humana. Isso, conclui Osgood, contradiz inteiramente a noção de que a criança gradualmente se torna capaz de produzir vários sons. Uma afirmação mais precisa seria dizer que se modificam as freqüências comparativas dos vários sons da linguagem, à medida que se dá o desenvolvimento.
Do terceiro mês em diante, expressões traduzem estados de satisfação. A criança brinca com os sons do mesmo modo por que, mais tarde, movimenta os braços e as pernas. É a fase do balbucio, em que são empregadas todas as vogais e grande parte das consoantes, aparecendo, ainda, sons guturais e nasais para os quais não existem símbolos. Vêm, primeiro, os labiais: p, b, m...; por último as guturais: k, g, r... Depois, para reproduzir as nossas palavras, a criança deve, apenas, combinar os elementos lingüísticos de que dispõe, o que faz pela imitação. Começa por imitar a si mesma, em longos e intermináveis monólogos; a imitação dos outros já é mais difícil, embora, aos dois ou três anos, a linguagem da criança seja o eco de tudo quando ela ouve.

Segundo Jean-Yvon Lanchec,

antes dos 10 meses, aproximadamente, a criança passa pelo estágio pré-verbal:
1ª fase: A criança manifesta oralmente suas sensações agradáveis e desagradáveis. A expressão vocal é espontânea, sem imitações.
2ª fase: A criança tenta imitar o que escuta, sem lhe atribuir significação particular.
3ª fase: A criança compreende algumas palavras sem poder repeti-las.
O sentido das palavras representa todas as vivências que a criança obtém pelo ouvido e que, por sua vez, determinam uma linguagem própria. As primeiras reações resultam unicamente da impressão sonora; entretanto, aos seis meses, as diferenças de sons se tornam acentuadas e correspondem a estados de alegria, de cólera ou de indiferença.
Os olhos buscam a pessoa que fala. Atua sobre a criança um som vocal; às vezes, uma palavra característica ou um conjunto indeterminado onde sobressai uma espécie de melodia da linguagem. Paulatinamente o idioma passa a ser compreendido de maneira mais precisa: há manifestação da própria vida, da vida alheia, de algo que podemos chamar de realidade.
Aos oito meses, existem movimentos independentes; aos nove, compreendem-se gestos simples. Ora, os gestos são acompanhados de vocábulos; formam-se, pois, associações entre uns e outros, o mesmo acontecendo com relação aos objetos (indicados pelo olhar) e seus respectivos nomes.
Entre os 10 e os 14 meses, é pronunciada a primeira palavra com significação. As primeiras manifestações intencionais de comunicação vão desenvolver-se progressivamente: os substantivos aparecem primeiro, depois os verbos, os adjetivos e os advérbios.
A título de exemplo, eis a progressão constatada numa criança:
3 palavras aos 12 meses,
20 palavras aos 15 meses,
23 palavras aos 18 meses.
A aquisição se faz muito lentamente no início e a palavra pode ter então várias significações. É o estágio da palavra-frase. O nome de um objeto serve para designar todas as ações com ele relacionadas.
Frases de uma só palavra — Os adultos exprimem por meio de uma oração o que as crianças fazem com um só vocábulo; no entanto, mesmo na linguagem dos adultos há exemplo disso: — Socorro! Por isso, os adultos, em geral, compreendem pouco as crianças que não conhecem bem, dando-se o oposto com as que figuram na sua órbita familiar.
A oração de duas palavras surge quando a criança completa um ano e meio, ou mesmo mais tarde. Verifica-se um como encaixe de duas frases de uma única palavra. Cada um dos vocábulos poderia, por si, abranger o conteúdo total. Às vezes acontece também que o outro indica um aspecto particular: "Mamã vem" (= Mamãe, venha!).
Na realidade, a aquisição da linguagem é possível apesar das deficiências físicas e psicológicas. Nem a incapacidade de ouvir, nem a de emitir sons vocais impedirão uma criança de dominar um sistema lingüístico. No caso das crianças surdas, é evidentemente necessário um treinamento especial, pois é claro que um surdo não pode aprender uma língua ouvindo-a.
As crianças incapazes de usar seus órgãos vocais para produzir sons vocais podem, no entanto, aprender uma língua sem dificuldades especiais. São capazes de compreender perfeitamente uma língua e podem aprender a comunicar-se por escrito como qualquer outra pessoa. A aquisição da linguagem, portanto, não depende de maneira decisiva da expressão verbal.
A aquisição da língua nativa é menos provavelmente afetada pelo retardamento mental do que a de outras habilidades intelectuais. Uma criança deficiente mental a ponto de não poder aprender aritmética pode ainda assim adquirir a linguagem.
No entanto, uma criança não pode inventar uma língua a partir do nada.
Estar exposto ao uso da língua é, pois, o requisito mínimo necessário para a aquisição da linguagem. Quando trazidas para a sociedade normal, onde a linguagem é regularmente usada, as crianças que cresceram em regiões desertas ou em isolamento linguístico, geralmente conseguem fazer alguns progressos no aprendizado do uso da língua.

Neste caso, é claro, a dificuldade será proporcional ao tempo que a criança ficou isolada da linguagem. No entanto, não há uma documentação suficiente sobre tais experiências porque tais casos são raros, como é natural.

A língua que uma criança aprende, aprende-a a partir dos modelos que tiver em seu convívio, qualquer que seja a situação.

O modo como se reforçam nos bebês certos sons e se extinguem outros, geralmente é explicado pela teoria do condicionamento e reforço. No entanto, embora não esteja de todo provada esta hipótese, se isto for comprovadamente verídico, ainda não explicará a mínima parte da aquisição e do desenvolvimento da linguagem.

APRENDIZAGEM DA LINGUAGEM

A diferença entre aquisição e aprendizagem da linguagem é muito sutil e, no que nos interessa, não vale a pena teorizar sobre o assunto. Para sermos práticos, consideremos sob o título de aprendizagem o resultado de trabalho pedagógico, enquanto que a aquisição é aquela que se realiza espontaneamente, sem uma preocupação metódica.

Não nos caberá também a defesa de um ou outro método ou de uma ou outra teoria da aprendizagem específica. Nossa abordagem pretende ser a mais descomprometida possível, dando apenas uma visão panorâmica do que sobre o assunto se discute entre os especialistas e doutos.

Em seu livro, Psicologia do Comportamento, tratando da linguagem, Henri Piéron ensina:

Os gestos vocais, que comportam meios de ação sobre os outros seres (gritos para amedrontar, para chamar, para enternecer) tomam facilmente significação simbólica. Seu desenvolvimento sistematizado é a linguagem que, num grupo social, é transmitida pela educação aos novos indivíduos do grupo. Os gestos vocais, em toda sua flexível variedade, são praticados pelas crianças e, por associação com experiências perceptivas, sua significação, seu papel são aprendidos progressivamente, com o duplo movimento da associação analógica (que estende o uso dos termos) e da inibição condicionada (que o restringe e adapta), através dos ensaios-e-erros da vida mental.

É lógico que, numa sociedade do tipo da nossa, a linguagem precisa de ser ensinada e aprendida, se a quisermos em níveis mais abstratos e técnicos, principalmente porque a ascensão social está quase sempre ligada ao domínio de determinados registros da língua padrão, considerados mais importantes ou mais cultos. Por isso a escola tem uma grande importância na aprendizagem da língua, visto que ela é a instituição social destinada a conter a desenfreada e desorganizada evolução de uma língua, como acontece com todas as línguas faladas por muitas pessoas, como o português, o inglês, o espanhol, etc.

É a partir da escola que se estabelece a unificação de uma língua e o seu desenvolvimento técnico e artístico.

Por tudo isso e muito mais é que "uma introdução à natureza da linguagem é importante para qualquer pessoa que interesse por possíveis aplicações práticas dos resultados da investigação linguística. Uma compreensão fundamental da linguagem seria certamente valiosa para quem estuda ou ensina uma língua (mesmo a língua nativa do aluno ou professor)."

