Letramento Matemático: uma nova abordagem no processo educacional da educação matemática.

Resumo

Este artigo tem como objetivo abordar conceitos já existentes do que vem a ser letramento e buscar uma aproximação com a educação matemática para distinguir um conceito do que é letramento matemático e quais suas aplicações dentro do âmbito educacional. E partindo deste pressuposto destacar algumas práticas escolares que podem ser trabalhadas no espaço escolar associados a práticas diárias do aluno fora da escola.

 

 

Introdução

De acordo como todos os objetivos que constitui este trabalho, entende-se que o processo de letramento no âmbito educacional é imprescindível para que possamos aplicar nas práticas de sala de aula ações que viabilizem uma melhoria no processo educacional. Mas o que tem se aplicado neste processo ainda não supri as demandas da educação do nosso país, poucos cursos de formação nesta área tem se aplicado. De acordo com as mudanças nas politicas educacionais o governo criou programas que envolvem ações neste campo, entre eles, o Proletramento que é um programa de formação que visa à melhoria da qualidade na aprendizagem da leitura/escrita e matemática nos anos iniciais do ensino básico, tendo como objetivo oferecer suporte à ação pedagógica, mas até que ponto esta formação e outras vem contribuindo nas práticas escolares?

Na educação Matemática, o tema letramento matemático ainda é pouco referenciado, alguns autores usam o termo numeração no qual se entende que este conceito está ligado ao processo de alfabetização numérica. Para buscar um entendimento mais fomentado a cerca deste tema, é necessário que possamos entender o que é letramento e quais definições já temos neste segmento para podemos chegar a um conceito mais claro e preciso do que vem a ser letramento matemático e através deste conceito abordar algumas práticas educacionais para relacionar conteúdos matemáticos a questões diárias dos alunos, ou seja, contextualizar a matemática para que o aluno possa enxergar de uma forma mais objetiva o mundo numérico que o cerca. E assim analisar as concepções do letramento matemático para a melhoria das práticas escolares. 

Conceito, concepções e processo histórico do que é letramento.

A palavra letramento começou a ser usada em nosso país bem recentemente, em meados dos anos 80 ela passou a ser bastante utilizada por pesquisadores das áreas de Educação e Linguísticas, e desde então passou foi referenciada por outros espaços da sociedade. Por ser tratar de um termo ainda bem recente, ainda atribuem-se vários conceitos e significados diferentes e muito ligados à alfabetização. Mas para Mortatti (2004) a alfabetização não é um pré-requisito para letramento, este está relacionado com a aquisição, utilização e funções da leitura e escrita em sociedades letradas, como habilidades e conhecimentos que precisam ser ensinados e aprendidos, estando relacionando também como a escolarização e a educação e abrangendo processos educativos que ocorrem em situações tanto escolares quanto não escolares.

Este conceito de letramento surgiu nos meios acadêmicos como tentativa de se separar os estudos sobre o impacto social da escrita dos estudos sobre a alfabetização (Kleiman, 2008) e que somente a partir de 1980 a 1990 surgiu no Brasil um estudo mais especifico. Até então o sentindo comumente dado à palavra letrado no Brasil estava ligado a ideia de pessoa erudita, pessoa versada em letras, e o seu antônimo, iletrado, seria a pessoa que não é erudita, não possui conhecimentos literários. MORTALLI (2004, p. 87) Diz que o termo “letramento” parece ter sido utilizado pela primeira vez por Mary Kato, na apresentação de seu livro No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística, de 1986, cujo objetivo é salientar aspectos de ordem psicolinguística que estão envolvidos na aprendizagem escolar por parte das crianças. A autora explica, então, que contém uma definição indireta do letramento relacionado com a função da escola de formar “cidadãos funcionalmente letrados”, do ponto de vista tanto do crescimento cognitivo individual quanto do atendimento a demandas de uma sociedade que prestigia a língua padrão ou a norma culta da língua.

Estes debates acerca de letramento e alfabetização se estenderam e hoje ainda é motivo de vários estudos dos seus conceitos. Em alguns dicionários esta palavra é encontrada e seu significado esta ligado a alguns termos como, letrado, escrita, alfabetizado. Dentre eles destaca-se o dicionário Houaiss (2001, p.1474) que atribui à palavra letramento três significados: 1. Representação da linguagem falada por meios de sinais; escrita. 2. Alfabetização (‘processo’). 3. Conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de materiais escritos. Sendo assim, segundo o dicionário Houaiss, confere ao termo letramento vertentes que se aproximam a concepções que muitos estudos abordam sobre o tema.

