O que é que fiz de mim, de minha vida? Como posso vivenciar a liberdade aprisionada em uma gaiola? Como imaginar que espontaneamente nela entrei e fiquei, sem perceber sequer, que poderia sair à hora que quisesse... Ela não tinha fundo.Liberdade...Será que a quero ou não?Por que será que ela me dá tanto medo? Será por que eu me deixei conduzir, dizendo sim demais, quando na realidade deveria ter dito mais não? Cômodo, não é?Será que deixei que minha vida fosse direcionada para qualquer lado, sem que me desse conta?Quantas vezes pensei, "será que é melhor que eu seja surda ou o outro mudo." Essa frase, que parece não ter nada a ver com liberdade, tem e muito. Se eu só a mim ouvisse, não precisando ter que ouvir o outro, se eu pudesse falar sem que o outro fizesse o mesmo, então eu tomaria o leme de minha vida e viveria a minha tão sonhada liberdade. A angústia da procura amarra minhas mãos, meu corpo, tolhe minha mente...Mas será que eu a quero realmente?Como escapar da vida que hoje vivo querendo ir e querendo ficar?O peso é grande, esmaga, asfixia.Estranho...Eu permiti que me pegassem pelas mãos e me conduzissem, sequer pensando se estava certo ou não.Fui indo...Caminhei sem saber se estava ou não gostando, aceitando sempre, imaginando que tudo era natural, que era assim que deveria ser.Hoje, o caminho que encontrei para viver minha liberdade é mentindo ou omitindo. Que pensem que estou aqui, quando na realidade é lá que estou. Fidelidade a meus princípios, à minha maneira de ser e pensar, eu tenho.Busco caminhos, decido, mas omito. É um direito que me dei. É um direito que me permito ter.Muitas vezes entro em conflito, imaginando se omito ou minto a mim ou ao outro.Difícil...Machuca...Fere...E o que fazer com projetos conjuntos e diferentes interpretações...Preciso ser livre para gritar aos quatro ventos que somos dois, distintamente e nunca seremos um só, por mais que o queiramos.Eu sou eu, o outro é o outro.Se eu aceitar suas verdades como minhas, onde é que fica minha liberdade de escolha, se é que a tenho.Jamais poderei também ser o que o outro quer que eu seja, embora com minhas atitudes eu tenha demonstrado que fosse normal que o outro assim pensasse.Que bom que podemos ocultar de todos, os nossos anseios e desejos talvez inconfessáveis...Será que a liberdade tão proclamada e procurada é só a do pensamento?Ter asas para voar sem rumo, ir para onde/como /quando quiser? Será que estou consciente de minha inconsciência? Será que sou livre para imaginar que vivo a verdade que quero viver ou sobrevivo na mentira que me faz assim pensar.Se meu rosto marcado pelo tempo mudou, por que não posso mudar de rumo e buscar a liberdade?Será que é ou não o só querer?O ser humano, apesar de ser completamente só, tem sua vida atrelada ao mundo.Que cobra...Que quer saber...Que pergunta...O que já tolhe a liberdade de sermos nós mesmos, sem nada ter a dizer...A ninguém...Quiçá a nós mesmos...Talvez a liberdade seja a de não responder, de deixar o outro sem as respostas.Mas que liberdade é essa que me prende ao outro por um fio irrompível...Será que me prendo ou me deixo prender, pensando ser livre.Quando ao olhar no espelho, a imagem que vejo a mim não agrada, não gosto dela. É o protótipo do que não quero ser e não do que deveria.Talvez por permitir que não me deixassem ser livre, fui livre para não o ser.A sensação de estar presa em algemas de vidro, fácil de quebrar e não o fazer, porque não quero, porque não posso ou porque tenho medo, me fazem perceber minha fraqueza, minha covardia, meu talvez seja melhor assim.Então eu me pergunto o porquê de ter raiva do outro, por causa de minha situação, se a covardia é minha amiga inseparável e o conformismo é o amigo que quero/nãoquero e não permito que vá ou fique. Como se possível fosse...Opressão é o preço que pago para pensar viver essa pseudoliberdade, que me faz, para vivê-la desejar que o outro morra. Aquele que pensa em fazer o mesmo comigo. Aquele que para literalmente crescer, tenta me diminuir, aquele que pretende me afastar do seu caminho, para poder passar tranqüilamente.Aquele que deseja intensamente que eu me abaixe, para que ele pareça grande.
Criança chorona, criança manhosa... Que deseja ser/nãoser livre. Ambigüidade, dualidade que me mostram caminhos difíceis para decidir qual o melhor...Para que eu possa voar por esse céu azul, até alcançar a profundeza da Paz e em seus braços me aninhar e ser livre, "segura apenas na Paz do Amor Infinito..." Mesmo que minhas asas só existam em minha fantasia...

Heloisa Pereira de Paula dos Reis