Além de tudo isso, "as crianças podem ser muito inventivas no que diz respeito à linguagem. Línguas secretas como a "língua do p" são uma boa ilustração da flexibilidade e da criatividade linguísticas. Tais línguas, geralmente baseadas de modo coerente na língua padrão, não são absolutamente raras. As crianças podem tornar-se facilmente fluentes numa língua desse tipo, e podem usá-la como código secreto para evitar que os adultos, geralmente mais lentos para essas coisas, controlem suas conversas."

Tais observações são aqui colocadas com a intenção, não sei até que ponto válida, já que os que tomaram conhecimento deste trabalho certamente já estarão conscientes disso, mas com a intenção de alertar os pais para a vantagem de proporcionar condições de aprendizagem de línguas a seus filhos quando eles ainda estiverem em seus primeiros anos de vida. Aproveitando a oportunidade, seria bom lembrar aos pais que há muitas pré-escolas por aí que nem se preocupam com tão importante aspecto do desenvolvimento da criança, quando a oportunidade então perdida não voltará jamais, nem haverá outra idêntica.

Considerando-se esta lei da "Gestalt", podemos compreender, por exemplo, por que um fonema sibilante tende a sonorizar-se entre vogais, por que existem os alofones posicionais e por que, naturalmente, as pessoas fazem a concordância entre as palavras de uma frase e muitíssimos outros fatos da linguagem.

Em se tratando da língua escrita, por exemplo, é muito importante que se leve em conta o problema da arte gráfica e dos esquemas, ilustrações e modos mil que existem de se colocar em destaque alguma coisa que se considera importante. "Certos tipos de arranjos, certos agrupamentos (dizem os gestaltistas), são mais favoráveis que outros à compreensão global ou parcial da coisa significada." Portanto, dependendo do objetivo específico do texto escrito, deve-se fazer um arranjo adequado dos itens.

"Entre os progressos da Linguística Contemporânea, duas correntes influenciaram profundamente o ensino das línguas: o estruturalismo e a gramática gerativa transformacional."

Como cada língua corresponde a um sistema particular, que evolui também de uma maneira sistemática e particular, a Linguística Estrutural procura analisar e definir, dentro de cada língua, o sistema fonológico, o sistema mórfico e o sintático, procurando descrever a sua estrutura e organização interna e estabelecendo regras que regem a sua estrutura e organização atual e a respectiva evolução.

A partir do estruturalismo, várias outras teorias vieram surgindo, seja como uma forma de desenvolvimento, seja como contestação de seus princípios. Entre elas, o formalismo, o funcionalismo, o gerativismo e o transformacionalismo são os que mais de perto interessam ao estudo, ensino e aprendizagem de línguas.

A partir dessa idéia surgiram vários métodos de alfabetização chamados de métodos naturais, que recebem nomes os mais variados. Veja, a tal respeito, o que escrevem as professoras Maria Helena Cozzilino de Oliveira e Conceição Perkles Monteiro, em seu livro Metodologia da Linguagem.

Como parece óbvio,

a enumeração dos estágios do desenvolvimento só nos fornece poucas informações diretamente úteis ao ensino das línguas vivas (entenda-se línguas estrangeiras). Com efeito, começando a aprendizagem de uma segunda língua por volta da idade de 11 anos (na 5ª série do 1º grau), a criança não poderá, fisiologicamente, voltar à idade de 2 a 4 anos, que é particularmente favorável; seu cérebro tem já uma certa "rigidez". A língua materna, bem fixada, permite-lhe organizar suas relações com o mundo exterior, segundo certas estruturas ligadas à sua língua de origem e exercer influências permanentes sobre a segunda língua. Somente uma aprendizagem precoce, antes dos 5 anos, pode permitir o domínio harmonioso e sem esforço de vários códigos lingüísticos.

Até hoje, as teorias da aprendizagem desenvolvidas pelos psicólogos para explicar o processo da aprendizagem da linguagem têm-se mostrado insuficientes, mas, felizmente, vêm se desenvolvendo gradativamente no sentido de encontrar uma solução adequada e eficiente.

Os lingüistas transformativos forneceram uma descrição de o que uma criança aprende, baseados no pressuposto de que a criança está internalizando gradualmente a gramática completa da língua adulta, e apoiados por análises de gramáticas infantis que fornecem provas abundantes de que a aprendizagem não pode ser explicada como imitação reforçada de associações estímulo-resposta.
Por outro lado, não basta dizer com Chomsky que a criança deve ter uma aptidão lingüística inata que a habilita a descobrir justamente aquelas regras transformativas que gerarão de forma sumamente econômica as sentenças de uma língua. Dada a predisposição humana para aprender línguas humanas, predisposição essa de que, segundo parece, os animais são carentes, o que realmente faz falta é a descrição dos mecanismos de aprendizagem pelos quais uma criança chega às regras daquela língua a que está exposta. Desde que se dê o necessário desconto para a complexidade do o que é aprendido, não existe razão alguma para que os psicólogos não tentem várias teorias da aprendizagem para explicar como é aprendido. Uma vez mais, a função da descrição linguística é impedir a super simplificação do comportamento que está sendo estudado.

Embora não seja desprovido de importância, não faremos aqui um estudo sobre os testes e provas de língua principalmente porque já estamos tornando demasiadamente longo este trabalho. A tal respeito, no entanto, transcrevemos aqui a observação de Lanchec de que "a construção de um teste de língua exige inicialmente um estudo comparativo das estruturas e sobretudo uma utilização sistemática dos resultados obtidos pela análise dos erros, pois se trata de elaborar provas que permitam, na maioria dos casos, a avaliação do nível de conhecimentos."

Também o mesmo faremos a respeito da motivação e sua importância no estudo da linguagem; transcreveremos apenas a opinião de Lanchec, que trata demoradamente sobre ambos os assuntos (dos testes e da motivação) em seu livro citado. Defendendo o valor da escolha de um método adequado e eficiente para o ensino de língua, ela escreve: "O método empregado conserva um papel importante, pois a apresentação de um novo tipo de ensino desperta o interesse dos alunos e é preciso desenvolver seu desejo de exprimir-se. Para tanto, o professor deve desenvolver os meios de satisfazer seu desejo de expressão. Graças à ruptura que estabelecem entre a língua materna e a língua-meta, os métodos audiovisuais favorecem o desenvolvimento do interesse e facilita a aquisição das relações situação-língua."

Como estamos chegando ao fim, cabe uma observação sobre a importância da aprendizagem da linguagem o mais perfeita possível desde o início da vida escolar da criança, para não voltar a jogar toda a responsabilidade sobre os pais. Aliás, estes sempre serão os mais importantes mestres que a sociedade já adquiriu, pois, mesmo transferindo sua responsabilidade à escola, eles é que escolhem (quando podem) a escola em que seus filhos vão estudar.

No seu livro, O Desenvolvimento Psicológico da Criança, Paul H. Mussen escreve que "o comportamento aprendido com o uso da linguagem é adquirido mais rapidamente, é altamente estável e generaliza-se amplamente, ao passo que as reações aprendidas sem participação verbal são relativamente instáveis, dependem de constante reforço e são rapidamente esquecidas. As crianças de mais de cinco anos de idade atuam e controlam o comportamento primordialmente por meio de estímulos verbais, isto é, por meio do que os psicólogos americanos chamam de generalização mediata ou mediação verbal."

Concluindo, lembremo-nos de que "em Lingüística, particularmente, por mais promissoras que sejam as pesquisas, elas tentam dar uma nova orientação à didática das línguas com as gramáticas gerativas e transformacionais, sem no entanto realizarem, no plano técnico, uma verdadeira renovação. Entretanto, essas contribuições teóricas levam a crer que dentro de alguns anos nossas técnicas pedagógicas sofrerão profundas transformações."

