LIBRAS: PROMOVENDO A INCLUSÃO, SILENCIANDO OS PRECONCEITOS


AUTORAS: Emiliana Nunes *1
Jarleide Almeida Feitosa *2
Paula Valença Pinto da Silva *3




Resumo:
A Língua de Sinais Brasileira é composta por sinais próprios da comunidade de nosso País. Ela segue o mesmo princípio das línguas orais. Absorvem os aspectos culturais dos usuários, inclusive os regionalismos, as expressões típicas, as gírias. É uma língua viva, cada país tem a sua língua, ela não é universal, então, quando se promove a inclusão, ensina-se a todos os alunos sem distinção, permite-se o respeito ao direito à educação com qualidade mesmo que esta seja diferenciada das outras modalidades, pressupõe o respeito ao modo e tempo de aprendizagem do aluno, pressupõe dar condições de igualdade de acesso ao conhecimento.



Palavras-Chave: Surdos- Preconceitos- Inclusão social


*1- Graduada em Letras-Português/Espanhol pela Universidade Tiradentes e Pós-Graduanda em LIBRAS pela Faculdade Serigy. E-mail: [email protected]
*2- Graduada em Letras-Português pela Universidade Tiradentes e Pós-Graduanda em LIBRAS pela Faculdade Serigy. E-mail: [email protected]
*3- Graduada em Letras Português/Inglês pela Faculdade de Formação de Professores de Penedo e Pós-Graduanda em LIBRAS pela Faculdade Serigy. E-mail: [email protected]


INTRODUÇÃO


A linguagem dos sinais não é universal como muitos pensam. A Libras adquiriu características próprias quando foi oficializada, em 1857, com a fundação do Instituto Nacional de Educação dos Surdos, no Rio de Janeiro.
A Libras é a primeira língua natural desenvolvida entre surdos e mudos brasileiros. Mas ao contrário do que se poderia imaginar como no caso da incorporação da língua portuguesa, com colonização dos portugueses, a língua dos sinais brasileira parece mais com a da França. Porém, cada país teve autonomia para desenvolver a sua própria. A regulamentação da Libras como expressão oral e escrita oficial dos surdos, dentro de um espectro social, representa a inserção dos surdos na sociedade. Mas ainda hoje é comum o preconceito da sociedade e da própria família para com os deficientes.
A Língua de Sinais Brasileira é composta por sinais próprios da comunidade de nosso País. Ela segue o mesmo princípio das línguas orais. Absorvem os aspectos culturais dos usuários, inclusive os regionalismos, as expressões típicas, as gírias. É uma língua viva, cada país tem a sua língua, ela não é universal.
A aprovação da Libras pelo Governo na realidade não trouxe muitas mudanças porque a língua de sinais é discriminada. Essa aprovação só veio legitimar a língua. Pelo menos no plano jurídico. É necessário valorizar a língua para que ela seja reconhecida e, dessa forma, possibilite que outras instituições e outras pessoas trabalhem em cima deste projeto, que significa o desenvolvimento da língua, da educação, da cultura e da conjuntura sociopolítica da comunidade.
A Lei nº 10.436, de abril de 2002, reconheceu a Língua Brasileira de Sinais. A mesma lei estipulou que fossem garantidas formas institucionalizadas de apoiar o uso e a difusão da Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Determinou que as instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde garantissem atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva. Especificou que o sistema educacional garantisse a inclusão do ensino de Libras nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médios e superiores.

Parentes e amigos saberem a língua é primordial ajuda na comunicação e diminui o preconceito com a pessoa. A criança se sentindo aceita apresenta um aprendizado mais acelerado em todas as áreas. Hoje, a discriminação contra o surdo e a língua de sinais está menor, com a divulgação da Libras e a sua aceitação, há maior liberdade de uso sem receio. A partir do momento em que é trazida ao conhecimento da população o conhecimento e funcionalidade da LIBRAS, ela é desmistificada, pois a interação fará ver todas as possibilidades que essa pessoa tem e as condições que o surdo tem de levar uma vida normal sendo respeitado em sua diferença, diminuindo então o preconceito.