A palavra letramento ainda é encontrada no dicionário de linguagem e linguística, R. L. Trask, publicado na Inglaterra em 1977, e a tradução brasileira, realizada pelo linguista Rodolfo Ilari, publicado no Brasil em 2004. Ele refere-se ao termo verbetes como “iletrado”, “a-letrada” e “pré-letrada”, é comum encontrar tais associações a entre letramento a esses termos. (MORTALLI, 2004)

Letramento (literacy) – A capacidade de ler e escrever de maneira eficaz. O letramento é a capacidade de ler e escrever, e isso parece bem simples. Mas não é. Entre os dois extremos constituídos pelo domínio magistralmente perfeito da leitura e escrita, de um lado, e pelo completo não letramento, de outro, encontramos um número infinito de estágios intermediários: o letramento é gradual ...

Um individuo que não tem a capacidade de ler e escrever típicas de sua comunidade é iletrado; uma sociedade que não tem um sistema de escritas reconhecida é a a-letrada ou, às vezes, a depender do contexto histórico, pré-letrada.

Atualmente é comum encontrarmos o termo letramento em textos acadêmicos, e especificamente em cursos de graduação já se tem uma discursão mais aprofundada sobre o que é letramento, e ainda é levantada análises sobre alfabetização e letramento, pois para muitos não deixam de ter o mesmo sentindo, para outros, estão alinhados no mesmo segmento, e muitos dizem que não se entrelaçam, mas que um precisa do outro para existir. SOARES (1998, p. 17) parte do pressuposto de que existe um “elo”, uma “conexão”, entre alfabetização e letramento. A autora concebe a alfabetização (aquisição do código da leitura e da escrita pelo sujeito) como pré-requisito para o letramento (apropriação e uso social da leitura e da escrita pelo sujeito) Subjacente a essa concepção de letramento está a ideia de que a escrita pode trazer consequências de ordem social, cultural, politicas, econômicas e linguísticas, “quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o individuo que aprende a usá-la.”

Nesta concepção para que exista letramento o sujeito precisa ser alfabetizado, quando a autora diz que há um elo, uma conexão, parte-se justamente da ideia de que para um existir há a necessidade do outro, ou seja, não há letramento sem alfabetização, o individuo para ser considerado letrado ele deve ter ser no mínimo alfabetizado, ele deve já deve ter noção de escrita, leitura, tecnologia, para Soares o individuo que não possui essas características é considerado analfabeto, pois não sabem codifica/decodificar letras e palavras e portando são consideradas iletradas. Mas essa ideia é muito divergente a que outros autores debatem. Na década de 80 surgem neste cenário alguns autores que divergem a esta concepção. Tfouni, em sua obra “Letramento e alfabetização” procura explicitar concepções de alfabetização e de letramento, ela explicita que “A necessidade de se começar a falar em letramento surgiu da tomada de consciência que se deu, principalmente entre os linguistas, de que havia alguma coisa além da alfabetização, que era mais ampla, e até determinante desta (2010, p. 32)” Segundo a autora, os estudos sobre letramento procuram examinar não somente as pessoas que adquiriram a tecnologia do ler e escrever, portanto alfabetizadas, como também aquelas que não adquiriram essa tecnologia, sendo elas consideradas “analfabetas”. Afirma Tfouni que existem letramentos de natureza variada, inclusive sem a presença da alfabetização.

“É um processo mais amplo que a alfabetização e que deve ser compreendido como um processo sócio – histórico  que extrapola a escola e o processo de alfabetização, referindo-se a processos sociais mais amplos,”  (Tfouni, 2010)

Partindo desta análise, o processo de letramento é está inserido dentro de um contexto social, o sujeito já é um ser letrado, quando se faz uso da linguagem de símbolos e uso recursos para se comunicar dentro da sociedade em que está inserido. O processo do letramento está muito além do saber ler e escrever, ele é um processo de compreensão do mundo. E relacionar a concepção de letramento (vinculado a habilidades de ler e escrever) com a alfabetização, pode nos direcionar a uma ideia errônea e contribuir assim para que pessoas que não sabem ler e escrever serem rotuladas como pessoas “iletradas”, “pré-letrados” entre outros termos que se usam. Mas definir um conceito para o que vem a ser o fenômeno letramento continua sendo uma tarefa muito difícil, pois muitos autores entendem e compreendem este fenômeno de formas diferentes, mas no contexto educacional este processo se fomenta na perspectiva de se ligar o que o aluno traz de fora da escola para usar dentro da sala de aula, trabalhar o contexto social usando o letramento como ferramenta para o seu desenvolvimento. “A aprendizagem da leitura e escrita é um processo fundamental para o desenvolvimento integral do individuo, que percebe a cada momento a evolução do próprio contexto social.” (Azevedo, 2004).

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