OS ESTUDOS DE LINGUAGEM DO IDOSO NESTE ÚLTIMO SÉCULO


O estudo da linguagem humana não é exclusivo de uma área científica. Ao contrário, muitas disciplinas, com suas diferentes perspectivas têm procurado entender e explicar essa importante atividade para o desenvolvimento do homem. O mesmo ocorre com os estudos da linguagem do idoso, que buscaram,

inicialmente, identificar transformações e detectar as causas de possíveis mudanças que ocorrem no processo de envelhecimento. Entretanto, recentemente, em vista do aumento crescente de expectativa de vida, os trabalhos sobre cognição do idoso, incluindo aqueles sobre linguagem, dirigem-se, também, à promoção de uma melhor qualidade de vida nessa etapa significativa. Dentro de uma perspectiva histórica, inicialmente a Linguística teve uma maior influência nos estudos sobre a linguagem dos idosos, que seguiram a evolução dos enfoques da própria Linguística, ou seja, do interesse pela sílaba ao discurso. A fundação da linguística moderna, no início do século, inseriu-se dentro da corrente científica do estruturalismo, que caracterizou-se pela descrição sistemática, parcial ou total das estruturas da linguagem (fonologia, lexicologia e semântica), focalizando a palavra isolada, ou seja a formação sonora da palavra e a denominação (Beneviste, 1995). Embora o estruturalismo não represente hoje a corrente mais utilizada nas pesquisas em Linguística, vários estudos verificam os aspectos formais da linguagem do idoso, avaliando fatores relacionados à sintaxe, semântica e fonologia (Orlandi, 1990). Estudos que analisam os aspectos fonológicos da linguagem na velhice demonstram um déficit na compreensão de fonemas distorcidos ou apresentados com ruído de fundo. Este déficit muitas vezes está ligado a uma diminuição da audição. Além disso, outros trabalhos observaram que a produção de fonemas no idoso é distinta, sendo identificada por ouvintes como menos clara, apesar de não dificultar demasiadamente sua compreensão (Ryan; Laurie, 1990). No entanto, também é observado que, frequentemente, os idosos utilizam estratégias mais ou menos eficientes para manejar com estas dificuldades, como a utilização de habilidades linguísticas do tipo top-down, em que o discurso como um todo e o contexto em que ele ocorre é o principal fator considerado na compreensão.

Entretanto, a análise dos aspectos semânticos e lexicais da linguagem do idoso mostra que nem sempre são encontradas perdas ou prejuízos em relação a faixas etárias mais jovens. Apesar de um provável declínio na produção de palavras, caracterizada pelo aumento de comportamentos de tipo ". . . palavra na ponta da língua." (Burke; Harrold, 1988), o vocabulário permanece estável ou mesmo evolui, especialmente nos idosos que apreciam a leitura (Obler, 1989; Salthhouse, 1987). Desta forma, podemos observar uma evolução dissociada, na qual perdas de rapidez e de articulação, que podem ocasionar perdas na fluência e na inteligibilidade das mensagens de idosos, não refletem a evolução semântica, provavelmente ocasionada pela maior experiência linguísticaP0 com o decorrer da vida.

Outros estudos não se preocuparam com o envelhecimento, mas sim em caracterizar a forma dos idosos em utilizar a linguagem, enquanto um grupo social distinto. Pretti (1991) abordou as características do léxico no discurso do idoso, mais especificamente, aquelas que evidenciavam marcas lexicais de espaço e tempo. Este trabalho demonstrou o aparecimento constante de informações sobre o passado, através do surgimento de determinadas expressões, vocábulos, formas de tratamento e estruturas formulaicas antigas. Arcaísmos gírios, ou seja, gírias antigas, apareceram nos discursos, tais como coió (rapaz conquistador) e vassourinha (moça namoradeira), que surgiram com frequência. Também foi observado o uso de expressões formulaicas, que são frases-feitas, provérbios e refrões, como "de grão em grão a galinha enche o papo", para as quais os idosos pareceram ser bastante afeitos, sendo que muitas dessas expressões remontavam à sua infância e juventude. Algumas formas de tratamento próprias do idoso também puderam ser observadas em idosos mais velhos, verificando-se maior formalidade na linguagem. Pretti (1991) concluiu que, com exceção das formas de tratamento, considerável parte do vocabulário do idoso é atualmente desconhecida e provoca um constante processo de explicação na sua fala, quando se dirige a interlocutores jovens. Esse constante processo de explicação pode prejudicar a fluência do discurso, que se caracteriza por saídas e voltas ao tópico, podendo ocorrer a saída sem retorno ao assunto original, que pode estar associada às dificuldades de memória do idoso. Explicações fornecidas peloidoso, relacionadas à linguagem, parecem não configurar um problema para ele, que expressa prazer em transmitir conhecimentos aos jovens.

Nos anos 70, a linguística sai da descrição exclusiva das estruturas da linguagem para observar o seu uso. Surge a Pragmática, uma corrente preocupada com a significação estabelecida no uso concreto da linguagem por falantes reais. Uma das principais vertentes da Pragmática considera o usuário em uma relação de interlocução com o outro, desenvolvendo estudos que abordam o contexto de comunicação. Desses estudos, surgiram a Análise Conservacional, os Atos de Fala e a Teoria da Enunciação. Na pragmática conservacional, o significado é considerado em função da intenção do locutor e do reconhecimento dessa intenção pelo ouvinte. Já a teoria dos atos de fala considera que a linguagem é utilizada para realizar vários tipos de ações, valorizando a ação que está implícita na fala do locutor (Searle, 1969). A teoria da enunciação salienta o sujeito locutor buscando compreender o processo subjetivo de enunciação, de acordo com as formas que o sujeito usa para registrar

sua própria marca naquilo que diz.

Estudos abordando a linguagem do idoso sob estes prismas atuais vem sendo apresentados de forma crescente na literatura. Boden; Bielby (1983) realizaram um estudo exploratório que utilizou a análise de conversação como método para verificar a significância da estória de vida ou narrativa pessoal na vida diária do idoso. Conversas entre díadas de idosos e díadas de jovens foram comparadas, demonstrando que a lembrança do passado é frequente nas conversas entre idosos, aparecendo bem menos na interação de jovens. De acordo com o estudo de Pretti (1991), que abordou o tópico discursivo e a fluência entre outros fatores da linguagem no que se refere às narrativas conservacionais, o discurso de idosos não difere fundamentalmente do discurso de indivíduos de outras faixas de idade. O autor afirma, no entanto, que as narrativas ocorrem com grande frequência na fala de indivíduos mais velhos, dada a tendência natural dos idosos em tornarem-se "contadores de estórias". No estudo de Pretti, o discurso dos idosos apresentou, com frequência, a narrativa de casos pessoais como tópico, despertando o interesse do ouvinte. A categoria tempo percorreu a construção dos tópicos, que se bipartiram entre o passado e o presente. Segundo o autor, o passado é utilizado para a análise do presente, sendo mais importante para o falante idoso pois ele crê e pretende demonstrar que os valores de antigamente são superiores aos de hoje. Assim, ele apresenta o objetivo de preservar sua imagem social através da linguagem. De acordo com Pretti (1991), os idosos não demonstraram um déficit em seus discursos, mas revelaram habilidade em conduzir, quebrar e mudar de tópicos, visando a oposição desejada entre o passado e o presente. Recentemente, observa-se que os estudos sobre linguagem, não recebem a influência teórica e metodológica de apenas uma área de conhecimento. Neste sentido, a Psicolinguística, coordena conhecimentos da Linguística e da Psicologia, focalizando a atividade da linguagem, seus processos e formas de utilizá-la.

A Psicologia e os Estudos sobre a Linguagem dos Idosos

A influência da Psicologia nos estudos da linguagem do idosos acompanha quatro perspectivas teóricas da própria disciplina: a perspectiva do desenvolvimento, a perspectiva psicométrica, a perspectiva do processamento das informações e a perspectiva psico-social (Pratt; Norris,1994).

