O que é falar em liberdade no momento atual? Como se pode definir liberdade? Como há liberdade no mundo contemporâneo? São tantas perguntas sem respostas conclusivas e tantas dúvidas sobre o que melhor caracteriza o termo "liberdade". Em momentos iniciais do desenvolvimento do pensamento acerca do sujeito social e psicológico, tratava-se a liberdade como fundamento dos atos de cada sujeito. Diante de uma ordem social dominante de controle e repressão, questionava-se o papel do sujeito como precursor de sua própria história e a ordem que se instaurava. Mas a busca da liberdade, em momentos posteriores, se perdeu diante de mudanças sociais que culminaram com o afastamento do ideal libertário inicialmente proposto e visado por diversos pensadores sociais.

A liberdade foi sendo conquista à custa de um individualismo e egoísmo por parte do sujeito social, que não mais se vincula a uma ordem social imposta e dominadora. Vive-se em uma época em que como diziam e dizem psicanalistas como Freud, o sujeito busca satisfazer um desejo por um objeto em que toda a sua energia é investida, o que reflete o papel e a importância da libido e das pulsões inatas a esse mesmo sujeito. A liberdade perdeu-se em si diante da massificação de um corpo tido como "objeto" de satisfação imediata e de expressão da sexualidade. O sujeito tem sexualidade, mas confunde liberdade com um estado de total desprezo pelas potencialidades totais e que ainda não foram exploradas. A liberdade não deve ser confundida com um estado de bestialidade e de ausência de normas juntamente com um caos. Robbes dizia que o "homem é o lobo do próprio homem", ou seja, estando em condição de total liberdade das amarras sociais que aprisionam, o sujeito retornaria a uma condição de barbárie.

Em certo sentido Robbes tinha e tem certa razão, pois nenhuma liberdade pode ser alcançada sem que haja uma dependência para com o social, com suas normas e regras de controle. Mas com diz Bauman, o Homem tem cada vez mais se afastando do social, passando a depender cada vez de sua auto-realização e de seu poder de decisão e escolha. A ênfase, no momento atual, não está mais no social, mas no sujeito social e psicológico.

Bauman ainda considera que a modernidade se liquefez e que os laços que ligavam os sujeitos e grupos de inserção social uns aos outros foram sendo desfeitos. Nesse sentido, a liberdade mesmo dependendo do social e das normas de controle, torna-se cada vez mais relacionada ao sujeito que deve ser assumir a si mesmo e lidar com seus medos, ansiedade, angústias e anseios. Em outros períodos, os sujeitos preferiam não falar em liberdade, pois confrontava esses mesmos sujeitos com indecisões, dúvidas e poder de ter que escolher por conta própria e assumir riscos. Na modernidade líquida, ao homem é dado novamente o poder de ter que escolher por si mesmo, pois se perde o amparo e proteção social que outrora eram garantidos.

Cada sujeito se depara com a sua própria sorte e não há limites mais ou menos seguros para a atuação. Entrando novamente na questão corporal e do desejo, percebe-se que o próprio limite físico e psicológico não é mais respeitado e que os ideais libertários iniciais não mais estão presentes nas práticas e manifestações corporais. O corpo é utilizado de forma descontrolada, abusiva, exaustiva e sem respeito pela integridade e liberdade. Mesmo no caso da sexualidade, os limites concretos não são respeitados nem estabelecidos com exatidão. A liberdade se confunde com falta de controle. Jovens que consomem quantidades excessivas de bebidas, drogas e outras substâncias que causam danos físicos, psicológicos, afetivos e sociais são exemplos entre outros de que a liberdade se confunde com falta de controle dos desejos, sentimentos e necessidades individuais.

O que se pode concluir, é que a liberdade faz o sujeito entrar em contato com aquilo que mais teme: o seu poder de auto-aperfeiçoamento e desenvolvimento pessoal e ter que arcar com conseqüências de atos ou de comportamentos ou atitudes perante o mundo e os demais sujeitos livres e com especificidades e qualificações cada vez mais próprias e que devem ser levadas em consideração em um mundo individualista e sem fronteiras sólidas e concretas. Dois pensamentos sobre a liberdade foram sendo desenvolvidos. O primeiro corresponde ao medo de se falar, comentar, afirmar e dizer sobre o próprio termo "liberdade" e o segundo refere-se ao fato de que não há liberdade sem controle, normatização certo grau de dependência do social por parte do sujeito e decorrente perda do ideal original de libertação que fora buscado e almejado em períodos anteriores do desenvolvimento do pensamento sobre o sujeito social.