1- PRECONCEITOS EM TORNO DA LIBRAS
Entre tantos tipos de discriminação a serem eliminadas, tem-se o de achar que todo surdo é mudo. Deve-se explicar que a mudez tem a ver com a corda vocal e outras questões. Já o surdo não fala porque não ouve, mas se for trabalhado com estratégias de ensino oral, ele pode adquirir essa oralidade.
Outra idéia preconcebida a ser quebrada é a de que existem áreas em que os surdos não podem atuar. Porém é certo que eles podem atuar em qualquer área desde que sejam desafiados e tenham suas condições respeitadas.
Outro ponto de sustentação de nossa fala é o conceito de inclusão, o qual exige que a sociedade se transforme para respeitar, acolher e atender às necessidades de todos os seus membros, num contínuo fazendo sob a égide da inclusão, os limites de uma pessoa com deficiência que estão na sociedade e não na deficiência do indivíduo.
Ao se entender isso, verifica-se que um aluno com deficiência pode não aprender, não por sua incapacidade de aprender, mas pela incapacidade de a escola o ensinar, respeitando o direito ao modo e tempo de aprendizagem individual do aluno.
Há pessoas que acreditam que a libras é o português feito com as mãos e que os sinais substituem as palavras faladas. Outros, dizem que é um conjunto de gestos que interpreta as líguas orais ou que a libras é uma linguagem limitada que expressa apenas informações, conceitos e que por isso não é capaz de expressar idéias abstratas. De acordo com resultados de pesquisas, a Libras são comparáveis a quaisquer línguas orais porque possui toda uma estrutura gramatical organizada a partir de alguns parâmetros que estruturam sua formação nos diferentes níveis linguísticos. Sendo assim um surdo é capaz de expressar idéias, pensamentos, desejos, sentimentos?
Outro ponto bastante comum quando se fala do surdo é o das pessoas acharem que todo o surdo faz leitura labial. Sabemos que isso não é uma habilidade natural, tem que ser treinada, assim como se ensina a leitura e a escrita, ela também precisa ser ensinada. Para o surdo o que é natural flui naturalmente como, expressões, gestos.

2. LIBRAS - DESMISTIFICAÇÃO E CONHECIMENTO

Somente a partir da segunda metade do século XX, a comunidade surda, mais especificamente, teve o reconhecimento de suas expressões lingüísticas, a Língua de Sinais. Assim, mostrou?se uma nova língua que, independente do falar local, mantém?se como língua mãe. A Libras como qualquer outra língua, também possui expressões que diferem de região para região (os regionalismos) - o que a legitima ainda mais como língua. Como os sinais não são aleatórios nem criados exclusivamente por quem está se comunicando, eles possuem o que os especialistas chamam de parâmetros, ou seja, são formados a partir da combinação da posição das mãos, movimento, direção.
O encontro da língua de sinais com a lingüística é deveras próximo, visto que ao partir da enunciação pela significação dos símbolos, ambos objetivam, que independente da oralidade, posto que tanto o conhecimento como a aprimoramento da inteligência se dão por mecanismos mentais, podendo apenas ser registradas graficamente e somente em segunda instância, oralizados. Desse modo, se a expressão pantomima exerce a comunicação, logo há um discurso sendo desenvolvido em dois âmbitos: oral e possivelmente escrito, considerando o processo de alfabetização contemporâneo dos surdos.
Os pronunciamentos do governo e as propagandas políticas já trazem uma janela no vídeo com o intérprete de Libras. Alguns programas televisivos de igrejas também utilizam esse recurso. São "janelas" que estão permitindo que os surdos tenham acesso ao conteúdo que está sendo divulgado na televisão. Mas são também "janelas" para despertar a curiosidade dos ouvintes para esse universo. Essas iniciativas, aliadas aos cursos de Libras para os "ouvintes", começam a permitir a interação entre os dois lados.
Uma das primeiras alternativas a serem tomadas para a desmistificação e conhecimento sobre a libras foi a inclusão da disciplina de Libras nos cursos de formação de professores. Entretanto essa atitude é pequena para que a pessoa tenha competência no uso da língua de sinais, mas permite um conhecimento prévio da língua e das questões envolvidas com os surdos. Ela espera que isso seja o início de um interesse das pessoas em aprenderem mais, buscarem novos conhecimentos ou o seu aprofundamento e quebrarem os preconceitos.
Quando se promove a Inclusão, não se "joga" uma criança na sala de aula, nem a deixa sob a custódia de um estagiário ou babá. Quando se promove a Inclusão, ensina-se a todos os alunos sem distinção, a Inclusão pressupõe o respeito ao direito à educação com qualidade, pressupõe o respeito ao modo e tempo de aprendizagem do aluno, pressupõe dar condições de igualdade de acesso ao conhecimento etc., logo, qualquer dessas falas são despropositadas e nada têm que ver com Inclusão.
A inclusão é um movimento dos diversos grupos de pessoas em situação de vulnerabilidade, que, ao longo dos séculos sempre lutaram para ser reconhecidas como pessoas humanas e que, no presente, vêm logrando êxito.