Estudos dentro da perspectiva do desenvolvimento, utilizando-se do modelo de estágios de Piaget, sugeriram que adultos mais velhos apresentavam desempenho menos adequado do que adultos jovens, considerando as operações formais descritas por Piaget. Estes achados foram interpretados como indícios de uma regressão cognitiva. No entanto, os resultados foram questionados, devido à falta de um delineamento longitudinal que fundamentasse de forma consistente a hipótese de um declínio cognitivo do idoso. Os estágios de desenvolvimento cognitivo propostos por Piaget se estancam no período das operações formais, encerrando o desenvolvimento da inteligência na adolescência. No entanto, desde 1980, a abordagem de Piaget vem sendo utilizada para propor a etapa pós-formal (Commons; Richards; Armon, 1984). Segundo os autores que seguem esta linha, ocorrem estágios posteriores de desenvolvimento cognitivo após o período das operações formais. Os estudos sobre a linguagem do idoso, nesta perspectiva, atribuem ao idoso a característica do egocentrismo, descrito por Piaget (Rubin, 1974); outros sugerem uma regressão caracterizada por um padrão inverso ao da aquisição da linguagem por crianças, isto é, as habilidades linguísticas mais complexas, adquiridas mais tarde pela criança, são as primeiras a desaparecer no idoso (Kemper, 1988).

Uma abordagem de etapas rígidas não permite a noção de que possam haver evoluções diferenciadas em determinados aspectos cognitivos, causando as dissociações já mencionadas anteriormente. Mesmo que alguns aspectos do comportamento lingüístico, principalmente o articulatório e a fluência expressiva, mostrem um declínio, a utilização freqüente de diferentes formas lingüísticas pode promover o enriquecimento semântico e lexical durante o envelhecimento. Mac Kay; Abrams; Pedroza (1999), num estudo sobre a detecção e a reprodução de erros ou acertos ortográficos, sustentaram a hipótese

de uma assimetria no desempenho de idosos quanto à compreensão e à produção, sugerindo que os processos de compreensão permanecem estáveis, enquanto os processos de produção apresentam declínios. Desta forma, parece evidente que há processos cognitivos relacionados à linguagem mais vulneráveis

ao envelhecimento do que outros.

A perspectiva psicométrica está centrada no uso de testes padronizados que são elaborados através de procedimentos controlados e delineados para investigar diferenças individuais de desempenho cognitivo nos diferentes estágios da vida. Analisando-se historicamente os estudos desta corrente, verifica-se que grande parte das pesquisas nesta linha defenderam hipóteses de declínio na inteligência do idoso. A sugestão da existência de uma inteligência unitária que, em bebês, seria indiferenciada, tornando-se diferenciada na vida

adulta e sofrendo um retrocesso caracterizado pela indiferenciação na velhice, foi uma das hipóteses testadas na perspectiva psicométrica (Balinsky, 1941). nesta fase da vida (Horn, 1982). Evidências de estudos mais recentes (Cuningham; Tomer, 1990) demonstraram a existência de um declínio menor da inteligência fluida, ocorrendo em idades mais avançadas do que o previsto pelo estudo de Horn (1982). A idéia das habilidades fluidas e cristalizadas apoia estudos com a hipótese de que a linguagem permanece intacta na velhice,

pois a linguagem é considerada uma habilidade cristalizada. A perspectiva psico-social contribui com a ênfase na diversidade individual e no contexto para explicar o modo como as habilidades manifestamse

ao longo da vida e se propõe a descrever o ambiente social no qual o desempenho cognitivo do sujeito está inserido. Nesta perspectiva, as habilidades cognitivas são modeladas pelo contexto histórico e cultural. Assim, esta corrente direciona grande parte dos estudos sobre a linguagem do idoso para a relação deste com a sociedade, verificando a maneira como esta se comunica com o idoso e argumentando que esta maneira de se comunicar produz um impacto negativo na percepção do idoso sobre suas próprias habilidades lingüísticas. Levando em conta aspectos sociais e culturais, esta perspectiva contou com a contribuição da sociologia e da antropologia, bem como - mesmo que pareça paradoxal - com a contribuição da inteligência artificial e da neuropsicologia. Este intercâmbio multidisciplinar propicia o nascimento da psicologia do

discurso, denominada também, a segunda revolução cognitiva (Harré; Gillett, 1994). A análise de discurso vem possibilitar o estudo da significação nos processos mentais, propondo a idéia de que o significado não tem origem apenas nas regras internas da mente. Este é o ponto de encontro de uma vasta gama de influências estruturais que incluem os conceitos disponíveis nos discursos e nos contextos em que estes são desenvolvidos. O uso da análise de discurso provém do pensamento de que não é possível definir a mente de

modo isolado. Através deste método, os estudos da linguagem pretendem contribuir com a investigação da relação da linguagem e das condições de produção do discurso, ou seja, o falante, o ouvinte, o contexto da comunicação e o contexto histórico-social. Por outro lado, a linguagem – especialmente a linguagem discursiva – não é mais considerada uma atividade mental isolada, mas nela confluem diferentes processos mentais, tais como, tipos de raciocínio, formação de estratégias, arquivo e produção de informações. Assim, a compreensão funcional da linguagem gerou uma diversidade de estudos em Psicolingüística, englobando três principais áreas: a) o estudo da produção e compreensão da linguagem; b) o estudo das funções cognitivas da linguagem; e c) o estudo da linguagem em seus aspectos evolutivos e patológicos (Belinchón; Rivière; Igoa, 1996). Estes três ramos têm contribuído de forma crescente com estudos sobre a linguagem do idoso. Os estudos que se interessam pela análise dos processos mentais no envelhecimento têm se caracterizado, em grande parte, pela investigação do processamento de informação do idoso. Os achados dessas pesquisas sugerem o declínio de algumas funções cognitivas, como atenção, resolução de problemas e memória. Esta última tem sido exaustivamente estudada, destacando-se pesquisas sobre a memória de trabalho dos idosos. Resultados destes estudos indicam que ocorre uma diminuição da habilidade de estocar

informações a curto prazo para a resolução de problemas, fornecendo a explicação de que há uma diminuição espacial deste sistema de capacidade limitada (Light, 1991). Explicações temporais também são fornecidas com relação ao declínio de funções cognitivas do idoso. Cerella (1990) e Salthhouse (1985) referem uma diminuição na velocidade de processamento cognitivo do idoso, promovendo um desempenho menos eficiente devido ao reduzido tempo de manutenção de informações necessárias para a resolução de problemas. Críticas à perspectiva do processamento das informações têm consistido no questionamento da pesquisa dos déficits cognitivos em laboratório. Tais críticas levantam a idéia de que a sugestão de déficits contrasta com evidências de estudos que investigam o idoso em situações de vida real, encontrando

desempenhos mais funcionais e em certos casos, considerados superiores. Em resposta a estas críticas, a perspectiva do processamento das informações tem incluído estudos que não envolvem somente experimentos de laboratório, mas investigam a cognição do idoso em situações de vida real. Além disso, surgem explicações que introduzem o termo "compensação", para dar conta da manutenção do nível de desempenho competente, apesar da diminuição de algumas habilidades, através da reorganização das estratégias para realizar uma tarefa (Pratt; Norris, 1994). A diminuição de algumas habilidades cognitivas na velhice, pode influir no declínio da linguagem no idoso. As evidências de déficits na memória de trabalho dão suporte a esta idéia, pois a memória de trabalho exerce um papel importante no processamento da linguagem (Kemper, 1988). Além dessas evidências, a proposição de que há uma diminuição da velocidade no funcionamento cognitivo prevê uma piora no desempenho lingüístico (Salthouse, 1991). De acordo com Woodruff-Pak (1997), muitas investigações têm fornecido suporte à hipótese de que déficits na linguagem do idoso resultam do declínio de processos cognitivos não lingüísticos. Dessa forma, a origem de problemas na linguagem do idoso não está ligada à alterações focais das estruturas especializadas no processamento lingüístico. De acordo com a perspectiva do processamento das informações, as causas das mudanças no

desempenho lingüístico do idoso resultam de problemas na atenção, percepção, velocidade, memória e funções executivas do lóbulo frontal do cérebro.

