LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS

 

Thiago B. Soares[1]

(Quando usar o artigo, lembre-se de citar a fonte)

[1] Doutorando (PPGL-UFSCar). E-mail: [email protected]

           

            De início, tratar sobre Libras não é senão falar sobre linguagem, nesse sentido a citação de Sánchez (1990) está em consonância com Chomsky (2008) o qual aborda a linguagem como uma estrutura geneticamente pronta e que vai se desenvolvendo ao longo da vida.

            Nesse sentido, psicólogos como Vygotsky ePiaget divergem ao seguir o caminho da linguagem, como apresenta Magda Soares (1988, p. 20-21):

 

Como Vygotsky e Luria apontam o desenvolvimento do pensamento e do raciocínio como decorrente do movimento da linguagem, outros psicólogos, como Piaget, defendem que o desenvolvimento da linguagem é que decorre do desenvolvimento cognitivo.

 

Todavia, mesmo que apenas um tenha razão, não há nenhuma dúvida, a linguagem é de fato fundamental para o desenvolvimento do ser tal como é conhecido. Portanto, as formas de expressão dessa linguagem, não raro, são deixadas de lado para a figuração da língua falada/escrita como baliza da linguagem humana. Assim, as linguagens, como a de sinais, são consideradas rebarbativas, ou seja, marginalizadas por serem tidas como menores. Erro comum, mas que tem sido minorizado com o passar do tempo que não é senão o desempobrecer das ciências. Em outras palavras, compreender a dimensão e as consequências do usufruto que as formas de comunicação tem no desempenho do papel de agente de si e da sociedade, é a tarefa que as novas ciências tem atuação.

            Nesse sentido, o vídeo “Sou surdo” merece ser inscrito em umaperspectiva bastante ilustrativa, pois mostra o que fundamentalmente alguém com a deficiência auditiva sente ao não possuir um veículo efetivo de comunicação, isto é, uma língua. Às produções dessa, Halliday (1973 apud SOARES, 2010, p. 75) “chama de instrumental: (pois) é o uso da linguagem como um meio para que as coisas se realizem”. Dessa forma, Libras pode ser afirmada como um meio de expressão, sobretudo, comunicação de surdos entre surdos, e dos mesmos com ouvintes, na medida em que é uma língua que possui suas regras independentes, possibilitando assim uma força potencializada à aquisição e transmissão de conteúdos culturais.

Com efeito, é como o psicólogo social Herriot assevera: “Isto é, qualquer estímulo só pode ser entendido dentro do contexto idiossincrático fornecido pela própria personalidade de cada indivíduo” (1976, p. 129), em outras palavras, a língua de sinais é o contexto cuja interação pode ser ambiente de estímulos em prol do crescimento tanto cognitivo quanto pessoal de cada deficiente.

            Destarte, compreender a língua de sinais brasileira (Libras) como um recurso fundamental para que as ‘coisas se realizem’ no sentido de Halliday, mas é sobremaneira dar “voz”, dar espaço, claramente, dar a oportunidade que todos merecem de se manifestar, já que não parece ser diferente do que o pré-socrático Protágoras disse: “Homem é a medida de todas as coisas”.           

REFERÊNCIAS

CHOMSKY, Noam. Arquitetura da linguagem. Trad. Alexandre Morales e Rafael Ferreira Coelho. Org. Nirmalangshu Mukherji et. al. Bauru, SP: Edusc, 2008.

REICH, Ben; ADCOCK, Christine. Valores, atitudes e mudança de comportamento. Trad. Eduardo de Almeida. Org. Peter Herriot. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 2010.

 

_____________. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 6ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1988.