Hoje em dia virou moda ouvir os dirigentes na sua vasta escala de hierarquia a dizerem que os jovens não podem esperar do governo para terem emprego, devem por si arranjarem formas de se auto-empregar. Este apelo não me parece injusto nem ilegítimo em si mesmo. Mas lamento que a fronteira desse apelo não tenha sido traçada nem de maneira implícita e, muito menos de forma clara, pelo contrário, é um apelo revestido de uma força de persuasão de autoridade tanto maior quanto é a incapacidade do governo antever o perigo do aumento de jovens licenciados a “chutar-latas”.

Pode-se tudo, menos negligenciar caso sério como a questão do desemprego de jovens “doutores” alegando que o discurso corriqueiro de que os jovens devem apostar no auto-emprego, em si, vai resolver tudo, aliás, até pode, mas o governo tem de assumir uma postura que vise a tal efeito, estamos a falar de desenhar políticas claras para que os jovens tenham possibilidades de criarem os referidos auto-empregos que tanto propalam.

Pois, penso que é do conhecimento de todos que a maioria dos jovens que saem das instituições do ensino superior, sobre tudo nas estatais, não têm condições financeiras para iniciarem negócios próprios depois da formação. Faz-se, porém, muitas vezes, discursos evasivos demasiados incoerentes por parte dos dirigentes quando questionados sobre oportunidades de emprego, limitando-se apenas a dizer que os jovens devem ser empreendedores. Muito bem, mas onde vão estes jovens buscar dinheiro para empreender?

O que falta a maioria da juventude não é vontade de trabalhar, poderia inclusive falar de mim que cansado de pedir emprego até já me ofereci para trabalhar como empregado doméstico, apesar do meu nível e, consciente da injustiça que isso é, não me importa auferir 5 mil/mês. Que opções tenho? Não tenho grandes alternativas, se eu quiser continuar com registo criminal limpo tenho que aceitar a realidade. Mas enfim, poderia se dizer que o meu é um caso isolado que em si não tem nenhuma relevância mas, na verdade, é um caso que leva a uma realidade geral. Ora, pensar que os jovens vão se virarem por si é uma inconsequência que pode ser pago muito caro, se bem que ainda não está. Uma verdade que seria fácil de inferir se não fosse pelo hábito mau que temos de querer resolver as coisas quando estão já visivelmente estragadas.

O que um governo com capacidade de prever o perigo que representa “os doutores chuta-latas” deveria fazer é, no mínimo, criar formas de financiamento de projectos de desenvolvimento dos recém-graduados, pelo menos do ensino superior, pois, seria uma maneira através da qual o governo mostraria a sua preocupação com a questão do desemprego, para além de que, acção como esta seria igualmente benéfica para as próprias aspirações do governo, tanto quanto para a respectiva imagem política dos governantes; primeiro, porque reduziria grande parte de crimes “sofisticados” e, organizados que, obviamente se não são directamente praticados por indivíduos com formação de nível superior sem muitas alternativas de sobrevivência, são certamente encabeçados por um.

Segundo, financiar jovens recém-graduados seria uma política inteligente para abrir oportunidades de emprego para muitos outros jovens com níveis de ensino relativamente baixo, pois, cada beneficiário na sua localidade empregaria pelo menos uma pessoa. E consequentemente reduziria a pressão sobre o governo para atender várias solicitações de ajuda e, com isso, a satisfação popular, pelo menos de grande parte dos moçambicanos, seria visível.

Mas enfim, é impressionante como o governo preocupa-se com os problemas quando já atingem proporções alarmantes de gravidade, neste momento não há imaginação se quer de que, crimes que estão a se tornarem regular hoje em dia como sequestros, assassinatos de pessoas com problemas de pigmentação da pele, roubos de viaturas, falsificações de cheques podem ser resultado da vaga de massificação do ensino superior que se abriu sem nenhuma política de emprego que justificasse tal causa. Sabe-se que existem alguns casos de jovens que tiveram seus projectos financiados mas, são excepções de casos muito isolados, também que não privilegia a parte de que estrategicamente não deveria ser preterida.

Não pode o governo querer se dar o luxo de sempre viver retificando erros do passado, deixar o mal acontencer para depois recorrer a mecanismos imediatistas para sanar algo que pode-se muito bem evitar. A atitude mais sensata é sempre eliminar o problema em sua origem, em qualquer que seja a situação.  E agora, parece já oficial que, com expcao da educação e saúde, a função pública não vai admitir ninguém mas, em compensação há apenas um olhar impávido quando no minímo deveria, mesmo sem ignorar as medidas de austeridade, apresentar-se um plano de reduzir as consequências da referida medida. Pois, são milhares de jovens que estão saindo quase semestralmente em diversas universidades, não creio que estamos preparados para ter “mentes inteligentes” em pessoas esfomeadas, as consequências podem ser graves e, com a crise que vivemos está cada vez mais visível o problema de que estou a falar e, este é que deveria ser o momento para se tomar uma atitude.

Em todo caso, importa lembrar que o executivo tem o poder de ignorar o problema que me refiro mas, deve ignorar convicto de que não deveria, mesmo pelo seu próprio bem, não em um país em que a população jovem representa mais de 50 % da população total. É simples, se tornem alheios mas certamente, o que não me parece haver dúvidas é que a juventude igualmente se tornará mais alheia quando dela precisarem. E como dizem, o melhor amigo é quem avisa, se um dia cairem, será sem dúvida pelas mãos de quem souber juntar esses jovens formados, desempregados e sem capacidade de criar auto-empregos e, penso que vós sabeis que não será com armas, mas certamente será com a mesma força de vontade que aquela que tiveram para derrubar o regime forasteiro.

Autor: Franquelino Agneves B. Basso