Pesquisas sobre a produção do discurso de indivíduos idosos demonstraram que, em conversações que têm tópicos autobiográficos, há um aumento de informações pessoais irrelevantes e uma diminuição da coerência

na fala, comportamento, este, que é denominado "verbosidade fora de tópico" (Arbuckle; Gold, 1993). Estes dados levantaram um debate acirrado entre as pesquisas que têm se posicionado a favor da hipótese do déficit de inibição, ou seja, da suposição de transtornos não lingüisticos, e os trabalhos que defendem

a hipótese da mudança pragmática. A hipótese do déficit de inibição postula que uma minoria de idosos

saudáveis sofre um declínio específico no mecanismo de inibição, considerado uma função executiva do lobo pré-frontal do cérebro, fundamental na expressão e compreensão da linguagem, além de outras habilidades. Segundo os autores que defendem esta hipótese, a verbosidade fora de tópico parece estar associada

a esta dificuldade de inibir e "clarear" a memória de trabalho de informações processadas previamente. Os achados dessa corrente demonstram que os idosos produzem fala mais prolongada e irrelevante ao assunto Por outro lado, a hipótese pragmática postula que a intenção comunicativa é determinante na qualidade e no estilo do discurso. Através deste ponto de vista, a competência cognitiva não estaria por trás do estilo de discurso considerado verboso e fora de tópico pelos autores que defendem a hipótese do déficit inibitório. Segundo os defensores da hipótese da mudança pragmática, o determinante da mudança estaria no contexto social e identidade do falante. Os principais argumentos utilizados pelos defensores da hipótese pragmática

para criticar a hipótese do déficit inibitório, referem-se às evidências de estabilidade de várias habilidades lingüísticas no idoso, especialmente aquelas relacionadas à tarefas de compreensão. Além destes dados, estes autores questionam o não surgimento de verbosidade fora de tópico em diferentes tarefas, como descrições de figuras. Desta forma, os resultados podem ser atribuídos à fatores psicossociais. Burke (1997) e James (1998) argumentam que uma melhor qualidade é atribuída às estórias contadas por idosos . Ao examinar as narrativas dos idosos, Pretti (1991) afirma que os idosos tendem a falar muito, geralmente referindose

ao passado. Apesar dos tópicos serem guiados pelo seu interesse pessoal, talvez mais do que pelo interesse de seu interlocutor, o discurso do idoso geralmente é considerado interessante pelo ouvinte. Segundo este autor, o sucesso nas narrativas deve-se ao grau de originalidade: quanto mais inusitados são os fatos contados, tanto maior a atenção do ouvinte ao discurso narrativo. Esta característica é, de certa forma, uma condição que favorece a ativação na memória episódica, mais preservada do que a memória de trabalho. Justamente a característica de contar fatos inusitados, mais fixados na memória, é que valoriza o discurso do idoso. Como afirma Pretti (1991), ". . . eles fazem desfilar perante o ouvinte cenas, fatos públicos, episódios familiares, tipos humanos que podem remontar a mais de meio século, devido ao próprio mecanismo da memória que possibilita aos idosos lembrar com mais facilidade cenas da infância e da juventude." (p.108).

Um dos argumentos utilizados por estudiosos que defendem a hipótese pragmática é o de que os processos de compreensão, que supostamente seriam afetados pelo déficit inibitório, parecem estar intactos na linguagem do idoso (Burke, 1997). Porém, apesar de existirem estudos que demonstram a preservação de habilidades relacionadas à compreensão, há trabalhos que indicam o contrário, postulando que a compreensão é afetada pelo envelhecimento. As controvérsias não param por aí, pois, como mencionado

anteriormente, existem pesquisadores que defendem a hipótese de uma assimetria no declínio da linguagem do idoso, afirmando que os processos de produção são mais afetados do que os de compreensão (Mac Kay; Abrams; Pedroza, 1999).

Os achados de algumas pesquisas têm demonstrado que o desempenho de idosos não apresenta diferenças significativas do desempenho de jovens na compreensão, especificamente na tarefa de resumir um texto. Segundo estes autores, a tarefa de recontar estórias é uma atividade que envolve recursos da memória de trabalho e da memória episódica. No entanto, as pesquisas sugerem diferenças na análise de ênfases nas narrativas, demonstrando que os jovens preferem relatar a seqüência de ações e os idosos encadeiam os fatos de forma subjetiva. Devido a uma redução da memória de trabalho, os idosos utilizamse mais das informações armazenadas na memória episódica, deixando transparecer suas representações mentais (Parente; Capuano; Nespoulous, 1999; Parente; Saboskinski; Ferreira; Nespoulous, 1999). A idéia de que o idoso apresenta uma versão mais subjetiva em seu discurso do que o jovem também é sustentada pela Teoria da Seletividade Sócio-Emocional. De acordo com Cartensen,; Isaacowitz; Charles (1999), o tempo exerce um papel importante na seleção de metas sociais. O idoso apresenta uma percepção de tempo diferente daquela apresentada pelo jovem, conferindo uma certa prioridade às metas relacionadas às emoções, que se reflete no desejo de encontrar o sentido da vida e a intimidade emocional. Estas características sócio-emocionais do idoso são demonstradas no seu discurso, predominando a atribuição de um papel mais destacado à emoção em suas narrativas. Apesar de alguns autores evidenciarem um declínio na compreensão do idoso, citando dificuldades no relato coerente de estórias (Juncos-Rabadán, 1996; Cohen,1979), muitos trabalhos sustentam a idéia de que parece não haver diferenças qualitativas significativas entre o processamento do discurso do idoso e do jovem (Stine; Wiengfield, 1990; Parente; Capuano; Nespoulous, 1999).

No entanto, os autores afirmam que é provável que as diferenças de idade possam aparecer no processamento de discursos quando a demanda processual é alta. A capacidade reduzida de armazenamento na memória de curto prazo não explica todas as diferenças. Os autores sugerem que o idoso apresenta dificuldades em criar uma representação coerente do discurso, quando ocorre necessidade de utilização de memória de trabalho. Nesse sentido, Paul (1996) demonstrou que a detecção de falhas nos mecanismos inibitórios depende dos

processos que exigem controle de atenção mais preciso, ou seja aqueles que são iniciados e gerados internamente pelo idoso mas não dos processos realizados sob o uso de dados externos, já existentes. Segundo o autor, é possível que as diferenças de idade surjam, assim que a tarefa passe a exigir que os sujeitos procurem, na memória de trabalho, as relações semânticas entre o contexto e a tarefa. Também Kemtes; Kemper (1999) observaram que os idosos podem ter dificuldades em tarefas que envolvem a coordenação do processamento simultâneo de: (1) atividades lingüísticas complexas; (2) armazenamento temporário de informações em estágios de processamento imediatos e (3) supervisão dessas atividades.