CONCLUSÃO


Episódios de preconceitos como os referidos são usuais no cotidiano dos surdos. A surdez foi construída historicamente a partir da diferença enquanto desvio da normalidade, é algo que apesar de antigo é novo no mundo social. Se pararmos pra pensar que a Libras foi oficializada 1857 e que só em 2002 teve formas institucionalizadas de apoiar o seu uso e a sua difusão como meio de comunicação. Percebemos que o surdo está longe de alcançar o lugar que tanto merece.
Mas também não podemos deixar de reconhecer que graças à sua luta pela garantia de seus direitos lingüísticos, algum avanço ele vem conquistando na sociedade, abrangendo os mais diversos campos sociais, reivindicando o direito a educação bilíngüe, o direito à saúde, o direito a ser atendido dignamente com intérprete nos serviços públicos e privados, o direito a filmes legendados, ou seja, o direito a ser surdo.
A linguagem é uma verdadeira máquina do tempo. E através dela que se tem conhecimento dos diversos universos que compõem um único mundo, mundo esse que é apressado em chegar sempre novos conceitos e novas respostas, derrubando tabus inválidos para as ciências que se aproximam e renovam, as quais não rotulam os indivíduos como dependentes um dos outros, mas sim espera que cada um seja cientista de seu próprio mundo.
Se as formas mais modernas de comunicação estão sendo ajustadas cada vez mais, em função da rapidez das mensagens, é preciso que se procure conhecer linguagens universais como Linguagem de Sinais, à qual estão vinculados milhões de pessoas que têm condições de ocuparem seus lugares como contribuintes da obsessiva globalização. O surdo não é condicionado ao silêncio. O silêncio é condicionado ao surdo; porque este busca o contato com um mundo de maioria falante e conseguir instigar alguém a parar e tentar entender esse mágico universo de um mundo sem sons e sem palavras, mas repleto de uma língua viva, em constante descoberta e pronta para ser explorada.
Enfim, muitos ouvintes confundem a habilidade de falar com voz, a inteligência desta pessoa, embora a palavra "fala" esteja etimologicamente ligada ao verbo/ pensamento/ ação e não no simples fato de emitir sons articulados.



















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



WITKOSKI, Sílvia Andreis: Surdez e preconceito: a norma da fala e o mito da leitura da palavra falada. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n42/v14n42a12.pdf. Acessado em 01/11/2010 às 15:00 hs

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CHOMSKY,Noam. Linguagem e pensamento.Rio de Janeiro, vozes: 1971

PINTO,Daniel Neves. Língua Brasileira de Sinais-libras/Daniel Neves Pinto. Aracaju: UNIT,2010. 168 p.: Il

LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do Trabalho Científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográficas, projetos e relatório, publicações e trabalhos científicos/Marina de Andrade Marconi, Eva Maria Lakatos. - 6. Ed.- São Paulo: Atlas, 2001.

http: www.jornal.uem.br/cms. Acessado em 27/10/2010
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