Eu pensava que medo era coisa de criança. Mas via o medo nos olhos da mamãe, toda noite, quando o pai chegava do serviço.Então ela gritava: " Julinho, vai pro teu quarto" e eu ia, sem perguntar, nunca o porquê, pegava meu boneco Maxtell e seguia, calado e com sono. De lá escutava a conversa toda: "Jeremias, por favor, não me bate", mas achava que era o barulho da novela mexicana. Sempre fui lento para perceber as coisas, só fui descobri que era corneado, quando a Elizete, minha namorada, veio me dizer: "Ju, to caindo fora, arrumei outro", ai liguei os pontos, as saídas fora de hora, as ligações que fazia e recebia sem me dar explicação...Cocei a cabeça e disse 'adeus' sem choro nem briga, afinal a Elizete não é a única nem a última mulher da face da terra.

escrito em 15/01/2009