Quando se estuda a linguagem dos idosos é preciso se ter em mente alguns fatores que a condicionam. Segundo Preti (1991), uma perspectiva é de caráter cultural, variando de acordo com a tradição cultural a que pertencem; outra é de caráter social, tendo em vista que a sociedade mantém uma certa postura em relação aos idosos, e por fim uma de caráter psicológico: uma pessoa é tão velha quanto ela imagina ser. Devido a isso, quando se trabalha a linguagem dos idosos é preciso que isto seja visto no conjunto, em especial quanto aos "idosos velhos"5, os quais já não possuem a mesma capacidade comunicativa. As interferências da idade avançada aparecem no seu poder de reflexão e análise, nas suas reações psíquicas e por conseguinte, na própria habilidade conversacional. Segundo Helfrich (1979, apud PRETI, 1991) alguns estudos mostram que em idade avançada (65 a 90 anos) as pausas tendem a aumentar, enquanto o tempo de articulação tende a decrescer, o que de certa forma significa que na velhice não só os aspectos motores, mas também os cognitivos do comportamento falado tornam-se enfraquecidos. De uma forma ou de outra, estas características da linguagem dos idosos acabam por interferir na forma como estes organizam o seu discurso, tendo em vista que nem sempre conseguem estruturá-lo da forma desejada, buscam aflitivamente elementos na memória, possuem uma natural desorganização no arranjo dos tópicos e subtópicos a serem desenvolvidos em seu discurso. São várias as marcas lingüísticas que definem a linguagem dos idosos, de várias naturezas, como prosódicas, sintáticas, lexicais, discursivas ou mesmo conversacionais. Observa-se em específico quanto à categoria tempo, que o ponto de referência constante do discurso, em geral, é o tempo passado, e mesmo quando falam do presente, procuram articular relações com o passado. No entanto, para análise deste estudo, tratar-se-á apenas da topicalização do texto falado, procurando demonstrar como os idosos mudam de tópico no seu discurso constantemente, sem perceber que acabam fugindo do tema inicial e nem sempre garantem a compreensão de seu interlocutor.


A topicalização no texto falado de idosos

A nível interacional podemos dizer que uma conversação fluente é aquela

em que a passagem de um tópico a outro se dá com naturalidade, mas é muito

comum que a passagem de um tópico para outro seja marcada.(MARCUSCHI

apud PRETI, 1991). Marcuschi também demonstra que há importância quanto aos

marcadores de introdução, no sentido de permitir ao ouvinte relacionar os tópicos.

É esta possibilidade de relacionar os tópicos que nem sempre ocorre na

linguagem do idoso, exigindo assim um grau maior de concentração por parte de

seu interlocutor, para perceber as relações tópicas, pois a descontinuidade da fala

interfere em nível de sua organização. (PRETI, 1991) conforme se apresenta no

excerto abaixo:

Texto conversacional 02:

(o falante vinha se referindo ao problema do desmatamento de regiões

próximas de São Paulo, quando da segunda Guerra Mundial, para produzir

gasogênio).

L1- então mudou

[

Doc - é capaz de voltar...

L1- mudou completamente o clima de São Paulo... e os hábitos também

mudaram porque houve então... o que aconteceu... houve a: : inVASÃO: :

de São Paulo... (por)... por por pessoas: : ... não só de fora...

principalmente de fora...cresceu muito depois da guerra... imigração... e: :

... do Norte sobretudo do Norte...então aí mudou mudaram-se os hábitos

mudou... aquela: : ... eu por exemplo quando ia à cidade...mo: :ço e

mesmo depois casado mesmo depois de ter filhos da - - aliás meu filho até

esta/... sempre deu/ ...ch/eh ch/ch/me chamava a atenção nisso - - ...

mesmo quando eu vinha do interior depois de ter morado no interior eu

atravessava a cidade... " T. como vai?;... T. como vai? ... como vai os B.

como vai?"... no centro da cidade a gente encontrava ce/cenTEnas de: :

TOdo mundo se conhecia.

L2- ahn

L1- até mil nó/ até mil novecentos e quarenta todo mundo se conhecia em

São Paulo...

Doc- ( ) éh: :?

(PRETTI, 1991, p.34)

É possível observar que neste relato o falante não permanece desenvolvendo o tópico que inicia, conforme pode ser observado pelo seguinte esquema.


mudança de clima em São Paulo

MUDANÇA

mudança de hábitos

mudança da população

Imigração mudança no relacionamento entre as pessoas

do Norte estrangeira

exemplos pessoais


Quando o falante inicia seu texto, ao falar dos desmatamentos das regiões próximas à cidade de São Paulo, ele introduz o tópico MUDANÇA DE CLIMA. Este tópico, inicialmente desenvolvido pelo falante, servirá para desencadear uma sucessão de outros tópicos: mudança de hábitos, mudança de população, mudança de relacionamento entre as pessoas. No entanto, percebe-se que também não se detém em nenhum destes tópicos: de mudanças de população começa a falar sobre a imigração e sobre as regiões de onde vinham os imigrantes. Quando topicaliza o relacionamento entre as pessoas, surgem-lhe exemplos pessoais para reforçar/ilustrar o que está dizendo. Aparentemente este texto é organizado, possui uma seqüência lógica, mas sua compreensão depende um ouvinte atento, pois, na verdade, de maneira superficial, o falante passa por vários campos semânticos e alguns tópicos são superficialmente tratados, nem sempre são desenvolvidos, Para estabelecermos uma breve comparação, citamos abaixo um texto, de um falante de 68 anos, transcrito em Hilgert (1997) quando aborda a questão da profissão "empregada doméstica", para estabelecermos uma breve comparação:

Texto Conversacional 03:

Doc- profissionalmente falando assim o que a senhora acha da: : situação

da empregada doméstica?...

Inf- da situação dela?

Doc- é...

Inf- ah: : então ah: : … bom… vou ampliar um pouco a sua pergunta…

Doc – ( )

Inf – bem eu acho que elas agora já estão se conscientizando mais... dos

direitos... se bem que eu acho que não muito das suas obrigações ((risos))

... dos seus deveres ((risos)) ... porque elas gostam mais me parece ainda

... elas estão mais...mais orientadas a respeito da ...dos direitos que elas

têm e... e quase que não estão ainda bem informadas sobre as obrigações

me parece isso não sei... mas isso um movimento muito positivo...porque

tenho impressão que muitas delas... já estão procurando ah: : remediar ...

a situação já em casa dando oportunidade aos filhos de estudar ... e: : e

desejando que eles ( ) independentes... tenham uma vida melhor e

diferente entende? Acho que com o tempo nós não vamos ter empregadas

domésticas como ... tínhamos até agora...acho que a crise já está (aí) ...

se aproximando eu acho que ( ) não tinham outras condições de poder

trabalhar então tinham que se sujeitar a isso... mas nós por exemplo, lá

em casa ... (está) a que está lá (cuidando da) minha cunhada... eu não

tenho agora... estou sem empregada... mas ela está só procurando ... dar

à filha ... as maiores oportunidades para que ela estude e está

incentivando ... e está procurando entende? Ahn: : DESVIA-la da

necessidade de se tornarem domésticas... e poderem ...eh: : competir no

mercado de trabalho (digamos assim) como nos Estados Unidos e

exterior... e eu acho que talvez agora estão amparando mais... se bem que

acho que não está ainda ideal mas... elas são melhor amparadas

digamos... (HILGERT, 1997, p.183-184)

jovens", possui um texto conversacional mais fluente. Entretanto, observa-se

também que algumas mudanças de tópicos, menos dispersivas que a do falante

anterior, como podemos esquematizar abaixo:

Situação da empregada doméstica

TRABALHO

Direitos

Sujeitar-se ao trabalho por necessidade

deveres

oportunidade = filhos estudarem

Competir em um

mercado de trabalho exemplos de conhecidos

Exterior

O que se percebe é que, ao abordar sobre a situação da empregada doméstica, logo desenvolve o tópico sobre TRABALHO, perpassando por vários outros subtópicos, como direitos e deveres, necessidade de trabalho, falta de oportunidade, com o tempo poderá não ter mais a mesma oferta de empregadas domésticas...etc... e acaba concluindo que é preciso estudo para competir no mercado de trabalho, mesmo que seja no exterior, (onde se supõe que as empregadas domésticas recebam melhor). De certa forma, a falante manteve-se no tópico central e conseguiu concluir estabelecendo relação com suas considerações iniciais, mas seu texto oral também requer um ouvinte atento aos detalhes para compreender a seqüência lógica que estabelece. Nos texto de "idosos velhos", a seqüência geralmente é mais marcada por interrupções, truncamentos, até mesmo pelo processo de seleção lexical, que depende de processos cognitivos do falante. Muitas vezes, ele interrompe seu discurso fazendo verdadeiros "apelos" aos interlocutores para conseguir expressar o que pretende. A seqüência lógica, como se observa no texto conversacional 02, fica muito prejudicada pois sofre idas e vindas, alternando o tópico constantemente.

