Uma coisa que me fascina no cinema é que, em todos os filmes ou desenhos animados, há uma premissa que liga nossa realidade com o que é apresentado na tela. Fiquei pensando muito nisso, depois que a pregação na igreja a qual freqüento, tinha muito a ver com o filme "O fabuloso destino de Amelie Poulain". Filme que classifico como um dos melhores que já assisti na minha vida. Ele nos faz refletir sobre pequenas coisas que fazemos, e que possuem desdobramentos inimagináveis. Por várias vezes fazemos coisas que pensamos ser insignificantes, porém não temos idéia da dimensão do que isso significará para outra pessoa.
Por ser uma pessoa idealista, fico muito aflito com o egocentrismo da sociedade. Reclamam da violência, mas a única atitude é cercar a casa com redes elétricas e blindar seus carros. Reclamam do transporte público, mas protestam quebrando coletivos e trens. Reclamam da educação, mas dentro de casa não ensinam cidadania à seus filhos. Reclamam do país, sendo que eles mesmos são o país.
Por vezes tenho vontade de praticar atos radicais e extremos. Como aconteceu por esses dias, quando avistei um sujeito de um automóvel jogando uma garrafinha de água no meio da avenida. Minha vontade era dar ré, pegar a garrafinha e jogá-la dentro do automóvel do sujeito. Mas fiquei imaginando no desdobramento que isso poderia ter. Com certeza ele não iria pedir desculpas e levar a garrafa para jogar em uma lixeira. O mais provável era me ameaçar com uma pistola ou outra atitude violenta. Então fico pensando em que mundo esse sujeito vive. Com tantas campanhas sobre reciclagem e para não jogar lixo nas ruas, esse sujeito não teve dúvidas para se livrar do lixo em plena via pública. Deve ser mais um desses que reclamam quando as águas da chuva invadem a casa, jogando toda a culpa na prefeitura que não limpa os bueiros.
Os políticos não têm culpa dentro dessa falta de ética e cidadania. Eles não estão no poder por livre e espontânea vontade de governar. A única coisa necessária é pararmos de acreditar que apenas construir escolas, hospitais, centros de saúde e outros serviços básicos, serão as soluções de todo o mal. Não adianta construir inúmeros hospitais se o problema do saneamento básico não é solucionado. Irão continuar lotados. As pessoas saem do hospital e voltam para suas casas ao lado de córregos e esgotos a céu aberto, convivendo com lixo, ratos e baratas. Exatamente por isso que praticamente não constroem mais hospitais públicos em bairros nobres. Por que pouco se fala em saneamento básico, eu não sei. Talvez por ser algo que dá poucos votos.
Antes de cobrar das autoridades providências para nossos problemas, vamos cobrar nós mesmos. Vamos levar a sério aquela máxima que diz: "Se cada um varrer sua calçada, toda a rua estará limpa no final do dia."