A leucemia é um câncer que se origina de células da medula óssea. As células leucêmicas (blastos) proliferam e suprimem a produção das células medulares normais, o que resulta em anemia, queda da imunidade e falhas na coagulação, e suas manifestações: cansaço, palidez, febre, infecções repetidas e sangramentos fáceis. Os blastos também podem se disseminar através do sangue para outros órgãos do corpo, e proliferar em outros locais, particularmente em linfonodos (ínguas), baço e fígado. Às vezes, há dor óssea, torácica ou abdominal. Podemos dividir as leucemias em agudas ou crônicas, sendo as primeiras mais agressivas e rapidamente fatais se não tratadas adequadamente. Neste artigo abordarei as agudas, mais assustadoras, deixando as crônicas para um outro momento. A leucemia linfocítica aguda (LLA) é mais comum em crianças, representando 25% dos cânceres da infância. Cerca de mil casos novos surgem nos Estados Unidos (EUA), todos os anos, a maioria sem causas identificáveis. Em uma minoria, exposição à radiação, pesticidas ou solventes orgânicos parece favorecer o aparecimento da mesma. Estes fatores ambientais podem agir sobre uma tendência genética individual para o câncer, raramente familiar. O tratamento é longo e feito com quimioterapia, havendo sucesso na maioria dos pacientes jovens. Apenas 10 a 40% dos adultos com LLA são curados com os esquemas atuais. Radioterapia é necessária em alguns casos. A leucemia mielóide aguda (LMA) também é um câncer de origem medular, porém de células precursoras mielóides, com manifestações semelhantes às da LLA. A LMA tem, todavia, mais variantes morfológicas e algumas particularidades. Representa cerca de 80% das leucemias agudas em adultos, sendo mais comum em homens, brancos e idosos. Anualmente, surgem cerca de doze mil novos casos de LMA nos EUA, com nove mil mortes. Exposição à radiação ionizante, benzeno e quimioterápicos são fatores de risco comprovados. Há mutações, geralmente adquiridas, que se associam a tipos específicos de LMA, sugerindo uma base genética para o surgimento da doença. Há casos “familiares”, mas são raros. Com os tratamentos disponíveis, basicamente quimioterapia (mais curta que da LLA), até 30% dos pacientes jovens são curados, o que ocorre em menos de 10% dos idosos. Alguns subtipos têm melhor resposta, conforme características da doença e do próprio paciente, podendo o índice de cura ultrapassar 50%. O transplante de células tronco de medula ou sangue periférico fica reservado para pacientes com doador compatível e que não respondem ao tratamento padrão ou que têm marcadores de má evolução. O diagnóstico de uma leucemia aguda é feito através de exames de sangue e da medula óssea, além de imagens para documentar os órgãos envolvidos. Eventualmente, até o sistema nervoso central é invadido, sendo os blastos encontrados no líquor. Um grande número de estudos está em curso para determinar a eficácia de novas drogas e abordagens nestas doenças. A tendência será ajustar a terapia para cada caso, tendo como base principalmente o perfil genético do paciente e da doença, o que permitirá um tratamento mais dirigido e menos agressivo, aumentando não apenas a chance de cura, mas também a qualidade de vida dos pacientes, independente do desenlace final.

Leal FP. Leucemia aguda; Revista Mídia e Saúde, março de 2009, n°85, ano 8, p. 38.

Obs.: Publicado com alterações.

Francismar Prestes Leal.