PRETI, Dino. A linguagem dos idosos – Um Estudo de Análise da Conversação. São Paulo: Contexto, 1991.

As pesquisas em torno do tema "Terceira Idade" são importantes para contribuir com a inclusão social do idoso, pois:

As condições sociais em que os idosos vivem na sociedade contemporânea (pelo menos nas grandes cidades) permitem-nos caracterizá-los como um "grupo de minoria", sujeito a um tratamento estigmatizador por parte da comunidade, a ponto de não conseguirem mais definir um papel social que lhes permita preservar a própria imagem social (p.15).

Apesar de a população idosa estar aumentando no Brasil e no mundo, ainda há discriminação quando o assunto é o papel do idoso na sociedade.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos, que consistiam na avaliação de gravações de idosos por ouvintes mais jovens, revelaram que aqueles são associados a características negativas, repudiadas pelos jovens, tais como lentidão, dependência, passividade, fraqueza, incompetência, pobreza (p.22).

As limitações que os idosos adquirem afetam a linguagem (capacidade de compreensão, comunicação). Porém, mesmo com essas limitações, eles são capazes de realizar as mesmas atividades que já realizavam quando jovens, só com desempenhos físicos diferentes.

As casas de repouso, ao invés de fazerem com que os idosos pratiquem suas habilidades físicas e mentais, geralmente isolam-nos da sociedade e não contribuem para mudar a imagem da pessoa velha diante da população.

(...) tais ambientes, longe de proporcionarem uma integração dos idosos, na verdade, servem para condená-los a uma vida isolada, silenciosa, introspectiva. A ordem é descansar, os diálogos escasseiam, mormente com pessoas de fora, cortando-se as amarras com a comunidade e com a família (p.24).

Como os idosos não praticam a linguagem por meio de diálogos com pessoas de diferentes faixas etárias, ela fica comprometida. Com o envelhecimento, a memória e a audição são afetadas, mas "as marcas lingüísticas próprias da linguagem de idosos decorrem não só da idade, mas principalmente das relações entre eles e a comunidade em que vivem" (p.28).

O livro apresenta uma pesquisa feita com idosos, em que seus diálogos foram gravados (totalizando 25) e estudados através da Análise de Conversação.

Observa-se (...) que os idosos se revelam, quase sempre, instáveis e essa instabilidade é própria do processo de envelhecimento. Assim, podem passar de uma atitude de mutismo habitual (...) para uma situação de grande loquacidade, quando têm oportunidade de se fazerem ouvir com atenção por seus interlocutores. Mas, por outro lado, é nessas ocasiões que podem demonstrar insegurança. Não confiam no que dizem, por não terem a convicção de realizarem um discurso interessante (p.28).

O idosos se vêem então não mais como pessoas experientes, que têm muito o que ensinar aos mais jovens, mas como pessoas que não tem algo de interessante a dizer e, por isso, também não têm quem os ouça.

A linguagem dos idosos é marcada pela ruptura, "confundindo-se aspectos prosódicos com a própria organização do seu discurso" (p.32). Ocorre principalmente em idosos com mais de 80 anos, aos quais o autor chama de "idosos velhos".

Em geral, pode-se dizer que o levantamento das características peculiares à fala do idoso, sobretudo do "idoso velho", nos diversos níveis de análise, mostra-nos que as diferenças básicas entre essa linguagem e a dos falantes mais jovens reside muito mais na intensificação das características comuns a ambos, do que propriamente a traços específicos. É o que ocorre com as repetições e suas várias espécies, com os anacolutos, com as parentéticas. E, sobretudo, com as pausas, as hesitações e as autocorreções (p.49).

O idoso precisa integrar-se com a comunidade, com pessoas jovens e velhas, para praticar a linguagem e renovar o vocabulário, sentindo-se assim parte da sociedade novamente, entendendo os assuntos atuais e podendo discutir sobre eles.

As informações sobre o passado, que transparecem constantemente no discurso do idoso, muitas vezes são expressas por um léxico em que aparecem vocábulos, expressões, estruturas formulaicas, formas de tratamento, relacionados com sua época. Esse vocabulário torna-se incompreensível à audiência mais jovem (p.62).

Para que o ouvinte compreenda seu vocabulário, o idoso recorre a explicações, à ajuda do interlocutor para encontrar outras palavras, à associação do que é velho com as situações atuais.

Na luta por encontrar seu papel social, o idoso quase sempre passa por uma fase de acomodação contínua aos padrões sociais estabelecidos pelos mais jovens e, com isso, ilude-se e tenta iludir os mais moços, acreditando-se, ainda, um "espírito jovem" e atualizado, quer dizer, integrado nos valores atuais (p.75).

A partir de certa idade (cerca dos 80 anos), fica difícil encaixar a linguagem aos padrões atuais, afinal a capacidade psicofísica do idoso sofre degeneração. Nessa fase, necessita-se de uma compreensão e paciência do ouvinte, pois mesmo que o idoso tenha ou considere sua linguagem ultrapassada, ele tem muito a dizer.

Os idosos têm, quase sempre, uma tendência muito grande para se tornarem contadores de histórias. Explica-se facilmente esse fato: há um destino educativo no seu papel social e para cumpri-lo existe uma exemplificação farta acumulada ao longo de sua vida. Além disso, há um interesse em relembrar esse passado, valorizando-o em relação ao presente. O "seu tempo" para o idoso, isto é, o tempo de sua juventude, parece-lhe sempre melhor do que a realidade presente em que vive (p. 106).

A pesquisa é concluída da seguinte forma:

(...) a linguagem dos idosos se coloca dentro de um contexto mais amplo, em que atuam, não apenas as condições psicofísicas do falante, mas também as forças de natureza sociocultural. (...)

Embora certas marcas lingüísticas possam tornar-se genéricas na linguagem de idosos, nada impede que haja falantes desse tipo que se mantêm dentro da linguagem de faixas mais jovens, ou porque sua decadência psicofísica tenha sido menor, ou porque tenham sofrido uma pressão também menor do ambiente social em que viveram (p.124).

E, por último:

(...) os idosos demonstram, dentro de suas condições, uma resistência à situação em que vivem na comunidade, procurando nos atos conversacionais mecanismos discursivos que lhes permitam manter a situação verbal com outros falantes, preservando sua imagem social, já tão desgastada pelo processo natural de envelhecimento (p.125).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se, através do exposto no presente artigo que, sob uma perspectiva de análise linguística, é possível estabelecer relações que evidenciem que o texto conservacional também é estruturado através de tópicos desencadeados pelo falante. Esta seleção de tópicos e de subtópicos é decorrente da própria interação verbal e, algumas vezes das manifestações de compreensão/incompreensão por parte do interlocutor. No entanto, a perspectiva de que o texto conservacional é um texto desorganizado e sem planejamento,

como por muitos anos se acreditou, não procede, tendo em vista que ele possui uma seqüência lógica, um tópico a ser desenvolvido. Muitas vezes, diante da incompreensão, o falante reformula de forma a procurar a compreensão responsiva de seu interlocutor, seja por intermédio de repetições, paráfrases ou correções, atividades que não foram descritas e abordadas neste ensaio, mas muito recorrentes no texto conservacional. Sabe-se também que muitas das informações equivocadas que temos acerca das diferenças existentes entre oralidade e escrita decorrem de questões antropológicas e culturais de supremacia/ poder, os quais, muitas vezes delegaram à linguagem escrita um privilégio decorrente do fato de que,

inicialmente, era destinada a poucos. Quanto à topicalidade no texto dos falantes idosos, percebemos que ela se assemelha muito ao discurso infantil pela organização em tópicos, que decorrem de outros tópicos, muitas vezes fugindo do tema central do texto. Algo semelhante pode ser observado nas produções textuais (mesmo nas escolares), quando aquele que produz inicia um tópico e começa a se desenvolver argumentos, e dos argumentos decorrem outros tópicos, que fogem do central, muitas vezes concluindo o texto com temas distantes do tratado no tópico frasal inicial. Isto também acontece na conversação, o que aponta que mesmo em meios diferentes, muitas características são comuns.

