- Goooollll ! Gooool do Corinthians!
Gritava o Amauri, em sua linguagem “ratal”. Linguagem “ratal” é a linguagem dos ratos! Linguagem “camondongal” é dos camundongos. Então, assim gritava o Amauri quando viu que o Corinthians havia feito um gol. Aquele gol poderia levar o seu time para a disputa do campeonato Mundial num país lá longe. Lá no Japão.
Amauri não tinha muita certeza disto. Só o que sabia era o que ouvia pela televisão e, às vezes, um ou outro jornal que o dono da casa deixava  à mão.

Sim! Ele sabia que era apenas um ratinho mas mesmo assim, como já disse um ministro uma vez  (ele havia lido numa revista): Animal também é gente. 
Naquela casa, além de “gente-gente” havia ele, o ratinho-gente e o seu melhor amigo: Luiz.
O Luiz era uma barata (ele gostava de falar que ser barata era um barato) que também gostava de futebol. Só que torcia pelo Flamengo. Era um barata-gente flamenguista.

Sempre quando tinha jogo transmitido pela televisão de um dos times, um chamava o outro para assistir. Se do Corinthians, Luiz chamava o Amauri e, se do Flamengo, o inverso se dava.

Havia na casa, também, um gato-gente, chamado Celso, que, por ser o único que desfrutava da convivência da gente-gente da casa, acreditava ser  o “chefe dos animais-gente.

Muitas vezes quando o Celso estava chegando perto para atacar o Amauri, o Luis saía voando e, com sua habilidade, pousava na testa do gato que, assustado, miava alto e alertava o Amauri, que tinha então, tempo de correr e se esconder.

Já por sua vez, o Amauri, com seu faro apurado, sentia quais comidas estavam envenenadas e alertava o Luis que, que as rechaçava.

Por diversas vezes, Luiz avisou Amauri onde tinha um delicioso resto de lasanha (seu prato favorito) e depois, tranquilamente a saboreavam.

Assim caminhava a vida dos habitantes daquela casa! Rato, barata, gato e gente-gente continuavam com suas vidas sossegadamente.

Na noite de quarta-feira, dia 10 de outubro de 2012, estavam ambos sentados no teto de madeira da casa, bem ao lado do lustre da sala onde iriam assistir ao “Jogo do Século” (como eles gostavam de chamar) entre seus clubes do coração.

Amauri com sua “camiseta” do Timão (na verdade um pedaço jornal com uma  listra negra) e o Luis com seu “lenço da sorte” (um naco de fita vermelha) amarrado em  suas anteninhas.

Jogo duro! Disputado! Marcação cerrada em ambas defesas. Nenhum dos times sendo superior ao outro.
Até que, aos 29 minutos da etapa inicial houve um gol.
Gol do Flamengo!
Luis pulava e dançava em frente ao Amauri que desdenhava e falava mal do juiz, dizia que o jogador estava impedido. Que o juiz “roubava” para o Flamengo.
Isto durou todo o resto da etapa inicial e até os 15 minutos da segunda etapa quando o Corinthians empatou o jogo.
Aí foi a vez do Amauri pular e dançar em frente ao Luis. Que por sua vez, calado e macambúzio, nada expressava.
Para complicar de vez a situação, aos 30 e aos 44 minutos da etapa final mais dois gols do Corinthians.

Luis tentava ficar calmo, mas, o Amauri, do alto de sua força física maior o impedia, forçando-o a assistir ao jogo até seu final.
Mesmo assim, já nos acréscimos de tempo dado pelo juiz,  aos 47 minutos da segunda etapa, mais um gol do Flamengo e final de jogo. Corinthians 3 x 2 Flamengo.

Amauri dançava, pulava e cantava em cima da tristeza do Luis.

Daquele dia em diante (noite) Luis começou a se afastar do Amauri. Onde sabia que ele estaria, evitava até mesmo passar perto.
Se o soubesse na sala, Luis ia para a cozinha.
Se no quarto, ia para a sala.

Até que, vendo o gato-gente Celso  indo sorrateiramente para o forro da casa, onde sabia que Amauri poderia estar,  nada fez. Ficou passivamente olhando o desenrolar da história.

Assim o Luis pensou:
- Se o Amauri se acha o “bom da boca”, então que tenha sua própria defesa. Eu, Luis, não vou ajudar a defender quem tanto me humilhou  naquela noite.

Daquele dia em diante, o Amauri nunca mais foi visto. Só foi visto um pedaço da sua camisa
do Corinthians, enroscado num prego do forro da casa!
O Celso falou que nem chegou a encontra-lo. Mas, como todos sabem, este gato-gente Celso não é muito confiável.   Não se deve acreditar nele.
Eu soube desta história pelo próprio Luis, num momento de desabafo. Dizendo-se arrependido por não ter feito, naquela hora, o que, hoje, ele acha, seria o correto.
Por um motivo bobo, fútil, desenvolvido num momento não muito propício, perdeu-se uma grande amizade. De modo, neste caso, irreparável.
Caro(a) leitor(a).  Transfira a história acima para alguns humanos. Alguns colegas de trabalho.
Tenho certeza que você deve conhecer pelo menos um Amauri, um Luis e um Celso.

O Amauri é aquele colega de trabalho que está sempre ao teu lado. Te ajuda nas tarefas e te defende perante os demais colegas, mas, fugindo da perfeição, acredita que pode fazer toda e qualquer brincadeira, pois, sendo amigos, nada será levado á sério.
Nada mais enganador!

O Luis é aquele colega que, também te defende, te ajuda nas tarefas e, gosta de brincar com os outros, mas, não gosta quando o alvo das brincadeiras é ele.
Também é enganador a sua simpatia.

E o Celso então? Pense num chefe que vive ameaçando seus subordinados. Forçando-os ao limite.  Imagine-o chamando o Amauri à sua sala e despedindo-o de suas funções por um motivo torpe qualquer.

Leitores(as): Por maiores que sejam as intimidades que tenhamos com nossos colegas de empresa, são apenas, colegas. De todas as empresas, escolas e órgãos públicos que conheci, visitei, ou fiz minhas apresentações, raramente, muito raramente você encontra AMIGOS. Por isto, trate-os com o respeito que todas as pessoas merecem. Brincadeiras fora de hora, piadas sobre familiares, acusação de defeitos, levam inexoravelmente ao solapamento do que poderia ser uma grande amizade.
Respeito, solidariedade, compartilhamento,  alegria de viver, bom humor, na dosagem certa fazem maravilhas para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Não seja um Amauri, Luis ou Celso. Seja... gente-gente.
Quando encontrar AMIGOS no ambiente profissional, creia-me, serão para toda a vida.
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Todos os personagens desta história são invencionices deste escriba. Não foram embasados em ninguém real. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, terá sido mera coincidência!
(Sempre quis escrever isto no final de um artigo!)