Já, em relação à questão temporal, observa-se que a linearidade alterna-se constantemente, com idas e vindas, bem como seqüências temporais que, na maioria das vezes, remontam histórias do passado, mescladas com as opiniões que emitem sobre o presente. Vale ressaltar que, fala e escrita numa perspectiva não dicotômica precisam ser consideradas como dois meios de uma mesma língua e não como pontos antagônicos. Conforme aborda Marcuschi (2004, p.125), as diferenças não são tão essenciais no plano do conteúdo nem no plano da organização básica das informações, o que comprova que o texto oral apresenta nos diversos gêneros alto grau de coesividade e coerência, não podendo ser tido como desordenado ou fragmentário.(...) a qualidade cognitiva da oralidade, não fica a dever à escrita no que respeita ao grau de abstração do raciocínio.

Para finalizar, pode-se considerar que o texto conversacional do idoso, mesmo possuindo suas peculiaridades, é marcado pelas características interacionais como de qualquer outro falante: preocupa-se em preservar a face, em estabelecer comunicação, com a alternância de turnos, entre outros aspectos do texto conversacional. Corroborando com estas idéias, Preti (1991, p.49), afirma que "a fala do idoso não pode ser tomada numa perspectiva isolada (...)". Ou seja, de certa forma, as características pertinentes à fala do idoso, em especial do idoso

velho, nos diversos níveis de análise, aponta que as diferenças básicas entre essa linguagem e a dos falantes mais jovens reside mais nas repetições, pausas hesitações, desvios de tópicos, que são mais intensificados com a idade avançada.

CONCLUSÃO

As lições que deste trabalho resultaram não poderiam ser tidas por suficientes para os espíritos sedentos de conhecimentos concretos e definitivos e de inovações revolucionárias em sua especialidade. Aliás, a conclusão mais segura a que chegamos ao final deste trabalho é que as pesquisas relativas ao desenvolvimento da linguagem humana ainda estão longe de atingirem uma explicação adequada e eficiente da sua organização, aquisição e evolução na mente da criança.

Chegamos também à conclusão de que os professores de línguas e demais responsáveis pela aprendizagem da linguagem infantil deveriam estar sempre atualizados em relação à Psicolinguística e à Pedagogia das Línguas, visto que a escolha (ou criação) de um método apropriado e bem dosado é uma das mais eficazes motivações para a aprendizagem.

Os novos rumos tomados pela Linguística a partir de Chomsky, com a gramática gerativa e transformativa, sem dúvida têm revolucionado os estudos psicológicos relativos à linguagem, acarretando, conseqüentemente, uma retomada de posição da Didática da Linguagem, nas teorias da aprendizagem e na Pedagogia em geral.

Referente ao ensino de línguas estrangeiros (vivas), as reformas metodológicas mais importantes já concretizadas em todo o mundo foram um resultado da aplicação das teorias estruturalistas, começando com o uso didático sistemático de audiovisuais e áudio-orais, e da aplicação da teoria gerativista-transformacional de Chomsky, da qual se desenvolveram diversos métodos de alfabetização, direta ou indiretamente.

Entendemos facilmente que há uma relação muito estreita entre o pensamento e a linguagem. Que há mesmo uma interdependência relativa entre eles, de tal forma que muitos pensamentos e muitos conceitos seriam irrealizáveis sem o auxílio da linguagem e que ela é, quando exteriorizada, a simbolização do pensamento; quando interiorizada, o elemento básico de sua organização.

Do mesmo modo, não foi difícil compreender que todos os homens têm uma competência lingüística, mais ou menos evoluída, no sentido de conseguir ou não um discurso mais ou menos abstrato e mais ou menos complexo, seja de modo ativo (produzindo-o), seja de maneira passiva (compreendendo-o). Competência esta que é sempre suficiente para organizar pessoalmente a gramática da língua a partir da amostra a que se estiver exposto. E mais, que tem uma evolução extraordinariamente regular em toda a raça humana e só na raça humana. Dada essa competência universal, a aquisição da linguagem é natural e espontânea em todos os seres humanos normais, desde que sejam colocados em contato com outras pessoas que usam alguma linguagem durante um período mínimo.

Enfim, é importante que lembremos que a aquisição de uma língua nativa independe de cuidados especiais e mesmo os dispensam, pois o que é mesmo necessário é que a criança esteja exposta a uma língua durante os primeiros anos de sua vida. E mais ainda, que a aquisição da linguagem (ou de uma segunda língua) será mais difícil à medida que a criança vai avançando em idade, sendo mesmo muito difícil para um adulto, e quase impossível, se pensarmos numa aprendizagem perfeita.

A execução ou o uso de uma língua não afeta em nada a sua organização subjacente, ou seja, a sua estrutura profunda. Isto é tratado pela Psicologia como o desempenho linguístico, ou seja, o modo pelo qual cada indivíduo usa a sua competência lingüística. O desempenho linguístico é um problema de registro, de estilo ou de preferências individuais.

As controvérsias, dúvidas e mistérios que rondam os estudos a respeito da linguagem do idoso demonstram que este é um campo que ainda necessita evoluir muito, mas que está em franco crescimento e tem caracterizado-se pelo enfoque interdisciplinar. Certamente, é necessário avançar ainda mais para desvendar a cognição do idoso. Na busca por respostas às suas perguntas, o pesquisador que se ocupa deste campo deve voltar-se para a valorização do idoso. Independente dos resultados demonstrarem declínios, habilidades

preservadas ou superiores, a investigação deve retornar com frutos positivos para os sujeitos.

A medida que o entendimento sobre a cognição do idoso avança, a posição dos pesquisadores começa a convergir para a idéia de que os estudos devem mover-se em direção a atitudes produtivas, abandonando a simples constatação de declínios. De acordo com Birren; Deutchman (1991), é necessário realizar uma intervenção que possibilite ao idoso desenvolver a compreensão e a valorização do self. O idoso, estando em um estágio mais avançado da vida, necessita encontrar o sentido de sua vida para o mundo, adaptar-se ao envelhecimento e realizar escolhas positivas para si mesmo. A proposta destes autores é o uso das narrativas auto-biográficas, que são fonte de prazer para o idoso e ao mesmo tempo possibilitam seu desenvolvimento

psicossocial. Wood (2000), em um estudo que investigou a auto-eficácia cognitiva e a memória de trabalho em um programa de treinamento cognitivo para idosos, verificou que os efeitos da intervenção cognitiva em idosos são promissores, sendo que são de grande importância a prevenção e a reabilitação de conseqüências prejudiciais do envelhecimento sobre a qualidade de vida.

A linguagem, sendo um fator que sofre influência de possíveis processos cognitivos em declínio na velhice, é um aspecto que não deve ser negligenciado na intervenção cognitiva do idoso. Tanto este como seus familiares devem conhecer e saber lidar com os processos cognitivos que podem modificar-se com o aumento da idade. Estratégias que visem a intervenção sob aspectos como a memória de trabalho, a atenção e a velocidade de processamento devem ser desenvolvidas para trabalharem a favor da linguagem, utilizando recursos que promovam a valorização do self e que tirem proveito dos pontos fortes da cognição do idoso, como a preservação da memória episódica, o uso de estratégias de compreensão que valorizam o contexto e os aspectos globais do discurso do interlocutor e a habilidade de produzir narrativas interessantes e marcadas pela riqueza na expressão das emoções.